América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

23 de outubro de 2005

Nº 12 PEDRAS FAZEM HISTÓRIA

Toda a estatura aparenta importância. Quanto mais alta, a reverência, sobe também À posição cimeira, abstraídos os cálculos, à primeira vista presume, vigor e força. O cume, por si, abre panoramas, enfeitiça a observação e eleva, ainda mais, o ceptro da autoridade . Iça a bandeira. Naturais estremeções, porém, fazem temer a robustez, Correria para a encontrar... Não está em cima. Lá em baixo, na base, reside a convergência e equilíbrio das forças de suporte.
Na América, os Arranha- Céus, sobem alto, mas não é, por tanto subir que alcançam o domínio. A inércia, o centro de gravidade, exigem cálculos acertados e têm de obedecer à harmonia da posição vertical, a cargo dos alicerces, que ajeitam as oscilações do que sugere poder lá em cima, no convívio com as nuvens.
Aos elevadores, preferimos, como é bem de entender, andar a pé, próximo dos caboucos, para concluir em que bases assentam os recursos dos neurónios, na tentativa de decifrar o atrevimento da engenharia, na solução dos muitos problemas que acompanham o concebido e a exigência de utilizar meios de cumprirem a perfeição até ao final da obra.
Esta breve divagação, puxa-nos outra vez, para baixo. Atraem-nos as «pedras» colocadas em lugares, de propósito construídos para seu repouso, e onde podem contar a sua sina a todo o visitante, e a quem, à primeira vista, dedicámos, com a nossa simpatia, a preferência destas crónicas.
Que tivéssemos conhecimento, são só duas.
Certificam, em conformidade com os rigores legais, a lição respeitosa da América do Norte, com o que representam, pois que lhe tocam, em directo, na entrada para a companhia da civilização europeia.

Milhões de anos sem História, despegaram milhões de monólitos dos rochedos das Costas dos Bacalhaus, que se deitam ao comprido para impedir o esboroamento da terra. Largo tempo para as ondas esculpirem a sua semelhança, na rudeza dos dorsos deformados.
Ali repousam, apegados à sua função protectora dos desconchavos do mar.
Dois desses calhaus, como já vimos, com dezenas de toneladas de peso, embora sem régua e esquadro para lhes definir forma geométrica, mereceram aos americanos, a distinção de serem removidos, tal como a Natureza os formou, sem lhes corromper o feitio, dos seus leitos de sentinelas alerta, para locais, devidamente preparados, onde fossem defendidos dos açoites das marés e maleficências dos homens.
Máxima honra, para poderem contar aos visitantes, a magoada ou deferente fortuna, que os guindou à História. São marcos de estudo para os dedicados ao saber e a transmitir o nível intelectual, dos que fundiram os moldes adequados para alvorecer, medrar e instituir sociedades de crescimento livre, mas de organização ponderada. Criadores da Nação que, actualmente deslumbra, como se tivesse nascido reino de milionárias venturas, a espalhar aos quatro ventos.
O Primeiro calhau, ou a Primeira Pedra, situada próximo da vila de Dinghton, no Massachusetts, como já nos referimos anteriormente, mais de uma vez, é resumo da prova documental, em letra bem desenhada e esculpida, com a data de 1511, com a chancela da inconfundível Cruz de Cristo e escudo português, a odisseia, do primeiro navegador conhecido que chegou à América. E que foi proprietário do território onde habitou no resto dos seus dias, acompanhado dos participantes na proeza e que deixaram descendência, mesclando-se com as gerações que haviam palmilhado o Estreito de Bering, há 20 ou 30, ou... milhares de anos. É uma «pedra» com missão a cumprir, ontem, hoje, amanhã e sempre.
Recebeu a esperança, de algum dia vir a entregar, como prova da viagem audaciosa, por amor fraternal, a mensagem angustiante do Comandante Miguel Corte Real e tripulação do barco açoriano, que abordou àquelas costas em missão oficial, autorizada pelo seu Rei D. Manuel, que lhe doava, em 11 de Janeiro de 1502, « toda a terra firme e ilhas que ele por si novamente neste ano de 1502 descobrir ou achar, além da que seu dito irmão tiver achada, ele a haja para si ( Miguel) e lhe fazemos dela doação e mercê com aquelas jurisdições, direitos, capitanias, cláusulas, condições...»
É possível que Gaspar, irmão que Miguel procurava, também lá tivesse sido obrigado a desembarcar, mas sem provas conhecidas, nenhuma confirmação é aceitável na narração de factos reais e notáveis.
Incontestável é, contudo, que Miguel não regressou. Viveu e morreu, longe da Terceira e dos seus, . Mas foi enterrado na propriedade que lhe pertencia, por a ter «DESCOBERTO», de acordo com a «Carta Real» de D. Manuel.
Lembremo-nos que estamos dentro do «Tratado de Tordesilhas», assinado em 7 de Junho de 1494- Era no tempo das «Descobertas», em que o «Mundo Atlântico» - África e América – pertencia ao País que aperfeiçoou as Caravelas para navegar no mar alto, sem temer a mudança dos ventos e das correntes marítimas e que depois teve de ceder parte à Espanha, por decisão do Papa Alexandre VI.
Enquanto os países da Europa se entretinham a pelejar uns com os outros para impor cultos religiosos, com entraves e destraves do progresso, os portugueses, navegavam a descobrir os mistérios do planeta em terras e raças e a abrir luzes ao conhecimento das navegações de longo curso, da aproximação dos povos, da ciência, da técnica.
Foi a iniciativa lusa, desmascarando o horizonte e com ele, o « mar tenebroso», restituindo ao «Mar», a sua verdadeira identidade de aprovisionar alimento, fazedor de civilizações e confluência de povos que alargou a visão experimental da astronomia, da física, da química, da ciência em geral. Que deu à Idade Moderna, iniciada em 1453, o fulgor que a História, com orgulho, ensina e divulga ao Mundo, omitindo, embora, muitas vezes, a presença das velas portuguesas em cada baía e porto de desembarque.
Para a América do Norte, a «Pedra de Dinghton», é o «Padrão Português das Descobertas». E, ainda, a «declaração escrita», dos primeiros europeus que lhe « pousaram os pés», sabendo ler, escrever e contar, com conhecimentos náuticos sabidos e postos à prova nas caravelas, subjugados, embora, pela incapacidade de reagir à fúria das ondas e dos ventos, invejosos destruidores da sua casa de profissão.
Antes da « Pedra de Dinghton», o que consta, em algumas regiões, são vestígios dispersos, de classificação incerta, que a auréola envolve em hipóteses, lendas, datas aproximadas, figurantes de origem vária, verdades encrespadas pelo gelo, a ondearem, aos saltos nas «cascas de nozes» que transportavam as tripulações de coragem imensurável.
Mas depois de 1501, há História para contar, dos que rondaram as «Terras dos Corte Real», ou que por ali próximo, estabeleceram pequenos e passageiros entrepostos.
Vamos dar a palavra ao «Monumento de Dinghton, na crónica a seguir.

Nº 11 FAMÍLIA

A coragem, é uma das instáveis condicionantes da sorte. A Família e a afeição que dela emerge, regem o encadeamento das atitudes temperamentais.

Coragem e afeição Famíliar, dois suportes da dignidade humana. Quem os possui, arrosta o triunfo, o insucesso, a contingência, a vicissitude, o inopinado, com o indicador a abrir caminho. Não é Santo, nem herói. É um Homem. É uma mulher .

Estas nossas crónicas de turista aligeirado, de capital reduzido para requisitar cicerone diplomado e transporte rápido e ligeiro, para, saltitando, olhar de perto, para, então, rascunhar descrições dos pontos principais de uma nação começada a civilizar-se, apenas há 384 anos, não foram entusiasmadas para envaidecer a grandeza exposta para quem quzer sentir-se contaminado a prestar elogios a exemplos feitos. Nem aspiram a foguetear repisas já conhecidas.

Têm como simples prioridade, evocar o factor humano, o que começou, sola do pé endurecida nas andanças pela sobrevivencia, destemendo a competição entre animais de força igual ou superior. Relembrar aquele que, produzindo e legitimando o trabalho, marcou o andamento regular e constante para que o avanço a visar o progresso se integrasse no dever e na moral; do que arrancou e assentou arraiais para se alargar em cidades a borbotar proventos, legando-nos o rasto por onde poderemos chegar a entender, como foi possível, em tão escasso período, a Nação passar da adolescência à maioridade.

O que nos promove em passageiras crónicas, consta do desejo de evitar que a esponja da ingratidão, apague merecimentos dos que cavaram para espalhar a semente e a regaram com suor, para que o futuro colhesse a abundância que alimenta meio mundo.

Dentro da Terra da América, entrecruzam-se qualidades e aleijões, como país igual aos outros. A imponência não se alevantou de pé para a mão, com a facilidade de obra pronta a habitar. Foi criada desde os caboucos rudes, para alicerçar segurança na construção.

Certezas e dúvidas, fartezas e carências trabalham juntas e, parecendo opostas, mantêm a aliança que a Lei sugere, vinda na equipagem do Mayflower em 1620. Os fracassos são temidos, os avanços libertam a audácia. A «ordem», porém, está sempre presente a indicar a consequência do resultado e do que melhor serve

A América, como todos os restantes países do Mundo, exibe vigor e jactâncias, nobrezas e plebeísmos, exactidões e dúvidas.

Logo no nome, surgem desajustes. Uns afirmam que o baptismo, foi consagrado em 1507, no mapa do cosmógrafo alemão Waltzemûller, que o ligou a Américo Vespúcio ( 1454-1512), considerando-o seu descobridor (mais um não natural), mas outros supõem ser nome indígena, tanto mais que sabiam quem encontrara o, até então desconhecido, mas já baptizado Novo Continente.

A vasta América do Norte, nasceu rústica como as mais regiões do Globo. Os primeiros povoadores, os tais aventurosos que atravessaram o Estreito de Bering a que se poderá ajuntar alguns fenícios, gregos, cartagineses, egípcios, árabes, vikings, que parece se salvaram nas suas praias ou calhaus, porém sem transporte consertado para os trazer de volta, é que foram, aos poucos, desbravando o mato, alargando clareiras para implantarem as suas tendas construídas das peles dos fornecedores da carne, leite e ovos para alimento. E que vendo o benefício de amansar animais, para os ter à mão para seu sustento, resolveram ser um bom exemplo para se domesticarem a si próprios, constituindo clãs respeitadores da emergente autoridade de um «chefe», para impor paz, no emaranhado dos caprichos, criancices, treinos e amadurecimento dos componentes. Foi imensurável, o esforço, a teimosia de viver e fazer melhor que os pais e avós, dos primeiros seres humanos que pisaram a América, de Sul a Norte.

Porque, os que chegaram depois, no Sul e Centro, no Século XVI e no norte no Século XVII, já encontraram «gente» que seguia princípios de sociabilidade e defendia os seus direitos de garantir o espaço necessário à responsabilidade de manter saudável os grupos familiares e a descendência. Os aborígenes, os primeiros habitantes, já tinham atingido o embrião do que viria a ser a Lei.

A luta por espaços para aldeamentos, dos repovoadores do Século XVI, no Sul e Centro e no Século XVII, no Norte, encontraram resistência dos nativos, não só por aversão a esses «face pálida» que se vinham intrometer nos seus costumes, mas em especial por se atreverem a retirar-lhes a «posse» do que sempre lhes tinha pertencido. Com zagaias de bambu, enfrentaram a pólvora das espingardas e canhões. As etnias, afastado o medo, ripostaram aos intrusos melhor armados. A diferença das armas, foi resolvendo o pleito para o lado da força, tal como sempre terminam as brigas por mais farto e garantido manjar. Aos mais fracos ... nem se lhes dá tempo de fazerem penitência, porque tudo se lhes tira. A extinção, apaga arroubos de consciência...

Os primeiros repovoadores que a História pode documentar, só desde o Século XX, graças ao Dr Manuel Luciano da Silva, foram os marinheiros de Miguel Corte Real. A «Pedra de Dington», vinca que sabiam ler, escrever e desenhar. O que não estavam era praparados para juntar alunos e ministrar ensino.

A diferença do grau intelectual, entre os nativos e a marinhagem das caravelas, patenteia-se na mesma «Pedra». O que está «escrito», é bem feito. As letras do nome do Comandante, são equilibradas, proporcionais. O delineamento, em mais de uma Cruz da Ordem de Cristo, seguiu o traço certo na extremidade dos braços, contornando os ângulos de 45 graus, portanto, foi alguém que tinha recebido lições de desenho e de manejo do cinzel.

O escudo português em V, é perfeito. O traçado exterior e o interior, paralelo, teve mão de artista. Os números da data de 1511, mesmo o 5, em forma de S grande parece impressão da época.

A «Pedra de Dington», autentica à História « as últimas vontades, o documento, o tratado», de quem não pretendeu ser santo, nem herói, simplesmente um HOMEM. Esse grande calhau, é uma pertença portuguesa e açoriana, oferta à ciência pelo Dr. Manuel Luciano da Silva.

Miguel Corte Real, percebia as regras do Mar, reunia em si os dois suportes da dignidade humana, coragem e afeição familiar e possuía a sabedoria do patriota – porque mostra conhecimentos profundos, quem respeita e se identifica com a terra de nascença.

Prestar homenagem ao Dr. Manuel Luciano da Silva, é um dever em aberto, na cultura Açoriana.

Documentar, no Século XX, a façanha vivida nos princípios do Século XVI, do destemido Homem do Mar, nascido nos fins do Século XV, é um acto que envolve mais do que um direito para ser divulgado.

O País tem de o inscrever na História dos Descobrimentos, com o selo da autenticidade; as entidades culturais dos Açores, estão a dever aos Açorianos, em especial à juventude, o acrescento histórico de um grande da Região, natural da Terceira; o orgulho regional deve aproveitar todos os seus valores, para associar o abraço da doutrina de animação e sentimento nas nove Ilhas e aos que as abandonam, para empregar saúde e préstimos, em terras estranhas.

Reconheçam-se agradecimentos ao Dr. Manuel Luciano da Silva. Preste-se homenagem, senão para realçar o Marinheiro de quinhentos, Herói e Mártir Açoriano, Miguel Corte Real.... ao HOMEM.

8 de outubro de 2005

Nº 10 A VISITA E A MEMÓRIA

A nossa visita à América, reservou-se a rever pessoas de Família e à curiosidade de apreciar o meio ambiente onde moravam.
Não nos movia a intenção, de observar aquele País, enfeitiçado para os demais, no seu todo, na pujança da sua expressão empertigada de abrir alas, nas intricadas e múltiplas mexeriquices e abusamentos de entidades da estranja que, pelas suas vibrantes falações, davam a aparência de terem juízo. Não pretendíamos destapar, por que motivo a América era condenada por aparentar desdém, perante mortes inocentes, quando nações se envolviam na troca de tiros e pólvora destrutiva e aguardava a serenidade dos intervenientes para chegarem a uma paz que a ambos agradasse. Nem, tampouco, quando, na mesma, era condenada, por querer conquistar o mundo, ao intervir, para apartar os tresloucados, de quererem mandar em terra alheia.
O pouco tempo que lá estivéssemos, não dava para quase nada. E não deu...
Tanto mais, que a América do Norte é crescida, tem muito para contar e maior quantidade para ver. Os filmes que entusiasmaram a nossa e a actual juventude, dos guardadores e comerciantes de gado, mostram as extensas e fecundas pradarias, onde uma fonte da riqueza da Nação, desagua rios de dolars nos mercados de consumo.
Outros filmes, da luta dos banqueiros sérios, ou assim, assim, contra o oportunismo, preguiçoso para trabalhar, mas activo nas contas de subtracção, planificam aposentos e edifícios de gigantescas fachadas, onde se movimentam milhões para milhões de dolars, que se somam aos primeiros, aos da carne.
As filmagens sentimentais, que dão a conhecer jardins privados com desenhos e flora harmónica e os públicos higienizados, de limpeza impecável; parques de laser para famílias e respectiva prole brincar à vontade; paisagens edénicas que fazem pousar os joelhos a agradecer tamanhas dádivas da Natureza toda poderosa, perfazem um conjunto de trabalhos do homem, que acrescem o valor da moeda nacional.
Mais os panoramas de bruta rusticidade e angustiante e desértica solidão, donde, de quando em quando, se descerram ossadas e velharias que desmentem datas e acontecimentos anteriores, constrangendo os antropólogos a coçar no queixo e a rectificar os livros de estudo.
Os filmes de pontaria aos congressos, às reuniões de concórdia, ou talvez não, das ciências descobertas, ou as com cauda de fora, que é preciso puxar com custos de dollars, dão à vassalagem dos mais necessitados, a clareza do vigor americano.
As fitas cinematográficas, exibem esperanças de outros mundos, depois da conquista da Lua, para atamancar porto de salvação, se o Sol gastar a sua energia de fenómenos termonucleares.
Os primeiros planos dos escritórios equipados a preceito, das magníficas residências, ostentando luxaria torneada a ouro de-lei e das esplendorosas propriedades a distinguir finança em primeiro grau, exibem a mão-de-obra honesta, na construção de conforto e beleza progressivos. Mas não escondem a choldra que os habita em alguns andares, da atmosfera enfumarada das fumaças de charutos de bom preço, nas jogatinas malinadas para briguentas, constituindo outra mão de obra mal guiada, que se especializou, por meio do tiro ou da faca, em substituir verbas a descoberto, por válidas na compra e venda de bens individuais. A luta do bem e do mal, também faz parte da valentia económica americana, posto que o segundo, tem a Lei na peugada.
Os auto vencidos, ou auto excluídos, perdedores do convívio social, por inaptidão ao trabalho, ou mandriice de cumprir normas de concórdia, expelem, para formar grupelhos, os componentes mais irrritadiços para com o semelhante e os adversos da submissão aos preconceitos legais. Esses excedentários da inactividade, criam casulos autóctones, que invertem a indolência, na preponderância em negociatas.
Sem bolsas de conteúdo humano, enchem os bornais de armas e munições. Assim munidos, num triz, têm trabalho para fazer e saber adquirido para trocar a subserviência, por conquistados valores à vista.
São os auto dominantes. Ou desafiadores, ou esgueirados, ou sujos de sangue, ou ... apresados pela Lei...
Estas singelas «crónicas», não têm o objectivo, de descrever o que o cinema todos os dias apresenta na televisão, ou se lêm em jornais, ou revistas. Nasceram, por acaso, ao constatar, - ou mais emocional e claro- ao por os pés, em relva semeada por funcionários contratados para manter o terreno limpo e convidativo a visitas. E pensar que, precisamente ali, 500 anos atrás, outros pés de portugueses oriundos do rectângulo europeu e das Ilhas dos Açores, pisaram em chão, pela certa, de rusticidade bravia, coberto de matagal emaranhado a encobrir pedrouços e lama, em circunstâncias dramáticas, que, como existentes neste Mundo só contaram na Carta Real do Rei D. Manuel I, de 11 de Janeiro de 1502, « ao permitir ir buscar Gaspar Corte Real».
Postos preenchidos pela companha de valentes e esperançosos tripulantes, as naus partiram de Lisboa. A energia, suplantava a Fé e a esperança.
De semanas a Séculos, nunca mais as viram atracar.
O que chegou, foi o esquecimento. A História, na peculiar frialdade da narração, a custo escreveu afoiteza e coragem. Sem documentos exactos, porém, nada mais poderia aventar.
Dentro de nós, o desatino da sorte apertou- nos a sensibilidade. Dor e incómodo, em cada passada no relvado macio e impecável do Parque de Plimoth. As personagens do passado, estavam em nosso redor. Entendiam-se entre si e apontavam o silêncio do seu esquecimento. Esforçámo-nos por as entender.
Mãos no computador e logo nos dispusemos a reavivar os padecimentos de há 503 anos de Miguel Corte Real e 384 anos, dos «peregrinos» ingleses, triunfadores de 1620.

Nº 9 A ESCOLA


Prossigamos a anterior «Crónica».
Em 1620, a seita protestante, nascida no Século XVI, durante a perseguição da católica Maria Tudor, de interpretar com todo o rigor a Sagrada Escritura e, por consequência, possuidora de «maior pureza que os sermões e cantos de Martinho Lutero», mandou a primeira embaixada à América, onde poderia enraizar os seus princípios morais severos e adoração simples.
O desembarque aconteceu em Plimoth, naquele enorme calhau, de algumas toneladas, já descrito.
A princípio cuidou-se serem os primeiros repovoadores da América documentados, dúvida que perdurou até ao Século XX, quando o Dr. Manuel Luciano da Silva, identificou o «TESTAMENTO» comprovativo de essa prerrogativa pertencer, passe as condições dramáticas que o obrigaram, a Miguel Corte Real.
Se, todavia, os «peregrinos do MayFlower», não foram, os primeiros na data, foram-no, sem dúvida, na bagagem intelectual que transportaram.
A Língua, a escrita, a velha experiência europeia, a imprensa, a engenharia, uma religião definida, costumes educados e tantas outras vantagens da civilização avançada....
No momento de assento dos pés no Continente Novo, na «Pedra de Plimoth», a inteligência, o método, a submissão às Leis, a ordem, começaram a edificar a «América.. América» dos nossos dias.
Era gente que já sabia muito. Razão mais que suficiente, para aquele apoio do desembarque ocupar local preparado para o manter em sossego e servir de relembrança às leis que se viriam a suceder ... e a seus cumpridores...
Em terra firme, o primeiro contacto com os habitantes locais, aliviou a fadiga e prometeu confiança no culto evangélico.
Gestos de paz, aproximaram os visitantes aos indígenas, chefiados pelo pacífico MASSASOIT (Massa= grande + soit= chefe), de verdadeiro nome Osamequina (Hosana + Quina) e as caras alegres dos prasenteiros seminús que o rodeavam.
MASSASOIT, título pessoal por ser o Rei de Rode Island que derivou MASSACHUSSETS, o «Chefe Bom», como iria ser denominado pelo peregrinos, seria um multineto dos povoadores, oriundos dos caminhos da Mongólia que chegaram pelas veredas do Estreito de Bering, ou pela cor da pele e gentileza no trato, terceira ou quarta geração de Miguel Corte Real, ou de algum dos seus companheiros de desventura.
Chamava-se o irmão de Massasoit, Quadrequina (versão fonética de CORTE + QUINA, da bandeira das quinas).
Massasoit, era o «MAIOR», «Chefe máximo» ou REI da tribo dos Wampanoags que quer dizer POVO BRANCO.
Acalmados com a simpática recepção e esfregada a higiene com escova, água e sabão, cada tripulante, tratou, sem demora, de executar o que estava, prèviamente determinado – trabalhar com esquema e método. Logo de princípio... ordem.
Começaram por fundar uma pequena aldeia, evidentemente, não semelhante às dos aborígenes, mas bastante melhor, formando um complexo de convívio, na defesa, conservação de gado e gestão familiar.
É essa aldeia que se encontra patente ao estudo dos temerários «peregrinos» de 1620, encimada com o letreiro PLIMOTH PLANTATION.
As edificações, distanciam-se mediante o auxílio a receber ou a prestar. Paredes bem feitas, de pedra, elevam-se a cerca de dois metros e pouco, portas de carpintaria aperfeiçoada e vergas a condizer. A cobertura, de colmo, formato em V ao contrário, perfeitamente amarrada, tal como ainda nos princípios do Século XX, encontrávamos nas nossas Ilhas, protegendo da chuva, da neve, do frio.
Dentro das casas, lá estão os seus habitantes nas lides diárias, usando o vestuário semelhante aos peregrinos. Na lareira, a panela de ferro com tripé, contém os alimentos, que o lume ateado está a cozinhar e que vão ser servidos e comidos pelos que ali representam. Uma travessa serve os comensais que utilizam o garfo, que quando não apanha a posta de carne ou peixe, o dedo polegar auxilia o transporte. Ali se exemplifica que os dedos também foram feitos para por a comida na boca. Tudo ao natural.
Nalgumas casas um monte de algodão para uso caseiro ou para venda. O tear, faz parte do mobiliário.
A meio da «aldeia», um forno de cozer pão, de utilidade pública. Uma adega, contém os apetrechos indipensáveis, prensa, vasilhas, etc.
No exterior, crianças, vestidas à época, brincam com uma bola de couro, mal ajeitada. Mas se serviu naquela altura, também serve agora, para exemplo, É igual.
Cada casa dispõe de um rectângulo de terreno, onde semea a hortaliça para consumo. Há, também quarteis para algodão e outras sementeiras,
Um curral para cabras, guarda os seus residentes que reclamam erva com os bramidos choramingueiros que lhe são próprios e que grande parte dos visitantes se sorri, por nunca os ter ouvido antes.
Em amplo terreno, bois e vacas pastam, pachorrentamente.
Apesar de estarmos a ver, confirmando pelo tacto, quase não acreditávamos que o cenário à nossa frente era , precisamente o mesmo de há 384 anos. Mas não valia a pena negá-lo.
Em 384 anos... que diferença...
América do Sul... América Central... América do Norte ... A Lei, ... alimenta o progresso.

Nº 8 A SEGUNDA PEDRA


É uma pedra comum, escura, nenhuma referência especial que a distinga de outra ao lado ou a milhas de distância. De tamanho avantajado e peso de algumas toneladas. Do seu berço de nascença, foi transportada para lugar que a protege das fúrias do mar e das travessuras dos visitantes. Eis a «Pedra de Plimoth».
Esquecia informar que ambas as «pedras», de Dighton, a nº 1 e Plimoth, a nº 2, que é esta que nos estamos a referir, se situam no Estado de Massachusetts, a 9 milhas de Fall River a primeira, no interior, na Baía de Narragansett e a segunda, poucas milhas além, na costa dos Bacalhaus.
Apresentada esta SEGUNDA PEDRA, que pode aguardar para dela escrevermos mais à frente, vamos, afinal, ao que prometemos na nossa crónica nº 3 e na anterior a esta, a nº 7.
As DESCOBERTAS, dos Séculos XIV, XV e XVI, deram que falar, em todos os Países europeus, ou nos conhecidos mais civilizados. Normal reflexão, pela ousadia do pequeno e estranho País, situado num enclave da internacionalizada Espanha (ainda hoje, confundido com o vizinho, por muita gente civilizada), que se atirara ao mar para agarrar bóia de salvação, onde baixasse âncora que robustecesse a sua independência.
O «Velho Mundo», sentiu pasmo e alguma ciumeira com os «Novos Mundos». Suspeitava-se que lhe vinham arrebatar a supremacia de ajustar lições de força com os mais fracos e próximos, conforme o seu bom ou mau humor de ocasião. De ora em diante, teria de mudar a arte de combater, se para mais proveitos, mas com maiores gastos e exigências de reformular ideias de competição, aperfeiçoar maneiras de obter lucros por luta ou astúcia e aprender a construir estaleiros, para também se emproar de navegante nos oceanos.
A cogitação, porém, levou anos a por em prática. O grande território da América, lá para ocidente, constava que só tinha arvoredo crescido, abundante e resistente para construções de barcos e moradias, muitos rios, montes de gêlo e habitantes de físico emproado e bom humor para escravo, que protegiam os corpos e as habitações, com peles de animais. Parecia, não ser muito convidativo.
Até ver, era preferível viajar por África, até à verdadeira Índia, onde as especiarias eram tentação já existente e de fácil proveito.
Mas o homem põe e os motivos empurram...
As guerras, em princípio, geravam-se por causas do alimento. Saciados os estômagos, cobiçou-se a posse de territórios para as produzir e fazer negócio. Asseguradas mais terras de cultivo e a correspondente produção excedentária, veio a disputa de mercados para ganhar mais reservas e gozar melhores comodidades. Como o dinheiro passou a dar importância e poder, conquistar tornou-se a forma trivial de subtrair dos mais fracos, com medalhas e nobreza.
Como tudo satura, outras justificações se descobriram para agrado da agressividade do homem para outro homem. Com o «altruismo das menções honrosas e das nomeações heráldicas», estalaram as guerras religiosas. Para não esticar a crónica, esqueçamos o que já lá vai, aprovado por quem não sofre a guerra e, pelos predestinados a morrer antes do tempo.
Martinho Lutero (1483-1546), padre católico alemão, resolveu «reformar» a Igreja de Roma e, João Calvino (1509-1564), deliberou o mesmo em França. As repercuções em Inglaterra foram notórias e profundas.
A religião, desafia os cérebros a pensar. Várias religiões, apresentadas as mensagens em leque de mostruário, os reflexos directos definem o aceite ou recusa dos receptores, mas também desapressam a firmeza íntima, ou exigem maior perfeição na crença.
A civilização que, quando progressiva, preenche, rápido, os vácuos das convicções hesitantes, todavia, se se queda na «miudeza» de medir e pesar, pergunta a pergunta, para «respostas tira dúvidas», desiste da paciência de esperar e começa a atirar pedradas para os lados donde ouve ruidos. E, aí está, a tal guerra religiosa pegada, sem data a marcar fim.
Martinho Lutero de 1517 a 1521, pretendeu «reformar» e religião de que era Padre. Mas Luteranos, insatisfeitos, porque o que o homem faz não é perfeito, «reformaram» a religião de Lutero, em diversas descendentes, com a indispensável raíz católica.
Percorremos este arrazoado histórico- religioso, com o fim único de comparar os «repovoadores» da América do Norte, com os da Central e Sul. Não basta tecer encómios ao que os nossos sentidos, hoje dão apreço. Baixemos o binóculo para as pedras das enseadas, onde pés descalços ou envoltos em couro, pisaram pela primeira vez.
No Sul e Centro da América, homens, mulheres, crianças, desembarcaram com os cérebros pouco recheados de letras e algarismos, ou em aprendizagem e, só depois, lhes chegou o ensino mais intenso, por intermédio dos jesuitas, que resultou positivo, mas em ondas de quezílias e ideias fixas, das novidades da terra úbere, do ouro, da prata, jóias e, mais tarde, do café.
Os colóquios nas famílias e nas sociedades, consistiam nos rendimentos do solo e os brilhos do subsolo.
A «Pedra de Plimoth», acima apresentada, actualmente defendida da destruição das marés, em local de propósito construido, os primeiros pés de europeus que recebeu, sustinham cérebros já desenvolvidos e aptos a fundar e prosseguir na orgânica de povoações.
Os ingleses que a pisaram em 1620, a si próprios se denominavam «peregrinos».
Arrasados de fadiga, tresandando a suor e vómito, barba suja e hirsuta, tez amarelecida pelas privações e balanço das ondas, aspecto bravio, de ânimo amolecido e desajeitado, por momentos descansaram na pedra firme de Plimoth, que a Nação americana guarda com fervor. Motivo de sobra.
Aquela inquieta e magrizela tripulação de devotos do MAYFLOWER, caravela de construção aperfeiçoada no tempo, disponibilizava o seu já elevado preparo intelectual, para dar início à construção de um País a progredir na justeza da MAGNA CARTA, documento destinado a por termo a abusos de autoridade, nervosamente assinada pelo Rei João Sem Terra, em 1215, a favor dos Barões Ingleses.
Eram os PURITANOS, portadores do catecismo de uma religião, que a queriam tanto ou mais «pura» d, na instrução, na sociedao que a Magna Carta, percursora dos «Direitos Humanos» na educaçãode.

Nº 6 & 7 REPOVOADORES & COMPANHIA

Na nossa última crónica, diligenciámos recapitular ocorrências marítimas para os lados da América, do Século XV ao Século XX.
Chamámos a atenção para o débito dos Açores, para com o Dr. Manuel Luciano da Silva, que no Século XX, deu esforço isolado, para retirar da lama das águas do Rio Tauton, próximo de Fall River, o DOCUMENTO, necessário e suficiente, para substituir da lenda ou meias hipóteses, o herói e talvez Santo Açoriano, Miguel Corte Real. As provas palpáveis que até então se escondiam com as marés, galgaram a terra e instalaram-se em lugar de destaque para testemunhar os factos ocorridos 500 anos atrás.
São os documentos visíveis, que contam, a perpetuar em letras de luto, embora, no pedestal da História Trágico- Marítima, dessa era, em que a Pátria valia a aventura e a vida dos seus filhos, com a paga por conta das ondas, e dos ventos. E o imprevisto não entrava na despesa, bastava o apego ao dever a cumprir, usando nervos enrijados pela Fé e músculos sustentados pela ânsia de superar as rudezas e carências das missões.
Tentámos evidenciar o período dos estudos da única via aberta dos mares, para Portugal achar novas terras. Porque era preciso implantar um Império, além do enigmático horizonte, que recebesse e alimentasse o crescimento da população e alargasse o território necessário para elevar o estatuto de autoconfiança e por a distância, as nações candidatas a trocas e negócios, na correspondente linha da igualdade.
E acrescentamos, que Miguel e sua marinhagem, por precedência e DOCUMENTO, foram os primeiros Repovoadores da América, na era áurea desse surpreendente esforço português, para firmar a sua nacionalidade e ter direito a proteger o seu futuro.
DOCUMENTO, ao abrigo da LEI, onde constam, a data, bem legível –1511 – o nome de quem sabe escrever e se responsabiliza pelos seus actos –MIGUEL CORTE REAL – e o selo inconfundível da CRUZ DE CRISTO, que chancela a exactidão.
Relembrámos que João Vaz, localizou e deu nome à Terra Nova em 1472, que logo de seguida, outro baptismo lhe foi conferido de Terra dos Bacalhaus, palavra esta de origem portuguesa. Talvez que o nome de Terra dos Bacalhaus, na altura, possa anunciar que antes de Cristovão Colombo pisar a Ilha de S. Salvador, em 1492, em Lisboa, já se comia o, ainda hoje, apreciado peixe. Se assim foi, mais uma contradição, da descoberta de Colombo.
De Gaspar Corte Real, respeitador do sigilo das navegações autorizadas pelo Rei, nada escreveu sobre os seus feitos.
O que sabemos sobre o que ele presenciou nas suas visitas à América, está descrito pelos diplomatas espiões italianos, Alberto Cantino e Pedro Pasqualigo.
Cantino, escreveu ao seu «patrão», Hércules de Este, Duque de Ferrara, que vigiava ocasião de intercalar oportunidade para desviar lucros.
Damos os tópicos principais:
« No quarto mês chegaram à vista de um grandíssimo país ... encontraram abundância de frutas várias e suavíssimas e árvores e pinheiros de tão grande altura e espessura que seriam grandes demais para mastros da maior nau que andasse nos mares.... os homens deste país dizem não viverem senão da pesca e da caça de animais, dos quais a terra abunda, veados de longo pêlo, cuja pele eles usam para vestuário e fazer casas e barcos ... dos homens e mulheres deste lugar, agarrados pela força, cerca de cinquenta e tendo-os trazido ao Rei, os quais eu também vi, toquei e examinei; começando pelo seu tamanho, digo que são um tanto mais altos que os nossos naturais, com membros correpondentes e bem formados.... os olhos são esverdeados e quando nos olham, dão uma grande frieza a toda a face; o falar não se entende mas mesmo assim não há qualquer aspereza e é portanto humano; as suas atitudes e gestos são muito suaves, riem bastante e demonstram grande alegria, isto quanto aos homens. A mulher tem seios pequenos e um corpo muito belo, tem um ar bastante gentil e da sua cor quase se pode dizer tão branca do que qualquer outra..... em todas as partes estão nús salvo nas partes vergonhosas que estão com pele dos veados... não possuem armas nem ferro, mas sei que trabalham e sei que o fazem com duríssima pedra aguçada, não havendo nada tão duro que não possam cortar com ela.... este navio navegou durante um mês e dizem ser duas mil e oitocentas milhas de distância... »

Pasqualigo também escreveu. Calcula a distância de Lisboa de mil e oitocentas milhas. Pouco adianta à carta de Cantino.


Foram estes dois informadores dos ICEBERGS, que dão nota das viagens de Gaspar.
Ao pedido de Miguel para «achar» seu irmão, o Rei D. Manuel, em 11 de Janeiro de 1502, condescendeu e acrescentou: « que sendo o caso que ele não ache o dito seu irmão, ou sendo falecido, o que Deus não mande, queremos e nos praz que toda a terra firme e ilhas que ele por si novamente neste ano de mil quinhentos e dois descobrir e achar, além da que seu irmão tiver achada, ele a haja para si ( Miguel ) e lhe fazemos dela doação e mercê com aquelas jurisdições, direitos , capitanias, cláusulas, condições ...»
Foi assim, que a Terra Nova, ou Terra dos Bacalhaus, também adquiriu, por doação Real, o terceiro nome, de Terra dos CORTE REAIS.
Miguel, nem teve tempo de relatar os resultados das suas arriscadas viagens. Ele e os desditosos companheiros de infortúnio, porém, marcaram a sua presença, no linguajar das tribos índias.
Palavras portuguesas, entraram para permanecer, no dialecto dos nativos.
O Dr. Manuel Luciano da Silva, indica algumas, como prova do contacto demorado, havido com interlocutores a falar português:
Cabbo, que deu cape, em inglês.
Casco, Curvo, Pico, Manhã, Pouca, Vasque, Ariscos, Chepadas, Cochecho, Machias, Negas, Osso, Sábado, Tomar, que deu Tomah River, Tomah Lake; Tejo ou Tagus, que baptisou Tagus River, Tagus Lake, Sagres, havendo um local próximo da Pedra de Dington, de nome Sagues e Saugus, uma vila a norte de Boston, Catana, Monte – Mount Hope, Montaut – Mont´Alto, Amen – Amenquina, nome de chefe índio, etc.
Anotámos, também, que, depois dos primeiros povoadores mongóis ou outros que seguiram o mesmo caminho, de há 20.000, 25.000 ou mais milhares de anos, dependendo os números, das manifestações de vida que os arqueólogos vão desenterrando dos «fósseis», ou pó dos tempos, tinha duas fases separadas por ténue biombo de critério: a primeira referindo-se a datas da Redescoberta, concluídas por homens de valentia salgada nas mareações e na rudeza das fainas sofridas e a segunda, porventura mais chegada ao conceito da sua actual postura, o nível intelectual dos repovoadores.
Sobre datas das redescobertas, estão referidas acima, com relativo pormenor.
O segundo aspecto, dará conta, a nível do intelecto dos repovoadores. Porque foi de suma importância, o estado de desenvolvimento intelectual dos repovoadores de 1620, pronto a dar o salto e fazer entrar no progresso, o Continente habitado por homens de aparência feroz, mas de riso espontâneo e gestos simpáticos, como os descreveu o diplomata italiano Cantino, em 1501.
As exteriorizações destes descritos autóctones, patenteiam que, por si próprios, na área da amizade e respeito humano, já tinham atingido elevado grau de civilização. Se prova é necessária, repare-se na maneira, podemos dizer, gentil, como teriam sido recebidos, Miguel e os deseperados companheiros de infortúnio, cuja fusão, contribuiu para bem receber os Peregrinos ingleses em 1620.

Foi a oferta de um passeio a Plimoth Plantation, que para nós e para todo o visitante interessado nas vivências de épocas passadas, nos seus usos e costumes, é uma das melhores lições práticas da História, que nos espicaçou escrever estas crónicas, prestando atenção à verdade do, realmente acontecido.
Após terminada esta lição, com todos os ingredientes do Século XVII, sentimo-nos gratos por quem pensou em reabilitar as fadigas por que padeceu o primeiro alistamento de colonos, portador do embrião intelectual da América. Ao correr desta descrição, escrevemos «embrião», porém, ao reconsiderar o termo, teremos de o substituir, por outro, mais válido e convincente, o de « escola ».
Porque o «embrião», pôs o pé na América, no meio dos primeiros povoadores. Foi esse «germen» que se desenvolveu, coordenando o aperfeiçoamento da caça e da pesca ; da saída das grutas, aproveitando as peles dos animais digeridos, para vestidos e construção de habitações em lugares abrigados e próximos de água, onde o peixe se deixava apanhar e os animais iam matar a sêde ; foi desse mesmo «embrião» que nasceu a ideia de serrar madeira para residências mais confortáveis, resistentes e duradouras; dele veio o incentivo de domar os cavalos, brincalhões naturais do Continente americano, montarem-nos e virem a ser excelentes cavaleiros ; juntar réqua ou réquas e encaminhá-las para a Ásia, usando a trilha do Estreito de Bering , a fim de disseminar o auxílio aos outros homens daqueles garbosos animais por todo o resto do mundo. Foi esse mesmo «embrião», que domesticou outros animais e aves para sua sustentação e manteve-os à sua beira; e foi esse «embrião, que os prisioneiros indígenas de Gaspar, em 1501, exteriorizaram ao serem mostrados aos visitantes em Lisboa, no seu riso franco e cristalino, mostrando que a agressividade temperamental, também já havia sido amansada.
Até que ponto, desabrocharam os «embriões» das diferentes raças que se adiantaram em ser americanas?... Receberam com simpatia, os repovoadores, Miguel Corte Real e companheiros e com estes se fundiram, para virem a colaborar na recepção aos «pilgrins» ingleses em 1620.
Aproveitamos para citar que compêndios escolares, atribuem aos espanhóis a introdução do cavalo na América, em 1517 e 1520. Os equídeos, nasceram na América do Norte.

Notícia no Diário dos Açores, de 5-12-2004 informava: « Agricultura organizada há 4.000 anos na América do Sul» e pormonorizava que uma equipa de arqueólogos descobriu uma sociedade agrícola complexa há 4.800 a 4.200 anos no actual Uruguai, muito antes do que se pensava. Os arqueólogos encontraram no sítio de LOS AJOS, nos pântanos a sueste do URUGUAI, vestígios de casas organizadas em volta de uma praça central, com locais separados para a preparação de alimentos e fabrico de utensílios. Análises feitas a grãos de amido e a outros fósseis de plantas mostraram que os habitantes desenvolveram uma verdadeira agricultura com milho, fruta e feijões.
Pensava-se até agora que antes da colonização espanhola do Século XVI, esta região não era civilizada, sendo só percorrida por pequenos grupos de homens para a caça e a colheita»
Já manifestamos que a arqueologia, não se sente inferiorizada, por ter de confessar que grutas, sepulturas a pântanos, parcimoniosamente, vão abrindo os seus segredos para espanto da ciência histórica, obrigando-a a vergar a cerviz, perante as últimas escavações. O que está sabido, tem muito valor, mas quanto falta para «saber»?...
Recordar, é aderir ao culto da verdade. Mas ela, não encobrindo o seu semblante austero, saltita em repentes, fazendo suar as estopinhas aos apaixonados para lhe descobrir o rasto. Não há forma de a encostar à certeza, nestas andanças pelo passado ...

Nº 5 Do Séc. XV ao Séc. XX

O Dr. Manuel Luciano da Silva, porém, minucioso nos elementos confirmativos do que se propôs esclarecer, transcreve, na íntegra, cartas de dois diplomatas italianos, em representação em Lisboa, Alberto Cantino e Pedro Pasqualigo. Ambos descrevem « os icebergs, o Continente- Canadá, os «índios» ( o tal baptismo ou alcunha Colombiano), que Gaspar trouxera como mostra, «um tanto mais altos que os nossos naturais», vestidos com peles de animais, principalmente lontras- homens que são os mais excelentes para o trabalho e os melhores escravos que houve até agora. O seu aspecto asselvajado, encobre atitudes e gestos muito suaves, riem bastante e demonstram grande alegria.
Refere, ainda, a referida correspondência que a distância da Terra Nova a Lisboa «Dizem ser mil e oitocentas milhas ou duas mil milhas».
Estes são alguns dos reparos dos italianos Alberto Cantino e Pedro Pasqualigo, referentes aos aborígenes americanos trazidos por Gaspar Corte Real, que eram os descendentes dos grupos mongóis, que havia 20.000 ou 25.000, ou mais milhares de anos atrás, sangraram os pés, atravessando os rochedos do estreito de Bering.
Mas Gaspar, insatisfeito com o muito que havia praticado, teimou aprofundar conhecimentos «e que quer ainda agora a continuar a por em obra e fazer nisto quanto puder por achar», como acentua o Rei D. Manuel, em Carta Real de 12 de Maio de 1500.
D. Manuel, em cartas de 27-1-1501 e 15-1-1502, reitera autorização a Gaspar para embarcar e « fazer todo o possível para executar o seu plano».
Desta última vez, Gaspar partiu... mas não regressou. Deu início à tragédia.
Seu irmão Miguel, rogou a D. Manuel para o procurar, que a 11-1-1502, condescendeu : « fazemos saber que Miguel Corte Real, fidalgo da nossa casa e nosso porteiro mor, nos disse ora que vendo ele como Gaspar Corte Real, seu irmão, havia dias que partira desta cidade, com 3 navios a descobrir terra nova, da qual já tinha achado parte dela e como depois de passado tempo viera dois dos ditos navios à dita cidade haveriam cinco meses e ele não vinha, que ele o queria ir buscar»
Assim, devidamente autorizado, Miguel aproou à Terra que viria a tomar o nome de Cortes Reais. Partiu e ... desaparecidos documentos históricos, só restou a lenda.
Em 1913, o Professor de Psicologia, Edmund Burke Delabarre, da Universidade de Brown interessou-se pelas «garatujas» de uma pedra de 40 toneladas, jazendo na margem esquerda do Rio Taunton, próximo da Vila de Dighton, não longe de Fall River, na Nova Inglaterra. «Garatujas», que haviam atraído a atenção do Rev.. Jonh Danforth, em 1680, de James Winthrop, em 1788, de Baylies e Goodwin, em 1790.
O Professor Delabarre, durante dois anos estudou o que se escrevia sobre o assunto, sem conseguir tirar conclusões satisfatórias. Mas insistiu na análise directa da «pedra» e, em 2 de Dezembro de l918, distinguiu a data de 1511. Um achado, a estimular e convencer que outros estariam a aguardar a sua hora de revelação. Delabarre, desvendou, logo a seguir MI e CORT, que queriam gritar MIGUEL CORTE REAL e «viu», também, o escudo português em V.
Por estas descobertas, o Professor Delabarre, foi condecorado pelo Governo Português, com a Comenda da Ordem de Cristo.
José Dâmaso Fragoso, nascido na lha de S. Miguel, «Fellow» do Corpo Médico de Clínica de Lahei, em Boston, prestou atenção à «Pedra de Dighton», desde 1928, fundando a Memorial Society de Miguel Corte Real, que comprou os 49,5 acres da terra adjacente à Pedra e fundou a revista intitulada O Mundo Português.
O Professor Fragoso foi combatido, incluindo ofensas corporais. Mas concluiu na existência da Cruz de Cristo, o que decidiu a teoria dos Corte Real.
No Século XX, porém, tudo se esclareceu. Já era tempo.
O Dr. Manuel Luciano da Silva, desapossou-se dos momentos de descanso que a profissão de médico prognostica e quando a maré baixa autorizava, calçou botas altas impermeáveis e lá ia ele, a estudar a já baptizada «Pedra de Dighton».
. Leu, releu, luz ao alto, luz rasante, frio, chuva, tudo fazia parte do propósito de por a claro, o que fora gravado na pedra, com a lágrima da saudade no corte do cinzel. Teimou … padeceu… decifrou : Miguel Corte Real e sua companha, foram os primeiros repovoadores do Continente Americano na era áurea portuguesa.
O Dr. Manuel Luciano da Silva, tem recebido felicitações de muitos meios intelectuais.
Quanto a nós, falta a presença do agradecimento AÇORIANO.
Os Açores, têm forte motivo de reconhecimento a quem documentou, com sacrifícios e trabalhos, de mais, voluntários, para que o seu ilustre Filho, Miguel Corte Real, transitasse de uma meia lenda, baseada em hopóteses possíveis, para a História real e heróica, dos descobrimentos. Não foi tarefa comezinha.
Afecto, a quem o merece. Os Açorianos, costumam a ser corteses.
América … América, grande é o teu porte. Na seiva que te nutre, correm lembranças tristes, outras conformadas e sangue, suor, com muitas lágrimas de bons portugueses, que sempre contigo estiveram… e se não afastam.

Nº 4 Do Séc. XV ao Séc. XX

Em 1620, já os portugueses, estavam cientes das rotas que pretendiam sulcar. Os oceanos tinham-se aberto à comercialização nas costas oeste e este de África, no Brasil, na Índia, no Oriente.
Colombo, feito grumete a comandante de marinha em Portugal, mais aventura que génio, se bem com energia de dar e vender, para ganhar a vida, querendo encontrar a Índia, desembarcou na Ilha S. Salvador, no ano de 1492 e lhe chamou « Chave do Novo Mundo». Descobriu a «Redescoberta» da América, realizada pelo navegador português João Vaz Corte-Real em 1472, ao desembarcar na Terra Nova, ou Terra dos Bacalhaus. A distância dos paralelos ao equador, do Centro –as Antilhas- ao Norte –o Canadá-, tudo é América.
A confusão de Colombo, não lhe retira o mérito da proeza e se lhe pode acrescentar que apelidou as Ilhas da América Central, de Índias Ocidentais. Colombo tinha afirmado que chegava à Índia e não seria de bom tom negar-lhe a palavra. Índia seria o lugar onde desembarcasse. Assim, os habitantes, da Gronelândia à Patagónia, partindo de cima para baixo, atravessando Américas do Norte e os Brasis, receberam, em S. Salvador, a bênção Colombiana de Índios. Os outros, os verdadeiros habitantes da Índia, para não se baralharem, mudaram-se para Indianos.
A presença de repovoadores europeus na América do Norte, esteve ramificada em incertezas, até ao Século XX. A memória dos homens está mais aberta aos últimos acontecimentos, do que aos mais antigos, desviados para a penumbra do esquecimento.
É, porém, ao sucedido nas «raízes», junto às ocorrências que se lhe seguem, que se podem rebuscar deduções qualificadas para chegar à América dos nossos dias.
A América dispõe a quem a quizer estudar nas suas fases de desenvolvimento, de duas partes distintas: A primeira, de importância humana e histórica, refere-se a datas da Redescoberta pelos europeus. Entenda-se que europeus, só podem ser os iniciadores portugueses, seguidos a certa distância de espanhóis. A segunda, porventura mais chegada ao conceito da sua actual grandeza, o nível intelectual dos seus Repovoadores.
Para esclarecer datas, não faltam historiadores a esforçarem-se a apontá-las. Optamos, porém, por um Homem de História, nosso contemporâneo, felizmente ainda vivo, que, voluntário do «amor à camisola», sacrificando tempo e valores pessoais, só, sem qualquer auxílio, teimou perceber a mensagem de náufragos angustiados, gravada, com sangue, lágrimas e saudade desenganada, num calhau de 40 toneladas que a maré cheia encobria, nas costas da Nova Inglaterra, carregando os nomes de heróis Açorianos, santificados pelo desespero de não poderem ter salvo o transporte que até ali os viajara, para imporem bonança ao mar e reverem as Famílias.
O Médico português estabelecido em Bristol, Rhode Island, Dr. Manuel Luciano da Silva, nascido em 5-9-1926, na Aldeia de Cavião, Concelho de Vale de Cambra, Distrito de Aveiro, é o Historiador-investigador que, em pleno Século XX, desmistificou teorias e ilações, retiradas de lendas e indícios inseguros, em tentativas de explicar a meia- luz do passado.
É do livro deste escritor que vamos volver folha a folha « Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton», com o intuito de dar o nosso contributo a difundir a presença da História de Portugal, destacando os Açores, que nos são caros, para com a portentosa América.
A João Vaz Corte Real, 20 anos depois, é que Colombo, sem o saber, errando informes de ocasião, desenvolvendo anseios de aventura e poder ganhar a vida, arriba a uma ilha americana, como podia ter sido ao Continente em 1492, a expensas da Rainha Isabel, a Católica, de Espanha.
O entusiasmo de «redescobrir», não a América Continente, que já se sabia onde se situava, mas o que conteria no seu «bojo», levou João Fernandes, o lavrador, e Pedro de Barcelos e atingir a Groenlândia e a Península que tomou o nome da profissão do primeiro, de Labrador, em 1495.
Recomeça, então, a sagração dos açorianos, na América do Norte.
A Família Corte Real, era oriunda de Tavira, no Algarve.
João Vaz Corte Real, primeiro «redescobridor» da Terra Nova, recebeu uma parte do Governo da Ilha Terceira, pelo diploma de 2-O4-1474, ficando a parte da Praia, a Álvaro Martins Homem. D. Manuel, pelos serviços prestados, concedeu, ainda, a Ilha de S. Jorge.
Homem do Mar, não sentisse em todo o seu ser o chamamento da profissão que juntou à de investigador, legou aos filhos Gaspar e Miguel, a mesma têmpera de se não conformar com fronteiras.
Morto o Pai, em 1496, Gaspar, por carta do Rei D. Manuel, de 12-O5-1500, saíu de Lisboa para as Terras que viriam a tomar o nome de Cortes Reais. Obtidos êxitos, D. Manuel, repetiu autorização em 27-01-1501, acrescentando João Martins e outra em 15-01-1502.
Em consequência da política oficial de sigilo, Gaspar, não deixou nada escrito sobre as diversas viagens pesquizadoras que se abalançou «com muito trabalho e despesa da sua fazenda», como mandou escrever D. Manuel.

Nº 3 PRINCÍPIOS E REALIDADES

Falar da América sem intrometer trechos da sua história, será como referir uma «meta» engrinaldada, sem referir as motivações nem o percurso da corrida.
Divulgar História, quanto a nós, é um dever a quem pretende referir situações actuais. Saber, não cai como a chuva. Tem princípio, meio e... nunca chega ao fim. E quando a História de Portugal está envolvida, mais obrigação há, em trazê-la à tona. Comecemos:
A descobertra e povoamento das Américas - do Norte e do Sul - guardam segredos, que, talvez nunca venham a ser clarificados, com os derrames de luz que se desejariam, conquanto já se tenha avançado com razoáveis hipóteses, provindas de todos os ramos onde a ciência se tem imposto.
Se o Homem, na depressão de Afar, no norte de África, perdeu o apêndice posterior, parente do macaco, se é que o perdeu sem nunca o ter usado, por ter surgido de corpo já arredondado e liso, como os gorilas, o que nos parece mais certo;
se, na posição erecta, estômago para acalmar, olhos para ver, braços e mãos para aplicação das actividades físicas, incluindo defesa e pernas para andar, se disseminou, no seu continente de origem, criou raízes e adiantadas civilizações e se acolheu nas incultas senzalas;
se, na posição erecta, estômago mal nutrido, olhos para ver, braços e mãos para apaparicar o físico e preparar a defesa e pernas para andar, avançou para a Ásia, onde calcorreou estepes, libertou ideias na agricultura, na construção de pedra e barro e na legislação para harmonizar conjuntos de habitantes de opiniões opostas, e, com isso, fundou culturas sociais, tidas em conta, na actualidade;
se, entrou na Europa, para dar largas à ambição de exigir conquistas e ensinar o que inventara na Ásia;
se, vendo madeira a boiar, construiu jangadas e desceu à Oceania;
se todos estes «ses», que não são nossos, mas das ciências paleontóloga e antropológica, que depois de apresentarem certezas pedem desculpa para revelar novas mostras de actividades, até então, descansadas em grutas ou sepulturas, que anulam as anteriores;
se todos estes «ses», repetimos, aconteceram na realidade, teremos de aceitar a arriscada travessia dos rochedos do estreito de Bering de famílias mongóis, nómadas, maltrapilhas e famintas, nessa ocasião com a superfície do Oceano, a cerca de 150 metros mais baixa, e foram os primeiros a avistar e a converter-se nos habitantes da América.
Vindos das desprotegidas estepes russas, da taiga de coníferas, atravessando a tundra gelada, revestida de musgos e fungos, estes magricelas errantes, ficaram deslumbrados com a fauna e flora, encontradas nesta terra não sonhada.
A demarcação de locais sortidos de água, caça, fruta, vegetais, retinha estes ambulantes, necessitados de alimento e descanso, enquanto se queriam certificar que teriam encontrado as dádivas da Natureza tanto ansiadas. O tempo e a procriação, por sua vez, transformaram o acampamento, conjecturado passageiro, em povoados sedentários, que se foram emancipando, por usos, costumes e que, por isso mesmo, avelhentaram tradições, zelaram pelo seu espaço, fechado a interferências de estranhos assomadiços a amizades.
Sem pressas, mas com persistência, os reais descobridores e povoadores das Américas do Norte e do Sul, foram deslocando os acampamentos até ao istmo do Panamá, passaram ao Brasil e não destemeram os rigores da Patagónia.
Ficámos, assim, a saber, em linguagem sucinta, mas sem ambiguidades, que o tirano estômago, ou melhor, o aparelho digestivo, como excitante da intepidez, foi o iniciador e finalista da descoberta e povoamento dos cinco Continentes. Em constantes exigências, estimulou a melhoria dos cinco sentidos, aguçou a inteligência para pegar numa ponta do novelo intrincado do espírito inventivo e, tosco a tosco, destapou o manto intricado da ciência e distribuiu a técnica, para ser o ganha pão da central do trabalho - as famílias. Mastigar e engulir, principais mentores da vida, mais pernas para andar e raciocínio para a protecção física.
Séculos, se passaram.
A Natureza, em cada Continente, dispensou ao Homem, o que a sua situação geográfica, solo e clima, lhe permitiam produzir.
Logo que sossegadas as ocasiões de comer e ressarcidas em sonecas as pesadas digestões de géneros não ou mal cozinhados, rebentou a faísca do conflito. No começo entre cabanas, alastraram às senzalas, juntaram tribos e sempre em crescendo, deram forma a civilizações que progrediram e deixaram monumentos. A luta, acirra os ânimos, mas também os alerta para o melhoramento do agregado social.
Civilizações sucederam-se a civilizações. As alterações climatéricas destruíram algumas. Os prazeres contentados, encarregaram-se de corroer a autoridade e desconjuntar a ordem. A queda acontecia. Saciadas a fome e a sêde, a sonolência, amolecia os corpos e degradava a obra feita, resultando runas abandonadas e vestígios de outras, decifráveis poucas, enigmáticas, a maior parte.
A Paz, não quer repouso. Fortifica-se no trabalho dedicado e insistente. Sempre impôs o trono da autoridade, desde o desforço na floresta, na estepe, no deserto, ou na savana... Por isso, instituiu a civilização e a Lei. Hoje, com maior povoamento, mais se torna indispensável a supremacia da obediência.

De portos diferentes, onde a saturação humana, consumindo mais do que as colheitas, estorvava a convivência pacífica dos agregados, saiam embarcações a ensaiar as ondas, com tripulação intrépida e aguerrida, para encontrar o que exasperava a falta de refeições.
Foram os fenícios, os gregos, os cartagineses, os egípcios, do clima mediterrâneo, germinador mediano da fauna e flora, mas insuficiente, para alimentar a avalancha da geração humana. Os povos do norte da Europa, os Vickings, nome que engloba Suecos, Noruegueses e Dinamarqueses, dispondo de uma relativa pequena área cultivável e maior de florestas, com extensas costas marítimas, polvilhada de centenas de ilhas, transformaram-se em marinheiros adestrados, corajosos, valentes e... de temperamento implacável. Os árabes, entrincheirados entre deserto e mar, também, se entusiasmaram em construir transportes para a pesca e traficância, de que eram mestres.
Todos os povos descritos, tinham profissionais de cabotagem. O embalo do vento brando, predispõe à ousadia de desvendar os mistérios do horizonte, esse beijo da céu e da terra, a esconder tentações que as carências vividas, entusiasmavam a atingir maiores distâncias.
O Oceano Atlântico, foi percorrido de lés a lés. Se a sorte estava de bom humor, teriam chegado a portos de África ou América, com os barcos bem conservados, permitindo, pelo menos, tentar retorno. Se vendavais encresparam o mar, talvez fosse possível varar o que restava da curiosidade de enfrentar o ignoto, mas o regresso estaria comprometido e os tripulantes ajuntavam-se aos nativos.
No Século X, os Vikings, arribaram à Gronelândia e ao litoral da Terra Nova.
Os Reis que nos séculos XII, nos governaram, desde o primeiro, o musculoso D. Afonso Henriques, posto que com pouca instrução, amontoavam conhecimentos náuticos para defenderem o «rectângulo», onde só era possível estender os braços para o mar. O poeta D. Denis, no Século XIII, não se fiou em «cantigas» de que o reino estava completo e teve a precaução de preparar os meios necessários para precaver o futuro. A explosão demográfica, desde o Século XI, avisava que soluções deveriam ser encontradas para alimentar quem quisesse ser independente naquele território, sujeito a ter de se obrigar a por sentinela de vigia ao vizinho ou embarcar para o já sabido norte de África.
Finalmente, no Século XIV, os marinheiros estudaram os ventos e correntes para navegação à vela e os astros para se orientarem sem terra à vista. A Estrela Polar e o Sol, pontos essenciais.
Então, experimentaram-se os «Descobrimentos».
Com este nosso arrazoado, mais longo por respeito às gerações que jorrando suor e sangue, «evaporaram» o «Mar Tenebroso», permitindo-lhe uma fugaz reaparição no «Adamastor vingativo», pretendemo-nos relembrar e aos leitores, do que foram as «Descobertas ou Redescobertas» dos portugueses de quatrocentos e quinhentos, precedidas de povos marinheiros, para quem frágeis escaleres, eram recompensa para prestar a apanha do sustento.
Sacrifícios sem conta, que o conforto do Século XX malbaratou, em leilão de herança repudiada por ideias ao desbarato.
Foi-nos oferecida a oportunidade, de uma visita a Plimoth Plantation de 1620, uma recordação viva de casais arrojados que contribuíram para o alicerce da «América ... América», donde retirámos interessantes ensinamentos, a descrever em próxima crónica.

Nº 2 A CIDADE E A CULTURA

Mais uns empurrões e palavras de entusiasmo e lá vamos nós a caminho de New York.
Magníficas estradas de 4 faixas, ladeadas por uma vegetação densa, robusta, verde forte, salpicada de verde- cré, ruborizada pelas folhas de frondosas árvores que nos pareceram giestas, como a querer disfarçar o silêncio confuso e estranho, das autênticas aldeias ou vilas, que se alongam poucos metros ao lado, desabitadas e tristonhas, durante as horas agitadas do abastamento organizado e imutável, da industriosa América. Os empregos escoam as residências, o trabalho cumprido, devolve o convívio entre as famílias.
O «bus», onde seguíamos, de porte avantajado, deslizava a par com os outros circulantes, de diferentes pesos e tamanhos, sem se notar, em todos, mais ou menos pressa.
Notava-se que cada pessoa tem um horário que cumpre com zelo e pontualidade. Todos os horários, porém, aportam a uma tabela comum, que chancela o encargo individual no comportamento e na profissão.
Avistamos New York. Cimento e aço a subir aos céus, a quebrar o fabuloso, da anã «Torre de Babel».
Esta viagem, teve, também a finalidade de assistir ao espectáculo da «Companhia Portuguesa de Bailado Comtemporâneo», onde actua a nossa sobrinha Rita Reis, no «The Joyce Theater», na Eighth Avenue. Para lá nos dirigimos, antes de «ver» a Cidade Império.
Vale a pena descrever a actuação do que assistimos, para nosso prestígio. Não somos críticos de arte, nem pretendemos sê-lo agora. Assiste-nos, porém, a faculdade de transmitir o que sentimos e retirámos na noite do último dia 15 e pô-lo em letra de forma para ficar registado.
De 12 a 17 do corrente, apresentou-se a Companhia, naquele teatro, sempre com a lotação esgotada, apesar de Bush e Kerry, exporem ao público as suas razões, para ocuparem a Casa Branca, na afortunada e «sapiente» televisão, para onde se criou o hábito de acorrer, a buscar cultura, para exibir pareceres catedráticos.
Amaramália – Abandono», foi o programa. Argumento baseado em 10 fados cantados por Amália.
Enquanto se ouvia a artista em disco, no palco, os troncos, os braços, as mãos, as pernas, os pés, os dedos, declamavam, em simultâneo, mágoa e anseio, insatisfação e esperança, o ciume e a ira, o desalento, o pecado, a ingratidão, o amor que perdoa, numa harmoniosa sinfonia de gestos, a implorar a ilusória concórdia dos amores ardentes e o «fado» do apetite... da lágrima... dos desenganos...
Alguma influência terá, no sucesso da Companhia Portuguesa de Bailado, o título comercial do espectáculo e as canções de Amália, mas a actuação dos 15 jovens, dirigidos por Vasco Wallenkamp e Graça Barroso, no palco, é o ponto forte que emociona o espectador.
Corpos inquietos, simulando ondas calmas ou agitadas, qual serpentes na apanha da maçã pinga- amor, corpos falantes, sofridos ou atormentados, a gritar emoções e paixão, mostraram, no «Joyce Theather», em New York, na noite de 15 de Outubro de 2004, a que assistimos, que foram justos, os entusiásticos aplausos, concedidos a gente portuguesa. Que nós, jubilosos, acompanhámos também.

O nosso «bus», terminou a viagem na estação situada na Nona Avenida de New York, relativamente próxima do hotel onde iríamos passar a noite.
Começámos, por isso, de imediato, a experimentar o trânsito numa rua larga, densamente movimentada por raças diferentes, com portes semelhantes. Os atropelos, por magia, não se davam, sendo nós os causadores de uma ou outra ligeira colisão, deficiência breve corrigida, porque aprendemos depressa, a tomar como modelo, as regras e civismo que virmos fazer em terra alheia.
Dos dois lados da avenida, de porta em porta, estabelecimentos comerciais. Vestuário, feminino e masculino, calçado, ourivesaria, bijutarias, restaurantes em maior número, hotéis, farmácias , bancos e não chegámos a anotar mais, por nos ter sido impossível, percorrer, a pé, com a devida atenção e demora, a avenida em todo o seu comprimento. Nos agigantados prédios, em espaços e alturas, devidamente calculadas, aparatosos anúncios, tentam seduzir a atenção de quem passa. As cores berrantes, egoistas, em alternância insistente, exibem a farfalhice de representarem o superlativo dos predicados de consumo, no propósito de figurar a vanguarda agressiva de lutador para lutador, de marca para marca. Cada anúncio desafia o olhar só para si.
Quem trata da sua vida a calcorrear o alongamento das avenidas de New York, tem sempre com que se entreter, a observar cenários de luzes na aparência brincalhonas, mas que têm o seu significado mais fundo, de que para escapar num mercado complexo, é essencial olho vivo e ideias a remodelar o mesmo com outra configuração, se não possível, também com o avanço da técnica que, desde o século XIX, tomou balanço para não mais parar.
Passada a noite no Milford Plaza, no vigésimo andar, deslumbrámo-nos com a festa dos diferentes tons da iluminação, estampados no rendilhado de linhas paralelas, oblíquas e perpendiculares, da traça pedonal e dos faróis apressados de chegar ao destino, que já era tarde para o descanso, no final da lida diária.
Pela manhã, do sábado, dia 16 de Outubro de 2004, ao sair do hotel, para o pequeno almoço, como passe de mágica, a 9ª Avenida tinha-se escapado para a cartola de prestidigitador de outra nacionalidade, hábil nos truques, interesseiro em camuflar negócios. Nem um automóvel a embaraçar o interesse comercial de centenas ou milhares de pessoas no meio da rua, na nossa frente, e depenicarem nas barracas, barraquins, simples mesas, ou mesmo no chão, onde, dependurados ou estendidos, à moda das tradicionais feiras minhotas, beirãs, alentejanas ou algarvias, se exponham bugigangas de complicada referência, artefactos de origem africana, chinesa, indiana, vestuário, calçado e toda a série de produtos acessíveis a lares modestos. Nem faltava o fumo, saído de lareira ambulante, onde se coziam ou assavam maçarocas de milho verde, ainda encamisadas, que deliciavam os apreciadores.
Como diferenças das nossas feiras, não presenciámos o cheirete agressivo da assadura apressada das sardinhas, nem os efeitos «animadores» do «tinto», que tanto se lhe dá «botar cantiga» de mal ou bem-dizer, como descarregar gargalhada etílica na cara de qualquer anónimo agredido. Não era preciso, nem ali teria lugar.
Na «terra da América», a rotina aperaltada e sempre a retocar o aspecto exterior, prevalece para a mediania dos cidadãos. Para os menos abonados, contudo, também se aparta ocasião para, pelo trabalho, diminuir carências e remover oportunidades, como esta na Nono Avenida
A Imperatriz «finança», não se fica pelo posto elevado do seu indiscutível poder, desce, também, graciosamente, os degraus dos que tropeçam e querem remir os direitos de libertação das amarras viciosas.
Dizem-nos e o que se lê em jornais e revistas, o confirmam, que há bolsas de desditosos que se reúnem a compartilhar infelicidades e desastres pessoais ou familiares, divorciando-se dos convívios e da lei. Outros, de temperamento flácido, abandonam-se ao « Deus dará» da sorte e do acaso. Há, ainda, os desimportados, mesmo acintosamente repudiantes do quinhão que lhes caberia na sociedade e se autoflagelam, resignando-se aos rudimentos de habitação, alimento e moral. E todos se reúnem, em amálgama de sentimentos tímidos e decadentes, com estatutos biliosos.
E, entre eles, ou à ilharga, aproveitadores desse desconcerto, usufruem dos melhores cómodos e remunerações, sem bulir no esforço do merecimento. O declínio anímico de fracos, faz ricos, os vendeiros de futilidades e promessas vãs.
Comiseração e ajuda, merece a fraqueza. Indiferença e censura, a mistura do oportunismo para receber iguais benesses.
Não é, portanto, notícia estranha, nem localizada, a existência de agregados de fracos. Todos os locais de mais densa população, sofrem de igual enfermidade
Desde que o Homem reflectiu, que teria de tratar de si, para continuar vivo, esta mensagem distribuiu-se morosamente e nem sempre atinge todos os cérebros. A constituição fisiológica, não permite igualizar atitudes.
Todos os Governos, quando podem, retiram fatias do seu orçamento, para esvaziar esses reservatórios de débeis de esforço no trabalho em sociedade. Acontece, porém, que o nível de assistentes, rápido volta ao mesmo, na retoma da subida, incluindo verdadeiros e falsos indigentes.
Os auto- vencidos, ou auto- excluidos, corruptores inconscientes da faculdade de querer, contrabalançam esse vácuo, impondo-se a si próprios, o direito à renúncia da sociedade. Com frenesim.

Nº 1 OBSERVAÇÕES RUDIMENTARES


Um repisado convite, alguns estímulos convincentes e empurrões de amizade, sentaram-me no avião da SATA Internacional, que me levou a desembarcar no Aeroporto Internacional de Boston.
De improviso, pisei solo americano, como novidade impensada.
De relance, atraíu-me a curiosidade, de retirar ensinamentos do que se me proporcionasse espreitar, da parcela onde viesse a passar os olhos, por pequena que fosse, da imponente nação, actual entidade que domina os ares, os mares e as ocorrências influentes nos paralelos e meridianos, nas longitudes e latitudes do globo terrestre.
América...
Na breve passagem por Boston, sente - se, de imediato, a sensação do fremir desembaraçado no movimento das cidades que são grandes por mérito próprio. Iluminação a rodos, anúncios garrafais e coloridos, mais carros que gente.
Chegados, porém, ao nosso destino, retraímos essa primeira impressão, ao desembarcarmos do indispensável automóvel que nos transportou, em rua larga, como as nossas, com residências em volta, mas sem ninguém a percorrê-la por motivos normais de trânsito. Estávamos num dos incontáveis bairros que circundam todas as cidades, onde habita a mão-de-obra que fornece e assegura a produção que vai normalizar o ritmo de abastecimento dos mercados e garantir as normais trocas económicas. Não são aceites interrupções por desleixo ou carências. A mão humana, continua a ser indispensável e de muito apreço.
Nos arrabaldes, ou dormitórios das cidades, as casas, independentes umas das outras, de cores variadas e frontarias multiformes, mais parecem enfeites de presépios que habitações de gente diligente e responsável no cumprimento diário dos afazeres retribuidores do sustento para a família que querem feliz. Manchas de beleza com raros passeantes, mas de onde em onde, se destacam desportistas de ambos os sexos a experimentar as qualidades de resistência ou velocidade.
Quem manda no tempo, é o automóvel. É ele que calcula entrevistas, marca presenças no emprego, resolve negócios, decide palavras ou assinaturas e vai às compras. Sem ele, não contam as pessoas. O telefone, só reserva para si conversas particulares e entendimentos passageiros e já é bastante.
Por razões ponderáveis, o automóvel, talvez ouvindo comentários dos passageiros, resolveu criar os seus direitos, visto que os «Direitos do Homem» em distantes paragens, estão pelas ruas de amargura.
Admite-se, por hipóteses de acertos mais ou menos críveis, que a mecânica pode ultrapassar a inteligência, pois esta perdeu o rumo e esvai-se nas fumarólas da fantasia.
Assim, nas estradas de duas ou mais faixas, só para um lado, os automóveis correm, respeitando as distâncias, as ultrapassagens, as necessidades de cada qual. Nota-se a azáfama de chegar, mas sem amolgadelas ou ofensas. Nenhum quer ser mais do que o outro, qualquer que seja a marca ou a fanfarronada do seu valor de compra. O respeito mútuo, existe na classe automóvel da América. O que prova, que a mecânica está a ocupar o espaço desocupado pelos «direitos humanos».