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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

8 de outubro de 2005

Nº 5 Do Séc. XV ao Séc. XX

O Dr. Manuel Luciano da Silva, porém, minucioso nos elementos confirmativos do que se propôs esclarecer, transcreve, na íntegra, cartas de dois diplomatas italianos, em representação em Lisboa, Alberto Cantino e Pedro Pasqualigo. Ambos descrevem « os icebergs, o Continente- Canadá, os «índios» ( o tal baptismo ou alcunha Colombiano), que Gaspar trouxera como mostra, «um tanto mais altos que os nossos naturais», vestidos com peles de animais, principalmente lontras- homens que são os mais excelentes para o trabalho e os melhores escravos que houve até agora. O seu aspecto asselvajado, encobre atitudes e gestos muito suaves, riem bastante e demonstram grande alegria.
Refere, ainda, a referida correspondência que a distância da Terra Nova a Lisboa «Dizem ser mil e oitocentas milhas ou duas mil milhas».
Estes são alguns dos reparos dos italianos Alberto Cantino e Pedro Pasqualigo, referentes aos aborígenes americanos trazidos por Gaspar Corte Real, que eram os descendentes dos grupos mongóis, que havia 20.000 ou 25.000, ou mais milhares de anos atrás, sangraram os pés, atravessando os rochedos do estreito de Bering.
Mas Gaspar, insatisfeito com o muito que havia praticado, teimou aprofundar conhecimentos «e que quer ainda agora a continuar a por em obra e fazer nisto quanto puder por achar», como acentua o Rei D. Manuel, em Carta Real de 12 de Maio de 1500.
D. Manuel, em cartas de 27-1-1501 e 15-1-1502, reitera autorização a Gaspar para embarcar e « fazer todo o possível para executar o seu plano».
Desta última vez, Gaspar partiu... mas não regressou. Deu início à tragédia.
Seu irmão Miguel, rogou a D. Manuel para o procurar, que a 11-1-1502, condescendeu : « fazemos saber que Miguel Corte Real, fidalgo da nossa casa e nosso porteiro mor, nos disse ora que vendo ele como Gaspar Corte Real, seu irmão, havia dias que partira desta cidade, com 3 navios a descobrir terra nova, da qual já tinha achado parte dela e como depois de passado tempo viera dois dos ditos navios à dita cidade haveriam cinco meses e ele não vinha, que ele o queria ir buscar»
Assim, devidamente autorizado, Miguel aproou à Terra que viria a tomar o nome de Cortes Reais. Partiu e ... desaparecidos documentos históricos, só restou a lenda.
Em 1913, o Professor de Psicologia, Edmund Burke Delabarre, da Universidade de Brown interessou-se pelas «garatujas» de uma pedra de 40 toneladas, jazendo na margem esquerda do Rio Taunton, próximo da Vila de Dighton, não longe de Fall River, na Nova Inglaterra. «Garatujas», que haviam atraído a atenção do Rev.. Jonh Danforth, em 1680, de James Winthrop, em 1788, de Baylies e Goodwin, em 1790.
O Professor Delabarre, durante dois anos estudou o que se escrevia sobre o assunto, sem conseguir tirar conclusões satisfatórias. Mas insistiu na análise directa da «pedra» e, em 2 de Dezembro de l918, distinguiu a data de 1511. Um achado, a estimular e convencer que outros estariam a aguardar a sua hora de revelação. Delabarre, desvendou, logo a seguir MI e CORT, que queriam gritar MIGUEL CORTE REAL e «viu», também, o escudo português em V.
Por estas descobertas, o Professor Delabarre, foi condecorado pelo Governo Português, com a Comenda da Ordem de Cristo.
José Dâmaso Fragoso, nascido na lha de S. Miguel, «Fellow» do Corpo Médico de Clínica de Lahei, em Boston, prestou atenção à «Pedra de Dighton», desde 1928, fundando a Memorial Society de Miguel Corte Real, que comprou os 49,5 acres da terra adjacente à Pedra e fundou a revista intitulada O Mundo Português.
O Professor Fragoso foi combatido, incluindo ofensas corporais. Mas concluiu na existência da Cruz de Cristo, o que decidiu a teoria dos Corte Real.
No Século XX, porém, tudo se esclareceu. Já era tempo.
O Dr. Manuel Luciano da Silva, desapossou-se dos momentos de descanso que a profissão de médico prognostica e quando a maré baixa autorizava, calçou botas altas impermeáveis e lá ia ele, a estudar a já baptizada «Pedra de Dighton».
. Leu, releu, luz ao alto, luz rasante, frio, chuva, tudo fazia parte do propósito de por a claro, o que fora gravado na pedra, com a lágrima da saudade no corte do cinzel. Teimou … padeceu… decifrou : Miguel Corte Real e sua companha, foram os primeiros repovoadores do Continente Americano na era áurea portuguesa.
O Dr. Manuel Luciano da Silva, tem recebido felicitações de muitos meios intelectuais.
Quanto a nós, falta a presença do agradecimento AÇORIANO.
Os Açores, têm forte motivo de reconhecimento a quem documentou, com sacrifícios e trabalhos, de mais, voluntários, para que o seu ilustre Filho, Miguel Corte Real, transitasse de uma meia lenda, baseada em hopóteses possíveis, para a História real e heróica, dos descobrimentos. Não foi tarefa comezinha.
Afecto, a quem o merece. Os Açorianos, costumam a ser corteses.
América … América, grande é o teu porte. Na seiva que te nutre, correm lembranças tristes, outras conformadas e sangue, suor, com muitas lágrimas de bons portugueses, que sempre contigo estiveram… e se não afastam.