América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

23 de outubro de 2005

Nº 11 FAMÍLIA

A coragem, é uma das instáveis condicionantes da sorte. A Família e a afeição que dela emerge, regem o encadeamento das atitudes temperamentais.

Coragem e afeição Famíliar, dois suportes da dignidade humana. Quem os possui, arrosta o triunfo, o insucesso, a contingência, a vicissitude, o inopinado, com o indicador a abrir caminho. Não é Santo, nem herói. É um Homem. É uma mulher .

Estas nossas crónicas de turista aligeirado, de capital reduzido para requisitar cicerone diplomado e transporte rápido e ligeiro, para, saltitando, olhar de perto, para, então, rascunhar descrições dos pontos principais de uma nação começada a civilizar-se, apenas há 384 anos, não foram entusiasmadas para envaidecer a grandeza exposta para quem quzer sentir-se contaminado a prestar elogios a exemplos feitos. Nem aspiram a foguetear repisas já conhecidas.

Têm como simples prioridade, evocar o factor humano, o que começou, sola do pé endurecida nas andanças pela sobrevivencia, destemendo a competição entre animais de força igual ou superior. Relembrar aquele que, produzindo e legitimando o trabalho, marcou o andamento regular e constante para que o avanço a visar o progresso se integrasse no dever e na moral; do que arrancou e assentou arraiais para se alargar em cidades a borbotar proventos, legando-nos o rasto por onde poderemos chegar a entender, como foi possível, em tão escasso período, a Nação passar da adolescência à maioridade.

O que nos promove em passageiras crónicas, consta do desejo de evitar que a esponja da ingratidão, apague merecimentos dos que cavaram para espalhar a semente e a regaram com suor, para que o futuro colhesse a abundância que alimenta meio mundo.

Dentro da Terra da América, entrecruzam-se qualidades e aleijões, como país igual aos outros. A imponência não se alevantou de pé para a mão, com a facilidade de obra pronta a habitar. Foi criada desde os caboucos rudes, para alicerçar segurança na construção.

Certezas e dúvidas, fartezas e carências trabalham juntas e, parecendo opostas, mantêm a aliança que a Lei sugere, vinda na equipagem do Mayflower em 1620. Os fracassos são temidos, os avanços libertam a audácia. A «ordem», porém, está sempre presente a indicar a consequência do resultado e do que melhor serve

A América, como todos os restantes países do Mundo, exibe vigor e jactâncias, nobrezas e plebeísmos, exactidões e dúvidas.

Logo no nome, surgem desajustes. Uns afirmam que o baptismo, foi consagrado em 1507, no mapa do cosmógrafo alemão Waltzemûller, que o ligou a Américo Vespúcio ( 1454-1512), considerando-o seu descobridor (mais um não natural), mas outros supõem ser nome indígena, tanto mais que sabiam quem encontrara o, até então desconhecido, mas já baptizado Novo Continente.

A vasta América do Norte, nasceu rústica como as mais regiões do Globo. Os primeiros povoadores, os tais aventurosos que atravessaram o Estreito de Bering a que se poderá ajuntar alguns fenícios, gregos, cartagineses, egípcios, árabes, vikings, que parece se salvaram nas suas praias ou calhaus, porém sem transporte consertado para os trazer de volta, é que foram, aos poucos, desbravando o mato, alargando clareiras para implantarem as suas tendas construídas das peles dos fornecedores da carne, leite e ovos para alimento. E que vendo o benefício de amansar animais, para os ter à mão para seu sustento, resolveram ser um bom exemplo para se domesticarem a si próprios, constituindo clãs respeitadores da emergente autoridade de um «chefe», para impor paz, no emaranhado dos caprichos, criancices, treinos e amadurecimento dos componentes. Foi imensurável, o esforço, a teimosia de viver e fazer melhor que os pais e avós, dos primeiros seres humanos que pisaram a América, de Sul a Norte.

Porque, os que chegaram depois, no Sul e Centro, no Século XVI e no norte no Século XVII, já encontraram «gente» que seguia princípios de sociabilidade e defendia os seus direitos de garantir o espaço necessário à responsabilidade de manter saudável os grupos familiares e a descendência. Os aborígenes, os primeiros habitantes, já tinham atingido o embrião do que viria a ser a Lei.

A luta por espaços para aldeamentos, dos repovoadores do Século XVI, no Sul e Centro e no Século XVII, no Norte, encontraram resistência dos nativos, não só por aversão a esses «face pálida» que se vinham intrometer nos seus costumes, mas em especial por se atreverem a retirar-lhes a «posse» do que sempre lhes tinha pertencido. Com zagaias de bambu, enfrentaram a pólvora das espingardas e canhões. As etnias, afastado o medo, ripostaram aos intrusos melhor armados. A diferença das armas, foi resolvendo o pleito para o lado da força, tal como sempre terminam as brigas por mais farto e garantido manjar. Aos mais fracos ... nem se lhes dá tempo de fazerem penitência, porque tudo se lhes tira. A extinção, apaga arroubos de consciência...

Os primeiros repovoadores que a História pode documentar, só desde o Século XX, graças ao Dr Manuel Luciano da Silva, foram os marinheiros de Miguel Corte Real. A «Pedra de Dington», vinca que sabiam ler, escrever e desenhar. O que não estavam era praparados para juntar alunos e ministrar ensino.

A diferença do grau intelectual, entre os nativos e a marinhagem das caravelas, patenteia-se na mesma «Pedra». O que está «escrito», é bem feito. As letras do nome do Comandante, são equilibradas, proporcionais. O delineamento, em mais de uma Cruz da Ordem de Cristo, seguiu o traço certo na extremidade dos braços, contornando os ângulos de 45 graus, portanto, foi alguém que tinha recebido lições de desenho e de manejo do cinzel.

O escudo português em V, é perfeito. O traçado exterior e o interior, paralelo, teve mão de artista. Os números da data de 1511, mesmo o 5, em forma de S grande parece impressão da época.

A «Pedra de Dington», autentica à História « as últimas vontades, o documento, o tratado», de quem não pretendeu ser santo, nem herói, simplesmente um HOMEM. Esse grande calhau, é uma pertença portuguesa e açoriana, oferta à ciência pelo Dr. Manuel Luciano da Silva.

Miguel Corte Real, percebia as regras do Mar, reunia em si os dois suportes da dignidade humana, coragem e afeição familiar e possuía a sabedoria do patriota – porque mostra conhecimentos profundos, quem respeita e se identifica com a terra de nascença.

Prestar homenagem ao Dr. Manuel Luciano da Silva, é um dever em aberto, na cultura Açoriana.

Documentar, no Século XX, a façanha vivida nos princípios do Século XVI, do destemido Homem do Mar, nascido nos fins do Século XV, é um acto que envolve mais do que um direito para ser divulgado.

O País tem de o inscrever na História dos Descobrimentos, com o selo da autenticidade; as entidades culturais dos Açores, estão a dever aos Açorianos, em especial à juventude, o acrescento histórico de um grande da Região, natural da Terceira; o orgulho regional deve aproveitar todos os seus valores, para associar o abraço da doutrina de animação e sentimento nas nove Ilhas e aos que as abandonam, para empregar saúde e préstimos, em terras estranhas.

Reconheçam-se agradecimentos ao Dr. Manuel Luciano da Silva. Preste-se homenagem, senão para realçar o Marinheiro de quinhentos, Herói e Mártir Açoriano, Miguel Corte Real.... ao HOMEM.