América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

A minha foto
Nome:
Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

23 de outubro de 2005

Nº 12 PEDRAS FAZEM HISTÓRIA

Toda a estatura aparenta importância. Quanto mais alta, a reverência, sobe também À posição cimeira, abstraídos os cálculos, à primeira vista presume, vigor e força. O cume, por si, abre panoramas, enfeitiça a observação e eleva, ainda mais, o ceptro da autoridade . Iça a bandeira. Naturais estremeções, porém, fazem temer a robustez, Correria para a encontrar... Não está em cima. Lá em baixo, na base, reside a convergência e equilíbrio das forças de suporte.
Na América, os Arranha- Céus, sobem alto, mas não é, por tanto subir que alcançam o domínio. A inércia, o centro de gravidade, exigem cálculos acertados e têm de obedecer à harmonia da posição vertical, a cargo dos alicerces, que ajeitam as oscilações do que sugere poder lá em cima, no convívio com as nuvens.
Aos elevadores, preferimos, como é bem de entender, andar a pé, próximo dos caboucos, para concluir em que bases assentam os recursos dos neurónios, na tentativa de decifrar o atrevimento da engenharia, na solução dos muitos problemas que acompanham o concebido e a exigência de utilizar meios de cumprirem a perfeição até ao final da obra.
Esta breve divagação, puxa-nos outra vez, para baixo. Atraem-nos as «pedras» colocadas em lugares, de propósito construídos para seu repouso, e onde podem contar a sua sina a todo o visitante, e a quem, à primeira vista, dedicámos, com a nossa simpatia, a preferência destas crónicas.
Que tivéssemos conhecimento, são só duas.
Certificam, em conformidade com os rigores legais, a lição respeitosa da América do Norte, com o que representam, pois que lhe tocam, em directo, na entrada para a companhia da civilização europeia.

Milhões de anos sem História, despegaram milhões de monólitos dos rochedos das Costas dos Bacalhaus, que se deitam ao comprido para impedir o esboroamento da terra. Largo tempo para as ondas esculpirem a sua semelhança, na rudeza dos dorsos deformados.
Ali repousam, apegados à sua função protectora dos desconchavos do mar.
Dois desses calhaus, como já vimos, com dezenas de toneladas de peso, embora sem régua e esquadro para lhes definir forma geométrica, mereceram aos americanos, a distinção de serem removidos, tal como a Natureza os formou, sem lhes corromper o feitio, dos seus leitos de sentinelas alerta, para locais, devidamente preparados, onde fossem defendidos dos açoites das marés e maleficências dos homens.
Máxima honra, para poderem contar aos visitantes, a magoada ou deferente fortuna, que os guindou à História. São marcos de estudo para os dedicados ao saber e a transmitir o nível intelectual, dos que fundiram os moldes adequados para alvorecer, medrar e instituir sociedades de crescimento livre, mas de organização ponderada. Criadores da Nação que, actualmente deslumbra, como se tivesse nascido reino de milionárias venturas, a espalhar aos quatro ventos.
O Primeiro calhau, ou a Primeira Pedra, situada próximo da vila de Dinghton, no Massachusetts, como já nos referimos anteriormente, mais de uma vez, é resumo da prova documental, em letra bem desenhada e esculpida, com a data de 1511, com a chancela da inconfundível Cruz de Cristo e escudo português, a odisseia, do primeiro navegador conhecido que chegou à América. E que foi proprietário do território onde habitou no resto dos seus dias, acompanhado dos participantes na proeza e que deixaram descendência, mesclando-se com as gerações que haviam palmilhado o Estreito de Bering, há 20 ou 30, ou... milhares de anos. É uma «pedra» com missão a cumprir, ontem, hoje, amanhã e sempre.
Recebeu a esperança, de algum dia vir a entregar, como prova da viagem audaciosa, por amor fraternal, a mensagem angustiante do Comandante Miguel Corte Real e tripulação do barco açoriano, que abordou àquelas costas em missão oficial, autorizada pelo seu Rei D. Manuel, que lhe doava, em 11 de Janeiro de 1502, « toda a terra firme e ilhas que ele por si novamente neste ano de 1502 descobrir ou achar, além da que seu dito irmão tiver achada, ele a haja para si ( Miguel) e lhe fazemos dela doação e mercê com aquelas jurisdições, direitos, capitanias, cláusulas, condições...»
É possível que Gaspar, irmão que Miguel procurava, também lá tivesse sido obrigado a desembarcar, mas sem provas conhecidas, nenhuma confirmação é aceitável na narração de factos reais e notáveis.
Incontestável é, contudo, que Miguel não regressou. Viveu e morreu, longe da Terceira e dos seus, . Mas foi enterrado na propriedade que lhe pertencia, por a ter «DESCOBERTO», de acordo com a «Carta Real» de D. Manuel.
Lembremo-nos que estamos dentro do «Tratado de Tordesilhas», assinado em 7 de Junho de 1494- Era no tempo das «Descobertas», em que o «Mundo Atlântico» - África e América – pertencia ao País que aperfeiçoou as Caravelas para navegar no mar alto, sem temer a mudança dos ventos e das correntes marítimas e que depois teve de ceder parte à Espanha, por decisão do Papa Alexandre VI.
Enquanto os países da Europa se entretinham a pelejar uns com os outros para impor cultos religiosos, com entraves e destraves do progresso, os portugueses, navegavam a descobrir os mistérios do planeta em terras e raças e a abrir luzes ao conhecimento das navegações de longo curso, da aproximação dos povos, da ciência, da técnica.
Foi a iniciativa lusa, desmascarando o horizonte e com ele, o « mar tenebroso», restituindo ao «Mar», a sua verdadeira identidade de aprovisionar alimento, fazedor de civilizações e confluência de povos que alargou a visão experimental da astronomia, da física, da química, da ciência em geral. Que deu à Idade Moderna, iniciada em 1453, o fulgor que a História, com orgulho, ensina e divulga ao Mundo, omitindo, embora, muitas vezes, a presença das velas portuguesas em cada baía e porto de desembarque.
Para a América do Norte, a «Pedra de Dinghton», é o «Padrão Português das Descobertas». E, ainda, a «declaração escrita», dos primeiros europeus que lhe « pousaram os pés», sabendo ler, escrever e contar, com conhecimentos náuticos sabidos e postos à prova nas caravelas, subjugados, embora, pela incapacidade de reagir à fúria das ondas e dos ventos, invejosos destruidores da sua casa de profissão.
Antes da « Pedra de Dinghton», o que consta, em algumas regiões, são vestígios dispersos, de classificação incerta, que a auréola envolve em hipóteses, lendas, datas aproximadas, figurantes de origem vária, verdades encrespadas pelo gelo, a ondearem, aos saltos nas «cascas de nozes» que transportavam as tripulações de coragem imensurável.
Mas depois de 1501, há História para contar, dos que rondaram as «Terras dos Corte Real», ou que por ali próximo, estabeleceram pequenos e passageiros entrepostos.
Vamos dar a palavra ao «Monumento de Dinghton, na crónica a seguir.