América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

8 de outubro de 2005

Nº 1 OBSERVAÇÕES RUDIMENTARES


Um repisado convite, alguns estímulos convincentes e empurrões de amizade, sentaram-me no avião da SATA Internacional, que me levou a desembarcar no Aeroporto Internacional de Boston.
De improviso, pisei solo americano, como novidade impensada.
De relance, atraíu-me a curiosidade, de retirar ensinamentos do que se me proporcionasse espreitar, da parcela onde viesse a passar os olhos, por pequena que fosse, da imponente nação, actual entidade que domina os ares, os mares e as ocorrências influentes nos paralelos e meridianos, nas longitudes e latitudes do globo terrestre.
América...
Na breve passagem por Boston, sente - se, de imediato, a sensação do fremir desembaraçado no movimento das cidades que são grandes por mérito próprio. Iluminação a rodos, anúncios garrafais e coloridos, mais carros que gente.
Chegados, porém, ao nosso destino, retraímos essa primeira impressão, ao desembarcarmos do indispensável automóvel que nos transportou, em rua larga, como as nossas, com residências em volta, mas sem ninguém a percorrê-la por motivos normais de trânsito. Estávamos num dos incontáveis bairros que circundam todas as cidades, onde habita a mão-de-obra que fornece e assegura a produção que vai normalizar o ritmo de abastecimento dos mercados e garantir as normais trocas económicas. Não são aceites interrupções por desleixo ou carências. A mão humana, continua a ser indispensável e de muito apreço.
Nos arrabaldes, ou dormitórios das cidades, as casas, independentes umas das outras, de cores variadas e frontarias multiformes, mais parecem enfeites de presépios que habitações de gente diligente e responsável no cumprimento diário dos afazeres retribuidores do sustento para a família que querem feliz. Manchas de beleza com raros passeantes, mas de onde em onde, se destacam desportistas de ambos os sexos a experimentar as qualidades de resistência ou velocidade.
Quem manda no tempo, é o automóvel. É ele que calcula entrevistas, marca presenças no emprego, resolve negócios, decide palavras ou assinaturas e vai às compras. Sem ele, não contam as pessoas. O telefone, só reserva para si conversas particulares e entendimentos passageiros e já é bastante.
Por razões ponderáveis, o automóvel, talvez ouvindo comentários dos passageiros, resolveu criar os seus direitos, visto que os «Direitos do Homem» em distantes paragens, estão pelas ruas de amargura.
Admite-se, por hipóteses de acertos mais ou menos críveis, que a mecânica pode ultrapassar a inteligência, pois esta perdeu o rumo e esvai-se nas fumarólas da fantasia.
Assim, nas estradas de duas ou mais faixas, só para um lado, os automóveis correm, respeitando as distâncias, as ultrapassagens, as necessidades de cada qual. Nota-se a azáfama de chegar, mas sem amolgadelas ou ofensas. Nenhum quer ser mais do que o outro, qualquer que seja a marca ou a fanfarronada do seu valor de compra. O respeito mútuo, existe na classe automóvel da América. O que prova, que a mecânica está a ocupar o espaço desocupado pelos «direitos humanos».