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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 53 O CUSTO DA PAZ ( 11)

Isto de passar no meio de metralha, a estilhaçar tudo o que se encontra por terras e mares e sair sem beliscadura, tem muito a agradecer, a reflectir e a futurar uma Paz de sinceridade aperfeiçoada, o melhor possível medida e responsável. Barafunda, é brincar às guerras, com segurança, tanto social como de forças militarizadas. Entra no rol de despesas estéreis e incobráveis.
Pensamos, por isso, não ser maçador recordar nestas crónicas escritas no meio do Atlântico, o martírio da nossa velha e desmemoriada Europa e relembrar-lhe que o ter-se levantado dos entulhos e misérias passadas no período de 1939 a 1945, não a deve capacitar que ficou a ser abastada e detentora da autoridade de resolver às primeiras impressões. Não tem rendimentos suficientes para sustentar duas, três ou mais forças, dentro de cada país ou região a espalhar antipatia e desentendimento, quando elas ainda são insuficientes para o progresso desejado e, mais, para o Bem Maior – a Paz. Dentro e fora de fronteiras... Fica-se, actualmente com a sensaboria de estar a assistir a brincadeiras de rapazes ociosos e traquinas. É pouco, para quem muito promete e, mal, sabendo eles, ou ignorando eles ( será a ignorância? ), que nem podem cumprir. Na grande superfície europeia, admiram-se os vai vens e os vai e estacionam, exploradores do espaço, antevendo mais delícias à mesa da diversão. Desvendar, para além dos nossos aviões, cobiça insaciável do homem, ao apoderar-se da ciência e da técnica. Onde se situa o mundo?

Terminámos a nossa crónica anterior, a ponderar a primeira questão sofrida, para Portugal respeitar a neutralidade, no conflito 1939-1945, sem chamuscar as asas da independência: – Potencial militar.
´ A segunda questão, dependeu da segurança ao Arquipélago dos Açores, sem por de parte, os territórios ultramarinos. Os Nove Picos Sobreviventes da Atlântida, espalham-se numa área complementar de defesa e ataque da Europa, e, embora um pouco mais distante da América, com semelhantes préstimos. Os « comboios» de abastecimento, vindos da América, tinham de sulcar os mares dos Açores. Os submarinos alemães, de tocaia, afundavam milhares de navios, reforçando o poder ofensivo da Alemanha e fazendo perigar a resistência dos Aliados. Compreensível a necessidade de terra firme, onde fosse mais facilitado vigiar os inimigos e iludir as destruidoras intenções. Era desejável ceder à Inglaterra, facilidades que lhe amenizassem os prejuízos. A neutralidade exigia presença de condições de foro legal. Encaixadas a vontade e a Lei, a Inglaterra foi servida. A seu tempo e ocasião.
A terceira apoquentação - o VOLFRÂMIO - felizmente surgiu quase ao findar o conflito. Mas ia fazendo «mossa» na neutralidade. O bom senso de Salazar, cortou em linha recta. Já não teve tempo de entrar em acção, mas o «dedo» da justiça esteve bem patente.
Finalmente, o quarto problema, retorcido, quezilento e exposto a convenções peculiares à distância – TIMOR. Sempre foi preciso ser patriota para o segurar à nação portuguesa. Patriotismo no rectângulo europeu e nessa meia Ilha, próxima da Austrália, que nunca escondeu as intenções de a ir ocupar um dia.
Salazar, contra o exército japonês e pretensões indonésias, pode dizer-se que reconquistou Timor. Umas poucas dezenas de pessoas, com «bilhete de identidade» português, apartadas do «Amor à Pátria», 30 anos depois, abandonaram ao vácuo de fugidos à legalidade, territórios que pertenciam à Nação. De repente, sem preparação de passar ao estado de independência. Ódios tribais, expeliram morticínios, onde havia calma ou ligeiros acidentes de convivência. Ainda hoje, se mata ou morre, por rancores que vêm do fundo da floresta, ou para matar a fome a pais e filhos. Os responsáveis vivem felizes...
Tanta superficialidade dos pequenos hitleres, não preparados para se constituírem decisórios de questões de tamanha envergadura e não autorizados, por quem de direito, a amputar o que pertencia à Nação de D. Afonso Henriques, de D. João II, de D. João IV de Luiz de Camões , de Mouzinho de Albuquerque e quantos mais, nobres e povo. E de um governo que funcionava e não fora substituído.
Onde está a Lei, a quem se possa entregar este processo?
Mataram a Lei, os eventuais processados, infiltraram-se no bom comportamento. A camuflagem, completou o resto.
Estes quatro mensageiros da Paz para Portugal, - Potencial militar, Açores, Volfrâmio e Timor - foram seguidos de perto, pela avidez de vários países. A aliança com a Inglaterra, suportou impactos favoráveis, alguns, apreensivos e receosos , outros.
Os Açores, mais a Madeira, o que resta desde a subida ao poder do hitlerismo português, os dois arquipélagos, vão-se aguentando, muito por esforçado mérito próprio, pois o mal da Nação é extensível à pequenez do seu todo e vai empobrecendo alegremente. O «mal de Hitler», a falha de profundar realidades e consequências, é uma doença que pegou em terreno de poucos recursos e esperanças vindas do céu.

Nº 52 O CUSTO DA PAZ (10)

Ambicionar Paz, tem princípio definido na rejeição ao chinfrim e fuga à bala errante que atinge sem escolha e pode fazer ricochete. Definir Paz, será capricho, como qualquer outro, semelhante à bala vagabunda, mas acaba por deixar vestígio ou conselho, à preferência de acostar ao dever e cumprir na compostura dos direitos, das obrigações e do aprumo seguro na rectidão. Paz, é bem para magnânimo repartir e proveito a receber, afirmando responsabilidade.
Continuemos a acompanhar o Dr. Franco Nogueira, agora luzindo a esperança da perda de forças para porfiar na guerra.
Em 2 de Maio de 1945, Hitler, introverteu o âmago do sofrimento, ao ouvir as descargas dos canhões soviéticos nos bairros de Berlim. Com sua esposa, Eva Braun, pistola oposta a pistola, as balas tiraram as vidas ... o fumo levou a quimera.
O Almirante Doenitz, novo chefe da Alemanha, assinou o tratado em 5 de Maio, acabando com a ambição pervertida. Salazar, na Assembleia Nacional, bem –diz a Paz, a vitória, a Inglaterra, por se situar nos principais vencedores. Falta ainda resolver o caso de Timor, na execução do acordo com os Estados Unidos.
O ministro do Japão, em Lisboa, em 11 de Agosto em 1945, é chamado pelo Primeiro Ministro, que pergunta, se em vista da situação política e estratégica, as forças japonesas tencionam retirar-se daquele território. No dia 17, Tóquio responde que os seus efectivos iriam partir e entregariam todos os poderes ao governador português.
O governo de Camberra, assumindo autoridade, determina que sejam forças australianas a ocupar o território, a receber a rendição, administrando-o até negociações com Lisboa e os navios portugueses que haviam aportado a Ceilão, não devem ser autorizados a prosseguir para Timor.
Salazar rejeita o cambapé australiano e manda seguir para Timor, os navios Angola e Sofala, com tropas, comboiados pelo aviso Afonso de Albuquerque, bem como os avisos que se encontravam em Ceilão.
Em Lisboa, Salazar declara que a entrada de tropas australianas em Timor será considerada nova invasão e todos os acordos assinados serão postos em causa. O governador de Timor, tomou posse em 15 de Setembro de 1945, em 20, a Austrália desiste das sua pretensões e em 27, chegaram as tropas portuguesas.
A política externa portuguesa, de 1939 a 1945,assentou, para manter a neutralidade:
1 – Salvaguarda da independência nacional e integridade territorial.
Salazar nunca se considerou DONO de Portugal. Somente seu administrador, impoluto e humilde.
2 - Defesa da dignidade nacional.
SALAZAR fez Portugal credível e justo.
3 - Prioridade absoluta dos direitos e interesses nacionais.
Salazar robusteceu a Nação UNA, INDIVISÍVEL.
4 - Autonomia de julgamento e de decisão.
Salazar elevou Portugal a auto defensor da justiça nos seus direitos e respeitador dos alheios.

Acima, as quatro linhas em que assentou a política externa portuguesa ( em itálico ) de 1939 a 1945, e as observações que pensamos ser equilibradas.
Sem subserviência, nem farfância, Portugal tomou o bom caminho de tratar da sua vida, não ofendendo as determinações da neutralidade, tanto para si próprio, como para os envolvidos na hegemonia de mandar. Saltou calhaus, equilibrou-se nos barrancos, desviou amizades. Tomou o rumo da coerência, a bandeira da Lei, o timão da honestidade e pôs a salvo a vida dos seu filhos e dos bens que a todos pertenciam.
Poderá afirmar-se que o juízo lhe sorriu, pois que, na Primeira Grande Guerra ( 1914/1918), apesar dos ingleses aconselharem a Portugal confinar a defender-se as colónias, «altos pensadores de vanguarda», como os há em todas as épocas, mandaram para a França gente de coragem inflexível, para lutar com armamento em franco desuso e munições contadas... para inimigo temer...
Não foram os tempos que mudaram, mas a presença de um Homem de raras qualidades de direito. Direito...
Revendo o período enfumaçado pelas armas, Portugal, ou o Primeiro Ministro, ou Salazar, que vem a dar tudo no mesmo, quatro questões agitaram a normalidade:
1 – Manter potencial militar suficiente para conter actos de força.
2 - Açores.
3– Volfrâmio.
4- Timor

A primeira questão, assentou na confiança no « erário público» que resistiu, a todas as despesas indispensáveis, para manter Portugal neutro e independente. Neste aspecto, existem duas modalidades de administração:
Primeira modalidade:
1º lugar - Estado, ou entidade empregadora
2º « - Cidadão ou trabalhador.
Segunda modalidade:
1º lugar - Cidadão ou trabalhador
2º « - Estado ou entidade empregadora.
A primeira modalidade, era a seguida na altura, pois é o Estado, responsável pelos cidadãos e trabalhadores e a quem lhe é exigida a tomada de medidas para o bem comum. Ter em conta, todavia, que a mão e o critério do Homem, respondem pelo sucesso ou mau êxito, das duas modalidades, logo se depreende que nenhuma conserva a perfeição do seu lado. Uma delas, porém, tem primazia. Cidadão ou o homem das funções incontáveis, dependem da robustez do Estado ou empregador. A faculdade de agir no mais acertado, é posta à prova, na cooperação entre o mais potente e o fomentador de riqueza.

Nº 51 O CUSTO DA PAZ (9)

Paz, substantivo feminino. A mulher, encerra o princípio espiritual da conciliação. O abraço, o beijo, o calor emanado, o conselho pacificador, reúnem-se num só «feixe», a prender a tranquilidade ao lar ou a segurar o jacto do arrebatamento relâmpago, não vá a irreflexão desaparelhar o carinho, esteio da conformidade de sentimentos pelo sangue, prolongando-se a usos, costumes e distinção da Lei.
Mulher ... Mãe ... Mulher... são – as duas completam UMA- a mais perfeita obra da Natureza, segundo testemunham os nossos antepassados e mais recentes pensadores já o escreveram em letra de forma. Símbolo da Paz, na gramática igualizam o mesmo substantivo.
Desgosto, a valer, por a feminilidade não consubstanciar a Paz. A firmeza, pode até merecer denominação honorífica de «dama de ferro», não resiste, porém, ao tempo que amacia todo o coração, mas mais madrugador na mulher.
A Paz, não se deleita a respirar o ar saudável da madrugada, nem goza de sono reparador, para se manter firme e confiante. Está sempre de «olho alerta». Precisa de resistência física, pronta para agir nos momentos psicológicos, que são todos os instantes que decorrem no factor tempo, a cargo das chicanas e artimanhas do elemento humano. A Paz, é trabalhosa, exigente de ponderação do que acontece, perante o desconhecido falível. Uma Mãe, não dispõe de tempo e índole para tanto...
A Paz terá de permanecer no substantivo varonil.
A nossa última crónica, continuou a «odisseia da neutralidade portuguesa» no conflito 1939-1945. A firmeza de ânimo, para a manter, respeitou a dignidade da coerência e mereceu o acordo dos dirigentes máximos, daqueles que se guerreavam sem dó nem misericórdia e queriam a maior liberdade do seu lado. Outro problema surgiu. O «volfrâmio».
Este minério, existente na Saxónia, Boémia, China, Coreia, Japão, Austrália, Estados Unidos, América do Sul , etc, há, também em Portugal, minas das mais ricas para extrair o «tungsténio», que serve para temperar o aço e fabricar lâmpadas de incandescência. Foi um bom ganha pão, para muitos portugueses no período da guerra, pois todos os países europeus o importavam para fabrico do armamento.
Nos princípios de 1944, Londres, acompanhada por Washington, solicita a Lisboa, para impedir a exportação de Volfrâmio para a Alemanha. Recusado o pedido, pelos justificados motivos : 1 – dois terços vão para os aliados e um terço para a Alemanha; 2 – O terço provém, de minas de há muito propriedade alemã e em que a Alemanha fez consideráveis investimentos; 3 – Portugal para manter a neutralidade, não pode actuar, desrespeitando direitos adquiridos pelos beligerantes, além de que vasto número de portugueses trabalha nas minas, o encerramento causaria largo prejuízo à economia portuguesa.
Londres concorda com o parecer português, mas coloca o assunto no lado político. O PM português acrescenta que não está disposto a ser arrastado para a guerra, directa ou indirectamente, por causa do problema do volfrâmio e declara ao embaixador da Inglaterra que continuará a prestar a esta todos os serviços que forem compatíveis com a sua consciência. Na imprensa inglesa e na Câmara dos Comuns é agitado o problema, culpando-se o governo português de responsável pelo prolongamento da guerra, no auxílio à indústria de guerra alemã. CHURCHILL, envia carta pessoal, a intervir no assunto, ao Primeiro Ministro Português que contesta os argumentos expostos:- Se a Inglaterra de quem Portugal é aliado e amigo, fosse o único adversário da Alemanha, a perda de vidas britânicas pesaria muito no ânimo do governo português; mas o material de guerra em que a Alemanha emprega minério português, é também utilizado contra outros adversários, cuja actividade hostil à civilização cristã, que a Inglaterra também perfilha, está bem documentada; por outro lado, a Alemanha , em troca do volfrâmio, tem fornecido a Portugal matérias primas essenciais, quando a Inglaterra e os Estados Unidos, não podem fazê-lo; o governo português não quer seguir a atitude de Mussolini, que declarou guerra à França, quando esta já estava derrotada; e, por tudo isto o governo português fiel à amizade e à aliança com a Grã Bretanha, não está, infelizmente habilitado a satisfazer o pedido do primeiro ministro.
Churchill, responde tomando atitude mais de desgosto que de zanga. Um mês depois, porém, acha que deve apertar com Salazar, mas Eden, contém o ímpeto. Este sugere a Campbell que provoque intervenção pessoal do Presidente Carmona, por intermédio de uma filha deste, desenhando cores negras nas relações Portugal/Inglaterra. Salazar é chamado pelo Presidente Carmona e expõe a realidade. Harmonia absoluta entre ambos.
Washington, a pedido de Londres pede ao governo brasileiro para intervir, por intermédio do embaixador em Lisboa. Salazar explica que Londres está a usar o método americano de humilhar os neutros como se estes não possuíssem direitos. E não altera a sua posição.
A pedido de Londres, o primeiro Ministro da África do Sul, SMUTS, apela, empenhadamente para que V. Ex. reconsidere a sua decisão. Salazar respondeu que a concessão de facilidades nos Açores, não pode ser entendida como implicando automaticamente a satisfação de todos os pedidos ingleses, ainda que contrários à neutralidade de Portugal, no caso do minério de volfrâmio para a Alemanha.
Dias depois, para acalmar os interessados, Salazar, propõe ao embaixador britânico, três soluções: 1 – Encerramento das minas que sejam propriedade portuguesa e sobre as quais é livre a decisão do governo, mantendo-se as explorações inglesas, americanas ou alemãs; 2 – fechar todas as minas estrangeiras e vender apenas na proporção anterior, a produção das portuguesas; 3- continuar com a exploração de todas as minas, mas reter em Portugal, o minério proveniente das minas portuguesas, vendendo-o depois da guerra à Grã Bretanha e aos Estados Unidos. Qualquer das três soluções reduziria os fornecimentos de volfrâmio à Alemanha de 1.550 toneladas, para 900 ou 700 toneladas.
Campbell replica que tem ordens para solicitar o total embargo das exportações para a Alemanha, é - lhe defeso discutir, portanto, qualquer das hipóteses sugeridas. Para Londres, todavia, o embaixador dá o parecer de que é afinal a decisão de Oliveira Salazar e nenhuma pressão a modificará e sugere que se tente um compromisso com Portugal, já que a aplicação de medidas drásticas por parte da Inglaterra, não se afigura viável. Não seria de interesse inglês provocar a queda de Salazar e criar o caos em Portugal, comenta Campbell. Eden, opta pelas 700 toneladas máximas para a Alemanha. Churchill, exasperado redige um telegrama para Salazar, em que ameaça por em causa a aliança. De permeio, porém, intrometem-se neste momento os americanos e, em Lisboa, o embaixador Norweb, recebe instruções para exigir embargo total do minério para a Alemanha. Os ingleses previnem os americanos que embargo total, é objectivo inatingível com Salazar e reclamam o direito de ter a última palavra em Portugal. Em 24 de Maio de 1944, o embaixador inglês retoma a questão do volfrâmio. Salazar pergunta: Está a renovar um apelo, ou a invocar a aliança? Pois quer saber se, considerando-se como auxílio a um inimigo da Inglaterra, tudo quanto se fizer quanto à Alemanha, o embaixador entende que a aliança é incompatível com a neutralidade portuguesa. Não responde Campbell e insiste no volfrâmio. Pensa o governo britânico denunciar a aliança? Também não, assegura o embaixador. Nem pode, observa o chefe do governo, porque o tratado está em funcionamento nos Açores.
Até que, em 29 de Maio de 1944, Campbell, entrega uma nota: Fui instruído, em representação do governo de Sua Majestade, para fazer um apelo solene e urgente ao governo português, em nome da Aliança, no sentido de prevenir quaisquer novas exportações de volfrâmio de Portugal para a Alemanha ou outro inimigos de Sua Majestade. Assim, Londres quer fazer funcionar a Aliança, por interesse, iniciativa e um estado de necessidade ingleses.
O Conselho de Ministros, no dia 5 de Junho, aprova o pedido inglês, mas, para manter a neutralidade portuguesa, serão embargadas as exportações, não só para a Alemanha, como para todos os beligerantes, incluindo a Inglaterra.
. No dia imediato, 6 de Junho, forças anglo- americanas, atravessam a Mancha e abrem nova frente de batalha na Normandia. No dia 7, Eden, nos Comuns, elogia a resolução do governo português, considerando-o um serviço comparável ao da concessão de facilidades nos Açores e sublinha que a deliberação de Lisboa fora tomada no dia 5 de Junho, antes de saber da abertura da segunda frente.
Caro leitor, é possível que estejamos a abusar de transcrições do livro do Dr. Franco Nogueira. Desde a adolescência consciente, dezenas de anos passamos a respeitar o Dr. António de Oliveira Salazar, conquanto rumores de incerteza administrativa, lhe tocassem o critério. Atarefado com a profissão, nunca nos deu para clarear as «vozes» que o não gabavam, com acrescentos de o verem longe da governança. Ademais, nunca pertencêramos a agremiações juvenis, nem à Mocidade Portuguesa. A «deposição» do 28 de Maio de 1926, pelo 25 de Abril de 1974, também, não mexeu muito connosco, a não ser a apreensão, no modo de apreciar as questões administrativas, de suma importância nas valências portuguesas.
Agora, porém, aproveitando a aposentação profissional, uma breve visita à América e mais longa viagem pela História, resolvemos dedicar atenção para discernir e tempo no estudo de coisas do passado. Desbastar dúvidas e observar provas de clamores já esquecidos, requer precauções nos diversos apoios do conhecimento. Nem tudo o que luz é ouro. Deve prestar-se, por isso, especial cautela às moedas enferrujadas, para que a oxidação as não destrua por completo e só reste a lenda do enigma ou da incerteza. A verdade é ouro. Paixonetas em tertúlia de facção, contudo, podem corromper-lhe a face e subtrair-lhe o valor.
A imparcialidade é um fim. O alguém que diz não, posta-se ao voltar da esquina. O acontecimento, aflora a justeza.
É tempo de economizar a paciência do leitor. Bons pensamentos.

Nº 50 O CUSTO DA PAZ ( 7)

Gostaríamos que além do termómetro, que indica o grau de calor de qualquer lugar ou corpo animal, fosse descoberto outro aparelho que revelasse a altura do espírito, como diz o dicionário, essa coisa incorpórea que anima o ser vivo. Ao termómetro valeu o sucesso, por ter ficado ao serviço da saúde e termologia, resultando numa grande utilidade para determinar diferenças do ambiente e do físico e, pela quantidade de aplicações, um bom negócio, desde o fabrico aos mercados ricos e pobres.
Ao tal novo aparelho de avaliar capacidades e juízo individuais, a que se poderia dar, em baptismo à experiência, o nome de «espiritómetro» não se lhe prevê nenhuma hipótese de vir a ficar aberto à venda, nem mesmo o de ser inventado. Nenhum cientista perderia o seu tempo a dar tratos à cabeça, para maquinar um aparelho, condenado a vida efémera, de limite só a ponderados e coordenadores da faculdade de pensar. E perigaria a sua segurança, pelos graves dissabores a rondar-lhe a porta, desde a primeira prova, pelas investidas dos desprotegidos de critério.
No começo das experimentações, ainda em volta do intelecto, do saber provindo de estudo e «calo» no trabalho, do «bate papo» e paleio destravado, haveria possibilidade de encomendas a garantir mercado e produção . Agora, medir a instalação neurótica, com outro de menos categoria no desempenho de funções, já causaria arrepios ao inventor, que teria de prever poucos a arriscarem meter-se em confronto. O orgulho individual, seria um dos entraves a desanimar o invento do maquinismo. Argumento pesado.
Aventamos, porém, que o opositor maior, estaria na atitude e nexo da divagação humana. Conter o impulso da ideia, enquanto desprovida de inteligibilidade e certeza, e orientá-la para a posição certa e conveniente, cremos ser a diferença meritória para o juízo exemplar. Análise da ideia... a COERÊNCIA, de serenidade confiante.
Calcule-se o «espiritómetro» a funcionar à entrada de agremiações, obrigando a determinada bitola de condições de pergunta e resposta. Rarearia a entrada de finalistas a embaraçar as orgânicas dos quadros e mais espalhafatoso ainda, diminuiria a comparência de assistentes para aplaudir.
E como as máquinas não têm voz de defesa, passariam à reciclagem da sucata. Repúdio aos «espiritómetros», será, portanto, o mais recomendável, incluindo a interdição de tentativa de invento...
Mas, quanto nos serviria, neste momento, se tivessem existido e funcionado, na guerra 1939/1945, para tabelar a grandeza de homens importantes ...
O acabado de escrever, foi uma divagação do costume.
Mas não desvia esta nossa digressão, pela História.
Relembra um português que nasceu pobre, nunca tentou o costume de saltar o tapume da riqueza, que esfregou as botas ( sempre usou botas) ao ser convidado a entrar para o governo e acabou sem fortuna, nem fundou instituição para lhe perpetuar o nome. Nos embates que foi obrigado a enfrentar, alinhou os pontos centrais do seu critério e seguiu-os, passo a passo, para levar a bom termo, a responsabilidade que lhe fora entregue.
E mostrou, entre os grandes, que também era grande, porventura, o mais COERENTE, a defender a lógica e o povo sacrificado, inglória e desnecessariamente de 1915 a 1918, nos campos mortuários da Flandres. Este é o Primeiro Ministro de Portugal, que atravessou as fúrias do vendaval de 1939 a 1945, a reduzir danos para a Nação e a aceitar, restabelecida a Paz, legítimos louvores de nacionais e estrangeiros.
Prossigamos a nossa anterior crónica.
O Duque de Palmela substituiu o Dr. Armindo Monteiro em Londres. A cedência de facilidades nos Açores, pela Inglaterra e América, começaram a ser estudadas em Lisboa. Churchill, tem pressa de resolver a questão, face ao decorrer do conflito. Eden concorda, mas também sabe que quem pode resolver nas melhores condições, é o chefe do governo português e, por isso, todas as cautelas serão poucas para não desfeitear a Espanha, nem a Alemanha, de quem dependerão reacções que podem quebrar a neutralidade portuguesa, a qual, ainda está a beneficiar a Inglaterra. Em Quebec, encontram-se Churchill e Roosevelt. Retoma-se a apetência, de ambos por uma tomada imediata. De novo, Eden trava, enquanto o Primeiro Ministro Português, não der o seu aval.
No dia 8 de Outubro de 1943, encontram-se em Cidade Rodrigo, o Primeiro Ministro Português e o Conde Jordana. No dia 12 de Outubro, é divulgada a notícia do desembarque, no dia 8, nos Açores, de efectivos britânicos. A Espanha, prefere continuar neutra, deixando Portugal em igual situação. Antes da publicação do dia 12, o governo português convocou o Ministro da Alemanha para transmitir que a Inglaterra, fizera jogar a aliança e pedira facilidades nos Açores e Portugal não pudera recusar. A Alemanha protesta, dias mais tarde. Como resposta repete-se a aliança de há seiscentos anos. O enviado japonês também protesta. Recebe, porém, reacção áspera do Primeiro Ministro. Como se atreve o governo Japonês a reclamar, de está a ocupar Timor, ilegalmente e onde comete atrocidades e perseguições?... O protesto não é entregue e sai na algibeira do representante japonês.
Roosevelt, não se conforma em ter ficado de fora nas facilidades nos Açores e ao encarregado dos negócios americano, é enviada nota com as seguintes instruções: requisitar ao governo de Lisboa, uma base naval na Horta, uma base aérea em S. Miguel, uma base aérea nas Flores, facilidades de comunicações, de observação e postos de radar, instalações para pessoal civil e militar e o estacionamento de consideráveis efectivos. O representante americano, fica estupefacto e protesta para Washington. Comunica com o inglês Campbell, que fica enervado, até porque o governo de Lisboa viria a pensar que Londres saberia deste atabalhoamento americano. O alto funcionário dos Estados Unidos, porém, para não escandalizar o Primeiro Ministro Português, nem ignorar a tarefa recebida, encolhe a lista e, sem precipitações, pediu apenas, um aeroporto, que poderia ser em Santa Maria e algumas facilidades de abastecimentos.
O PM português, com vista à expulsão dos japoneses de Timor, sem ofender e neutralidade, pergunta quem manda nas operações no Extremo Oriente. Neste meio tempo, chega a Portugal, novo embaixador, Henry Norweb, amigo pessoal de Roosevelt, O PM Português vê nele um voluntarioso, capaz de precipitações. Por isso, convoca, pelas 2 horas da madrugada, o embaixador da Inglaterra e diz-lhe que mandara ordens ao comando dos Açores, para atacar, até ao esgotamento, tropas americanas, que pretendessem instalar-se em alguma Ilha. O Comando português confirmou ao inglês, esta ordem. Campbell, sabe que eram ordens para cumprir, comunica a Norweb e ao conselheiro que ficam entorpecidos . De imediato comunicam para Washington. Londres intervém. Os americano sossegam. Roosevelt acalma, mas exterioriza ao Embaixador Halifax, que tem a ideia de uma qualquer ocupação americana e está vivamente interessado no destino dos Açores. Este desabafo, não caiu bem nos ingleses, que também querem uma fatia.
Os americanos, todavia, não desistem de base nos Açores, respondendo o PM português que isso dependeria de um quadro Jurídico - político que ligue o problema à questão de Timor. O Estado Maior dos Estados Unidos, pensa não ser necessário compromissos, sem estar em guerra aberta. Lisboa responde que sem compromissos formais, não há razão jurídica para facilidades nos Açores. Em 28 de Novembro de 1944, o Estado Maior americano envia a seguinte nota: O governo dos Estados Unidos, cônscio do desejo do governo português de pôr termo à ocupação de Timor pelos japoneses e reconhecendo que esta território português se encontra numa vasta área de operações empreendidas pelo governo dos Estados Unidos e outros governos aliados, aceita e concorda na participação de Portugal nas operações que possam ser eventualmente conduzidas para expulsar os japoneses de Timor português de modo a que este território seja restituído à plena soberania portuguesa. Reconhece que essa participação se pode efectuar por forma directa e indirecta: Participação directa, pelo emprego de forças portuguesas, para o que planos pormenorizados serão preparados no seguimento das conversações de Estado Maior realizadas em Lisboa; participação indirecta pela concessão ao governo dos Estados Unidos de facilidades para a construção, uso e controle de uma base aérea na Ilha de Santa Maria com o objectivo de facilitar o movimento de forças americanas para o teatro de guerra do Pacífico ou deste para os Estados Unidos, em condições a ser estabelecidas por acordo especial entre o governo Português e o governo dos Estados Unidos. A este acordo, por troca de notas suplementares, é associado o governo britânico.
Este acordo afastou a Austrália de cobiçar Timor.

Nº 49 O CUSTO DA PAZ ( 6)

E, agora, como vamos entrar nesta crónica, para dedicar namoro à simpatia eterna da Paz? Ornamentos enfeitam-lhe as vestes; a vista extasia-se na extensão da doçura e sossego; a magia, fascina a propor a inércia para não fazer ondas. A crença nas suas virtudes, abranda a feitiçaria de afastar a luta esforçada para evitar embates. Apostar na paragem... decisão a combinar... Obedecer às «coisas», ( que coisas? ) quando vierem do imprevisto.
Quando de dá a mutação de hipóteses, para o surgimento real das «coisas», já não há intervalo para aplicar antídotos. Na hora da urgência para decidir... não há culpas para galardoar a inépcia... nem responsáveis para receber a punição. O tempo lava... lava tudo... só não limpa factos consumados. A realidade, não acusa, nem absolve.
Mostra os atributos agradáveis aos sentidos, da benesse luzidia e confortável de uso sem trabalho, do que resultou da boa orientação, ou sofre a ferida aberta e os danos materiais e morais, do que foi a incúria mal prevista. É a hora do louvor, ou da censura.
Em que ficamos, Paz ou Guerra ? Ninguém deixa de preferir a Paz. Mas o que é certo, a «desavença de 1939/1945», ainda continua existente, nestes nossos escritos.
No dia 8-XI-1942, pela 1 hora da madrugada, os representantes norte-americano e inglês, são recebidos pelo Presidente da República e chefe do governo. Por ordem dos seus governos e instruções especiais de Roosevelt e Churchill, comunicam que àquela hora, desembarcam no Norte de África, desde Marrocos à Tunísia, contingentes anglo- americanos, destinados a destruírem as forças alemãs. Como a operação se desenrola nas vizinhanças de Portugal, Roosevelt e Churchill, querem assegurar a soberania e integridade de todos os territórios portugueses. Interessando o assunto, também à Espanha, em vista à influência do chefe do governo português, junto do chefe de Estado espanhol, solicita-se que Portugal intervenha, urgentemente em Madrid, para explicar a natureza da operação e prestar iguais garantias e dissipar dúvidas do lado espanhol. Churchill reafirma a aliança luso-britânica e que persiste a intenção de não envolver Portugal e Espanha e todos os seus territórios no conflito. Poupar à Península Ibérica aos horrores da guerra e ver não só Portugal mas também a Espanha tomarem o seu lugar em paz e prosperidade no mundo do pós-guerra
O Conde Jordana, Ministro dos Negócios estrangeiros espanhol, visita Portugal, enaltecendo a «zona de paz» Ibérica. O chefe do governo português afirma o bloco peninsular, mas separa a independência das duas nações. É que sabe dos sabores espanhóis, pelos pitéus portugueses...
A guerra continua acesa. Os bloqueios americano e inglês, apertam o abastecimento português. O comércio abranda e o povo ressente-se com faltas de alguns géneros que o hábito considera indispensáveis. A Inglaterra, não supre as encomendas de armas e munições. Os submarinos alemães, afundam navios, homens e mantimentos. A Inglaterra ressente-se, até dentro dos lares. Os ingleses não querem que Portugal abasteça o mercada alemão, de volfrâmio. O governo português reage. Quem manda nos produtos portugueses, é o governo cá dentro. Faz-se uma distribuição equitativa do minério aplicado no fabrico de armas. Neutralidade a levar a sério. No Extremo Oriente, o Japão alarga-se e impõe-se.
Entretanto...
Os militares americanos e ingleses, querem reunir mais força, para o combate ao inimigo que está a levantar a «grimpa». Bons apoios, estão nos Açores. Reiniciam os planos para a posse garantida. Roosevelt e Churchill, na reunião em Casablanca, discutem o assunto. Roosevelt, ao regressar a casa, pára no Brasil e convida o presidente Getúlio Vargas à ocupação dos Açores, por efectivos brasileiros. O Foreign Office, opõe-se e relembra a promessa de há pouco tempo, dos dois presidentes ao chefe do governo português e acrescenta que a invasão a território, daria lugar a pedido de auxílio à Inglaterra. Roosevelt e Churchill, concordam.
O embaixador Campbell, é incumbido de contactar o Primeiro Ministro, mas põe o caso assim: O chefe do governo português é o único homem imaginável que é capaz de congregar atrás de si a nação inteira e possivelmente de evitar que o general Franco cometa alguma loucura; a diligência a fazer deverá ser praticada pelo governo de Sua Majestade e apenas pelo governo de Sua Majestade e nenhuma outra terá qualquer viabilidade de êxito.
Em Washington, Roosevelt e Churchill, têm novo encontro. A obcecação dos dois homens, sobre os Açores, reacende-se. Mas o gabinete de guerra de Londres, mantém-se firme e acentua que antes de qualquer acto de força, o Primeiro Ministro Português, tem de ser informado.
A 16 de Junho de 1943, Campbell, recebe instruções para contactar o chefe do governo português, pois nada deve ser feito sem a sua concordância. É recebido, no dia 18. Expõe a situação do conflito e solicita algumas facilidades de manobra para defesa da Inglaterra, especialmente nos Açores e entrega uma nota que diz: Nestas circunstâncias, o governo de Sua Majestade resolveu, em nome da aliança existente entre Portugal e a Grã-Bretanha há seiscentos anos, pedir ao governo português para lhe prestar a sua colaboração, concedendo-lhe as facilidades de que tem necessidade nos Açores.
O chefe do governo, não mostra surpresa. O pedido invoca a aliança e justifica o estado de necessidade do lado inglês e não de Portugal e responde que o assunto iria ser tratado com toda a compreensão. Atento aos interesses de Portugal, a resposta portuguesa contém : Anuência de princípio. O pedido de facilidades nos Açores constitui um novo e importantíssimo elemento a acrescentar ao exame em conjunto da posição de Portugal como aliado da Inglaterra; é discutível se o auxílio solicitado, nas condições presentes, se contém entre as obrigações da aliança, mas o governo português não pretende debater este ponto; o estado de necessidade invocado pelo governo britânico foi ponderado e Lisboa está consciente do alto serviço que pode prestar-lhe; e, por isso, dá a sua anuência para se poderem examinar e assentar, em negociações gerais as condições em que serão concedidas as facilidades desejadas e as medidas a tomar em face das consequências que delas podem resultar. Desta maneira, há que estudar os aspectos político, militares e económicos do problema, já que este assuma a maior gravidade para Portugal e a vida do seu povo. E ressalva-se o Tratado e o Protocolo firmado entre Portugal e Espanha em 1939 e 1940. Aprecia as garantias que o embaixador Campbell, quanto à soberania portuguesa e à retirada das bases depois da guerra, prestara em nome Londres e de Pretória e estimaria recebê-las, também, em nome dos Estados Unidos e da Austrália.
O embaixador Dr. Armindo Monteiro, no contacto com os diplomatas londrinos, vê todas as questões a favor dos ingleses, diverge do critério do chefe do governo português e explode, em carta pessoal, acusando este de ingénuo, de optimismo sem fundamento, de exibicionismo, de pequeno –sentimentalismo, de provinciano moral, de submeter os grandes interesses nacionais a pequenos ganhos materiais; acha que a diligência britânica de 18 de Junho lançou o chefe do governo em grande irritação e desespero e afirma que toda a política externa portuguesa está em ruínas, assente como tem sido, na ilusão de que era possível manter a neutralidade portuguesa até ao fim da guerra.
O chefe do governo português, ao receber a missiva, depreende que Armindo Monteiro assumiu o ar de grande senhor, que vive em Londres, está relacionado com os dirigentes do mundo e fala de tudo isto superiormente a um pobre homem de Santa Comba, imbuído nos seus escrúpulos e amor ao país de provincianismo moral.
A resposta pessoal, por escrito, do presidente do concelho, levou o Dr. Armindo Monteiro a pedir a sua demissão e voltar à sua cátedra na Faculdade de Direito de Lisboa.
Ainda não é desta que nos livramos do livro do Dr. Franco Nogueira. É um livro de ensino. Até próximo.

Nº 49 O CUSTO DA PAZ ( 6)

E, agora, como vamos entrar nesta crónica, para dedicar namoro à simpatia eterna da Paz? Ornamentos enfeitam-lhe as vestes; a vista extasia-se na extensão da doçura e sossego; a magia, fascina a propor a inércia para não fazer ondas. A crença nas suas virtudes, abranda a feitiçaria de afastar a luta esforçada para evitar embates. Apostar na paragem... decisão a combinar... Obedecer às «coisas», ( que coisas? ) quando vierem do imprevisto.
Quando de dá a mutação de hipóteses, para o surgimento real das «coisas», já não há intervalo para aplicar antídotos. Na hora da urgência para decidir... não há culpas para galardoar a inépcia... nem responsáveis para receber a punição. O tempo lava... lava tudo... só não limpa factos consumados. A realidade, não acusa, nem absolve.
Mostra os atributos agradáveis aos sentidos, da benesse luzidia e confortável de uso sem trabalho, do que resultou da boa orientação, ou sofre a ferida aberta e os danos materiais e morais, do que foi a incúria mal prevista. É a hora do louvor, ou da censura.
Em que ficamos, Paz ou Guerra ? Ninguém deixa de preferir a Paz. Mas o que é certo, a «desavença de 1939/1945», ainda continua existente, nestes nossos escritos.
No dia 8-XI-1942, pela 1 hora da madrugada, os representantes norte-americano e inglês, são recebidos pelo Presidente da República e chefe do governo. Por ordem dos seus governos e instruções especiais de Roosevelt e Churchill, comunicam que àquela hora, desembarcam no Norte de África, desde Marrocos à Tunísia, contingentes anglo- americanos, destinados a destruírem as forças alemãs. Como a operação se desenrola nas vizinhanças de Portugal, Roosevelt e Churchill, querem assegurar a soberania e integridade de todos os territórios portugueses. Interessando o assunto, também à Espanha, em vista à influência do chefe do governo português, junto do chefe de Estado espanhol, solicita-se que Portugal intervenha, urgentemente em Madrid, para explicar a natureza da operação e prestar iguais garantias e dissipar dúvidas do lado espanhol. Churchill reafirma a aliança luso-britânica e que persiste a intenção de não envolver Portugal e Espanha e todos os seus territórios no conflito. Poupar à Península Ibérica aos horrores da guerra e ver não só Portugal mas também a Espanha tomarem o seu lugar em paz e prosperidade no mundo do pós-guerra
O Conde Jordana, Ministro dos Negócios estrangeiros espanhol, visita Portugal, enaltecendo a «zona de paz» Ibérica. O chefe do governo português afirma o bloco peninsular, mas separa a independência das duas nações. É que sabe dos sabores espanhóis, pelos pitéus portugueses...
A guerra continua acesa. Os bloqueios americano e inglês, apertam o abastecimento português. O comércio abranda e o povo ressente-se com faltas de alguns géneros que o hábito considera indispensáveis. A Inglaterra, não supre as encomendas de armas e munições. Os submarinos alemães, afundam navios, homens e mantimentos. A Inglaterra ressente-se, até dentro dos lares. Os ingleses não querem que Portugal abasteça o mercada alemão, de volfrâmio. O governo português reage. Quem manda nos produtos portugueses, é o governo cá dentro. Faz-se uma distribuição equitativa do minério aplicado no fabrico de armas. Neutralidade a levar a sério. No Extremo Oriente, o Japão alarga-se e impõe-se.
Entretanto...
Os militares americanos e ingleses, querem reunir mais força, para o combate ao inimigo que está a levantar a «grimpa». Bons apoios, estão nos Açores. Reiniciam os planos para a posse garantida. Roosevelt e Churchill, na reunião em Casablanca, discutem o assunto. Roosevelt, ao regressar a casa, pára no Brasil e convida o presidente Getúlio Vargas à ocupação dos Açores, por efectivos brasileiros. O Foreign Office, opõe-se e relembra a promessa de há pouco tempo, dos dois presidentes ao chefe do governo português e acrescenta que a invasão a território, daria lugar a pedido de auxílio à Inglaterra. Roosevelt e Churchill, concordam.
O embaixador Campbell, é incumbido de contactar o Primeiro Ministro, mas põe o caso assim: O chefe do governo português é o único homem imaginável que é capaz de congregar atrás de si a nação inteira e possivelmente de evitar que o general Franco cometa alguma loucura; a diligência a fazer deverá ser praticada pelo governo de Sua Majestade e apenas pelo governo de Sua Majestade e nenhuma outra terá qualquer viabilidade de êxito.
Em Washington, Roosevelt e Churchill, têm novo encontro. A obcecação dos dois homens, sobre os Açores, reacende-se. Mas o gabinete de guerra de Londres, mantém-se firme e acentua que antes de qualquer acto de força, o Primeiro Ministro Português, tem de ser informado.
A 16 de Junho de 1943, Campbell, recebe instruções para contactar o chefe do governo português, pois nada deve ser feito sem a sua concordância. É recebido, no dia 18. Expõe a situação do conflito e solicita algumas facilidades de manobra para defesa da Inglaterra, especialmente nos Açores e entrega uma nota que diz: Nestas circunstâncias, o governo de Sua Majestade resolveu, em nome da aliança existente entre Portugal e a Grã-Bretanha há seiscentos anos, pedir ao governo português para lhe prestar a sua colaboração, concedendo-lhe as facilidades de que tem necessidade nos Açores.
O chefe do governo, não mostra surpresa. O pedido invoca a aliança e justifica o estado de necessidade do lado inglês e não de Portugal e responde que o assunto iria ser tratado com toda a compreensão. Atento aos interesses de Portugal, a resposta portuguesa contém : Anuência de princípio. O pedido de facilidades nos Açores constitui um novo e importantíssimo elemento a acrescentar ao exame em conjunto da posição de Portugal como aliado da Inglaterra; é discutível se o auxílio solicitado, nas condições presentes, se contém entre as obrigações da aliança, mas o governo português não pretende debater este ponto; o estado de necessidade invocado pelo governo britânico foi ponderado e Lisboa está consciente do alto serviço que pode prestar-lhe; e, por isso, dá a sua anuência para se poderem examinar e assentar, em negociações gerais as condições em que serão concedidas as facilidades desejadas e as medidas a tomar em face das consequências que delas podem resultar. Desta maneira, há que estudar os aspectos político, militares e económicos do problema, já que este assuma a maior gravidade para Portugal e a vida do seu povo. E ressalva-se o Tratado e o Protocolo firmado entre Portugal e Espanha em 1939 e 1940. Aprecia as garantias que o embaixador Campbell, quanto à soberania portuguesa e à retirada das bases depois da guerra, prestara em nome Londres e de Pretória e estimaria recebê-las, também, em nome dos Estados Unidos e da Austrália.
O embaixador Dr. Armindo Monteiro, no contacto com os diplomatas londrinos, vê todas as questões a favor dos ingleses, diverge do critério do chefe do governo português e explode, em carta pessoal, acusando este de ingénuo, de optimismo sem fundamento, de exibicionismo, de pequeno –sentimentalismo, de provinciano moral, de submeter os grandes interesses nacionais a pequenos ganhos materiais; acha que a diligência britânica de 18 de Junho lançou o chefe do governo em grande irritação e desespero e afirma que toda a política externa portuguesa está em ruínas, assente como tem sido, na ilusão de que era possível manter a neutralidade portuguesa até ao fim da guerra.
O chefe do governo português, ao receber a missiva, depreende que Armindo Monteiro assumiu o ar de grande senhor, que vive em Londres, está relacionado com os dirigentes do mundo e fala de tudo isto superiormente a um pobre homem de Santa Comba, imbuído nos seus escrúpulos e amor ao país de provincianismo moral.
A resposta pessoal, por escrito, do presidente do concelho, levou o Dr. Armindo Monteiro a pedir a sua demissão e voltar à sua cátedra na Faculdade de Direito de Lisboa.
Ainda não é desta que nos livramos do livro do Dr. Franco Nogueira. É um livro de ensino. Até próximo.

Nº 49 O CUSTO DA PAZ ( 6)

E, agora, como vamos entrar nesta crónica, para dedicar namoro à simpatia eterna da Paz? Ornamentos enfeitam-lhe as vestes; a vista extasia-se na extensão da doçura e sossego; a magia, fascina a propor a inércia para não fazer ondas. A crença nas suas virtudes, abranda a feitiçaria de afastar a luta esforçada para evitar embates. Apostar na paragem... decisão a combinar... Obedecer às «coisas», ( que coisas? ) quando vierem do imprevisto.
Quando de dá a mutação de hipóteses, para o surgimento real das «coisas», já não há intervalo para aplicar antídotos. Na hora da urgência para decidir... não há culpas para galardoar a inépcia... nem responsáveis para receber a punição. O tempo lava... lava tudo... só não limpa factos consumados. A realidade, não acusa, nem absolve.
Mostra os atributos agradáveis aos sentidos, da benesse luzidia e confortável de uso sem trabalho, do que resultou da boa orientação, ou sofre a ferida aberta e os danos materiais e morais, do que foi a incúria mal prevista. É a hora do louvor, ou da censura.
Em que ficamos, Paz ou Guerra ? Ninguém deixa de preferir a Paz. Mas o que é certo, a «desavença de 1939/1945», ainda continua existente, nestes nossos escritos.
No dia 8-XI-1942, pela 1 hora da madrugada, os representantes norte-americano e inglês, são recebidos pelo Presidente da República e chefe do governo. Por ordem dos seus governos e instruções especiais de Roosevelt e Churchill, comunicam que àquela hora, desembarcam no Norte de África, desde Marrocos à Tunísia, contingentes anglo- americanos, destinados a destruírem as forças alemãs. Como a operação se desenrola nas vizinhanças de Portugal, Roosevelt e Churchill, querem assegurar a soberania e integridade de todos os territórios portugueses. Interessando o assunto, também à Espanha, em vista à influência do chefe do governo português, junto do chefe de Estado espanhol, solicita-se que Portugal intervenha, urgentemente em Madrid, para explicar a natureza da operação e prestar iguais garantias e dissipar dúvidas do lado espanhol. Churchill reafirma a aliança luso-britânica e que persiste a intenção de não envolver Portugal e Espanha e todos os seus territórios no conflito. Poupar à Península Ibérica aos horrores da guerra e ver não só Portugal mas também a Espanha tomarem o seu lugar em paz e prosperidade no mundo do pós-guerra
O Conde Jordana, Ministro dos Negócios estrangeiros espanhol, visita Portugal, enaltecendo a «zona de paz» Ibérica. O chefe do governo português afirma o bloco peninsular, mas separa a independência das duas nações. É que sabe dos sabores espanhóis, pelos pitéus portugueses...
A guerra continua acesa. Os bloqueios americano e inglês, apertam o abastecimento português. O comércio abranda e o povo ressente-se com faltas de alguns géneros que o hábito considera indispensáveis. A Inglaterra, não supre as encomendas de armas e munições. Os submarinos alemães, afundam navios, homens e mantimentos. A Inglaterra ressente-se, até dentro dos lares. Os ingleses não querem que Portugal abasteça o mercada alemão, de volfrâmio. O governo português reage. Quem manda nos produtos portugueses, é o governo cá dentro. Faz-se uma distribuição equitativa do minério aplicado no fabrico de armas. Neutralidade a levar a sério. No Extremo Oriente, o Japão alarga-se e impõe-se.
Entretanto...
Os militares americanos e ingleses, querem reunir mais força, para o combate ao inimigo que está a levantar a «grimpa». Bons apoios, estão nos Açores. Reiniciam os planos para a posse garantida. Roosevelt e Churchill, na reunião em Casablanca, discutem o assunto. Roosevelt, ao regressar a casa, pára no Brasil e convida o presidente Getúlio Vargas à ocupação dos Açores, por efectivos brasileiros. O Foreign Office, opõe-se e relembra a promessa de há pouco tempo, dos dois presidentes ao chefe do governo português e acrescenta que a invasão a território, daria lugar a pedido de auxílio à Inglaterra. Roosevelt e Churchill, concordam.
O embaixador Campbell, é incumbido de contactar o Primeiro Ministro, mas põe o caso assim: O chefe do governo português é o único homem imaginável que é capaz de congregar atrás de si a nação inteira e possivelmente de evitar que o general Franco cometa alguma loucura; a diligência a fazer deverá ser praticada pelo governo de Sua Majestade e apenas pelo governo de Sua Majestade e nenhuma outra terá qualquer viabilidade de êxito.
Em Washington, Roosevelt e Churchill, têm novo encontro. A obcecação dos dois homens, sobre os Açores, reacende-se. Mas o gabinete de guerra de Londres, mantém-se firme e acentua que antes de qualquer acto de força, o Primeiro Ministro Português, tem de ser informado.
A 16 de Junho de 1943, Campbell, recebe instruções para contactar o chefe do governo português, pois nada deve ser feito sem a sua concordância. É recebido, no dia 18. Expõe a situação do conflito e solicita algumas facilidades de manobra para defesa da Inglaterra, especialmente nos Açores e entrega uma nota que diz: Nestas circunstâncias, o governo de Sua Majestade resolveu, em nome da aliança existente entre Portugal e a Grã-Bretanha há seiscentos anos, pedir ao governo português para lhe prestar a sua colaboração, concedendo-lhe as facilidades de que tem necessidade nos Açores.
O chefe do governo, não mostra surpresa. O pedido invoca a aliança e justifica o estado de necessidade do lado inglês e não de Portugal e responde que o assunto iria ser tratado com toda a compreensão. Atento aos interesses de Portugal, a resposta portuguesa contém : Anuência de princípio. O pedido de facilidades nos Açores constitui um novo e importantíssimo elemento a acrescentar ao exame em conjunto da posição de Portugal como aliado da Inglaterra; é discutível se o auxílio solicitado, nas condições presentes, se contém entre as obrigações da aliança, mas o governo português não pretende debater este ponto; o estado de necessidade invocado pelo governo britânico foi ponderado e Lisboa está consciente do alto serviço que pode prestar-lhe; e, por isso, dá a sua anuência para se poderem examinar e assentar, em negociações gerais as condições em que serão concedidas as facilidades desejadas e as medidas a tomar em face das consequências que delas podem resultar. Desta maneira, há que estudar os aspectos político, militares e económicos do problema, já que este assuma a maior gravidade para Portugal e a vida do seu povo. E ressalva-se o Tratado e o Protocolo firmado entre Portugal e Espanha em 1939 e 1940. Aprecia as garantias que o embaixador Campbell, quanto à soberania portuguesa e à retirada das bases depois da guerra, prestara em nome Londres e de Pretória e estimaria recebê-las, também, em nome dos Estados Unidos e da Austrália.
O embaixador Dr. Armindo Monteiro, no contacto com os diplomatas londrinos, vê todas as questões a favor dos ingleses, diverge do critério do chefe do governo português e explode, em carta pessoal, acusando este de ingénuo, de optimismo sem fundamento, de exibicionismo, de pequeno –sentimentalismo, de provinciano moral, de submeter os grandes interesses nacionais a pequenos ganhos materiais; acha que a diligência britânica de 18 de Junho lançou o chefe do governo em grande irritação e desespero e afirma que toda a política externa portuguesa está em ruínas, assente como tem sido, na ilusão de que era possível manter a neutralidade portuguesa até ao fim da guerra.
O chefe do governo português, ao receber a missiva, depreende que Armindo Monteiro assumiu o ar de grande senhor, que vive em Londres, está relacionado com os dirigentes do mundo e fala de tudo isto superiormente a um pobre homem de Santa Comba, imbuído nos seus escrúpulos e amor ao país de provincianismo moral.
A resposta pessoal, por escrito, do presidente do concelho, levou o Dr. Armindo Monteiro a pedir a sua demissão e voltar à sua cátedra na Faculdade de Direito de Lisboa.
Ainda não é desta que nos livramos do livro do Dr. Franco Nogueira. É um livro de ensino. Até próximo.

Nº 48 O CUSTO DA PAZ ( 5)

Falar em custos, adverte cautela. Quanto?
A pergunta, de chofre, prevê numerário, ou pronto pagamento que, na voz corrente, liquida compromissos até às dívidas avelhentadas.
Nestas crónicas, mais de uma vez, ateimámos definir Paz. Chamámo-la mentirosa, fugidia e... leve, aérea de cuidados aguerridos.
A seguir, usámos condescendência e explicámos que não era, unicamente dinheiro, havia que contar com Inteligência, Honestidade, Ponderação. Para variar, na crónica Nº 41, admitimos que Paz gosta da verdade, mas faz «vista grossa» à mentira, porque guerra expulsa suores frios e abusa de contracções, além de incómodas, cooperantes com a fuga.... deslustre da coragem .
Acabámos por concordar, porém, que Paz, não é subserviência. Estender a mão, a esmola ou empréstimo, só pode entender-se como decaimento passageiro, a corrigir por esforço de recuperação a prazo e vontade sincera de não dever nada a ninguém, para se não sujeitar a descer às consequências atribuídas aos de má fé.
Haverá para a palavra COERÊNCIA, mais atributos exclusivos para definir o estado da boa harmonia das gentes e das nações?
Não respondemos, nem sim, nem não. Cumpre-nos, agora, continuar com o Dr. Franco Nogueira e, mais tarde fazer reparos.
A Assembleia Nacional, condenou a ocupação de Timor e aprovou a orientação do governo. Em 22 de Dezembro, Armindo Monteiro recebe um protesto escrito para entregar ao governo de Londres e o governo inglês entrega-lhe um memorando de explicações e defesa, em que se confessa profundamente desgostoso por um acto contra o qual o governo português está inteiramente justificado em protestar.
Além do protesto, Lisboa pede a retirada dos efectivos desembarcados e informa que serão substituídos pelo dobro de tropas portuguesas.
Tóquio é avisado dos acontecimentos à revelia da autoridade portuguesa, o qual replica que respeita a soberania portuguesa, mas que se não for possível resolver a grave situação, em breve, as forças nipónicas atacariam holandeses e australianos. .
Os ingleses estão receosos e não excluem um corte de relações por parte do governo de Lisboa, que não transige, pois é preciso não confundir, diz a Monteiro, consciência e interesses nacionais, com servilismo pró britânico. Monteiro defende cedência de compromisso, para não antagonizar a Inglaterra.
O chefe do governo cinge-se a informar Monteiro, em 31 de Dezembro de 1941, de que as forças portuguesas estão prontas para embarcar para Timor. Na segunda quinzena de Janeiro de 1942, o navio João Belo, sai de Lisboa, comboiado pelo aviso Gonçalves Zarco, levando os soldados portugueses.
Surgem múltiplos problemas para Portugal, no ano de 1942, ao desenvolver-se a guerra, em várias frentes.
Continuam as cobiças pelos Arquipélagos do Atlântico, que se estendem a Lourenço Marques, Beira, Lobito, pela Rodésia e África do Sul e de Macau, pelo Japão. Dificuldades de adquirir armas e munições. Os bloqueios inglês e americano, a travar o abastecimento, dificuldades internas, económicas, comunicações marítimas, a questão de Timor e com a vizinha Espanha. O Japão poderia ter declarado guerra, quando da ocupação pelos australianos e holandeses e, pelo jogo das alianças, a Alemanha poderia ter tomado igual atitude, pela mesma razão. Portugal poderia ter entrado na guerra, ao lado da Grã Bretanha, o que levaria a Espanha para o lado da Alemanha e, portanto, a um embate com Portugal. Não cessam as pressões germânicas em Madrid e o governo de Lisboa está informado que Berlim perguntara ao Governo Espanhol qual a atitude deste nos seguintes casos: ocupação pelos anglo-americanos dos Arquipélagos portugueses do Atlântico; desembarque daqueles em Portugal, ou ataque à zona espanhola de Marrocos. Respondera Madrid que nos dois primeiros casos auxiliaria Portugal e o último, seria a entrada da Espanha na guerra.
Em 11 de Novembro de 1942, Francisco Franco e Dr. Oliveira Salasar, encontram-se em Sevilha. O «comunicado», reafirma política comum, confirmada pela «palavra» dos dois Homens, que confiam um no outro.
A 19 de Fevereiro de 1942, o Ministro do Japão em Portugal, informa o Ministério dos Estrangeiros de que as forças armadas nipónicas, se tinham achado «obrigadas» a desalojar holandeses e australianos do Timor português. Invasão disfarçada de legítima defesa. O chefe do governo português responde que o governo nipónico sabia estarem a caminho, já no Oceano Índico, forças portuguesas para substituírem as que lá estavam, não tendo, fundamento, portanto a pretexto invocado e exprime a sua surpresa e protesta. A 21 de Fevereiro de 1942, o Primeiro Ministro, perante a Câmara dos Deputados, diz que não há direitos de estratégia contra a soberania das nações e a violação de um direito por uns, não legitima a violação do mesmo ou de diverso direito por outros e as declarações amigáveis de Tóquio e os propósitos expressos de abandonar Timor não podem fazer calar o nosso protesto e abafar a nossa mágoa.
Embaraço em Lisboa e em Londres. Qual o destino a dar aos expedicionários portugueses, a bordo do João Belo? Regresso a Lourenço Marques, pareceria humilhante. Aportar a Timor? Aceitar a coexistência com os Japoneses se estes teimarem em permanecer, ou combatê-los, a iniciar guerra com o Japão?. Decidido aportar a Ceilão, até esclarecimento completo. O embaraço de Londres é, também grande. Confessavam-se os ingleses culpados de terem sido eles a colocar os portugueses «nesta trapalhada» e sem resultado, pois os australiano e holandeses, mal avistaram a armada nipónica, fugiram, ou renderam-se.
O Embaixador em Lisboa, Campbell, pretende intrometer-se na política interna portuguesa e tem reuniões com grupos de portugueses. E exterioriza que o Dr. Salazar se está tornando se não louco, pelo menos anormal e é um homem exasperante. O embaixador inglês em Madrid, é convidado a visitar Lisboa, para conversas confidenciais com o chefe do governo. Armindo Monteiro, em Londres, critica a «neutralidade geométrica» do Dr. Salazar e considera « grave erro » a orientação seguida e acha que Portugal está a trair a aliança inglesa para cair nos braços da Alemanha
No verão de 1942, o Brasil declara guerra à Alemanha, dificultando a neutralidade portuguesa. Em Setembro de 1942, Franco reafirma a política ajustada com Portugal, o que significa afastamento da guerra
Campbell, o embaixador que dizia de Salazar, se não louco, etc., escreve para Londres: em nenhum outro domínio se afirmou com mais êxito, o génio político do Dr. Salazar.
Em muitos círculos estrangeiros há a opinião de que, como nos tempos da guerra civil espanhola, o chefe do governo de Lisboa, continua a ser o Ministro dos Estrangeiros de Portugal e da Espanha.
E pronto, por hoje. O que pensará quem ler estes acontecimentos, de há 63 anos? Simples recordação, ou valerá a pena tirar ilações?
A COERÊNCIA, é uma qualidade de excepção. O Mundo, em Paz, sente um vazio no preciso para acreditar. Na conturbação da guerra, mais se faz sentir essa falha. Na guerra de 1939 a 1945, pelo que temos constatado até ao momento, o chefe do governo português, mostrou ser, de entre os responsáveis máximos, incluindo os dos outros países, o mais COERENTE. Honra, lhe seja.

Nº 48 O CUSTO DA PAZ ( 5)

Falar em custos, adverte cautela. Quanto?
A pergunta, de chofre, prevê numerário, ou pronto pagamento que, na voz corrente, liquida compromissos até às dívidas avelhentadas.
Nestas crónicas, mais de uma vez, ateimámos definir Paz. Chamámo-la mentirosa, fugidia e... leve, aérea de cuidados aguerridos.
A seguir, usámos condescendência e explicámos que não era, unicamente dinheiro, havia que contar com Inteligência, Honestidade, Ponderação. Para variar, na crónica Nº 41, admitimos que Paz gosta da verdade, mas faz «vista grossa» à mentira, porque guerra expulsa suores frios e abusa de contracções, além de incómodas, cooperantes com a fuga.... deslustre da coragem .
Acabámos por concordar, porém, que Paz, não é subserviência. Estender a mão, a esmola ou empréstimo, só pode entender-se como decaimento passageiro, a corrigir por esforço de recuperação a prazo e vontade sincera de não dever nada a ninguém, para se não sujeitar a descer às consequências atribuídas aos de má fé.
Haverá para a palavra COERÊNCIA, mais atributos exclusivos para definir o estado da boa harmonia das gentes e das nações?
Não respondemos, nem sim, nem não. Cumpre-nos, agora, continuar com o Dr. Franco Nogueira e, mais tarde fazer reparos.
A Assembleia Nacional, condenou a ocupação de Timor e aprovou a orientação do governo. Em 22 de Dezembro, Armindo Monteiro recebe um protesto escrito para entregar ao governo de Londres e o governo inglês entrega-lhe um memorando de explicações e defesa, em que se confessa profundamente desgostoso por um acto contra o qual o governo português está inteiramente justificado em protestar.
Além do protesto, Lisboa pede a retirada dos efectivos desembarcados e informa que serão substituídos pelo dobro de tropas portuguesas.
Tóquio é avisado dos acontecimentos à revelia da autoridade portuguesa, o qual replica que respeita a soberania portuguesa, mas que se não for possível resolver a grave situação, em breve, as forças nipónicas atacariam holandeses e australianos. .
Os ingleses estão receosos e não excluem um corte de relações por parte do governo de Lisboa, que não transige, pois é preciso não confundir, diz a Monteiro, consciência e interesses nacionais, com servilismo pró britânico. Monteiro defende cedência de compromisso, para não antagonizar a Inglaterra.
O chefe do governo cinge-se a informar Monteiro, em 31 de Dezembro de 1941, de que as forças portuguesas estão prontas para embarcar para Timor. Na segunda quinzena de Janeiro de 1942, o navio João Belo, sai de Lisboa, comboiado pelo aviso Gonçalves Zarco, levando os soldados portugueses.
Surgem múltiplos problemas para Portugal, no ano de 1942, ao desenvolver-se a guerra, em várias frentes.
Continuam as cobiças pelos Arquipélagos do Atlântico, que se estendem a Lourenço Marques, Beira, Lobito, pela Rodésia e África do Sul e de Macau, pelo Japão. Dificuldades de adquirir armas e munições. Os bloqueios inglês e americano, a travar o abastecimento, dificuldades internas, económicas, comunicações marítimas, a questão de Timor e com a vizinha Espanha. O Japão poderia ter declarado guerra, quando da ocupação pelos australianos e holandeses e, pelo jogo das alianças, a Alemanha poderia ter tomado igual atitude, pela mesma razão. Portugal poderia ter entrado na guerra, ao lado da Grã Bretanha, o que levaria a Espanha para o lado da Alemanha e, portanto, a um embate com Portugal. Não cessam as pressões germânicas em Madrid e o governo de Lisboa está informado que Berlim perguntara ao Governo Espanhol qual a atitude deste nos seguintes casos: ocupação pelos anglo-americanos dos Arquipélagos portugueses do Atlântico; desembarque daqueles em Portugal, ou ataque à zona espanhola de Marrocos. Respondera Madrid que nos dois primeiros casos auxiliaria Portugal e o último, seria a entrada da Espanha na guerra.
Em 11 de Novembro de 1942, Francisco Franco e Dr. Oliveira Salasar, encontram-se em Sevilha. O «comunicado», reafirma política comum, confirmada pela «palavra» dos dois Homens, que confiam um no outro.
A 19 de Fevereiro de 1942, o Ministro do Japão em Portugal, informa o Ministério dos Estrangeiros de que as forças armadas nipónicas, se tinham achado «obrigadas» a desalojar holandeses e australianos do Timor português. Invasão disfarçada de legítima defesa. O chefe do governo português responde que o governo nipónico sabia estarem a caminho, já no Oceano Índico, forças portuguesas para substituírem as que lá estavam, não tendo, fundamento, portanto a pretexto invocado e exprime a sua surpresa e protesta. A 21 de Fevereiro de 1942, o Primeiro Ministro, perante a Câmara dos Deputados, diz que não há direitos de estratégia contra a soberania das nações e a violação de um direito por uns, não legitima a violação do mesmo ou de diverso direito por outros e as declarações amigáveis de Tóquio e os propósitos expressos de abandonar Timor não podem fazer calar o nosso protesto e abafar a nossa mágoa.
Embaraço em Lisboa e em Londres. Qual o destino a dar aos expedicionários portugueses, a bordo do João Belo? Regresso a Lourenço Marques, pareceria humilhante. Aportar a Timor? Aceitar a coexistência com os Japoneses se estes teimarem em permanecer, ou combatê-los, a iniciar guerra com o Japão?. Decidido aportar a Ceilão, até esclarecimento completo. O embaraço de Londres é, também grande. Confessavam-se os ingleses culpados de terem sido eles a colocar os portugueses «nesta trapalhada» e sem resultado, pois os australiano e holandeses, mal avistaram a armada nipónica, fugiram, ou renderam-se.
O Embaixador em Lisboa, Campbell, pretende intrometer-se na política interna portuguesa e tem reuniões com grupos de portugueses. E exterioriza que o Dr. Salazar se está tornando se não louco, pelo menos anormal e é um homem exasperante. O embaixador inglês em Madrid, é convidado a visitar Lisboa, para conversas confidenciais com o chefe do governo. Armindo Monteiro, em Londres, critica a «neutralidade geométrica» do Dr. Salazar e considera « grave erro » a orientação seguida e acha que Portugal está a trair a aliança inglesa para cair nos braços da Alemanha
No verão de 1942, o Brasil declara guerra à Alemanha, dificultando a neutralidade portuguesa. Em Setembro de 1942, Franco reafirma a política ajustada com Portugal, o que significa afastamento da guerra
Campbell, o embaixador que dizia de Salazar, se não louco, etc., escreve para Londres: em nenhum outro domínio se afirmou com mais êxito, o génio político do Dr. Salazar.
Em muitos círculos estrangeiros há a opinião de que, como nos tempos da guerra civil espanhola, o chefe do governo de Lisboa, continua a ser o Ministro dos Estrangeiros de Portugal e da Espanha.
E pronto, por hoje. O que pensará quem ler estes acontecimentos, de há 63 anos? Simples recordação, ou valerá a pena tirar ilações?
A COERÊNCIA, é uma qualidade de excepção. O Mundo, em Paz, sente um vazio no preciso para acreditar. Na conturbação da guerra, mais se faz sentir essa falha. Na guerra de 1939 a 1945, pelo que temos constatado até ao momento, o chefe do governo português, mostrou ser, de entre os responsáveis máximos, incluindo os dos outros países, o mais COERENTE. Honra, lhe seja.

Nº 47 O CUSTO DA PAZ ( 4 )

A PAZ, é um sinal da Fé. De maneira nenhuma, todavia, de indício pusilânime e, muito menos, de caris subserviente. O servilismo, é fardo, além de ser pesado, esmaga a moral e encolhe o direito à liberdade.
Querer paz, com a singeleza de ser Homem ou Mulher, é argumento oco de vigor, se não acompanhado da declaração aprovada do pagamento dos compromissos para merecer independência. Ninguém é livre, enquanto for obrigado a estender a mão... a outra mão que o segure.
Esmolar, poderá ser escolha de emergência. Se passar a hábito, terá de descer para o rol da incapacidade. E quem se não bastar, ou é asilado ou morre à míngua. A Paz, tem demora curta, junto à timidez.
Paz...é um sinal da FÉ.
FÉ, exprime CORAGEM, SERIEDADE e ESFORÇO.
Regressemos ao que nos descreveu o Dr. Alberto Franco Nogueira.
Na anterior crónica, assistimos aos contínuos temores de ambos os lados dos combatentes, sobre a posse dos Arquipélagos do Atlântico, as respostas assisadas e sempre a tempo, do governo Português, finalizando com a carta pessoal do Presidente Roosevelt, a aceitar os reparos do Homem que sentia a responsabilidade de dirigir um País modesto, mas não transigindo da posição vertical. Portugal, tinha orgulho justificado, na ponderação de quem o comandava.
O Chefe do Governo Português, respondeu com igual lisura, aceitando auxílio americano, no caso de sofrer afronta.
Ao crescimento da violência na guerra, em 1941, o governo português, chegou a acreditar na invasão pelo exército alemão. Mandou preparar alojamentos em Ponta Delgada, no edifício do Largo Dois de Março, onde já havia habitado o chefe da revolução do 28 de Maio de 1926, Marechal Gomes da Costa (1863-1929). Uma breve interrupção.
Este GRANDE MILITAR (grande no físico, na inteligência e no temperamento), símbolo do português sincero, leal e animoso, começou a ser HERÓI, quando destacado na Índia, por 1891, entrou em vários combates, contra insurrectos, sendo ferido. Seguiu para Moçambique em 1895, onde Mousinho de Albuquerque o louvou, por diversos actos de bravura. Prestou valiosos serviços a Moçambique, quer em postos administrativos, mas sobretudo a acalmar gentios. Atacado de febres, o príncipe real Luis Filipe, em viagem de soberania, retirou-o do interior da província e levou-o para Lourenço Marques. Depois de ter estado em Angola e S. Tomé e Príncipe, regressou a Lisboa, sempre alheado da política, mas onde exerceu vários comandos. Em 19l5 assumiu o comando da 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português, sabendo contornar as incontáveis deficiências do armamento, com a técnica da ousadia, tanto quanto possível eficaz, nos campos da Flandres e Artois. Foi agraciado com as mais elevadas medalhas portuguesas e, não só, inglesas, francesas e italianas. Convidado, à última hora, para chefiar a revolução do 28 de Maio de 1926, a permanência no comando, porém, gerou mês e meio de dúvidas, as quais terminaram no dia 9 de Julho, recebendo a oferta de Presidente da República, sem mais pastas. Recusou. Dois dias depois, em 11-o7, embarcou no cruzador Carvalho Araújo, a caminho de Angra do Heroísmo e em 22 de Outubro aproou a Ponta Delgada, onde permaneceu até Novembro de 1927, no referido edifício do Largo Dois de Março. Promovido a Marechal, por distinção excepcional, em 30-09-1926, mesmo estando ainda nos Açores, patenteia a consideração em que era tido, por todos os portugueses, prós e contrários ao seu critério de reprovar o descontrolo do País.
Estes nossos escritos, não passam de uma cavaqueira entre familiares, com intervenções acompanhadas com o «molhar a boca» com xícara de CHÁ. Também, porque gostamos de referenciar, os que venceram a pusilanimidade, que sempre existiu. Melhor, muito melhor, que citar fintadores da coragem.

A transferência do governo de Lisboa para Ponta Delgada, seria no momento do ataque. Armindo Monteiro, recebe as seguintes instruções: Não se devem deixar dúvidas no espírito do Secretário de Estado ( Eden) de que se Portugal estiver neutral, as forças dos Açores ou de Cabo Verde, ripostarão ao ataque da esquadra britânica, até ao limite das suas possibilidades. Não julgo que dignamente possamos fazer outra coisa.
Monteiro, considera errada esta orientação, que poderá vir a ser «desastrosa».
Londres responde, elogia, entende e concorda. Mas insiste que a deslocação do governo português deve ser antes do ataque e que a neutralidade portuguesa, depois deste, já não interessaria à Inglaterra. E não concorda que Portugal deva permanecer neutro em tais circunstâncias, que até seria prejudicial.
Monteiro, envia este parecer para Lisboa, permitindo-se criticar a decisão do governo português.
O Conde de Tovar, representante de Portugal na Alemanha, é recebido por Hitler que sublinha as pretensões americanas e afirma que não têm fundamento os rumores da ocupação dos Açores, por parte da Alemanha e regozija-se com a decisão de Lisboa defender o Arquipélago.
A resposta do governo português, ao Embaixador Monteiro e ao documento de Londres, o Dr. Franco Nogueira, resume-os: O objectivo inglês é de fazer escorregar por um plano inclinado, da neutralidade para a guerra, sem assumir a responsabilidade do facto e pretendendo, ao invés, que isso aconteceria por iniciativa e no exclusivo interesse de Portugal. Ora, seja qual for a orientação que os acontecimentos venham a impor ao governo de Lisboa, temos de destruir esta posição ( dos ingleses), não deixando dela uma pedra. O gabinete britânico tenta identificar ameaça com ataque, recusa-se a admitir a coexistência de beligerância espanhola e neutralidade portuguesa e com estes fundamentos entende que o governo português deve abandonar o continente logo que a Espanha saia da não beligerância e faz coincidir este acto com a perda da neutralidade portuguesa. Mas a questão é outra: no caso de Portugal ser atacado pela Alemanha, pela Espanha ou por forças de ambas estas nações, como entende o governo de Sua Majestade fazer funcionar os tratados de aliança? E, continua: Toda a nação portuguesa, julga ser direito e dever repelir qualquer ataque à soberania, integridade e dignidade de Portugal: nada disto depende da atitude da Grã –Bretanha. Sob outro aspecto, Portugal, por ser aliado da Inglaterra, não é, por este facto aliado de qualquer outro país com que a Grã --Bretanha esteja aliada; e uma agressão a Portugal seria resultado da hostilidade contra a Inglaterra e não contra Portugal. O abandono espontâneo da neutralidade não pode constituir um objectivo da política portuguesa, nem o país a compreenderia. No ponto de vista britânico, todavia, parece que um ataque da Espanha a Gibraltar deveria ser havido como ameaça a Portugal; o governo logo se transferiria para os Açores, ao abrigo da esquadra inglesa; Portugal perderia assim, a sua neutralidade; e, tendo-a perdido, poria as bases portuguesas às ordens da Grã Bretanha. Por outras palavras: Portugal entraria na guerra por acto próprio e a esquadra inglesa estaria em bases portuguesas para defender Portugal em nome da aliança. Mas nós não aceitamos o problema posto nestas bases, nem a imensa tragédia da guerra no nosso território e para o nosso povo, tendo a Inglaterra o ar de quem presta com desinteresse, o seu auxílio num passo difícil que, deliberadamente nos aprestamos a dar. A Inglaterra, pelo contrário, se procurará eximir a um acto de força contra Portugal e há-de ver-se obrigada a negociar e a por claramente a questão da entrada de Portugal na guerra a pedido inglês, por interesse inglês, por força das necessidades inglesas. É preciso ser firme, intransigente, nesta parte; a História seria severa em julgar-nos, se o não fôssemos.
Em 4 de Novembro de 1941, o governo inglês, apresenta em Lisboa, o «caso sério» de Timor e expõe: Continuam em operações as forças nipónicas e o Estado Maior Britânico, não sabe se o Japão se dirigirá para o sul, mas em qualquer hipótese a posição do Timor português assume para a Austrália uma importância capital e ingleses e australianos têm estudado a defesa daquele território. Como a ocupação de Timor pelo Japão significaria um revés grave, o governo britânico deseja, conforme a aliança o autoriza, formular três perguntas: se Timor for agredido e ocupado por forças japonesas, que atitude pensa Portugal tomar? Em tal circunstância está Lisboa disposta a aceitar auxílio britânico? Não seria útil aproveitar as conversações de estado-maior para elaborar um esquema de acção conjunta?
Três dias depois, o chefe do governo português aceita e espera, nos termos da aliança, uma ajuda britânica e concorda com o estudo dos estados maiores inglês e português. Londres agrada-se com o parecer do Primeiro Ministro português e, pela urgência do assunto, propõe e ida de um oficial português a Singapura, onde estão a ser elaborados os planos, com presença de australianos e holandeses. O chefe do governo português concorda, mas sem a comparência holandesa, porquanto da aliança com a Inglaterra, , não decorre para Portugal uma aliança com a Holanda. Esta anuência é dada em 5 de Dezembro de 1941. Dois dias depois, em 7, os japoneses atacam Pearl Harbour. A 11 de Dezembro de 1941, a Alemanha e a Itália, declaram guerra aos Estados Unidos.
Forças terrestres, aéreas e navais nipónicas, deslocam-se por todo o Extremo Oriente, com intenção de ocupar posições estratégicas. Londres pergunta a Lisboa se aceita a defesa de Timor por holandeses e australianos. Responde o primeiro Ministro Português: Está o governo britânico a fazer uma oferta? Concorda-se em considerar os efectivos australianos e holandeses como formando os meios militares, sob comando inglês, são postas à disposição de Portugal, nos termos da aliança, para defesa de Timor. Admite-se o auxílio, no caso de ataque efectivo, mas não de presunção ou ameaça de ataque.
No nervosismo de receber e cumprir ordens, o representante da Holanda em Londres comunica, que o comando holandês no Oriente, se propõe enviar, no dia 17, um delegado a conferenciar com o governador português e que, qualquer que seja o resultado da conversa, duas horas depois desembarcará um contingente de 350 australianos e holandeses.
O governo inglês fica apreensivo e telegrafa para o Extremo Oriente, para suspender esta decisão. Os holandeses, ou não leram, ou não decifraram o conteúdo. Na dia 17, cumpriram o que haviam previsto, o governador português rejeitou o ultimato e constituiu-se prisioneiro.
No mesmo dia, chegou a Lisboa a informação. O chefe do governo português, de imediato, convocou o embaixador inglês e exige que lhe diga se a responsabilidade do acontecido, é do governo inglês ou do holandês, ou das autoridades locais, acrescentando: o governo português deseja ser tratado com a seriedade que punha em todas as negociações com Londres e verificava que não o estava a ser. A 19 de Dezembro, o chefe do governo, apresentou na Assembleia Nacional o relato dos acontecimentos e protesta: O que não é permitido aos pequenos e fracos, também não é, para os grandes impérios.......... o que levou a invadir o território de um neutro, de um amigo, de um aliado.
Terminamos esta crónica. Podia ter sido mais breve. O Dr. Franco Nogueira, o autor do livro que nos está a servir de guia, foi o primeiro a resumir e nós vamos cortando algumas partes. Entendemos, porém, ser nossa obrigação, deixar bem definida, a posição distinta de um exemplar Primeiro Ministro.

Nº 46 O CUSTO DA PAZ ( 3 )

A Paz não se acanha a preferir a verdade. Sobreteima, apesar de estar convencida que: Nunca será o que parece...
E vai ao ponto de condescender, com ausência de cerimónias e delicadeza, no lançamento de rumores, notícias vagas, denúncias, censuras, argumentos falsificados, polémicas retumbantes no vácuo da fantasia, discórdias partidistas escalvadas, confraternizações de desdenhosos compadres malcontentes a desafiar cantigas de novas em catadupa...
A Paz, para parecer respeitável e tomar pose de valente, a tudo se presta. Gosta mais da verdade, mas não despreza a mentira. E, às vezes, junta-as na canção do « fazer das pazes», acobertando, assim, quaisquer vestígios dos medos agigantados, que aos interventores incomodou em suores frios e contracções no «fundo da agulha».

A nossa última crónica, finou-se com a transcrição do «Protocolo» para fortalecer o acordo dos Governos Português e Espanhol e acalmar Londres. A Guerra, contudo continuava.
A Alemanha nos Pirenéus, sob as ordens de Hitler, ataca, não ataca a Península, e a entrada da Itália na luta ajudam a complicar prognósticos.
O Embaixador, Armindo Monteiro, vem a Lisboa, receber instruções. Churchill, entende-as e acolhe com agrado a abertura de conversas de Estados Maiores. O generalíssimo Franco, tem entrevistas com Mussolini e o General Pétain, presidente da França capitulada.
O Governo Português, confirma o seu parecer de que à Espanha não convém entrar na Guerra. Pede paciência a Eden, novo Ministro a substituir Halifax.
Outra complicação surge: O Presidente Roosevelt, afirma em discurso, que se Portugal e Espanha forem invadidos, a América, seria forçada a aplicar ao Arquipélago dos Açores, a doutrina de Monroe.
A Alemanha, nervosa, quer saber pormenores. Responde o Governo Português, que o Arquipélago, continua a ser, militarmente reforçado e não se espera qualquer ataque.
O Foreign Office, publica: Ilhas Portuguesas são vitais para a batalha do Atlântico.
A Espanha, ao abrigo do acordo com Portugal, indaga do que há, sobre pretensões inglesas e americanas sobre as Ilhas Atlânticas. Sempre a mesma resposta, do governo português: Se alguma pressão vier a existir, o governo Português informará a Espanha, esperando que a Espanha tome igual atitude, em relação à Alemanha.
Não se dissipam os receios ingleses, sobre as intenções alemãs ao Continente Português e aos Açores. Uma manifestação pública e patriótica no Terreiro do Paço, acalma Londres que exprime: o respeito e a admiração que desperta em Inglaterra a política do chefe do governo na situação difícil e delicada de Portugal, actualmente.
Alguns departamentos ingleses, todavia, instigam os Estados Unidos, a ocuparem ou arrendarem bases nos Açores e em Cabo Verde. O senador americano Pepper, com o visto do Presidente, recomenda a ocupação dos Açores, Cabo Verde, Canárias e Dacar. O governo Português responde: condena a desenvoltura com que de vários lados se traça o destino de países estranhos ao conflito actual....... e que os Arquipélagos estão preparados para resistir a qualquer ataque de que porventura sejam objecto, embora o não espere.
Os Estado Maiores inglês e português discutem planos. O Português é preferido, por ser mais realista, com aprovação de Churchill e Eden. Enquanto que os ingleses se vão harmonizando com as directrizes mais sensatas portuguesas, o Presidente Roosevelt, em 27-o5-1941, salienta a: importância decisiva das Ilhas e ser indispensável evitar que o inimigo se instale numa posição que possa lançar ataques.
Neste mesmo dia, o governo português, faz saber em Londres, que não tendo as mesmas obrigações com a América, das que tem para com a Inglaterra, qualquer acto dos Estados Unidos será considerado de agressão ao território Português, com as lógicas reacções que o caso exigiria. O Ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, Eden, concorda que Roosevelt, tratou a questão, sem cerimónia. O representante português em Washington, Bianchi, entrega uma nota ao Secretário de Estado Cordell Hull, a pedir esclarecimento se os Estados Unidos se atribuem o direito de resolver, unilateralmente como usar da força para se protegerem e protegerem outros, então esta doutrina pode ser havida como significando que uma grande nação pode cometer atropelo análogo do que se diz existir a ameaça por parte de terceiros países.
E em outra nota, para Londres, insiste: a neutralidade de Portugal, assenta na vantagem que a Inglaterra tem de manter uma Espanha neutral e esta é inevitável sem aquela; a ocupação dos Arquipélagos do Atlântico pela Inglaterra ou pelos Estados Unidos, levaria à ocupação de Portugal Continental por Alemães, o que o governo de Londres sabe não poder evitar; e a ocupação violenta pelos Estados Unidos, contra vontade portuguesa, é hipótese inconcebível que dificilmente se apresenta ao espírito como possível. Mas se esta hipótese se desse, Portugal resistiria e teria o direito de invocar as obrigações da aliança luso - britânica e não deixaria de o fazer. E nestas circunstâncias em que situação viria a encontrar-se a Inglaterra? .....
A invasão da Rússia, pelos Alemães, em 22-06-1941, preocupa Lisboa. Poderá arrastar o Japão e deste, os Estados Unidos. A Inglaterra declarara guerra à Alemanha, com participação da Rússia, quando da retaliação da Polónia e, agora a Inglaterra, pela autoridade de Churchill, sofrendo a mesma guerra, oferece solidariedade a Moscovo...
O governo de Lisboa, mantém a decisão de neutralidade.
Sobre os Açores, a atenção dos beligerantes não esmorece.
Em 8 de Julho de 1941, Roosevelt, escreve carta pessoal ao chefe do governo: Na opinião do Governo dos Estados Unidos, o exercício permanente e sem limitação dos poderes soberanos do Governo de Portugal, sobre o território de Portugal, os Açores e todas as colónias portuguesas, representa uma segurança completa para o Hemisfério Ocidental, no que respeita àquelas áreas. Em consequência, constitui firme desejo dos Estados Unidos que não seja violado o domínio soberano de Portugal, sobre aqueles territórios. O governo do Estados Unidos quer exprimir o seu agrado com as medidas de defesa dos Arquipélagos, e está pronto a auxiliar essa defesa, mas somente se o Governo de Lisboa o desejar.

Nº 45 O CUSTO DA PAZ ( 2 )

Não é só dinheiro, o custo da Paz.
Quanto de Inteligência, Honestidade, Ponderação, fazem parte desse capital aplicado sem retorno. Quanto de estudo, de sacrifícios pessoais, de tormentos psicológicos, de desenterro da sabedoria «Histórica», para construir a sede de abrigo à conciliação de muitos Homens, desavindos por quererem defender os interesses de muitos mais.?... Quanto sofrimento, para não dissipar o pensado e a oferenda dos ideais infindáveis das conquistas humanas ?...
Quanto de desânimo, amesquinha a dignidade do vaidoso pensador nas vitórias e é obrigado a sentar-se na mesa vulgar do que vence e do que perde... .
Retomemos a nossa crónica anterior.
Nenhum reforço de poder ofensivo, conseguimos descobrir, no Exército Português. Aconteceu, porém, contra todas as previsões dos derrotistas, ou espertos de tudo sabichões, que o Governo Português, respondeu NÃO, às propostas britânicas, avisou NADA DE ABUSOS, aos japoneses e CANCELOU, pedidos de exploração de petróleo em Timor, para manter a «neutralidade», a que se tinha comprometido. E sabe-se que a Inglaterra, não quer ser «pau de cabeleira», dos interesses alemães sobre os Açores...
Em Março de 1940, o Ministro Halifax, chama Armindo Monteiro, para transmitir, em tom de «poucos amigos», os recusados pedidos, acima descritos e acrescenta outros:
1 – Suspensão de Boletins Meteorológicos, emitidos pela rádio,
sobre a situação atmosférica nos Açores.
2 – Fornecimento de algumas estatísticas.
3 - Proibição de desembarque de alemães em Portugal, com
destino ao seu País.
4 – Transporte de munições e 50 soldados ingleses através de
Moçambique.
O Governo Português indefere e responde:
1 – As Observações Meteorológicas são pedidas pelo
governo dos Estados Unidos.
2 – Não há legitimidade de impedir os alemães de se
deslocarem.
3 – O trânsito de forças e munições em Moçambique, foi
objecto de observações, ainda não justificadas por
Londres. Em nota, acrescenta: se o governo de Sua Majestade estivesse na disposição de considerar que toda a discussão significa negativa e toda a negativa é faltar Portugal aos deveres de amizade para a sua aliada, então devemos ater-nos a muitas dificuldades e equívocos como os presentes, o que certamente será muito desagradável para ambos os governos, mas não terá, da nossa parte remédio. Acrescenta a lealdade portuguesa para com a Inglaterra, conquanto o governo inglês se tenha deixado influenciar por críticas e rumores, lançados pelos oposicionistas portugueses, mas este aspecto só diz respeito ao governo Português.
Halifax, comunica ao embaixador Selby, para transmitir que ficara inteiramente satisfeito com a resposta do governo Português.
Hlifax sugere que os Arquipélagos dos Açores e Cabo Verde, sejam ocupados por forças protectoras. Acredita na palavra do Chefe do Governo Português, mas tem dúvidas quanto ao poder defensivo do exército.
O alto funcionário do Ministério britânico da guerra Económica, David Eccles, vem a Lisboa e informa Londres que nada está calmo, excepto o Chefe do Governo. Falta coragem.
Não se ficando por aqui, recomenda ocupação militar de Portugal. Três a cinco divisões ..... numa decisão unilateral do Governo de Sua Majestade...... porque se não pode arranjar qualquer governo português que antecipadamente concordasse com tal medida.
Londres, todavia, não se deixa impressionar. Até, porque: A contínua neutralidade de Portugal é no nosso melhor interesse e nada se deve fazer que possa precipitar uma situação que conduza a uma intervenção espanhola ou possa transformar-se em vantagem para a Alemanha.
A espionagem ramifica-se. Os ingleses preparam planos necessários para a tomada de pontos estratégicos portugueses nos Açores e Cabo Verde. Prestar assistência militar a Portugal. Mas prometer a Portugal que lhe deveriam devolver as Ilhas, no fim da guerra.
O Governo Português, sem saber desta estratégia inglesa, tem percepção que ela se poderia vir a dar. Entretanto, manter a neutralidade, do princípio ao fim.
São preparados efectivos e material para os Açores, Cabo Verde e restantes pontos estratégicos então portugueses.
A rendição da França, em 1940, veio complicar a posição do xadrez estratégico europeu. A entrada da Itália no conflito, acrescentou mais um problema para Portugal.
A «boataria», o «prato forte», da oposição que se quer içar ao mando, com prévio itinerário marcado, corre veloz: desembarques britânicos nos Açores e no Continente, ataque alemão a Gibraltar, invasão da Espanha pelo exército alemão... advogando que desfeito um boato, colocar outro na calha. O boato subiu ao palanque do exibicionismo e, ainda hoje tem cadeiral resguardado para os pretendentes a administradores das nações. Boato... um fundamento, para se não reparar em mataduras...
Os beligerantes, atarefados uns com os outros, não deixam de desconfiar dos que assistem à contenda, sabendo-se estes receosos de lhes chegar alguns respingos, mas sem exporem qual o partido preferido.
Os ingleses conhecem a presença de germanófilos em Portugal, com vista à UNIÃO EUROPEIA, mas mais para derrubar o regime vigente de qualquer maneira. Os alemães policiam os Pirenéus e no mar, em volta da Península Hispânica, mandam alemães e italianos.
O Secretário Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampaio, sugeriu um Protocolo adicional ao Tratado de Amizade, com a Espanha, que foi assinado em 29-07-1940: Os governos português e espanhol acordam e por este Protocolo se obrigam a concertar ~ se entre si acerca dos melhores meios de salvaguardar quanto possível os seus mútuos interesses, sempre que se prevejam ou verifiquem factos que por sua natureza posam comprometer a inviolabilidade dos respectivos territórios metropolitanos ou constituir perigo para a segurança ou independência de uma ou outra das duas partes.
A brevidade é a forma ideal de não enfadar. Mas estamos «entalados» no dilema: ou paramos sem mais explicações e o assunto voga sem sentido, ou continuamos a transmitir a verdade esquecida ou ignorada e que interessa recordar, para bem do respeito aos nossos leitores e à nossa consciência.
Continuaremos.

Nº 44 O CUSTO DA PAZ

Como já vimos, e nem precisava realçar, a Paz tem preço.
A realidade, contudo, deixa ao desdém, calcular despesas por uma situação que se considera desnecessária, enquanto dela se desfruta.
Paz é paz e... não há rapazes maus. E mais garantido... quando se trata de dirigentes de Regiões ou Estados, como Homens de «tarelo assisado», no sentido de « darem que falar, mas discorrerem como gente crescida e responsável».
Paz... Cá para nós, nem gostaríamos que alguém nos lesse.
A Paz é mentirosa, fingidora e leviana, quer dizer, «leve, aérea de cuidados aguerridos». Não necessita esforço para compreender – diz a Paz - essa «coisa» de mortais se matarem e morrerem, antes do tempo, é para além dos mares e dos continentes, nada liga a acções próximas ... ou hipotéticas. Descanso e calma...
Assim, se descontrai a inquietação, se convence a tranquilidade, se adormece o comodismo... se limpa a ramela à negligência. Todas acreditam, sem tira-teimas, na ingenuidade e meiguice dos vizinhos e dos outros mais afastados. Nem se sabe como afirmam acreditar que os tempos são outros... Camas fofas, servem para sono reparador, com sonhos venturosos. Longe das camas, suspeitas e temores... são precisos sonhos de ventura... só fortuna, polvilhada de prosperidade.
A Paz, «entra na cabeça» dos pretendentes a administradores das nações, que discursam leituras da História resumida para a juventude, e apresentam cartazes de conhecimentos cívicos. Opta-se para o mais agradável a tirar ilações. Pronto. São desnecessárias «forças da ordem», pois que está à vista a serenidade da lengalenga responsável, acompanhada de atitudes dos «senhores do seu nariz», corteses e sorridentes. O sorriso é um grande artífice nas carências da vida.
Até aqui, destaca-se o intróito desta crónica. O que parece... não é. Dá para relembrar o poeta algarvio António Aleixo, sem malícia de plágio do «parecer e não ser»:

A Paz é um sinal da Fé.
Nunca será o que parece.
Chegam os «tratos do polé»...
Ai! Meu Deus...o que acontece...

Pensar-se-á, ter passado ao lado, a referência ao livro «O Estado Novo»», do Dr. Alberto Franco Nogueira, que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros de 1961 a 1969, por estudo, experiência e patriotismo, referenciado na nossa crónica nº 31. Nem o livro, nem o autor merecem ser extraviados do caminho da História. Um como o outro, têm ensinamentos preciosos para expor nas futuras audiências, em Tribunal, livre de panoramas enfadadiços, pintados com tinta delével e onde o bom senso, possa, também, falar à vontade.
Vamos compensar o livro, com a consideração ajustada ao seu valor, sem o ofender com panegíricos que não precisa.
O Exército Português foi, desde os primórdios, pequeno e sem fama de meter medo, fosse lá a quem fosse. Pelos séculos fora, todavia, cumpriu as missões impostas pelas circunstâncias do momento e assegurou a independência do nosso rectângulo e do que o pode valorizar, perante as outras nações, com quem podia entender-se de igual para igual.
Necessário fazer pensar que, do chefe máximo, depende o prestígio do exército. O que se vai seguir, mostra este nosso entendimento.

A Guerra 1939-1945, teve início em 1 de Setembro. A Alemanha, invadiu a Polónia.
Nesse mesmo dia, o Governo Português, convocou o representante da entidade agressora, o Ministro da Alemanha em Lisboa, para esclarecer atitudes. A resposta agradou, em princípio. Se a neutralidade for respeitada por Portugal, a Alemanha fará o mesmo.
O Embaixador Inglês, também é convocado. É- lhe dito, que a neutralidade Portuguesa e espanhola seria favorável à Inglaterra. O Embaixador reconhece e agradece o parecer.
O Primeiro Ministro Português, expõe na Assembleia Nacional, as referidas questões. Condena desentendimentos internos, neste período importante para o futuro do País.
A neutralidade, não satisfaz os que se guerreiam. Desconfianças e violações, aumentam as dúvidas.
Após um mês de guerra, Londres resolve dar ordens:
1) – Pede expulsão dos territórios Portugueses de nacionais
alemães.
2) – Autorização da travessia de Moçambique por tropas
inglesas, para a África Central.
3)- Cortada a propaganda anti britânica em Portugal.
4) – Vai ser instituído um bloqueio, que afectará o
comércio nacional.
São recusados estes pedidos britânicos, pois afectariam a «neutralidade portuguesa». Sobre o bloqueio, o Governo Português, mostra vontade de o discutir por pormenores, para salvaguardar o comércio português legítimo.
Macau é cercada por tropas japonesas. Lisboa reclama e o cerco é levantado.
Uma empresa japonesa interessa-se por Timor, para exploração de petróleo. O Governo local indefere. Australianos e holandeses, também pedem concessões. O Governador, deixa passar o tempo, a ver o andamento da beligerância.
Em Fevereiro de 1940, o Secretário de Estado Inglês Halifax, convocou o Embaixador Armindo Monteiro e, ao «acaso» pergunta se a situação em Portugal era calma e, também, «feliz».
O Embaixador Selby, desconfiado e inquieto, profere: Os Açores, são de importância capital, perante a luta no mar e a Alemanha não pode desconhecer a importância de Portugal e a deste para a Inglaterra.
Caro Leitor: Preferíamos ficar por aqui. As conclusões que se tirariam, contudo, não levariam a parte nenhuma. Temos de continuar. Por quanto tempo ainda? Não sabemos. Mas vale a pena por à tona, o que está envolto na embalagem da «droga» que pretende abater o ânimo nacional.