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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 50 O CUSTO DA PAZ ( 7)

Gostaríamos que além do termómetro, que indica o grau de calor de qualquer lugar ou corpo animal, fosse descoberto outro aparelho que revelasse a altura do espírito, como diz o dicionário, essa coisa incorpórea que anima o ser vivo. Ao termómetro valeu o sucesso, por ter ficado ao serviço da saúde e termologia, resultando numa grande utilidade para determinar diferenças do ambiente e do físico e, pela quantidade de aplicações, um bom negócio, desde o fabrico aos mercados ricos e pobres.
Ao tal novo aparelho de avaliar capacidades e juízo individuais, a que se poderia dar, em baptismo à experiência, o nome de «espiritómetro» não se lhe prevê nenhuma hipótese de vir a ficar aberto à venda, nem mesmo o de ser inventado. Nenhum cientista perderia o seu tempo a dar tratos à cabeça, para maquinar um aparelho, condenado a vida efémera, de limite só a ponderados e coordenadores da faculdade de pensar. E perigaria a sua segurança, pelos graves dissabores a rondar-lhe a porta, desde a primeira prova, pelas investidas dos desprotegidos de critério.
No começo das experimentações, ainda em volta do intelecto, do saber provindo de estudo e «calo» no trabalho, do «bate papo» e paleio destravado, haveria possibilidade de encomendas a garantir mercado e produção . Agora, medir a instalação neurótica, com outro de menos categoria no desempenho de funções, já causaria arrepios ao inventor, que teria de prever poucos a arriscarem meter-se em confronto. O orgulho individual, seria um dos entraves a desanimar o invento do maquinismo. Argumento pesado.
Aventamos, porém, que o opositor maior, estaria na atitude e nexo da divagação humana. Conter o impulso da ideia, enquanto desprovida de inteligibilidade e certeza, e orientá-la para a posição certa e conveniente, cremos ser a diferença meritória para o juízo exemplar. Análise da ideia... a COERÊNCIA, de serenidade confiante.
Calcule-se o «espiritómetro» a funcionar à entrada de agremiações, obrigando a determinada bitola de condições de pergunta e resposta. Rarearia a entrada de finalistas a embaraçar as orgânicas dos quadros e mais espalhafatoso ainda, diminuiria a comparência de assistentes para aplaudir.
E como as máquinas não têm voz de defesa, passariam à reciclagem da sucata. Repúdio aos «espiritómetros», será, portanto, o mais recomendável, incluindo a interdição de tentativa de invento...
Mas, quanto nos serviria, neste momento, se tivessem existido e funcionado, na guerra 1939/1945, para tabelar a grandeza de homens importantes ...
O acabado de escrever, foi uma divagação do costume.
Mas não desvia esta nossa digressão, pela História.
Relembra um português que nasceu pobre, nunca tentou o costume de saltar o tapume da riqueza, que esfregou as botas ( sempre usou botas) ao ser convidado a entrar para o governo e acabou sem fortuna, nem fundou instituição para lhe perpetuar o nome. Nos embates que foi obrigado a enfrentar, alinhou os pontos centrais do seu critério e seguiu-os, passo a passo, para levar a bom termo, a responsabilidade que lhe fora entregue.
E mostrou, entre os grandes, que também era grande, porventura, o mais COERENTE, a defender a lógica e o povo sacrificado, inglória e desnecessariamente de 1915 a 1918, nos campos mortuários da Flandres. Este é o Primeiro Ministro de Portugal, que atravessou as fúrias do vendaval de 1939 a 1945, a reduzir danos para a Nação e a aceitar, restabelecida a Paz, legítimos louvores de nacionais e estrangeiros.
Prossigamos a nossa anterior crónica.
O Duque de Palmela substituiu o Dr. Armindo Monteiro em Londres. A cedência de facilidades nos Açores, pela Inglaterra e América, começaram a ser estudadas em Lisboa. Churchill, tem pressa de resolver a questão, face ao decorrer do conflito. Eden concorda, mas também sabe que quem pode resolver nas melhores condições, é o chefe do governo português e, por isso, todas as cautelas serão poucas para não desfeitear a Espanha, nem a Alemanha, de quem dependerão reacções que podem quebrar a neutralidade portuguesa, a qual, ainda está a beneficiar a Inglaterra. Em Quebec, encontram-se Churchill e Roosevelt. Retoma-se a apetência, de ambos por uma tomada imediata. De novo, Eden trava, enquanto o Primeiro Ministro Português, não der o seu aval.
No dia 8 de Outubro de 1943, encontram-se em Cidade Rodrigo, o Primeiro Ministro Português e o Conde Jordana. No dia 12 de Outubro, é divulgada a notícia do desembarque, no dia 8, nos Açores, de efectivos britânicos. A Espanha, prefere continuar neutra, deixando Portugal em igual situação. Antes da publicação do dia 12, o governo português convocou o Ministro da Alemanha para transmitir que a Inglaterra, fizera jogar a aliança e pedira facilidades nos Açores e Portugal não pudera recusar. A Alemanha protesta, dias mais tarde. Como resposta repete-se a aliança de há seiscentos anos. O enviado japonês também protesta. Recebe, porém, reacção áspera do Primeiro Ministro. Como se atreve o governo Japonês a reclamar, de está a ocupar Timor, ilegalmente e onde comete atrocidades e perseguições?... O protesto não é entregue e sai na algibeira do representante japonês.
Roosevelt, não se conforma em ter ficado de fora nas facilidades nos Açores e ao encarregado dos negócios americano, é enviada nota com as seguintes instruções: requisitar ao governo de Lisboa, uma base naval na Horta, uma base aérea em S. Miguel, uma base aérea nas Flores, facilidades de comunicações, de observação e postos de radar, instalações para pessoal civil e militar e o estacionamento de consideráveis efectivos. O representante americano, fica estupefacto e protesta para Washington. Comunica com o inglês Campbell, que fica enervado, até porque o governo de Lisboa viria a pensar que Londres saberia deste atabalhoamento americano. O alto funcionário dos Estados Unidos, porém, para não escandalizar o Primeiro Ministro Português, nem ignorar a tarefa recebida, encolhe a lista e, sem precipitações, pediu apenas, um aeroporto, que poderia ser em Santa Maria e algumas facilidades de abastecimentos.
O PM português, com vista à expulsão dos japoneses de Timor, sem ofender e neutralidade, pergunta quem manda nas operações no Extremo Oriente. Neste meio tempo, chega a Portugal, novo embaixador, Henry Norweb, amigo pessoal de Roosevelt, O PM Português vê nele um voluntarioso, capaz de precipitações. Por isso, convoca, pelas 2 horas da madrugada, o embaixador da Inglaterra e diz-lhe que mandara ordens ao comando dos Açores, para atacar, até ao esgotamento, tropas americanas, que pretendessem instalar-se em alguma Ilha. O Comando português confirmou ao inglês, esta ordem. Campbell, sabe que eram ordens para cumprir, comunica a Norweb e ao conselheiro que ficam entorpecidos . De imediato comunicam para Washington. Londres intervém. Os americano sossegam. Roosevelt acalma, mas exterioriza ao Embaixador Halifax, que tem a ideia de uma qualquer ocupação americana e está vivamente interessado no destino dos Açores. Este desabafo, não caiu bem nos ingleses, que também querem uma fatia.
Os americanos, todavia, não desistem de base nos Açores, respondendo o PM português que isso dependeria de um quadro Jurídico - político que ligue o problema à questão de Timor. O Estado Maior dos Estados Unidos, pensa não ser necessário compromissos, sem estar em guerra aberta. Lisboa responde que sem compromissos formais, não há razão jurídica para facilidades nos Açores. Em 28 de Novembro de 1944, o Estado Maior americano envia a seguinte nota: O governo dos Estados Unidos, cônscio do desejo do governo português de pôr termo à ocupação de Timor pelos japoneses e reconhecendo que esta território português se encontra numa vasta área de operações empreendidas pelo governo dos Estados Unidos e outros governos aliados, aceita e concorda na participação de Portugal nas operações que possam ser eventualmente conduzidas para expulsar os japoneses de Timor português de modo a que este território seja restituído à plena soberania portuguesa. Reconhece que essa participação se pode efectuar por forma directa e indirecta: Participação directa, pelo emprego de forças portuguesas, para o que planos pormenorizados serão preparados no seguimento das conversações de Estado Maior realizadas em Lisboa; participação indirecta pela concessão ao governo dos Estados Unidos de facilidades para a construção, uso e controle de uma base aérea na Ilha de Santa Maria com o objectivo de facilitar o movimento de forças americanas para o teatro de guerra do Pacífico ou deste para os Estados Unidos, em condições a ser estabelecidas por acordo especial entre o governo Português e o governo dos Estados Unidos. A este acordo, por troca de notas suplementares, é associado o governo britânico.
Este acordo afastou a Austrália de cobiçar Timor.