América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 49 O CUSTO DA PAZ ( 6)

E, agora, como vamos entrar nesta crónica, para dedicar namoro à simpatia eterna da Paz? Ornamentos enfeitam-lhe as vestes; a vista extasia-se na extensão da doçura e sossego; a magia, fascina a propor a inércia para não fazer ondas. A crença nas suas virtudes, abranda a feitiçaria de afastar a luta esforçada para evitar embates. Apostar na paragem... decisão a combinar... Obedecer às «coisas», ( que coisas? ) quando vierem do imprevisto.
Quando de dá a mutação de hipóteses, para o surgimento real das «coisas», já não há intervalo para aplicar antídotos. Na hora da urgência para decidir... não há culpas para galardoar a inépcia... nem responsáveis para receber a punição. O tempo lava... lava tudo... só não limpa factos consumados. A realidade, não acusa, nem absolve.
Mostra os atributos agradáveis aos sentidos, da benesse luzidia e confortável de uso sem trabalho, do que resultou da boa orientação, ou sofre a ferida aberta e os danos materiais e morais, do que foi a incúria mal prevista. É a hora do louvor, ou da censura.
Em que ficamos, Paz ou Guerra ? Ninguém deixa de preferir a Paz. Mas o que é certo, a «desavença de 1939/1945», ainda continua existente, nestes nossos escritos.
No dia 8-XI-1942, pela 1 hora da madrugada, os representantes norte-americano e inglês, são recebidos pelo Presidente da República e chefe do governo. Por ordem dos seus governos e instruções especiais de Roosevelt e Churchill, comunicam que àquela hora, desembarcam no Norte de África, desde Marrocos à Tunísia, contingentes anglo- americanos, destinados a destruírem as forças alemãs. Como a operação se desenrola nas vizinhanças de Portugal, Roosevelt e Churchill, querem assegurar a soberania e integridade de todos os territórios portugueses. Interessando o assunto, também à Espanha, em vista à influência do chefe do governo português, junto do chefe de Estado espanhol, solicita-se que Portugal intervenha, urgentemente em Madrid, para explicar a natureza da operação e prestar iguais garantias e dissipar dúvidas do lado espanhol. Churchill reafirma a aliança luso-britânica e que persiste a intenção de não envolver Portugal e Espanha e todos os seus territórios no conflito. Poupar à Península Ibérica aos horrores da guerra e ver não só Portugal mas também a Espanha tomarem o seu lugar em paz e prosperidade no mundo do pós-guerra
O Conde Jordana, Ministro dos Negócios estrangeiros espanhol, visita Portugal, enaltecendo a «zona de paz» Ibérica. O chefe do governo português afirma o bloco peninsular, mas separa a independência das duas nações. É que sabe dos sabores espanhóis, pelos pitéus portugueses...
A guerra continua acesa. Os bloqueios americano e inglês, apertam o abastecimento português. O comércio abranda e o povo ressente-se com faltas de alguns géneros que o hábito considera indispensáveis. A Inglaterra, não supre as encomendas de armas e munições. Os submarinos alemães, afundam navios, homens e mantimentos. A Inglaterra ressente-se, até dentro dos lares. Os ingleses não querem que Portugal abasteça o mercada alemão, de volfrâmio. O governo português reage. Quem manda nos produtos portugueses, é o governo cá dentro. Faz-se uma distribuição equitativa do minério aplicado no fabrico de armas. Neutralidade a levar a sério. No Extremo Oriente, o Japão alarga-se e impõe-se.
Entretanto...
Os militares americanos e ingleses, querem reunir mais força, para o combate ao inimigo que está a levantar a «grimpa». Bons apoios, estão nos Açores. Reiniciam os planos para a posse garantida. Roosevelt e Churchill, na reunião em Casablanca, discutem o assunto. Roosevelt, ao regressar a casa, pára no Brasil e convida o presidente Getúlio Vargas à ocupação dos Açores, por efectivos brasileiros. O Foreign Office, opõe-se e relembra a promessa de há pouco tempo, dos dois presidentes ao chefe do governo português e acrescenta que a invasão a território, daria lugar a pedido de auxílio à Inglaterra. Roosevelt e Churchill, concordam.
O embaixador Campbell, é incumbido de contactar o Primeiro Ministro, mas põe o caso assim: O chefe do governo português é o único homem imaginável que é capaz de congregar atrás de si a nação inteira e possivelmente de evitar que o general Franco cometa alguma loucura; a diligência a fazer deverá ser praticada pelo governo de Sua Majestade e apenas pelo governo de Sua Majestade e nenhuma outra terá qualquer viabilidade de êxito.
Em Washington, Roosevelt e Churchill, têm novo encontro. A obcecação dos dois homens, sobre os Açores, reacende-se. Mas o gabinete de guerra de Londres, mantém-se firme e acentua que antes de qualquer acto de força, o Primeiro Ministro Português, tem de ser informado.
A 16 de Junho de 1943, Campbell, recebe instruções para contactar o chefe do governo português, pois nada deve ser feito sem a sua concordância. É recebido, no dia 18. Expõe a situação do conflito e solicita algumas facilidades de manobra para defesa da Inglaterra, especialmente nos Açores e entrega uma nota que diz: Nestas circunstâncias, o governo de Sua Majestade resolveu, em nome da aliança existente entre Portugal e a Grã-Bretanha há seiscentos anos, pedir ao governo português para lhe prestar a sua colaboração, concedendo-lhe as facilidades de que tem necessidade nos Açores.
O chefe do governo, não mostra surpresa. O pedido invoca a aliança e justifica o estado de necessidade do lado inglês e não de Portugal e responde que o assunto iria ser tratado com toda a compreensão. Atento aos interesses de Portugal, a resposta portuguesa contém : Anuência de princípio. O pedido de facilidades nos Açores constitui um novo e importantíssimo elemento a acrescentar ao exame em conjunto da posição de Portugal como aliado da Inglaterra; é discutível se o auxílio solicitado, nas condições presentes, se contém entre as obrigações da aliança, mas o governo português não pretende debater este ponto; o estado de necessidade invocado pelo governo britânico foi ponderado e Lisboa está consciente do alto serviço que pode prestar-lhe; e, por isso, dá a sua anuência para se poderem examinar e assentar, em negociações gerais as condições em que serão concedidas as facilidades desejadas e as medidas a tomar em face das consequências que delas podem resultar. Desta maneira, há que estudar os aspectos político, militares e económicos do problema, já que este assuma a maior gravidade para Portugal e a vida do seu povo. E ressalva-se o Tratado e o Protocolo firmado entre Portugal e Espanha em 1939 e 1940. Aprecia as garantias que o embaixador Campbell, quanto à soberania portuguesa e à retirada das bases depois da guerra, prestara em nome Londres e de Pretória e estimaria recebê-las, também, em nome dos Estados Unidos e da Austrália.
O embaixador Dr. Armindo Monteiro, no contacto com os diplomatas londrinos, vê todas as questões a favor dos ingleses, diverge do critério do chefe do governo português e explode, em carta pessoal, acusando este de ingénuo, de optimismo sem fundamento, de exibicionismo, de pequeno –sentimentalismo, de provinciano moral, de submeter os grandes interesses nacionais a pequenos ganhos materiais; acha que a diligência britânica de 18 de Junho lançou o chefe do governo em grande irritação e desespero e afirma que toda a política externa portuguesa está em ruínas, assente como tem sido, na ilusão de que era possível manter a neutralidade portuguesa até ao fim da guerra.
O chefe do governo português, ao receber a missiva, depreende que Armindo Monteiro assumiu o ar de grande senhor, que vive em Londres, está relacionado com os dirigentes do mundo e fala de tudo isto superiormente a um pobre homem de Santa Comba, imbuído nos seus escrúpulos e amor ao país de provincianismo moral.
A resposta pessoal, por escrito, do presidente do concelho, levou o Dr. Armindo Monteiro a pedir a sua demissão e voltar à sua cátedra na Faculdade de Direito de Lisboa.
Ainda não é desta que nos livramos do livro do Dr. Franco Nogueira. É um livro de ensino. Até próximo.