América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 47 O CUSTO DA PAZ ( 4 )

A PAZ, é um sinal da Fé. De maneira nenhuma, todavia, de indício pusilânime e, muito menos, de caris subserviente. O servilismo, é fardo, além de ser pesado, esmaga a moral e encolhe o direito à liberdade.
Querer paz, com a singeleza de ser Homem ou Mulher, é argumento oco de vigor, se não acompanhado da declaração aprovada do pagamento dos compromissos para merecer independência. Ninguém é livre, enquanto for obrigado a estender a mão... a outra mão que o segure.
Esmolar, poderá ser escolha de emergência. Se passar a hábito, terá de descer para o rol da incapacidade. E quem se não bastar, ou é asilado ou morre à míngua. A Paz, tem demora curta, junto à timidez.
Paz...é um sinal da FÉ.
FÉ, exprime CORAGEM, SERIEDADE e ESFORÇO.
Regressemos ao que nos descreveu o Dr. Alberto Franco Nogueira.
Na anterior crónica, assistimos aos contínuos temores de ambos os lados dos combatentes, sobre a posse dos Arquipélagos do Atlântico, as respostas assisadas e sempre a tempo, do governo Português, finalizando com a carta pessoal do Presidente Roosevelt, a aceitar os reparos do Homem que sentia a responsabilidade de dirigir um País modesto, mas não transigindo da posição vertical. Portugal, tinha orgulho justificado, na ponderação de quem o comandava.
O Chefe do Governo Português, respondeu com igual lisura, aceitando auxílio americano, no caso de sofrer afronta.
Ao crescimento da violência na guerra, em 1941, o governo português, chegou a acreditar na invasão pelo exército alemão. Mandou preparar alojamentos em Ponta Delgada, no edifício do Largo Dois de Março, onde já havia habitado o chefe da revolução do 28 de Maio de 1926, Marechal Gomes da Costa (1863-1929). Uma breve interrupção.
Este GRANDE MILITAR (grande no físico, na inteligência e no temperamento), símbolo do português sincero, leal e animoso, começou a ser HERÓI, quando destacado na Índia, por 1891, entrou em vários combates, contra insurrectos, sendo ferido. Seguiu para Moçambique em 1895, onde Mousinho de Albuquerque o louvou, por diversos actos de bravura. Prestou valiosos serviços a Moçambique, quer em postos administrativos, mas sobretudo a acalmar gentios. Atacado de febres, o príncipe real Luis Filipe, em viagem de soberania, retirou-o do interior da província e levou-o para Lourenço Marques. Depois de ter estado em Angola e S. Tomé e Príncipe, regressou a Lisboa, sempre alheado da política, mas onde exerceu vários comandos. Em 19l5 assumiu o comando da 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português, sabendo contornar as incontáveis deficiências do armamento, com a técnica da ousadia, tanto quanto possível eficaz, nos campos da Flandres e Artois. Foi agraciado com as mais elevadas medalhas portuguesas e, não só, inglesas, francesas e italianas. Convidado, à última hora, para chefiar a revolução do 28 de Maio de 1926, a permanência no comando, porém, gerou mês e meio de dúvidas, as quais terminaram no dia 9 de Julho, recebendo a oferta de Presidente da República, sem mais pastas. Recusou. Dois dias depois, em 11-o7, embarcou no cruzador Carvalho Araújo, a caminho de Angra do Heroísmo e em 22 de Outubro aproou a Ponta Delgada, onde permaneceu até Novembro de 1927, no referido edifício do Largo Dois de Março. Promovido a Marechal, por distinção excepcional, em 30-09-1926, mesmo estando ainda nos Açores, patenteia a consideração em que era tido, por todos os portugueses, prós e contrários ao seu critério de reprovar o descontrolo do País.
Estes nossos escritos, não passam de uma cavaqueira entre familiares, com intervenções acompanhadas com o «molhar a boca» com xícara de CHÁ. Também, porque gostamos de referenciar, os que venceram a pusilanimidade, que sempre existiu. Melhor, muito melhor, que citar fintadores da coragem.

A transferência do governo de Lisboa para Ponta Delgada, seria no momento do ataque. Armindo Monteiro, recebe as seguintes instruções: Não se devem deixar dúvidas no espírito do Secretário de Estado ( Eden) de que se Portugal estiver neutral, as forças dos Açores ou de Cabo Verde, ripostarão ao ataque da esquadra britânica, até ao limite das suas possibilidades. Não julgo que dignamente possamos fazer outra coisa.
Monteiro, considera errada esta orientação, que poderá vir a ser «desastrosa».
Londres responde, elogia, entende e concorda. Mas insiste que a deslocação do governo português deve ser antes do ataque e que a neutralidade portuguesa, depois deste, já não interessaria à Inglaterra. E não concorda que Portugal deva permanecer neutro em tais circunstâncias, que até seria prejudicial.
Monteiro, envia este parecer para Lisboa, permitindo-se criticar a decisão do governo português.
O Conde de Tovar, representante de Portugal na Alemanha, é recebido por Hitler que sublinha as pretensões americanas e afirma que não têm fundamento os rumores da ocupação dos Açores, por parte da Alemanha e regozija-se com a decisão de Lisboa defender o Arquipélago.
A resposta do governo português, ao Embaixador Monteiro e ao documento de Londres, o Dr. Franco Nogueira, resume-os: O objectivo inglês é de fazer escorregar por um plano inclinado, da neutralidade para a guerra, sem assumir a responsabilidade do facto e pretendendo, ao invés, que isso aconteceria por iniciativa e no exclusivo interesse de Portugal. Ora, seja qual for a orientação que os acontecimentos venham a impor ao governo de Lisboa, temos de destruir esta posição ( dos ingleses), não deixando dela uma pedra. O gabinete britânico tenta identificar ameaça com ataque, recusa-se a admitir a coexistência de beligerância espanhola e neutralidade portuguesa e com estes fundamentos entende que o governo português deve abandonar o continente logo que a Espanha saia da não beligerância e faz coincidir este acto com a perda da neutralidade portuguesa. Mas a questão é outra: no caso de Portugal ser atacado pela Alemanha, pela Espanha ou por forças de ambas estas nações, como entende o governo de Sua Majestade fazer funcionar os tratados de aliança? E, continua: Toda a nação portuguesa, julga ser direito e dever repelir qualquer ataque à soberania, integridade e dignidade de Portugal: nada disto depende da atitude da Grã –Bretanha. Sob outro aspecto, Portugal, por ser aliado da Inglaterra, não é, por este facto aliado de qualquer outro país com que a Grã --Bretanha esteja aliada; e uma agressão a Portugal seria resultado da hostilidade contra a Inglaterra e não contra Portugal. O abandono espontâneo da neutralidade não pode constituir um objectivo da política portuguesa, nem o país a compreenderia. No ponto de vista britânico, todavia, parece que um ataque da Espanha a Gibraltar deveria ser havido como ameaça a Portugal; o governo logo se transferiria para os Açores, ao abrigo da esquadra inglesa; Portugal perderia assim, a sua neutralidade; e, tendo-a perdido, poria as bases portuguesas às ordens da Grã Bretanha. Por outras palavras: Portugal entraria na guerra por acto próprio e a esquadra inglesa estaria em bases portuguesas para defender Portugal em nome da aliança. Mas nós não aceitamos o problema posto nestas bases, nem a imensa tragédia da guerra no nosso território e para o nosso povo, tendo a Inglaterra o ar de quem presta com desinteresse, o seu auxílio num passo difícil que, deliberadamente nos aprestamos a dar. A Inglaterra, pelo contrário, se procurará eximir a um acto de força contra Portugal e há-de ver-se obrigada a negociar e a por claramente a questão da entrada de Portugal na guerra a pedido inglês, por interesse inglês, por força das necessidades inglesas. É preciso ser firme, intransigente, nesta parte; a História seria severa em julgar-nos, se o não fôssemos.
Em 4 de Novembro de 1941, o governo inglês, apresenta em Lisboa, o «caso sério» de Timor e expõe: Continuam em operações as forças nipónicas e o Estado Maior Britânico, não sabe se o Japão se dirigirá para o sul, mas em qualquer hipótese a posição do Timor português assume para a Austrália uma importância capital e ingleses e australianos têm estudado a defesa daquele território. Como a ocupação de Timor pelo Japão significaria um revés grave, o governo britânico deseja, conforme a aliança o autoriza, formular três perguntas: se Timor for agredido e ocupado por forças japonesas, que atitude pensa Portugal tomar? Em tal circunstância está Lisboa disposta a aceitar auxílio britânico? Não seria útil aproveitar as conversações de estado-maior para elaborar um esquema de acção conjunta?
Três dias depois, o chefe do governo português aceita e espera, nos termos da aliança, uma ajuda britânica e concorda com o estudo dos estados maiores inglês e português. Londres agrada-se com o parecer do Primeiro Ministro português e, pela urgência do assunto, propõe e ida de um oficial português a Singapura, onde estão a ser elaborados os planos, com presença de australianos e holandeses. O chefe do governo português concorda, mas sem a comparência holandesa, porquanto da aliança com a Inglaterra, , não decorre para Portugal uma aliança com a Holanda. Esta anuência é dada em 5 de Dezembro de 1941. Dois dias depois, em 7, os japoneses atacam Pearl Harbour. A 11 de Dezembro de 1941, a Alemanha e a Itália, declaram guerra aos Estados Unidos.
Forças terrestres, aéreas e navais nipónicas, deslocam-se por todo o Extremo Oriente, com intenção de ocupar posições estratégicas. Londres pergunta a Lisboa se aceita a defesa de Timor por holandeses e australianos. Responde o primeiro Ministro Português: Está o governo britânico a fazer uma oferta? Concorda-se em considerar os efectivos australianos e holandeses como formando os meios militares, sob comando inglês, são postas à disposição de Portugal, nos termos da aliança, para defesa de Timor. Admite-se o auxílio, no caso de ataque efectivo, mas não de presunção ou ameaça de ataque.
No nervosismo de receber e cumprir ordens, o representante da Holanda em Londres comunica, que o comando holandês no Oriente, se propõe enviar, no dia 17, um delegado a conferenciar com o governador português e que, qualquer que seja o resultado da conversa, duas horas depois desembarcará um contingente de 350 australianos e holandeses.
O governo inglês fica apreensivo e telegrafa para o Extremo Oriente, para suspender esta decisão. Os holandeses, ou não leram, ou não decifraram o conteúdo. Na dia 17, cumpriram o que haviam previsto, o governador português rejeitou o ultimato e constituiu-se prisioneiro.
No mesmo dia, chegou a Lisboa a informação. O chefe do governo português, de imediato, convocou o embaixador inglês e exige que lhe diga se a responsabilidade do acontecido, é do governo inglês ou do holandês, ou das autoridades locais, acrescentando: o governo português deseja ser tratado com a seriedade que punha em todas as negociações com Londres e verificava que não o estava a ser. A 19 de Dezembro, o chefe do governo, apresentou na Assembleia Nacional o relato dos acontecimentos e protesta: O que não é permitido aos pequenos e fracos, também não é, para os grandes impérios.......... o que levou a invadir o território de um neutro, de um amigo, de um aliado.
Terminamos esta crónica. Podia ter sido mais breve. O Dr. Franco Nogueira, o autor do livro que nos está a servir de guia, foi o primeiro a resumir e nós vamos cortando algumas partes. Entendemos, porém, ser nossa obrigação, deixar bem definida, a posição distinta de um exemplar Primeiro Ministro.