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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

8 de outubro de 2007

Nº 140 A VERBOSIDADE ENTRONIZA O PARADOXO.

No concerto das nações, preferimos não considerar harmoniosas, as diferenças de tom com que se entendem umas com as outras. Ao vulgo, isso é questão de somenos, desde que não falte trabalho para conforto na Família.

A escrita, a televisão e a verbosidade, formam, actualmente, o triunvirato de maior importância na vida, não só das nações, uma a uma, como do Globo Terrestre. A fecundação entre elas, é proverbial, mas não altera a dubieza.

O que fica escrito, assume responsabilidade directa, com validade de duração garantida, embora submissa a interpretações de causas e efeitos, fora da sua época. A Televisão, na enxurrada diária de notícias, afirma e desfaz informações, permitindo-se deixar no éter transmissor, a suspensão da afirmativa, para a vinda de novos elementos. A verbosidade, a mais trabalhosa das três amigas, admite arcar com mais dispêndio de energias para conseguir audiências resignadas ao fazer-se ouvir num momento, o que é desmentido no seguinte. O que conta de importante, contudo, é o «verbo» ser gratuito…não se rebaixa a contrair dívidas… A palavra sai para se misturar na irresponsabilidade do esquecimento.

Com, ou sem paciência, esta é a escolha que todos os dias nos é apresentada e a que temos de optar, para ficarmos a tomar conhecimento do que dias depois teremos de ler, ver e ouvir, na procura do verdadeiro objectivo em causa. É o grande « pregão» da ciência, desde o sacrificado Século XX, que nos está a merecer, referência especial…para reavivar memórias, realçando acontecimentos.

Esqueçamos divagações de fraca valia no passado irrepetível, não obstante exemplo a meditar em todas as épocas, e continuemos com a nossa última crónica, a pretender avivar alguma luz, no negrume do futuro.

Exposto o «fado» da Rússia, façamos uma visita à Itália.

Após a Primeira Grande Guerra, ( 1914-1918), a Europa era campo raso de vencidos. Os vencedores, se os houve, só constavam nesta posição, nos papéis assinados em 1919, em Versalhes e os restantes em 1920 . Cláusulas «duras» de cumprir, na tentadora ideia, de evitar repetição… que os alemães chamaram a «Paz da Violência» e «Paz Ditada». Fazer a Guerra, finge prestígio, aceitar a derrota, cora a face de quem a assina.

Vale a pena, repesar os intervenientes na balança do desforço de hegemonias anteriores, para, mais tarde poder vir a ajuizar das emendas ou novas quedas para faltas semelhantes.

No prato agressor, alistaram-se: Alemanha, a iniciadora, Áustria - Hungria, Turquia e Bulgária.

Na bandeja agredida, prontificaram-se : França, a atacada, Rússia ( regressada a casa, para remediar, com a guerra interna, ainda hoje em estudo, a Revolução de 1917). Inglaterra, Bélgica, Sérvia, Japão a mais tarde a Itália, Portugal, Romania e Grécia. Apesar do prato da França, conter maior número de aliados, foi necessária a intervenção das gramas ( ou toneladas ) americanas, para o fiel pender para o seu lado.

O que se viu e se sabe, de concreto, foram pungentes gritos de fome e lágrimas de sofrimento, nos países que forneceram homens para se enlamearem nas trincheiras e morrerem medalhados, mas sem louvores rendosos para os descendentes, nos campos da Flandres. Autênticos actos desenhados por Cervantes, no seu livro D. Quixote, mostra eterna do bailado do siso, na jocosa opereta humana.

Guerra, pretende obter ganhos, em poder de outrem; a Paz, acorda estancar perdas presentes e ganhar forças para futuras brigas. Ambas se entendem, pelos valores reais proveitosos, mesmo no ambiente da animosidade. A desgraça é um acrescento negativo, em rosto branco de bobo, pintado de ingénuo para divergência da cobiça.

Da Grande Guerra de 1914 a 1918, as ilações de maior importância que deveriam ser aproveitadas, são as fraquezas enfermiças da Europa, tanto na estrutura, como na confiança da sua economia. Até 1918 e nos anos que se seguiram, as carências ultrapassavam as fronteiras e acusavam mágoas e desesperos na incerteza de alcançar alimento para o dia seguinte, se não em todos, mas na maioria dos lares.

A Itália, era imagem fantasmagórica da fama que já tivera.

Desde a invasão dos povos não conquistados na Península Ibérica e os demais vindos do leste, que os « invadidos» romanos apelidaram de Bárbaros, por se portarem, diferentemente dos gregos, estes mais civilizados, que a Itália permaneceu dividida em blocos dos aglomerados que, pela valentia ou subtileza, se governavam independentes. Enquanto o Império Romano se enfraquecia, no gozo da opulência, os «bárbaros», habituados à sobriedade, mantendo o espírito guerreiro, iam-no conquistando bocado a bocado, formando pequenos Estados, ou Cidades Soberanas, tais como Milão, Veneza, Florença, Génova, os Estados Pontifícios, Nápoles, e outros, de força equilibrada, que só batalhas resolveriam.

Quando Napoleão tomou o comando da Revolução Francesa, até então, actuando em acções balouçando no tosco e precipitado, fáceis de serem vencidos, o exército Francês passou a ser uma unidade de combate com planos estratégicos e finalidade política, passando à supremacia de vencedor.

A campanha da Itália de 1796 e 1797, comandada por Bonaparte, deu o aviso aos exércitos inimigos, que a França necessitava dos alimentos que lhe estavam a faltar no reboliço da escolha quem deveria experimentar a guilhotina e vitórias a firmar estatutos obrigatórios e processados pela cultura de não deixar escapar as fortunas mais rendosas, como herança para o Estado.

Passados 10 anos, o mesmo estratega e legislador distinto, já imperador, mandou o exército, em seu nome, invadir a Espanha e Portugal. Deu ordem de impedir trocas comerciais com a Inglaterra.

Mas o idealismo transportado nas cabeças de soldados, subindo até aos generais, foram pântanos de maldades, em roubos e assassinatos, contrários aos princípios jurados e escritos nos «Direitos dos Cidadãos». Ocorrências rotineiras no paganismo da «coisa pública»… e nas permutas de opiniões, na habilidade de agir da eloquência, que nada pode pagar por se inserir na «não matéria» e na prática, que paga a pronto ou a prestações. Luta eterna e desigual, o espírito a sobreexceder-se às refeições.

Afinal… cá estamos , outra vez, despistados. Íamos entrar na intervenção da Itália, após a Guerra de 1914-1918. Não dá tempo.

Até próximo.