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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de novembro de 2006

Nº 107 O MELHOR… OS «PORQUÊS ? »… SUBESTIMADOS…

A massa humana que se distribui por todo o Globo, caldeia a média prudente e boa, assente na dignidade respeitosa, com os caídos na poltronice desgrenhada e louca, mas confronta e eleva a intrepidez no jogo da vida e na cultura do intelecto na destrinça da mestria. As nações, ou parcelas do Globo, são constituídas pelo mesmo caldo, dependendo o tempero , da matéria prima nele contida.
Classificar um povo, um homem, entre inumeráveis actos de valentia, inteligência ou engenho, será aventura na pilhagem das probabilidades. Mais se embaraça, na referência à especialidade do tema a evidenciar…
A RTP, lançou aos aficionados da televisão, o concurso de «escolha» do melhor português de sempre. E aflorou nomes. Quem foi o melhor, entre os melhores portugueses?
A jornalista Maria Elisa, na noite de 25 de Outubro, organizou, no palácio de Queluz, discussão sobre essa preferência, completamente livre aos pareceres dos presentes e de quem quer que fosse, ao alcance de cada intelecto, o habilitado pela História, ou o entusiasta da política ou o enfurecido no desporto, encarregues de tamanho encargo e responsabilidade. Veio à baila, se o nome do Dr. António de Oliveira Salazar, deveria constar entre os merecedores de nomeação. Opiniões diferentes aqueceram a polémica, uns pelo SIM, outros pela dúvida e bastantes pelo NÃO. Estes últimos, salientando convicções aderentes à preponderância das ideias.
Notámos, porém, a raridade de «porquês ?» nas justificações apresentadas. Semelhança, ou reprodução de opiniões já, fartamente ouvidas na Comunicação, dita, Social, ou, melhor escrito, resignada a renovações políticas, transformadas em tradição.
Porque sentença, omitindo causas, impede acerto de justo encaixe.
Olhemos acontecimentos de há cerca de 200 anos, provocatórios das incertezas e preocupações, que actualmente e pelo próximo futuro, serão espada suspensa por fio delido pelo fazer e desatar nós ideológicos, sobre a cabeça da Europa e, em particular, de Portugal.
A Revolução Francesa de 1789, ampliou o plano liberal, em vigor na Inglaterra, desde o contrato, que tomou o nome afamado de «Magna Carta», assinado em 1215, entre o Rei João Sem Terra e os nobres ingleses. Foi um «papel timbrado», onde a autoridade para mandar, era aconselhada a cumprir com as suas obrigações, mas... não abusando, nem dos nobres, seus «escudos de defesa», nem da plebe sempre presente, em dar a bolsa, a vida e o exemplo no trabalho.
A febre da « Revolução», começou por redigir a ainda em vigor, DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO., que terá deixado o prato da balança dos DEVERES, com menos peso, para determinar a igualdade.
Em 1791, foi elaborada a « Constituição» que substituiu o poder absoluto, pela Monarquia Constitucional.
O desregramento normal revolucionário, levou à fusão do espírito do antigo regime , com o actualizado e entregá-la – a fusão - nas mãos de um só homem – Napoleão Bonaparte. Inteligência notável, actuante excepcional.
Voltou ao absolutismo e repôs em funcionamento, os métodos revolucionários, no avanço em terra por lavrar… Esgrimiu armas para tornar a França um poder hegemónico na Europa sem aceite de custos. Vencer era o lema. Vidas e destruições, Ele ou alguém, iria resolver as consequências…
Invadiu os vizinhos, a Espanha e Portugal, na Ponta da Europa. As bandeiras da «Liberdade», de «Igualdade», de «Fraternidade», ficaram sempre nos salões de Paris e Fontainebleau . Porque, guerra… é guerra e as bandeiras –as teorias - são para guardar.
Os invasores, em Portugal –chegados famintos e maltrapilhos – mataram a fome, lavaram os corpos suados, remendaram e substituíram as fardas ensanguentadas, consertaram as armas desarranjadas na função de destruir e… puseram o sono em dia.
Recebido novo alento, os tempos de diversão, incluíram roubos, matanças, crueldades na população trabalhadora e pacífica. Até que devolvidos às terras de origem, autorizados a transportar na bagagem, preciosidades dos nossos antepassados, deixaram a esvoaçar cópias das ideias, deixadas na gaveta e nos estandartes da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, em França. A fantasia, dominou a ambição, fez esquecer a tragédia.
Os ideólogos, mensageiros em secretárias, alheados do esforço braçal e no ombro, convenceram o povo que só tinha a ganhar com as vicissitudes sofridas, pois se aconteceram… foram casos em favor dos seus interesses. A valia real, estava na concentração do pensamento.
O Povo, o pagador de serviço, fiel à sociedade e crente nos sábios carregados de livros, teve como verdadeiro, o estandarte dos «direitos», pois logo reteve o sonho de alguns lhe vierem a caber.
Não demorou no arranjo do estilhaçado pelos amigos que haviam pago o estrago, com a divisa, prudentemente deixada em França, para se não manchar em Portugal: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Regressado D. João VI do Brasil, em 13 de Julho de 1822, logo em 1 de Outubro, do mesmo ano, acatando os ensinamentos franceses, foi assinada a Constituição, para regular excessos e acabar com a injustiça..
O povo, o Homem Bom, sentindo a obrigação de «curvar a cerviz» para bem da Família, imaginou ter chegado a Boa Nova de folga nas responsabilidades no sustento da grei. Pôs de lado, mas pagando Ele, os agravos materiais recebidos e entregando aos SENHORES DAS IDEIAS, as soluções mentais, de tamanho admirável.
Enquanto a ideogenia, se fabulava nos recintos da palavra livre, revelando o inchaço e fertilidade produtivas, o povo, o « Zé », só importante no voto, o independente verdadeiro, trabalhava perseverante na paz, terno para a amizade, leal para com a Pátria, mantendo o mesmo afã de Afonso Henriques e seus descendentes
Consertou o desbaratado pelas invasões caprichosas de 1807 a 1811, reconstruíu o danificado pela estratégia, elevou padrões, suou nas sementeiras e nas colheitas, arriscou o comércio e tentou a indústria, na esperança de aumentar ganhos. O sectarismo, impávido e sereno, discutia, tomava a maçaneta do bombo da festa e batia ao acaso do compasso, nas cordas da lira afinada na canção celestial.
Os SENHORES DAS IDEIAS, em obediência aos seus princípios, envolveram-se nas disputas dos Irmãos Pedro e Miguel, a guerra fratricida que voltou a desfazer as economias do Povo, a ceifar-lhe milhares dos seus filhos e a espalhar ódios e atrasos domésticos.
De 1856 a 1857, uma epidemia de «cólera», vitimou pobres e ricos. Parece que tudo se conjugava para enfraquecer a Nação
. O Povo, o pronto ao sacrifício, pagou as destruições e desditas nas doenças, mas não ganhava para pagar desgraças e nivelar o Erário Público. Os SENHORES DAS IDEIAS, que nada haviam concretizado, nem podiam, por falta de tempo na algaraviada dos discursos, para pagar esta falência, apontaram culpados D. Carlos e o filho D. Luís Filipe e mandaram sacrificá-los na campa do silêncio, em 2 de Fevereiro de 1908. Dois anos mais tarde, fizeram embarcar a Família Real, na Ericeira, em 5 de Outubro de 1910. Estava satisfeito o desejo telepático do Dr. António José de Almeida e de muitos camaradas: « Bastava o desaparecimento do Rei, a implantação da República, para todos os problemas graves, desaparecerem em Portugal.»
Continua.
Até próximo.