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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

23 de novembro de 2006

Nº 106 DEMOCRACIA… ESCONDERIJO… OU PALAVRÃO

A formação de agregados propensos à coexistência, aderentes à civilização na mudança das agruras para escapar à penúria no aparelho digestivo, subjuga-se a regras, impressas nas necessidades de juntar a defesa individual, ao crescimento da amizade. Não se trata, porém, de um acordo definitivo e perfeito, dadas as circunstâncias variáveis, na instalação do sistema nervoso do candidato à humanização.
É que o desgaste dos usos e retoques nos costumes, induzem a alterações, provindas da rotina aconselhar reformas nas fricções que acabam por ferir a resignação, protectora dos cinco sentidos.
O tempo, treina a convivência, na desculpa ao pecadilho e à repisa, maleitas chovidas das nuvens acumuladas de hipóteses para hábitos tendentes a alargar a concórdia.
O humano, no íntimo, não se distingue do resto dos seres vivos. Propende a utilizar o mais imediato para estender ganhos fáceis, descanso sem ralações e tirar dos vizinhos o já pronto a usar ou ingerir.
Mas como os semelhantes aspiram à mesma cobiça e a disputa permanente não garante lucro, nem vitória individual, passam a harmonia, por filtro comum, coam o mais útil e prático e deixam passar a sujidade mais evidente, que entupiria a ordem e a disciplina que distingue o que quer viver mais tempo.
A limpeza do imperfeito, contudo, é sistema operado por pensamentos e sugestões dadas pela luz em que todos participam.
O que impressiona e faz nódoa no modelo da verdade, é que do Homem provém o instinto à sociabilidade, o Homem cumpre mal o que esboça e seria fácil rematar, atendendo à reciprocidade de sentimentos, mas para o Homem se dirigem as emendas, a corrigir falhanços por ele próprio malfadados. O que significa, serem os cérebros amigos das tranquilidades, pública e personificada, os mesmos que abrem hostilidades nos meios que a todos pertencem, tomando de seguida, aspecto sorumbático e de «mestrança» rigorosa em conhecimentos.
Emproados nos seus barafustados modos de ver, redigem as Leis, blasonadas de correctoras, porém, crispadas de empolamentos psicológicos, de ortografia de principiante nas primeiras letras e redacções a pedir revisores.
A importância trémula, contudo, chega ao bom entendedor, portadora da desilusão magoada, do erro ser uma constante, intravável na ambiência humana, apesar de entronada de ideologia com ceptro e coroa, em desvalimento do «saber», posto de parte, como se de coxo se tratasse, com a sacola de esmoler em freguesia abandonada.
O poder, a força da autoridade recebida pelo voto de quem não estuda, para alguém verde no diploma, sobrepõe-se a todas as capacidades. Aceita julgamentos, de quem pouco aplicou raciocínio e memória para transmitir percepção e juízo. A sapiência mal crescida, dá fruto enfezado e semente abortada.
Na ausência de acerto, a escapadela às responsabilidades, melhor se dissimula em agrupamentos de monotonia combinada. Entre muitos, o alvo no que reza mais afoiteza, foge e salva a ideia, mas o dedo indicador não alveja, nem fixa ninguém. Assim, o que é feito à tona de água, passa a boiar, sem dono, nem destino, como teimosa rolha de cortiça.
Por tal maneira de acautelar as razões, que pululam em cada cabeça, os aspirantes a emprego na « coisa pública», reúnem-se em grupos predispostos a resolver as grandes amofinações na administração dos Estados. Formados, assim, os «Partidos», e à consequente falta de «matéria prima neurónica», esbanjam-se as promessas, ultrapassando o plausível, digno de crédito.
Avistam o imbróglio , tão badalado a importunar a «boa vida»: - o Produto Interno. Bruto ou acanhado, abundante ou satisfatório, razoável ou murcho . Coisa fácil de resolver…
Nenhum «partido» acredita em prodígios sobrenaturais. Mas cada um crê no milagre dos seus associados , serem os únicos que entendem do ofício de governar. E governam… do meio para cima.
Expliquemo-nos.
O Produto Interno, cresce por estações, classificadas pelo tempo.
A 1ª estação, compreende: Agricultura: Charrua, sementeira, sacha, colheita, armazenagem. Resultados dependentes das perturbações atmosféricas, enxames de insectos, maleitas diversas. Prolonga-se por meses. Às aflições de quem trabalha nos campos, assistem, de passagem, o turista e o aspirante a cadeira em partido.
A segunda estação, distende-se em transportes, indústria, mudanças de hábitos, risco nas comercializações, caprichos da moda, etc.. Alonga-se pelo ano económico.
A terceira estação subdivide-se na movimentação fiduciária, distribuição dos lucros e consequentes impostos.
Neste resumo atamancado, sem dúvida, mas suficiente para dar um contorno à visão real na sociedade, pomos acento no nosso posto de observação, mais por desabafo de um parecer independente, que por mestria nas questões de quem sabe mais ou entende menos.
Pelo possível de inferir, cada «partido», amalgama-se em oradores, estudiosos, aprendizes, professores, memórias repetitivas, etc., não sendo, afinal, cadinho de uma «massa cinzenta» única e perfeita, como a si próprios se atribuem Dedução, perfeitamente aceitável, por actos e pensamentos que nos chegam à luz do Sol, que nos alumia.
Além disso, os «partidos», repartem-se em árbitros, quanto o número de adeptos, descabidos de atenção às particularidades, nem do tempo, suficientes para acompanhar as três estações do Produto Interno.
Desatentam que a terra, nem sempre dá o correspondente à transpiração do agricultor e às necessidades dos consumidores, base para encher o mercado e fortalecer o Produto Interno. Partem, como é bem de ver, de conhecimentos exactos, predefinidos, ou de sequências controladas pelas mentes que representam a autoridade.
Os partidos, não tendo vagar, para medir a primeira estação, só entram ao «serviço» para a segunda e terceira estações. Não sujam os sapatos, nem calejam as mãos. Atente-se à liberalidade da Democracia…
Decepada, assim, uma boa mancheia de arrelias administrativas, é daí por diante que se pressupõe, ser o Produto Interno, regulado pela ideia, de engrenagem programada na continuidade impecável e garantida.
A segunda e terceira estações, limpas da terra de pão, passam a ser, portanto, o início, para discutir o Produto Interno. O que estava dentro dos moldes do que constava nas previsões favoráveis aos votos.
O Espírito democrático, porém, tem trâmites característicos. Cada partido, é livre de «puxar a brasa à sua sardinha»; verdades e inverdades, não são passíveis a julgamentos; injúrias, difamações, grosserias, são exteriorizações democráticas; a ficção, a falsidade, os empurrões do «tira-te que me quero por», estão na mesma linha de abraços de amizade; o cumprimento da Lei, deve sujeitar-se à aprovação partidária, sem a qual, é transferido para as «calendas gregas»; a honra, é um apêndice desnecessário; a justiça fica bem, se submetida à política . Ou seja, as mensagens de SOLON, de Péricles, de Platão, de Aristóteles, de Cristo, são velharias a guardar no museu da antropologia. A Democracia entre nós implantada, não tem pejo de acolher tudo o que passe pelo pensamento partidário. Democracia moderna, agasalha santidade e pecado, benevolência e maldizer, seriedade e burlice.
Quanto da verdade se lamenta, do véu que encobre a Democracia fabricada…
O desenrasque em quinhões, do que brilha na segunda e terceira fases do esforço nacional, o quantitativo que respeita a cada partido, é o processo que enreda as perspectivas. Todos querem o ganho. Ninguém, como é evidente, dispensa a maior fatia, venha donde vier. A bem… ou…
Puxa para cá, puxa para lá, rasga-se o «manto diáfano da fantasia».
O balão, enchumaçado de ideias, desce à terra… esvaziado da imaginação que o sustinha nos céus… na morada do sobrenatural…
Até para a semana.