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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

9 de setembro de 2006

Nº 83 REAGRUPAR A EUROPA… O CONGRESSO DE VIENA

Desunir é simplificado na bofetada. Com mão, deixa marca na cara do recebedor e a ofensa fica por aí. Sem mão, dá choque imediato e agrava a sensibilidade no futuro.
Ferimentos e beliscões, só o tempo sara a ferida do sangue jorrado e faz esquecer a dor provocada por mãos de maldade intencionada. A resposta não chega no momento, leva o tempo de chegada da oportunidade, surgida no poder recuperar força maior.
A Europa, pelos vistos, aceita a herança do seu solo, subsolo e clima, para regular a manutenção dos seus habitantes. Mas, cautela, cada qual no seu canto e se contente com o que produz. Por tentação ou carência, se alguma entidade, lançar mão de bens pertencentes a outro mais farto, a mão sorrateira, sofrerá as consequências da arma que estiver preparada para o castigo.
O acabado de expor, explica a trambolhada de acusações, bofetadas e ferimentos que confrontaram as nações umas contra as outras.
Na Europa, sempre foi assim. As necessidades induzem algumas refregas, passageiras, as de pouca duração e as demoradas, por mais duras que sejam, acabam em abraços de amizade eterna e lágrimas com a lixívia, do que não seria resolvível no momento, para lavar os pecados maiores.
Desta vez, com as habitais boas intenções, os soberanos que escaparam das pelejas cruentas, reuniram-se na Áustria para resolverem as questões que as dividiam.
Chamaram às reuniões, em 1815, o Congresso de Viena. Nome pomposo e impressionável, para merecer crédito e aprovação, embora as roupagens interiores, dos proponentes, se apresentassem em mau estado e de aroma suado nas refregas.
Para marcar solenidade, nunca faltaram pompa e circunstância, nos tratados e reuniões de apaziguamento, na nosso Europa, presunçosa em ser capaz de passar do estado de guerra aberta, para o de paz como se nada tivesse sofrido com os balanços, os estampidos, as lesões e os enterros de «carne humana». Não sendo o europeu, muito condescendente com a paciência, o Congresso, não poderia esbanjar tempo a reter o pensamento para tomar decisões. Andar… andar era a inquietação principal.
Os mais fortes, satisfeitos com os resultados favoráveis, achavam que já se haviam gasto as principais ofensas que teriam votos para novas retaliações. E, vai daí, toca a cortar rápido e ligeiro, para cada representante seguir para suas casas, nos transportes que estavam a pagar hospedagem. Valsar, tanto poderia ser em Viena, como nos seus palácios com salas e orquestras.
A França, perdeu os territórios que havia conquistado, para a tornar mais robusta, quando tivesse de entrar em vias de facto e lhe melhorasse a garantia das refeições. A Inglaterra, a mais ardente inimiga da «Revolução»… e de Napoleão, engrandeceu o poder colonial, que já não era pequeno. A Rússia, retomou parte da Polónia e tirou fatias à Turquia. A Áustria, normalizou todas as perdas. A Prússia recuperou as províncias perdidas. A Alemanha formou a Confederação Germânica com 35 Estados. A Itália foi retalhada em numerosos Estados. A Bélgica e a Holanda, uniram-se num só Estado - Países Baixos. A Suécia e a Noruega, também foram reunidas numa coroa. A Suiça e a Espanha, readquiriram a independência. Portugal… diz uma História que readquiriu a independência, mas essa, custou luta e sangue, ao despedir Massena em 1811, conquanto tivesse perdido tesouros, autorizados a fazerem parte da bagagem de todos os militares invasores. Os fracos, contrariam as obrigações, recompensando … ou obedecendo, com valores a pronto, aos mais fortes…«caridosos» a receber o que lhes cumpria pagar.
Assim terminaram os trabalhos «importunos», do Congresso de Viena, para aproveitar a «oportunidade», de se resolverem os problemas europeus, enredados pela Revolução Francesa. Foi mais uma varredela, para baixo do tapete, que a limpeza apalavrada, como desejariam os donos da casa.
Manta de retalhos era a Europa antes, retalhos a drapejar ao vento da sorte, foi o que o escrivão da magna reunião traduziu para ficar registado.
Certifiquemo-nos ser a evolução um esquema de demorados ensaios de mesclas, para chegar mais perto da perfeição. O Congresso de Viena, não foi mais que um exemplo a experimentar, para se juntar a outros, caminhantes a acertar rotas.
Não nos elevemos a juiz, presidindo a julgar falhanços. Já antes e depois de 1815, quantas alterações têm tomado partido, sem se chegar a pleno aprazimento?... E as imprecisões, continuam… Não acusemos…
Os factos demonstraram, que o boa vontade de acertar, na fascinadora cidade de Viena, era irrealista, quanto às afinidades de raças, língua tradições históricas e interesses, truncadas por simples cálculo de rendimento ou simpatia.
A pequena nação, a Grécia, foi a primeira a lutar para ter um lugar independente. De 1821 a 1827, conseguiu recuperar a liberdade, ajudada pela Inglaterra, Rússia e França, reconhecendo estas, que se tinham enganado no Congresso de Viena.
Os Países Baixos, evidenciando antagonismo nas Línguas e nas religiões, tremeram a União obrigatória. A Bélgica, de língua Francesa e religião católica, em 1830, quis separar-se da Holanda, alemã pela raça e pela língua. Com o apoio da França, Áustria, Prússia, Inglaterra e Rússia, também com o «mea culpa» de 1815, permitiram a independência das duas nações em 1831.
A Itália, também se entusiasmou para a independência. Napoleão, transmitira o sentimento da unificação. O «Congresso», desfizera esta inclinação e voltara a fraccioná-la em diversos Estados. Tem História movimentada, reagrupar, a «bota» da Itália e incutir-lhe a alma de nação, ( de 1859 a 1870). Em 1883, constituiu, com a Alemanha e com a Áustria, a «Tríplice Aliança. Na guerra de 1914, coligou-se com os Impérios Centrais..
A Alemanha, que Napoleão, tentara unificar, dividida em 35 Estados, em Viena, formando a «Confederação Germânica», também reagiu ao enfraquecimento sofrido e determinou ser Império. Tem História tal reacção, porém desnecessária nestas crónicas. A Prússia, inconformada, provocou a unificação comercial da Alemanha – o Zoollverein , em 1834. Em 1848, o parlamento de Francfort, decretou a unificação. Em 1701 foi elevada a «reino». Em 1870, entrou em guerra com a França e… vence. Faz coligações com as nações do centro da Europa, provoca a guerra de 1914 a 1918, mas acaba por pedir a paz, assinada a 28 de Junho de 1919.
Talvez seja maçador, recordar a História Europeia, mas valerá saber, quais as dificuldades que o imbróglio actual, pode estar a criar no nosso futuro.
Por hoje, ficamos por aqui.
Até próximo.