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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

9 de setembro de 2006

Nº 72 TIMOR… A VISITA… DANIEL ORNELAS … O HOMEM JUSTO

Os romanos levantaram um templo à virtude. Provinda das faculdades individuais, mandata-se por sua própria vontade, movida pela inteligência, para o cumprimento das acções. Então, a agudeza de espírito, construiu outro templo próximo, em perfeição de arruamentos de tal forma convergentes que para se visitar um, teria de passar-se pelo outro.
Foi assim, que se juntaram os dois templos – da Virtude, filha da Verdade e da Honra, parente da moral estatuída – ligados pela mesma finalidade altruísta de abarcar o Bem, o Dever, o Respeito.
A aeronavegação do Presidente da República, de qualquer país que se prese, acordada em razões do Estado, chama a atenção do citadino e do rústico, do diplomado e do plebeu, do pacato e do irreverente, cada qual a magicar a «razão» que a justifique, ao bem da comunidade.
O afastamento do Senhor Presidente da República Portuguesa, ao estrangeiro, ao País longínquo, de alma portuguesa e renúncia apátrida do cravo vermelho – rosa, atraiu a nossa atenção, em especial, por nestas últimas crónicas, nos termos referido a Timor.
Motivo importante seria a viagem, para merecer o «sacrifício» de desperdiçar, tantas horas a subir aos céus e, cá na terra, o povo triste e desamparado, a solicitar a sua presença, para o último adeus no dia 9 de Março. Cismámos, concluímos e iremos dar o nosso parecer, mais adiante.
Abramos à panorâmica da arraia miúda, em primeiro lugar, o interrompido na nossa anterior crónica, sobre a virtude.
Abaixo, vai ser transcrito «Invasão indonésia», que nós já sabemos, pelo já narrado anteriormente, que os « irrompidos donos de Portugal» tinham decidido que Timor deveria passar a ser propriedade Indonésia. Portanto, o dito acertado, seria: « após a ocupação, pela Indonésia», conforme parecer dos arrematantes do governo de Portugal, etc.…
Copiemos o que consta no Açoriano Oriental, de 23-02-2006:
Após a invasão indonésia, as necessidades da população, impeliram-no ( DANIEL ORNELAS) para um atendimento mais diversificado nas situações a mais alargado geograficamente, visitando, ao longo da semana, todos os lugares onde poderia chegar, nos caminhos para Aileu e para Ermera. Sem qualquer meio de subsistência, o jesuíta passou também a procurar recursos para as populações que assistia regularmente, com a ajuda de «enfermeiros auxiliares» que ele mesmo foi preparando, de acordo com a Agência Ecclesia. Aos poucos, foi erguendo vários postos de saúde ao longo dos caminhos e em zonas estratégicas, onde o povo se concentrava. Conhecedor do tétum, para além de assistir aos doentes, é interprete dos profissionais da Associação Médica Internacional, com a qual colabora. Desde há muito que os timorenses mais velhos e os mais novos, o tratam como alguém da Família: é o Senhor Irmão. A sua coragem e determinação foram reconhecidas pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, que fez a sua última visita de Estado a Timor Leste.
Aqui está a motivação do Senhor Presidente da República, se comover, ao ponto de dependurar uma insígnia honorífica, no lado de fora do coração, desse Homem de feitos excepcionais, baptizado na freguesia do Raminho, paredes meias com a cidade de Angra do Heroísmo, DANIEL ORNELAS.
Nos elementos que a notícia apresentou, têm cabimento todas as condecorações civis e militares, actualmente em vigor. A insígnia que o Dr. Jorge Sampaio lhe colocou ao peito, é portanto, a nosso ver, uma, à sorte, correspondente, de longe, ao valor da que, realmente merecia.
O carregamento de pão e água, enfrentando perigos iminentes, para os que têm fome e sede, é acto de força física, valentia intelectual e coragem não vencida, de um ser humano BOM, para outros com a vida suspensa por tiro, seca, maldade ou inconsciência.
Há, porém, o acrescento dos medicamentos e respectivas aplicações, aos fracos de saúde e necessitados de higiene. E, quanto pesará a palavra amiga, de conforto, de um pobre de livre vontade, para outro pobre de haveres e auxílios pátrios, a valer o pão, água e medicamentos somados, mais o milagre duma paz distante ?…
É que no memorial de razões, para dar razão à insígnia a enfeitar o peito de DANIEL ORNELAS, para encurtar tempo de leitura, ficou por mencionar o que consta na notícia do Correio dor Açores, de 05-02-2006:
Mais de 100 mil timorenses foram mortos ou morreram devido à `fome e doença, em consequência da ocupação indonésia, revela o relatório elaborado pela Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação ( CAVR ), há 3 dias disponível na Internet.
E ainda:
O relatório da CAVR, escrito a partir de 18 meses de trabalho no terreno, onde foram realizadas mais de 1.500 acções de reconciliação comunitária, com vítimas e violadores frente a frente e identificadas mais 8.000 vítimas, intitula-se «CHEGA», expressão que representa um alerta às consciências para o que se passou nunca mais volte a repetir-se.
O advérbio NUNCA, quixotesco, a querer-se vencedor dos substantivos DESAMOR e DESRESPEITO… Pobre advérbio, que merecia mais sorte… Mas, quem lha dá?
Quanto a nós, o ponto, de verdade, excelente, da viagem do Senhor Presidente da República à martirizada meia Ilha de Timor, fixou-se em dar a conhecer ao Mundo, o HOMEM, representante dos mais portugueses, que se deslocavam da sua terra natal, para abraçar o trabalho e a esperança, em paragens com a mesma bandeira e linguagem. O último emigrante conhecido e. … modestamente condecorado…
DANIEL ORNELAS, alheio à comenda, se justa, anã ou mediana, como enfeite no périplo do Senhor Presidente, continua a azáfama do costume e a magicar como possa gerir as milhentas carências do SEU POVO. Ele, hoje, é timorense, coração de um pobre, tem tamanho para repartir com outros pobres, todos os necessitados…
DANIEL ORNELAS, não desconhece que o SEU Governo, o de Timor, o que ele poderia contar, nos auxílios do dia a dia, não tem fundos suficientes, nem acanhados para suprir as falhas. A surpresa de, repentinamente, ser atirado para os seus pouco movimentados capitais, ou para outras mãos que viesse a escolher; o desamparo a que fora banido, sem bases sustentadas em estudos atempados com a presença de gente adulta e não partidária; o desprezo, sem piedade, nem alternativas confirmadas, que permitiu a ocupação sofrida, haviam esvaziado os rendimentos para uma existência decente e continuada.
DANIEL ORNELAS, o AÇORIANO, DANIEL ORNELAS, só se importa DAR, para os que nada possuem, alimento e trato para o corpo, esperança… a FÉ, o direito humano de viver.
Merecia abraço de reconhecimento, de todos os Açorianos. Seria um grande exemplo da nossa cultura.
Mas, curvemo-nos. DANIEL ORNELAS, não é português, não é timorense, não é açoriano, É o cidadão que o Mundo deseja, mas não consente… mesmo que o seu nome venha a encimar uma rua da freguesia do Raminho, pois nunca passará de excepção, a honrar gerações. ELE, ilustra as nossas origens, moraliza estes nossos tempos, assinala a linhagem da dignidade.
Mente sã, DANIEL ORNELAS, não imita ninguém. Nas suas práticas caritativas, destemor dos perigos e perseverança na obra por ele mantida, todavia, há uma aproximação com um grande, de nome FRANCISCO XAVIER, ( 1506- 1552\), o Apóstolo do Oriente, que subiu ao altar da Igreja.
Se o Senhor Presidente da República, ao conceder medalha a DANIEL ORNELAS, entendeu o Homem e o símbolo do Ultramar que Ele representa, então valeu a visita a Timor… Se engasgo interromper …
Até próximo.