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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

22 de maio de 2006

Nº 64 DO FULGOR … AO OCASO

A luz desfruta tempo de brilho. A da lamparina, - prato, azeite e bocado de algodão - um dedo da mente que a governa, acende e apaga nos dois instantes. O invento do dínamo, uma miscelânea de metais em diferentes formatos, com nomenclatura solitária e inerte, de indutor, induzido, instalação de circuito, etc., a fricção e velocidade do rotor, emana a electricidade que põe todos a trabalhar como uma só unidade, irradiando os raios luminosos que outro dedo, mais lesto, os faz abrir ou fechar. Ambas fazem parte de cálculos de esforço e previsão de ganhos.
Há ainda, a desvalorizada por ser gratuita, a energia do Sol, entre as estrelas, o primeiro ensino da Natureza, a marcar hora e duração do esforço para vivificar a parte física do indivíduo.
A dormida, a refeição, o repouso, a segurança, o namoro, o prolongamento intelectual, os deveres a ceder, os direitos a ganhar, requerem assistências em cada dia que passa.
As três primeiras – dormir, comer, descansar - essenciais à vida, estão subjugadas à compleição dos animais. As contracções ou amolecimentos pendulares, do tecido muscular, inexoráveis em ameaças e maus modos , atordoam a fadiga, abrem o portal à fome, emperram o exercício às funções.
O que mais cuidado expande, apesar dos avisos de todos serem imprescindíveis, remonta a ser o namoro, quase único, a preencher o seu e o lugar de todos os restantes. Porquanto:
- A segurança, encolhida na sombra, aguarda aperto de dificuldades para se tornar visível;
- o prolongamento intelectual, atrofiado pela exigência de vagar e estudo, para se tornar evidente, deixa ficar o raciocínio, na isca do anzol e puxa a linha a perceber se tem refeição;
- os deveres, hesitantes, em valias ou desfavores do respeito à franqueza imparcial, empoleiram-se a observar oportunidades na apanha de louros e embolsos;
- os enganosos direitos, na procura de usurar lucros, proclamam aumento de benesses, retocam um ou outro, menos liso, pintam-se todos com a tinta do menor esforço;
- a ideia, criadora dos direitos universais, sente o estorvo da «universalidade» dos intelectos e das sensibilidades;
- ambição e dúvidas separam deveres e direitos. Na vez de agir, ambos são um só: «obrigações».
- a competição, base da existência, requer esforço individual. Nem o humano, nasce com regalias próprias ou de grupo. Os Direitos do Homem, serão um escrito a prevenir abusos, colando-se aos Deveres. A Revolução que os agrupou, não soube purificar a ideia. Os verdadeiros e únicos «direitos» conhecidos, são os do trabalho, cuidado no saber e melhoria de consciências.
- o gesto, para parecer filhote da razão, dá forma a desenhos geométricos na atmosfera. Mas não se confunde com «direito».

Continuemos com as notícias insertas nos nossos jornais.
«O general indonésio Yoga, em conferência com representante americano, confessa que se encontra frustrado. Não consegue clarificar o que o actual (1976) Governo Português vê como suas obrigações e responsabilidades, no Timor ( ainda) português. O Governo Indonésio, não sabia quem estava no poder em Portugal e não conseguia obter respostas de Lisboa, ou de outra qualquer representação diplomática, de Macau, Hong Kong, New York e noutros locais. Os socialistas portugueses, são Pró-Moscovo, os comunistas Pró-Pequim. E completava o General Yoga, que se daqui a 4 ou 5 anos, o Timor português for pró soviético ou pró chinês, os problemas não serão só da Indonésia.
Para Washington, Timor Leste, não era uma prioridade.»
O nosso jornal AÇORIANO ORIENTAL de 30-11-2005, atira mais alguns pozitos, publicando:
« O poder saído da revolução do 25 de Abril, de 1974,em Portugal, nunca considerou a possibilidade de Timor –Leste, ascender à independência, disse o Primeiro Ministro timorense Mari Alkatiri, em comentário aos documentos secretos divulgados em Washington, recordando um encontro que manteve no início da década de 80, em casa do já falecido general Vasco Gonçalves, primeiro ministro português, à data da invasão de Timor – Leste ……..para que fora convidado pelo contra almirante Rosa Coutinho……tendo-lhe sido confirmado que na altura o poder português saído da revolução achava que a lógica seria a integração na Indonésia.».
Eis que se abre, ao público, uma vez mais, a verdura de juízo dos interventores, no acto menos sensato, demasiado superficial, da asilada na enfermaria da pobreza, a avermelhada e coxeante descolonização.
Agora, em 2006, não está a prestar contas a improvisação na iminência de 1976. São 30 anos de paragem para reflectir e salivar o sabor amargo de um só prato, de comida esturrada, por cozinheiros impreparados na temperatura e condimentos, na difícil arte de proporcionar provas agradáveis a quem compete consumir.
Partiram-se os ovos da descuidada Inês Pereira, de Gil Vicente.
Mari Alkatiri, o actual Primeiro Ministro de Dili, não conta tudo, mas elucida o suficiente. Mereceria voltar a dar-lhe a palavra comovida, pelo muito que sofreu, sem remédio para o mal feito. Homem corajoso, sem dúvida, para remendar o que a força da coerência puder resistir.
Esta crónica terminou. O vexame pátrio, permanece.
Até para a semana.