América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

A minha foto
Nome:
Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

9 de setembro de 2006

Nº 71 A VISITA TOMA SENTIDO… DANIEL ORNELAS…

A imaginação, tem a graça da bondade, a elegância da diplomacia, o afecto da oratória. Exibe altar condigno, aos ídolos que irão merecer o culto da subserviência, ou do despotismo, na expansão da mestria e recorte do primor.
Enquanto se não gasta de encontro à dureza dos obstáculos reais, toma a atitude severa de catedrático, suporte do assistente. No reencontro com o chão da vulgaridade, retoma o passeio da meditação, até diferenciar a verdade da mentira, de dar preferência à justiça ou ao pecado, de escolher o bem ou o contraditório. Não falta campo, onde se possa mover o círculo artificiado de conceber imagens.
A despedida de supremo magistrado da Nação, do Doutor Jorge Sampaio, no último mês do seu mandato, terminado a 9 de Março, é uma via de misericórdia, de oração à resistência dos menos fortes, com o roseiral de bons propósitos, na margem esquerda, dando o flanco da severidade destra, aos carinhos da benevolência, para com os amigos do coração.
A cortesia feita a Timor, exprimiria uma evocação da proximidade pátria, perdida em desmaio por acontecimentos aparentados a tremores vulcânicos, desresponsabilizados de mentes normais.
O Parlamento, votou a atribuição de «Cidadão Honorário», em reconhecimento do seu empenho na defesa de Timor Leste, sendo aprovada por todas as bancadas. De olhos, correram lágrimas, rebentadas da consciência em ebulição, que as labaredas ateadas, pelo fósforo descolonizador, aqueciam até ferver…
O Senhor Doutor Jorge Sampaio, falou do genuíno afecto que nos une. E recebeu o passaporte diplomático, assinado pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta e da Justiça, Domingos Sarmento.. No Palácio das Cinzas, os dois Chefes de Estado, trocaram prendas. À saída, numa breve declaração à imprensa, Jorge Sampaio, defendeu que as Nações Unidas deverão garantir a sua continuidade em Timor-Leste, à medida que se aproxima o final do mandato da actual missão, a UNOTIL, de molde a garantir «a capacitação do Estado e dos quadros timorenses».
O Senhor Presidente, alijava às Nações Unidas, a incumbência de «olhar com bom olhado», para o mesmo Timor, que o Dr. Oliveira Salasar, 30 anos antes, considerava pertencer ao outro Portugal, o antigo, o responsável, o unido, não fugidio às responsabilidades administrativas e dos parentes legítimos e afins. Após três décadas, diferenças profundas.
Em 1945, Timor era português com glória, estandarte, hino, amor fraterno e suporte financeiro.
Em 2006, o Presidente Português é estrangeiro em Timor e pouco lhe pode oferecer, pois chefia uma Nação, que ainda tem bancos geridos por homens de juízo, mas a banca pública, caída doente, sofre delírios de sobrevivência. Alguns, confiantes no fado triste, a aguardar milagre, outros que se fixam em grandezas sem fundo, por aí discursando e ainda os que se colam aos satélites da «rã» que queria ser boi. Não referindo, para acertar melhor a realidade, as aflições para pagar aos credores, fomentados por ela própria, ou seja, hasteando o estandarte da «robustez», confiado na competência autofágica. Situação insegura, que poderá vir-lhe baixar a reforma.

Eis, em resumo o resultado da viagem de «trabalho» do Presidente Português a uma Província da saudade.
Caro leitor, afinal, esta visita não se cingiu a mostrar à Família, à grei dos amigos e à posteridade, a presença portuguesa desde «quinhentos» lá no Extremo Oriente, ou a carinhosa despedida, emblemada de simpatia, em missão diplomática. Teve um ponto altaneiro, diferente, nobre e honesto. Uma lição do variegado portuguesismo de todos os tempos. Também para o nosso Presidente e seus complacentes.
Deu para condecorar DANIEL ORNELAS, um herói, exemplo pelas proezas de paz, do Portugal verdadeiro e sincero. Um AÇORIANO, prestável a fazer o bem, a dizer por coragem e obras, que onde pousa o pé de um HOMEM digno, aí está um lugar para viver na harmonia dos nossos antepassados. Renúncia, não abona homens ponderados na promessa e no cumprimento. Tanto mais subirá o Homem, consigo mesmo e para com os outros Homens, quanto melhor se preparar na utilidade das leis e nas melhores condições físicas e morais comuns.
DANIEL ORNELAS, é o quarto, de 11 filhos, nascidos no Raminho, Ilha Terceira. Isto é o comêço da notícia, no jornal Açoriano Oriental, de 23 de Fevereiro. O nosso Poeta Álamo de Oliveira, que muito ama o Raminho, talvez possa acrescentar outros pormenores bendizentes, com as flores bonitas da sua arte.
A notícia, alonga-se: Depois de passar pela vida militar, onde aprendeu e serviu como enfermeiro, em 1949 acabou por ingressar na Companhia de Jesus «tocado» pela Religião. Correu o País de missão em missão, até que foi parar a Roma em 1951. Permaneceu aí, seis anos, seguindo depois rumo a Timor, em 1963, por ordens superiores. Ficou no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Dili. E lá ficou até hoje. De lá, não quer sair. No outro lado do mundo, descer e subir montanhas ainda faz parte do quotidiano do irmão jesuíta Daniel « um açoriano que vem de Timor», como o próprio se caracteriza. O enfermeiro que serve o povo timorense, a par dos cuidados de saúde, mostrou-se desde sempre, um grande educador de todos os que colaboram ou contactam com ele, como o descreve a Agência Eclésia, a agência noticiosa da Igreja. Até 1975, recebeu grande apoio da Farmácia do Estado e da Farmácia do Comando Territorial do Exército Português, para todo o trabalho de enfermagem e de assistência às populações. Após a revolução dos cravos, perante a saída de muitos, nada o demoveu de permanecer junto do Povo Timorense, ao qual já se dedicava há 12 anos. Bem consciente dos perigos e da situação precária em que poderia ficar sujeito, decidiu ficar junto dos seus irmãos.
A meio da crónica, o espaço terminou.
DANIEL ORNELAS, todavia, alta figura de Homem Português e Açoriano, segue um caminho « de exemplos feito». Impõe-nos continuar, pelo que sabemos. E, ainda, para que a viagem última, do Senhor Presidente, ocupe o lugar certo na finalidade e no proveito, para o País que, durante 10 anos, foi o chefe maior.
Até para a semana.