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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

22 de maio de 2006

Nº 61 RASTOS...

Por enquanto, não temos outra saída, nestas crónicas, se não deambular pelos noticiários do último quarto do Século XX e respigar um ou outro pormenor, acendedor de omissões levadas pelo tempo, ou moídas no embrulho das conveniências de ocasião, a modo de as triturar e resvalá-las para o poço do esquecimento.
Há sempre um acomodado, desejoso de passar a esponja em actos menos felizes, para não ressurgir relembrança, mexeriqueira a afectar a rotina amorfa a mudanças nas barbas do tempo e pacata no desconceito, para rebater maçadorias de julgar a hibernação, ou a pena caducada. O que a memória dilui, por muito asseio no desuso sem progresso, sempre deixa fagulha a acender, por bafejo da verdade teimosa da História.
Estes nossos sopros nas centelhas do antepassado, não acendem fogueira destrutiva da instalação oficializada. É só acrescento do oxigénio, à lareira das cavernas, do homem pré histórico. Alguma luz pode vir a dar, na análise dos compostos que se desbaratam nas cinzas. Nunca se pode antever, quando aparece a teimosia certificar êxitos ou perdas na procura da realidade, para abrir janela ou portal, às operações fisionómicas, até chegar ao presente.
O homem disponibiliza ciência e técnica, mas debate o preço. A ideia, dispensada de custos, avança muito mais veloz, não tem estação de paragem até ao além, nem manuseia tabuada para fazer contas. O humano, qual frango, a treinar para galo, quer desforra. Os reinos animal e vegetal, dependentes da constituição lenta das células nas três dimensões, crescem na superfície limitada, para dar continuidade à vida; o reino mineral, inerte, movimenta-se graças aos gatos-pingados que o desenterram… aos artistas que o moldam… a à moeda que o paga…
O animal, separado dos outros, com o fito de só deferir o que lhe dá lucro, faz-se amigo dos três reinos, para sobreviver. Nenhum se lhe opõe. Pedem, somente, em rugidos, grasnos, pios, sibilos e mais sons da Natureza, um pouco de auxílio. O Homem, sem soluções, agrada-se da contra proposta. Entrega-se ao trabalho, resvés com o preciso. Até distrai.
A ambição, matreira, propõe-se facilitar os ganhos. Contentou o corpo, a primeira vez, só por momentos. Mas melhorou.
Os incómodos das frágeis constituições humanas, exigiram mudanças nos desafios contra a rudeza dos elementos. O trabalho, obrigou-se a desdobrar especialidades para a missão tomada, de manter a vida, nos reinos dos animais e das plantas e permitindo mobilidade ao mineral. Ficou assente. Esforço. Suor do rosto.
Cá estamos nós, outra vez, como timoneiro fora do rumo.. . Uma volta tão grande, para dizer, simplesmente, que o humano umas vezes faz bem e outras, repete o mal. O aparentemente entendido ou feito, deixa amiúde, alguma coisa por completar. A experiência da juventude, quando ainda dentro dos moldes da fundição, na tomada de forma, perante a opção de decisões, aproxima-se dos pareceres bifurcados, prestáveis a acompanhar a cantilena em moda.. Aí, aguarda o que irá ditar, no momento emocional, calhando ou não, na cadeia de argumentos.
Deixemos às transcrições da nossa Comunicação Social, as respostas adequadas aos raciocínios perturbados, do ser importante.
Jornal AÇORES, de 8-01-1976: - O Ministro dos Negócios Estrangeiros, não tomou posição, pela passagem nos Açores, de aviões cubanos transportando material de guerra para Angola e Guiné Bissau.
A nossa observação será de que se não deveriam contrariar os planos do senhor vice almirante, correligionário, ou alto representante na gávea da vigilância ou do comando de operações… Quem manda…manda…
Jornal AÇORES, de 10-01-1976: - O General Spínola, apesar do balancé no reviralho, sofreu o desdouro de sair de Madrid, a convite da polícia espanhola. A Espanha, - e não nos abalançamos a saber quem mais… - deixou de acreditar em «falas mansas», em galões e estrelas nos ombros dos militares portugueses. Injustamente, verdade se some.
Jornal AÇORES, de 11-01-1976: - Os aviões cubanos, desviaram-se de pousar em Santa Maria, por pressão dos Estados Unidos.
Abusiva contracurva, aos planos do vice-almirante… Tanto esforço para um exército estrangeiro vir matar portugueses, de qualquer sexo, profissão e idade e os Estados Unidos terem a… insolência de lhe transgredir a estratégia… era para o ditador, técnico e comandante ficar zangado…
Jornal CORREIO DOS AÇORES, de 29-11-2005: - Timor 30 anos depois. Em letras gradas, ou título: INDEPENDÊNCIA FOI UMA UTOPIA, diz Bispo D. Ximenes Belo. Correspondia à realidade.
Mas o produto vendido pela comunicação social, ao povo atónito português, nos anos que se seguiram a 1974, era mais um «heroísmo»... a Independência de Timor.
D. Ximenes Belo acrescenta: Não havia embaixadores, não havia constituição – a Constituição da FRETILIM, tinha sido congelada – não havia órgãos de soberania, por isso, aqueles quase 24 anos, foram um interregno em que apenas havia uma nação e um povo timorense que lutava pela independência. ... a proclamação unilateral de independência de Timor-Leste, a 28 de Novembro de 1975, não foi reconhecida por Portugal, nem pelas Nações Unidas, o que só viria a acontecer a 20 de Maio de 2002, depois do referendo organizado pelas Nações Unidas…...
................ Já adquirimos a liberdade e a independência, mas a independência não é tudo. Agora precisamos de verdadeiro desenvolvimento..........os timorenses são livres, politicamente, mas dependentes culturalmente, economicamente e de outros factores.
Este desabafo do Bispo de Timor, é uma prece, tendente esquecer a pecadores. Ou pedido de auxílio, de quem tem rebanho para sustentar. Não se dirige ao ALTO, como seria compreensível, mas aos Homens. Os que abandonaram os timorenses à sua sorte em 1976, em flagrante erro de senso de menor idade e aos actuais, que queiram e possam trabalhar no estaleiro da recuperação.
Os contados homens/ rapaz que se candidataram a donos de Portugal, ordenando o abandono de Timor, Guiné e Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, atribuindo a todos a mesma fasquia na doação, com a caricata autoridade na «boca» das espingardas, diz bem da verdura dos negociadores. Foi habilidade brincalhona, de pegar ou largar. O leilão, estava repartido, antes do começo...
Timor, é a confirmação, expostos os documentos da época, em 2005. Há visos de cinematógrafo. Do cómico que arranja emprêgo e recebe instruções do patrão para o cliente sempre adquirir mercadoria. Um presumível comprador aparece, mas sem entusiasmo no que encontrou. Então o cómico «esperto», às escondidas, carregou na carrinha o que o freguês recusara. Esfregou as mãos de satisfeito. Entristeceu, quando lhe perguntaram onde estava o pagamento...
Jocoso seria, se a realidade não representasse vexame à História de Portugal. Do Portugal esforçado, com novecentos anos… O não reconhecimento do estróina ... ao pai honesto e financiador... A fábula do Leão, aprontado para se finar e a dor da poltronice da «pata asinina», habituada a cadenciar passada na obediência ao trabalho, ou medricas a galope apressado , que golpeia por deficiência de valentia …
Coragem… não é tagarela…
Até para a semana.