América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

22 de maio de 2006

Nº 65 POR DO SOL…

Recordemos a nossa passagem pelos bancos de instrução primária, ali no Campo de S. Francisco e os nossos professores, D. Zulmira Mota Vieira e de seguida o marido, José Tavares de Resende, figuras respeitadas e respeitáveis, a ensinar-nos, desde as primeiras letras, até ao português falado e escrito. Nunca os tememos, mas algo de respeitoso, para alem do comum das outras pessoas, os elevava acima da média e, não sabemos porquê, ainda hoje nos toca a sensibilidade, ao atribuir-lhes muito do que aprendemos e do que somos, dentro da fragilidade humana, impediente de sermos mais perfeitos.
Vestes vulgares, asseadas, personalidades naturais, afectivas, ao simples olhar em linha recta do aluno, reflectiam, além da instrução, durável até hoje, uma mística educativa, extensível a todos os outros professores, que nos vieram a ajudar na caminhada do saber.
Estes nunca esquecidos Mestres, para nós, símbolos da profissão base do enobrecimento do intelecto, descreveram-nos a História de Portugal e entoaram-nos o Hino que a distingue, intercalando o carinho de e em todos os territórios, selado com gestas ímpares, a orgulhar a descendência pelos séculos dos séculos.
Foram Eles, os pregoeiros das nossas sensibilidades educativa, instrutiva e patriótica.
Não os colocaremos no topo dos topos, mas figuras vividas, a apontar o dever de respeitar o direito e o direito de estimar o dever. Nunca deixarão de ser nossos Professores.
Nesta crónica de memórias, colocamo-los ao lado dos profissionais que, em Timor, ( e nas demais Províncias Ultramarinas ) transmitiram nas escolas, a mesma fidelidade à terra portuguesa. O que pudemos atingir na idade escolar, milhares de outros meninos recolheram em si, a certeza de não contarem só com a Família, na colheita de benevolências e seguro, nas prerrogativas presentes e futuras. A Pátria surgiu como mais um sustentáculo, no convívio solto à confiança.
Por um bambúrrio dos rodeios enfatuados nos despachos partidistas, os Açores e a Madeira, não entraram no rol dos leiloeiros de vendas, trocas ou ofertas, em 1974. Para nós, a distracção?... resultou favorável. Quem saberá, se este desvio ao desvairo, não terá resultado de certo receio…do lado da bandeira de faixas e «estrelas» que drapeja nas propriedades do tavirense, João Vaz Corte Real (desde 1472) …? e herança para os filhos, os Mártires açorianos, Gaspar e Miguel Corte Real (desde 1501, até ao esbulho pelos séculos adentro) ?
Muito sentiríamos mudar o nosso Bilhete de Identidade e desdizer os ensinamentos dos nossos Guias, na instrução Primária e outros espalhados no antigo Mundo Português.
A Descolonização, fixou-nos no pensamento, uma amálgama de desatinos e escabrosidades, que nunca mais se nos apartaram.
O repúdio, sem aviso ou pergunta, da concepção solene das lições dos nossos professores, emaranha sentimentos os mais diversos, do alegre se ficar mais ligado ao nascimento, mas espalha-se pela galhofa do inesperado, até ao ódio de esbulhar os até então, considerados propulsores do desenvolvimento. Em tais reacções, a sanha da desforra, ingratidão para «quem deu mais luzes ao Mundo» irrompe, a aprazer-se com morte e destruição. Aos imigrados, a ordem de saída imediata, ou…
Inevitáveis… chacinas, furtos, terrores, destruições familiares, abandono do ordenamento, dos ganhos sofridos, do agasalho, do conforto… de toda a conquista suada dia a dia… Infortúnio…
Em 1974, deslocamo-nos a Lisboa, em serviço profissional.
No hotel onde nos instalámos, grupos de « retornados » - homens e mulheres, escapados das Províncias Ultramarinas, que tinham provado, não temerosos da rudeza de dependerem de si próprios, onde resolvessem permanecer -, distraiam a ociosidade, em colóquios banais e improdutivos, recebendo do Erário Público, a «esmola» de alimento e cama para dormir, mesmo a esmo, no chão de um quarto de dimensões de menor escala. Aparência bondosa, da reviravolta infantilizada, a encobrir fomento à promiscuidade e a comprometer o futuro – este nosso tempo de vexame - para orçamentos cada vez mais franzinos, admitindo «discussões» empolgadas por farturas, existentes nas mentes dos oradores …pagos para «falar»…
O desalento, em todos os rostos, faiscava …não alvoradas de festejos pomposos… mas reflexos de espadas prontas .a entrar na liça para sair da arripiante sombra da esterilidade e da hipótese longínqua de um porto seguro, recebendo os raios animadores de outro Sol, que o seu tinha descido ao poente…
Nós vimos os efeitos nocivos do arrastamento para a derrota, de lutadores e lutadoras incansáveis para bastarem as Famílias e serem prestantes à sociedade. Nós assistimos ao desfile, em rebanho – mulheres viçosas, homens rijos, crianças na rebeldia peculiar, velhos atormentados – com a vergonha a rebentar a face, alinhar na hora das refeições e a passada lenta, apática, no regresso à cadeira da inércia. Nós ouvíamos… sim, ouvimos… no olhar mortiço, embaciado nas recordações de um bem estar conquistado a pulso de trabalho, os gritos desacordantes da situação de preguiça, imerecida, castradora da personalidade vertical e da educada honradez , que a propaganda barateira desvalorizava, para opor a subida ao altar da emoção, o auditório teimoso em ser português.
Ouvíamos a voz clara, insinuante, dos nossos Professores, D. Zulmira Mota Vieira de Resende e José Tavares de Resende a ensinar a arte de ter nascido em Terra Portuguesa e achava semelhanças a outros espalhados na Portugalidade com a mesma função. O que em nós vibrava, sabíamos que, de certeza, em muitos mais corações, a sensibilidade irradiava raios de igual calor.
O que os nossos Professores não nos prepararam no seu ensino perfeito, foi a hipotética existência de «retornados», de territórios portugueses… Nunca arriscariam uma referência que passaria pelo absurdo… entre gente equilibrada…
Os sentidos recolhem, a cada instante, as sensações ambientais, despidas de avaliações ou preconceitos, na nudez gelada do momento.
Júbilo, tristeza, indiferença, quezília, repulsa, ciúme… São mais as dores, que as alegrias. Talvez, por isso, a memória se treine melhor a reter o agradável, porquanto o triste, acontece mais vezes, quando menos se espera… e é preciso esquecer de pressa, não vá o desgosto afundar cova para encurtar a vida.
O «drama dos retornados», uma conjuntura fora do imaginável, uma das ruínas dos orçamentos nacionais, humilhante e estrago da moral, das boas regras e costumes, ficou com a marca indelével de uma culpa eterna, que os tempos se pasmarão, quando tiverem tempo, ou os deixarem julgar.
Chegou ao fim esta crónica prevista a ser curta. Foi um desabafo, mais outro que nos susteve frente ao computador. A quem nos lê, pedimos compreensão e a desculpa num « muito obrigado». Não olheis para meus olhos…
Até próximo.

Nº 64 DO FULGOR … AO OCASO

A luz desfruta tempo de brilho. A da lamparina, - prato, azeite e bocado de algodão - um dedo da mente que a governa, acende e apaga nos dois instantes. O invento do dínamo, uma miscelânea de metais em diferentes formatos, com nomenclatura solitária e inerte, de indutor, induzido, instalação de circuito, etc., a fricção e velocidade do rotor, emana a electricidade que põe todos a trabalhar como uma só unidade, irradiando os raios luminosos que outro dedo, mais lesto, os faz abrir ou fechar. Ambas fazem parte de cálculos de esforço e previsão de ganhos.
Há ainda, a desvalorizada por ser gratuita, a energia do Sol, entre as estrelas, o primeiro ensino da Natureza, a marcar hora e duração do esforço para vivificar a parte física do indivíduo.
A dormida, a refeição, o repouso, a segurança, o namoro, o prolongamento intelectual, os deveres a ceder, os direitos a ganhar, requerem assistências em cada dia que passa.
As três primeiras – dormir, comer, descansar - essenciais à vida, estão subjugadas à compleição dos animais. As contracções ou amolecimentos pendulares, do tecido muscular, inexoráveis em ameaças e maus modos , atordoam a fadiga, abrem o portal à fome, emperram o exercício às funções.
O que mais cuidado expande, apesar dos avisos de todos serem imprescindíveis, remonta a ser o namoro, quase único, a preencher o seu e o lugar de todos os restantes. Porquanto:
- A segurança, encolhida na sombra, aguarda aperto de dificuldades para se tornar visível;
- o prolongamento intelectual, atrofiado pela exigência de vagar e estudo, para se tornar evidente, deixa ficar o raciocínio, na isca do anzol e puxa a linha a perceber se tem refeição;
- os deveres, hesitantes, em valias ou desfavores do respeito à franqueza imparcial, empoleiram-se a observar oportunidades na apanha de louros e embolsos;
- os enganosos direitos, na procura de usurar lucros, proclamam aumento de benesses, retocam um ou outro, menos liso, pintam-se todos com a tinta do menor esforço;
- a ideia, criadora dos direitos universais, sente o estorvo da «universalidade» dos intelectos e das sensibilidades;
- ambição e dúvidas separam deveres e direitos. Na vez de agir, ambos são um só: «obrigações».
- a competição, base da existência, requer esforço individual. Nem o humano, nasce com regalias próprias ou de grupo. Os Direitos do Homem, serão um escrito a prevenir abusos, colando-se aos Deveres. A Revolução que os agrupou, não soube purificar a ideia. Os verdadeiros e únicos «direitos» conhecidos, são os do trabalho, cuidado no saber e melhoria de consciências.
- o gesto, para parecer filhote da razão, dá forma a desenhos geométricos na atmosfera. Mas não se confunde com «direito».

Continuemos com as notícias insertas nos nossos jornais.
«O general indonésio Yoga, em conferência com representante americano, confessa que se encontra frustrado. Não consegue clarificar o que o actual (1976) Governo Português vê como suas obrigações e responsabilidades, no Timor ( ainda) português. O Governo Indonésio, não sabia quem estava no poder em Portugal e não conseguia obter respostas de Lisboa, ou de outra qualquer representação diplomática, de Macau, Hong Kong, New York e noutros locais. Os socialistas portugueses, são Pró-Moscovo, os comunistas Pró-Pequim. E completava o General Yoga, que se daqui a 4 ou 5 anos, o Timor português for pró soviético ou pró chinês, os problemas não serão só da Indonésia.
Para Washington, Timor Leste, não era uma prioridade.»
O nosso jornal AÇORIANO ORIENTAL de 30-11-2005, atira mais alguns pozitos, publicando:
« O poder saído da revolução do 25 de Abril, de 1974,em Portugal, nunca considerou a possibilidade de Timor –Leste, ascender à independência, disse o Primeiro Ministro timorense Mari Alkatiri, em comentário aos documentos secretos divulgados em Washington, recordando um encontro que manteve no início da década de 80, em casa do já falecido general Vasco Gonçalves, primeiro ministro português, à data da invasão de Timor – Leste ……..para que fora convidado pelo contra almirante Rosa Coutinho……tendo-lhe sido confirmado que na altura o poder português saído da revolução achava que a lógica seria a integração na Indonésia.».
Eis que se abre, ao público, uma vez mais, a verdura de juízo dos interventores, no acto menos sensato, demasiado superficial, da asilada na enfermaria da pobreza, a avermelhada e coxeante descolonização.
Agora, em 2006, não está a prestar contas a improvisação na iminência de 1976. São 30 anos de paragem para reflectir e salivar o sabor amargo de um só prato, de comida esturrada, por cozinheiros impreparados na temperatura e condimentos, na difícil arte de proporcionar provas agradáveis a quem compete consumir.
Partiram-se os ovos da descuidada Inês Pereira, de Gil Vicente.
Mari Alkatiri, o actual Primeiro Ministro de Dili, não conta tudo, mas elucida o suficiente. Mereceria voltar a dar-lhe a palavra comovida, pelo muito que sofreu, sem remédio para o mal feito. Homem corajoso, sem dúvida, para remendar o que a força da coerência puder resistir.
Esta crónica terminou. O vexame pátrio, permanece.
Até para a semana.

Nº 63 NORMAS E PROCEDIMENTOS

Associar pessoas, é o princípio de harmonizar costumes e hábitos, deles fundir as leis para a sã convivência, donde se desenvolverá a amizade, a matizar a coesão de sentimentos. Assim se unem dezenas, milhares, milhões dos seres humanos, em lugares, regiões, países. continentes.
Portugal, no ano 70, do Século XX, estaria a aproximar-se dos 25 milhões de concidadãos. Escusamo-nos a pesquisar os números reais, nem valerá a pena acertá-los, pois a subtracção foi consumada.
Cinco anos passados, tertúlias de rapazes que lhe defendiam o património, solicitaram aumento do salário. Atrasado o deferimento, «amizades calculadoras confinantes», avistaram probabilidades de relampejar êxito, a um reviralho, aprovado por outra nação representativa das delícias terrenas, a quem conviria prestar vénia e favor. A juventude, animada com as próprias previsões de sucesso, acreditou nos aconselhadores que lhes ofereciam mais do que o premeditado. E deram ordem de marchar … marchar… olhos absortos no final ambicionado.
Planos estratégicos, elaborados em tertúlia ou retiro, vieram a coincidir, por mero acaso, com momentos singulares imprevistos, tirados do cartucho das sortes, facilitando a vitória, associada à paz existente, pois esta faz abrandar a segurança e os avisos de precaução.
Magote de representantes do partido organizado para proceder à divisão das partilhas, ceifou a herança de «nove» séculos dignos de memória e deixou, por complacência dos renovadores administrativos, o território conquistado pela primeira dinastia Henriquina, mais as primeiras duas luzes que iluminaram, guiaram e serviram de farol ao Mundo e poiso às restantes «Descobertas».
Já escrevemos, ser a resistência de Portugal tamanha, que o seu decaimento só seria possível, vindo de dentro do seu íntimo. Não poderia vir de origens menos conhecedoras do patriotismo lusíada. As funções vitais, recebem o mesmo alimento das células que as destroem.
A articulação das nações, obedece a sucessão de circunstâncias, encorajadoras para a toma de se bastarem, dentro de bitolas de conciliação umas com as outras, nunca eternizando compromissos definitivos. A tolerância pára, quando os planos de convívio, extravasam a comodidade uniformizada. Cada um por si… Orquestras separadas… Cada qual com sua batuta…
Na anterior crónica, abordámos o aspecto da perda de territórios. Agora, estamos na contagem, aproximada do número de portugueses. Até 1975, contavam-se, cerca de 25 milhões. O encantado ensaio de feitiçaria, reduziu para dez milhões e tal.
Os mandões aprendizes, previam folga nos bens de consumo no remanescente humano, no espaço da Primeira Dinastia e nos Arquipélagos Adjacentes. E acreditavam no fulgor rentável dos novos Países, protegidos pelas maravilhas mágicas, das graças partidárias da União de Lenine, que se estenderiam até onde houvesse carência alimentar, de habitação e extras para recreio. Seria o SOL, todo o ano, vindo de leste, segundo glorificava o Dr. Cunhal, ao regressar a Lisboa, depois de visita a Moscovo, após esse Abril que ainda tem muito para alumiar.
A mágica redução dos 25 milhões de portugueses, para 10 milhões, desacautelando entendimentos preparatórios de mútua convivência, assevera a puerilidade da intenção aguerrida para ganhar aumento de ordenado, depois, por desventura, desviada de rumo, por adversa estratégia, na extensão das consequências.
Era manifesto o desnorteio da mistura, rapaziada e inflexibilidade despótica, insegura no lucro e arrasante da ordem.
Os americanos, opinavam, na impossibilidade de sucesso na invasão de Timor, sem a colaboração dos timorenses. A irregularidade do terreno, não permitia facilidades a quaisquer forças armadas do Mundo. Acrescia, em território português, nunca ter sido aplicado o «apartheid», libertando as relações inter - raciais. Havia simpatia aos portugueses, o que se não revelava para outros povos.
Neste quadro específico, invadir Timor, seria viável com a dinâmica portuguesa e a amizade timorense.
Os amigos não devem receber desapego, em especial nos momentos de mudança da estabilidade, para a incerteza de regularizar a vida de povos milenares, merecedoras de continuarem nos seus territórios, expondo os seus intrínsecos temperamentos, em usos e costumes.
Um lote de portugueses, discursando defesa e prestar contas, armou cenário, sem intento de corrigir da melhor maneira.
A Fé, a Boa Fé, rumou nas DESCOBERTAS, em cata de melhorar a vida e a Nação. Foi fama que rendeu frutos, proveitos e honorabilidade.
A Natureza, omnipotente, verdeja os campos, engrinalda a confiança, abre o regaço da fertilidade e promete farófias ao sabor do necessitado. No final, todavia, desmemoria-se, umas vazes é pródiga, outras, unhas de fome.
A FÉ, o subsídio mais carente do espírito humano, sofre desgaste que lhe enfraquece a faculdade de se desempenhar com a moral activa.
Os Anos amolecem-na, a Bonança insensibiliza-a, a Serenidade entontece-a, as Comodidades apatizam-na. O encarquilhamento, estorva-a de partilhar na Paz. Desta sorte, se mudam os tempos, se alteram os pensamentos… São desvios que emurchecem as flores, anulam ganhos e desvalorizam o cumprimento do dever.
A FÉ, a força íntima do Homem e escora alerta da Esperança, o que une a sociedade e corrige falhas na obra humana, também se esgota no elixir da imaginação…
A graça, angélica, bela, na mesma estrada da fealdade sabichona, quer confundir o traje ataviado das lisonjas, dos procedimentos que o equívoco mal - encara… A FÉ…reage ao desmaio…reeduca a alma… volta a crença na virtude…
Dignidade… faz crescer o carácter e dá paz ao íntimo humano. Santa leitura…
Até próximo.

Nº 62 RASTOS...

Reentremos nas transcrições da Comunicação Social, do que se passava, nas disparidades sociais.
Prossigamos o relato, da brincadeira de rapazes, incompleta na crónica anterior:
Os mandatários da intentona de 1974, credenciaram-se no fluido de sábia prepotência, com a atenuante, da curvatura a representantes de nações europeias, também membros de partido e «aliviar» Portugal dos encargos, para conservar o «Ultramar» e provocando susto, com a palavra «guerra». A realidade, todavia, não confirmava.
O que actuava era a «guerrrilha», aquela modalidade de matar, umas vezes « sou eu que disparo» , outras cabe-te a ti, mas temporária e limitada ao consumo dos cartuchos. Era a mesma continuidade de discórdia, dos povos «Descobertos» na época de quinhentos, opositores à convivência com a civilização, arreigados ao solo, produtor completo das necessidades elementares da existência e espaçoso bastante, para a largueza de usos, costumes e ambições, alinhadas à cabana, à mulher, aos filhos, à floresta, à sesta, após a refeição crua ou encruada.
Havia, sem dúvida, um maior preparo do lado da rebeldia, financiada por moedas estrangeiras, especialmente «rublos stalinistas», desenvolvida pela ambição de novos diplomados, a maior parte nas Universidades Portuguesas, a quererem ocupar as cadeiras do mando, sendo oriundos das Províncias para onde tinham regressado.
Os países limítrofes desses territórios, conservavam e ainda mantêm usos e costumes que se misturam uns com os outros e entre ajudam-se como irmãos se tratam na floresta e no borborejo das nascentes.
Os de nacionalidade portuguesa, recebendo a intuição de «alma grande», peculiar ao povo que se abalançara a descobrir desconhecidas terras e a abastardar os úteros reprodutores, absorviam a civilização com a displicência normal à índole milenária, porém, com muito mais actualização do que a dos vizinhos. Onde a bandeira portuguesa se elevou, o drapejo fazia lembrar mais ordem e respeito nos agregados sociais.
Com lentidão, pois claro, visto a rotura dos milénios, ser labuta de centénios. Contribuíram, profundamente, para o progresso dos que com eles privavam. Enquanto posse de Portugal, mantiveram-se com dignidade e muito menos sacrifício humano.
Sombrio exemplo, sem fim â vista, os rancores, zangas e matadouros que estão a acontecer, dizimando povoados, antes vivendo em pacíficas comunidades. Mais o encargo de contribuir para os auxílios angustiosos dos sobreviventes, sem alimentos e remédios para suster a vida, as doenças e as expectativas de cada momento.
Todos esses novos países estendem a mão à benemerência... E gritam, em voz alta, a quem os condenou ao desnorte e à dúvida, submetidos a forças de várias ideologias, falhas de ferramentas e mão-de-obra para consertar o que fora, ideologicamente, destruído... A ideia, fácil constrói e desbarata. Mas só é, na realidade útil, se anexa ao benefício das necessidades essenciais ao fraco ser humano.
Portugal, a custo, poderá contribuir ao apelo de D. Ximenes Belo, pois nem coordena, para tapar os «buracos» profundos, no seu reduzido território, após o referido e infantil desarranjo nacional. As províncias, lá se foram, entregues ao romanesco de canções e liberdade.
O rectângulo hispânico, ferido e magoado pelo desconforto da perda dos apoios, moldados e trazidos com os sacrifícios a desbravar os mares tenebrosos, alumiando o Mundo, sentiu a responsabilidade acrescida, de D. Afonso Henriques, em 1143, pelo tratado de Zamora. Estava só, sem bafo de simpatia, procurando sustentáculo para defender a nacionalidade.
O nosso primeiro Rei, analfabeto, instruído pela experiência, medindo responsabilidades, tinha a percepção de que ganhara a coroa no campo da luta, mas não vencera as contrariedades inevitáveis de gerir e segurar o futuro. Ao exército que comandava, juntou a força da marinha e nomeou Almirante, D. Fuas Roupinho. Fortalecer sempre, mais e melhor, para firmar o direito e a razão do trono para que arriscara vida e haveres, desoprimido para dirigir o seu destino.
Portugal, ainda sob os tremores da insubordinação de 1974, aos seus olhos maravilhados, as duas Regiões Autónomas – Açores e Madeira - cresceram de tamanho e valor estratégico. Era o que lhe restava e o que mais tarde se fina – a Esperança. Seriam os quatro – Continente, Açores, Madeira e Esperança - em abraço fraterno, a usufruir da riqueza periclitante disponível. Com juízo, a Nação, mesmo truncada, responderia ao apelo dos heróis que a fundaram e defenderam. O analfabetismo, quando consciente, do acabado de deduzir, valeu muito mais que doutoramentos, sob pressão idearia, de ídolos fracassados.
Não havendo escolha, o futuro pareceu mais prometedor. Tábuas, mesmo não pregadas, também servem para salvar…
Boa previsão, necessita espírito limpo… Muito limpo.
Até próximo.

Nº 61 RASTOS...

Por enquanto, não temos outra saída, nestas crónicas, se não deambular pelos noticiários do último quarto do Século XX e respigar um ou outro pormenor, acendedor de omissões levadas pelo tempo, ou moídas no embrulho das conveniências de ocasião, a modo de as triturar e resvalá-las para o poço do esquecimento.
Há sempre um acomodado, desejoso de passar a esponja em actos menos felizes, para não ressurgir relembrança, mexeriqueira a afectar a rotina amorfa a mudanças nas barbas do tempo e pacata no desconceito, para rebater maçadorias de julgar a hibernação, ou a pena caducada. O que a memória dilui, por muito asseio no desuso sem progresso, sempre deixa fagulha a acender, por bafejo da verdade teimosa da História.
Estes nossos sopros nas centelhas do antepassado, não acendem fogueira destrutiva da instalação oficializada. É só acrescento do oxigénio, à lareira das cavernas, do homem pré histórico. Alguma luz pode vir a dar, na análise dos compostos que se desbaratam nas cinzas. Nunca se pode antever, quando aparece a teimosia certificar êxitos ou perdas na procura da realidade, para abrir janela ou portal, às operações fisionómicas, até chegar ao presente.
O homem disponibiliza ciência e técnica, mas debate o preço. A ideia, dispensada de custos, avança muito mais veloz, não tem estação de paragem até ao além, nem manuseia tabuada para fazer contas. O humano, qual frango, a treinar para galo, quer desforra. Os reinos animal e vegetal, dependentes da constituição lenta das células nas três dimensões, crescem na superfície limitada, para dar continuidade à vida; o reino mineral, inerte, movimenta-se graças aos gatos-pingados que o desenterram… aos artistas que o moldam… a à moeda que o paga…
O animal, separado dos outros, com o fito de só deferir o que lhe dá lucro, faz-se amigo dos três reinos, para sobreviver. Nenhum se lhe opõe. Pedem, somente, em rugidos, grasnos, pios, sibilos e mais sons da Natureza, um pouco de auxílio. O Homem, sem soluções, agrada-se da contra proposta. Entrega-se ao trabalho, resvés com o preciso. Até distrai.
A ambição, matreira, propõe-se facilitar os ganhos. Contentou o corpo, a primeira vez, só por momentos. Mas melhorou.
Os incómodos das frágeis constituições humanas, exigiram mudanças nos desafios contra a rudeza dos elementos. O trabalho, obrigou-se a desdobrar especialidades para a missão tomada, de manter a vida, nos reinos dos animais e das plantas e permitindo mobilidade ao mineral. Ficou assente. Esforço. Suor do rosto.
Cá estamos nós, outra vez, como timoneiro fora do rumo.. . Uma volta tão grande, para dizer, simplesmente, que o humano umas vezes faz bem e outras, repete o mal. O aparentemente entendido ou feito, deixa amiúde, alguma coisa por completar. A experiência da juventude, quando ainda dentro dos moldes da fundição, na tomada de forma, perante a opção de decisões, aproxima-se dos pareceres bifurcados, prestáveis a acompanhar a cantilena em moda.. Aí, aguarda o que irá ditar, no momento emocional, calhando ou não, na cadeia de argumentos.
Deixemos às transcrições da nossa Comunicação Social, as respostas adequadas aos raciocínios perturbados, do ser importante.
Jornal AÇORES, de 8-01-1976: - O Ministro dos Negócios Estrangeiros, não tomou posição, pela passagem nos Açores, de aviões cubanos transportando material de guerra para Angola e Guiné Bissau.
A nossa observação será de que se não deveriam contrariar os planos do senhor vice almirante, correligionário, ou alto representante na gávea da vigilância ou do comando de operações… Quem manda…manda…
Jornal AÇORES, de 10-01-1976: - O General Spínola, apesar do balancé no reviralho, sofreu o desdouro de sair de Madrid, a convite da polícia espanhola. A Espanha, - e não nos abalançamos a saber quem mais… - deixou de acreditar em «falas mansas», em galões e estrelas nos ombros dos militares portugueses. Injustamente, verdade se some.
Jornal AÇORES, de 11-01-1976: - Os aviões cubanos, desviaram-se de pousar em Santa Maria, por pressão dos Estados Unidos.
Abusiva contracurva, aos planos do vice-almirante… Tanto esforço para um exército estrangeiro vir matar portugueses, de qualquer sexo, profissão e idade e os Estados Unidos terem a… insolência de lhe transgredir a estratégia… era para o ditador, técnico e comandante ficar zangado…
Jornal CORREIO DOS AÇORES, de 29-11-2005: - Timor 30 anos depois. Em letras gradas, ou título: INDEPENDÊNCIA FOI UMA UTOPIA, diz Bispo D. Ximenes Belo. Correspondia à realidade.
Mas o produto vendido pela comunicação social, ao povo atónito português, nos anos que se seguiram a 1974, era mais um «heroísmo»... a Independência de Timor.
D. Ximenes Belo acrescenta: Não havia embaixadores, não havia constituição – a Constituição da FRETILIM, tinha sido congelada – não havia órgãos de soberania, por isso, aqueles quase 24 anos, foram um interregno em que apenas havia uma nação e um povo timorense que lutava pela independência. ... a proclamação unilateral de independência de Timor-Leste, a 28 de Novembro de 1975, não foi reconhecida por Portugal, nem pelas Nações Unidas, o que só viria a acontecer a 20 de Maio de 2002, depois do referendo organizado pelas Nações Unidas…...
................ Já adquirimos a liberdade e a independência, mas a independência não é tudo. Agora precisamos de verdadeiro desenvolvimento..........os timorenses são livres, politicamente, mas dependentes culturalmente, economicamente e de outros factores.
Este desabafo do Bispo de Timor, é uma prece, tendente esquecer a pecadores. Ou pedido de auxílio, de quem tem rebanho para sustentar. Não se dirige ao ALTO, como seria compreensível, mas aos Homens. Os que abandonaram os timorenses à sua sorte em 1976, em flagrante erro de senso de menor idade e aos actuais, que queiram e possam trabalhar no estaleiro da recuperação.
Os contados homens/ rapaz que se candidataram a donos de Portugal, ordenando o abandono de Timor, Guiné e Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, atribuindo a todos a mesma fasquia na doação, com a caricata autoridade na «boca» das espingardas, diz bem da verdura dos negociadores. Foi habilidade brincalhona, de pegar ou largar. O leilão, estava repartido, antes do começo...
Timor, é a confirmação, expostos os documentos da época, em 2005. Há visos de cinematógrafo. Do cómico que arranja emprêgo e recebe instruções do patrão para o cliente sempre adquirir mercadoria. Um presumível comprador aparece, mas sem entusiasmo no que encontrou. Então o cómico «esperto», às escondidas, carregou na carrinha o que o freguês recusara. Esfregou as mãos de satisfeito. Entristeceu, quando lhe perguntaram onde estava o pagamento...
Jocoso seria, se a realidade não representasse vexame à História de Portugal. Do Portugal esforçado, com novecentos anos… O não reconhecimento do estróina ... ao pai honesto e financiador... A fábula do Leão, aprontado para se finar e a dor da poltronice da «pata asinina», habituada a cadenciar passada na obediência ao trabalho, ou medricas a galope apressado , que golpeia por deficiência de valentia …
Coragem… não é tagarela…
Até para a semana.