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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 39 DO EXÉRCITO...

Pomo-nos a pensar, se o exército terá nascido para atacar, se para defender. A primeira rixa, aconteceu por um se ter atrevido a atirar o punho fechado à cara do outro que, rindo dos símios impulsivos, ripostou, usando igual método . Um, não faz regra, dois também não, bando sugere cautela. Precaver, inspira preparo para «o que der e vier».
Salteadores de intenções enviesadas, obrigaram à formação de grupos prontos, para socorro. De emenda em emenda, de presença ocasional a permanente, que os atacantes não marcam hora, a organização militar amoldou-se para ficar de guarda. Não para atacar... mas ...para impor presença e «proteger».
Da forma atabalhoada, ao aprumo uniforme, assim se organizou o exército romano, predisposto, para maior seguro, de marchar... e não mais facilitar paragem...
O sustento de gente pronta a defender, tem o seu custo, desgasta mantimentos da grei. Correspondendo as produções dos terrenos cultivados, aos alimentos dos necessitados de protecção, a manutenção dos defensores necessitava de contributos estranhos para repor a falta. Por esse forte motivo, a ... marcha do exército teria de atingir as propriedades do invasor e de lá vir sobrecarregado com a pilhagem do que fosse encontrado a mais nas ruas, nos celeiros, nas casas. Daí, o moto contínuo do exército romano de produzir em casa e nas regiões por onde passava, dar ensino de gramática e retórica, transmitir usos e costumes, expandir o latim, codificar leis para que o seu parecer fosse o luzeiro que iluminasse a Europa, sob uma só administração – Roma.
O objectivo não chegou a completar-se. A arte de governar, aos solavancos, passou pela impotência, pela incapacidade, pela volúpia, pelo partidarismo apadrinhador e inconstante, pela prole dinástica, pelos salões majestosos a ressoar música, dança e brejeirices, por encontros amistosos ou de amanhos de ocasião, de recontros de «ferir lume», enfim ... por todas as fraquezas do género humano que se imiscuem na governação de qualquer país ou entidade privada.
E repetimos, pois não representará falta grave, reavivar o que Homens inteligentes e bem intencionados, tudo tentaram para unir e, até certo ponto, uniformizar comportamentos mais educados, na Europa retalhada e desavinda:
Carlos Magno ( 742-814 ), coroado Imperador do Ocidente, em 800, pelo Papa Leão III, renovou a União Europeia, conquanto por pouco tempo, pois os filhos dispersaram a autoridade e tudo regressou ao cada qual por si.
Apareceram idealistas, já mencionados em anterior crónica, o Rei da Boémia, Jorge de Podiebrady (1420-1471), Henrique VI, Rei de França (1553-1610), o Abade de S. Pedro (1658-1743), seguindo-se Napoleão Bonaparte (1769-1821), o mais famoso, que soçobrou na Batalha de Waterloo, em 1815.
Depois da guerra de 1914, o receio de novo conflito, fez nomear o Conde austríaco Coudenhove- Kalergi, Chefe ou Director do Movimento Pan Europeu, para deambular pelas Chancelarias, afim de apagar lumes acesos pelos chamados biliosos e intempestivos, mas que afinal eram os dirigentes que mais dificuldades sentiam nos seus países, para regularizar as finanças e a economia para o bem estar dos cidadãos.
O Ministro dos Negócios estrangeiros francês, Aristide Brian estabeleceu um projecto, em 1929 e 1930 e submeteu-o à falecida e enterrada, Sociedade das Nações, assim como aos governos Europeus. De certeza, foi lida, decifrada e entendida no conteúdo. A deliberação nunca foi publicada. Quanto a nós, justificado o emudecimento.
Cada Nação, nessa altura e já antes, afligia-se com questões internas e olhava as outras com dúvidas e receios. Quem arriscaria o quê, o quanto, o como, sem esperança de solução garantida e para durar ? A concordância agradaria o presente, mas responsabilizaria as decisões imprevisíveis do futuro. Pode-se viver bem, sem ser rico. Está no saber administrar. Na Europa, algumas nações viviam bem, mas não possuíam rendimento para alimentar o seu povo e outro ou outros ao mesmo nível.
Uma força surgiu, «sim ou sopas». Hitler pavoneou a solução na ideia... na sua ideia... Acreditou no exército... no seu exército... apetrechado com o que de mais moderno houvesse.
E, não só... mas também na modorra em que se movimentava a França e a Inglaterra, entregues à fidelidade das assinaturas do tratado de Versalhes, que terminou a guerra em 1918 e assinado em 1920. Aliás, é o que acontece após o regozijo das vitórias e a volta à rotina do que parece seguro. Paz.. paz com pouca despesa nos meios defensivos...paz que proteja o sono dos justos.
Não estava no segredo das nações que os exércitos da Inglaterra e França, existiam para «inglês ver», o mais económico possível, quase desnecessários por não se conjecturar, sequer, inimigo notado e com coragem de desafiar a paz, que nunca... nunca mais... sofreria afronta e beliscadura. Ideia latente, que entorpece e burla o intelecto, durante a tranquilidade pública, estabelecida para o «eterno»... mas que nada vale, perante outra ideia menos caritativa...
O exército pertence ao povo, defende o povo, é pago pelo povo. E é necessário, enquanto persistir a utopia do idealismo, de haver proveitos que o todos cheguem com pleno agrado. Mas no esbanjo em excesso, alguém fica lesado...
Hitler, era pintor, entusiasta no benefício aos concidadãos, rejeitando as suas carências académicas e de experiência prática. Confundiu verbosidade com o saber. Falho de instrução aprofundada, de técnica financeira rigorosa, de perícia e visão militar e de psicologia obcecada no carrilhão dos sinos das vitórias, errou o alvo, reduzindo a cinzas obras pertencentes à humanidade e construções auxiliares do trabalho.
A preparação intelectual, não aperfeiçoada de Hitler, todavia, é semelhante à da maior parte dos actuais pretendentes à administração das nações. De nada serve, falarem mal dele. Pouca gente diz gostar de Hitler, mas é aceite a governança de associações de hitlers mais pequenos, alguns disfarçados com barba hirsuta, a esconder a face e outros, mais à vontade, só raparam o bigode revelador... para nenhum sinal ficasse a iniciar desconfianças. Assim, só quem os sabe ouvir, os pode identificar...
Estes últimos anos e as consequências que se observam a olho nu, não alimentam grande esperança. A ausência do que instrui e do que educa, resulta fealdade... O futuro não se apresenta bonito...
Depois da II Grande Guerra, Winston Churchill, também apostou na União Europeia, em 1946. A grande convulsão, terminada no ano anterior, ainda retinia nos cinco sentidos e na consciência do Mundo. Todas as achegas para evitar repetição, eram bem vindas. Churchill, deu o que lhe ocorreu, ainda a refazer-se do esforço memorável à frente do Governo Britânico.
Em 1949, foi criado o Conselho da Europa Ocidental, pois a Oriental, tinha movimentação própria, no Comitern.
Com vista à paz, recuperação económica e fortalecimento das energias destruídas, emergem, não uma, mas duas facções - meia Europa no Leste, meia Europa no Oeste. Ambas ricas de ideias, sobretudo a primeira, mas pobres no vestir, na residência e no alimento. O Plano Marchal, ( 1947), uma espécie de «saco azul americano», correu a ajudar a segunda, não fossem as duas morrer abraçadas, a carpir o infortúnio.
A Europa do Ocidente, refez-se, progrediu, encheu-se.
A ciência e a técnica, evoluíram de forma extraordinária, mas desprovidos de alma, para raciocínio sociológico, deixaram a «esperteza» humana resolver.
A administração racionalizada, foi substituída por opções estabelecidas em colóquios de vinco parcial. A medida não estava no fiel da balança, pois bastava um prato, onde foram colocados os ordenamentos do caudilho. A ideia, feita balão para ser notada e livre para servir de madrinha, baptizava o prato já abaixado.
O prato da balança, dispensado por se não ter ajustado à ideia, no momento de aparecer a pedir a sua parte, atrapalhou as contas. O desequilíbrio, bateu à porta das gerências.
A ideia que ficou, desapontada com o insucesso, porém sôfrega de receber mais ajudas, conformou-se a considerar riqueza de onde espera receber auxílio. Bazófia. O futuro virá pedir o seu quinhão, mais os juros, feridos nas perdas e a exercer danos, ofensas e trabalhos acrescentados. A tranquilidade não se reduz a um momento. Reclama recompensa em amarguras... quer sejam já curadas... actuais, ou ...quando vierem a surgir, não previstas, no lema de afastar dissabores antes de acontecerem.
Apaziguar, com promessas poetizadas, aquilo que anima o Homem, é desarmá-lo para as contingências, positivas ou negativas que, inevitavelmente o virão confrontar, aumentando-lhe a dor na fragilidade.
O proveito, legítimo e fiável, não é porque é. É viril. Necessita defesa. Não de estranhos, atentos às suas responsabilidades e aos descuidos dos negligentes ou parasitas, fáceis de «engolir». Cada Nação afiance, com os próprios recursos, o direito de estar nas condições de independente.