Nº 30 ILHA ... ILHAS...
Dicionário define : Porção de terra cercada de água por todos os lados. Grupo de casas isoladas das outras habitações.INSULAR, o mesmo Dicionário, escreve: Tornar semelhante a uma ilha. Tornar solitário. Isolar
O somatório das palavras das duas definições, resume os vocábulos: SÓ, ou DISTANTE.
Depreende-se, portanto, a livre separação dos exemplares das espécies em escalões, para acomodar quantidades.
O Globo Terrestre, com as entranhas em brasa, formado cadinho a fundir a matéria envolvente, acumulava gases mal contidos, que em cenários fantasmagóricos de clarões e farrapos de matéria incandescente , expeliram os magmas em ebulição, ao acaso, por assopros e escapes de explosões internas que, no exterior, embaralharam rotinas e engenhos . O mar recebeu e solidificou a enxurrada pastosa e espessa que caía dos céus em chamas reluzentes e foi formando espaços resistentes acima das águas, para receber habitantes, sem bitola de máximos nem de mínimos.
O primeiro grande Almirante, proposto por vestígios diluvianos e distinguido pela tradição - o bíblico Noé - no portaló da sua barca, ao despedir-se da tripulação e passageiros, uma mão a segurar o braço contrário, com a outra, de punho fechado, bamboleando de enfado, apontava à UNIDADE, ou grupo de uns poucos, pequenos lotes de terra, demarcados pelo mar, ou ILHAS. Para números mais subidos, que se dá o epíteto de maioria, ou maior parte, ou ... melhor quinhão, de mão aberta, com os cinco dedos a apontar direcções ao gosto, apartou-os pelas superfícies mais amplas, que se vieram a denominar nas cartas geográficas de CONTINENTES.
Em pratos de balança, o fiel, empertiga-se na vertical, para ILHAS e INSULAR. Se colocados estes dois num lado e no outro CONTINENTE, todo o peso desliza para o último.
Longe de nós a ideia de ensinar, o que os olhos reparam.
O nosso intento é singelo, natural. Simples agitar o sentido da memória para a realidade ou para a versão
ILHA, ocupa limite territorial. Alimento, é consumo diário. Essencial que em todas as sequências de 24 horas, devam estar em germinação, produtos para atender à vida. Delongas, são vésperas de carestias. Esperar para ver, nem aos cegos dá cura.
ILHAS, sem subsolo rico que concorra para abastecer a mesa familiar, o cultivo dos terrenos onde nascem os ingredientes que cozinham pão e sopa, deverá decorrer num seguimento regularizado, de interrupções exclusivas às estações anuais. Grandes e pequenos. Liberdade, afasta negligência. Que o Arquipélago o saiba entender.
Viver em ILHAS, carrega o sentido de responsabilidade; aprofunda estados afectivos; arrosta as ciladas das condições atmosféricas; experimenta tristeza aos julgadores petulantes para cobiçosos; reveste armadura para resistir às surpresas e desentendimentos de quem manda, perto ou afastado; ama o seu «torrão» e a chave da casa onde mora.
Há a circunstância da missão do intelecto, miríades de vezes intervir a cooperar, quando o corpo sofre o arrojo de resolver dificuldades, na incessante actividade do aperfeiçoamento para atingir a escapatória da salvação , onde a nascença clama por contributos.
A procura de regalias em espaços alargados, onde o físico e o intelecto encontram acessíveis variedades de funções, o sulco migratório mantém refúgio para uns tantos, mas os bens em disputa pelo trabalho, tendem a encolher pelo desenfreio da técnica a diminuir a presença do braço humano.
Apesar de tudo, ILHA, é um Mundo... Muitas Ilhas são muitos Mundos... o Açores são nove Mundos...
Em cada ILHA, os problemas do Mundo, acontecem na proporcionalidade da sua dimensão. Esses contados habitantes, avaliam com critério e sensatez, as questões, normais ou complexas que dão cuidado nas grandes nações e nos continentes. São semelhantes, as sensações de alegria ou tristeza, às dos que vivem distantes. Nenhuma circunstância estorva a sensibilidade, nem o raciocínio do ILHEU, perante o afastamento, por influência do mar. Nem o horizonte é tampa ou vedação intransponível.
O toque das emoções e da ingenuidade, ainda caracterizam o Homem que nasce e vive, rodeado das marés atempadas e dos ciclones desordenados e traiçoeiros.
Em ILHAS, se tratam os serviços agrícolas, se abrem estradas, se confere a Lei, se constróem moradias, escolas, salas de convívio, estabelecimentos para comércio, casas de oração. Ali se resigna a estreiteza da distância, mas não o do arbítrio universal. Ali, o ajuste robustece e serena a inteligência. Ali, os corações prendem o amor. ILHA, é, em verdade, um Mundo.
Dizia-nos, o saudoso Cónego Jacinto da Costa Almeida, natural de Ribeirinha, em S. Miguel, onde repousa, muitos anos Perfeito no Seminário de Angra do Heroísmo, que dos alunos que conheceu, os mais saudosos da sua terra, eram os que chegavam do Corvo. É isso que honra o ser Ilhéu. O altruísmo das origens, vem da alma, isenta da matéria, mas abrange o primeiro pó que enfarinhou os nossos pés.



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