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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 36 ...DA HERANÇA

Nos Séculos XVI e XVII, a Europa ardia em crenças e armava quezílias para distinguir Deus. Não foi período anormal de discórdias e sobressaltos. Desde sempre, as hostilidades, faziam parte dos passatempos dos Administradores, Reis ou Reinos, que pressionavam os vassalos – que sempre os houve na sala de refeições e na pedincha dos aflitos- e estes, a arraia miúda, estimulada à dança das modinhas dos detentores da bengala do mando. A sucessão de irreverências, por caprichos e orgulhos, entre algumas causas sensatas, demorou o suficiente, para se entranhar em todos os meandros e enraizar como folclore de efeito representativo.
A ciência, a técnica, as artes, atribuem-lhe a expressão de superior gabarito, da novidade da invenção, do trabalho facilitado, e adiantam-na em variados aspectos. Foi a Europa que descobriu e deu luzes mais brilhantes aos outros mundos. Assim, viveu o velho Mundo, a dar aos outros o seu saber, a sua experiência, os seus olhos.
Caprichosa para manter palavra, a Europa batia – e ainda bate - o pé na elegância de varina com o peixe numa mão, o valor de venda na outra, cantando o anúncio plangente ao freguês que passa. Não mudou. Os pescados, também não, para serem suficientes aos aumentos populacionais. Os sons de saxofone baixo, boca fora, é que ferem a delicadeza. Mau fado, que a disciplina, nunca tivesse sido o seu forte.
Pensa que tem «mundos e fundos», para dar, vender e muito lhe restar para fato janota, mesa ao gosto, teatro a toda a hora, passeio digestivo ou de recreio. Cremos atribuir culpas à técnica, ofertando em ritmo constante, as delícias de fáceis deslocações, diminuição do esforço, máquinas a multiplicar artigos, dispensando músculo e suor, bem estar mais fácil, de menor custo e mais à mão.
A fartura, negligencia a cautela de prever despesas para compromissos a cumprir de pronto. O pregão de antiguidade ser um posto mais elevado, merecedor de vénias e continências, de tão repetido, sai roufenho e dissonante.
As ajudas recebidas após o conflito maior – 1939-1945- activado por desforra e poupança de cláusulas de paz, terminado com a imolação de dezenas de milhões de homens e fuga de outra qualidade de milhões dos erários públicos, destinados ao bem dos povos, prolongaram o sonho de grandeza, extensivo ao atletismo no jogo do poder.
Estar presente, assistir e entender o estado lastimoso da Europa queimada e em ruínas, arrepiava os corpos, surpreendia fantasmas, causava medo, constrangendo a dobrar os joelhos para o pior, vertendo lágrimas ao pessimismo. A aridez, silenciava a esperança. Os edifícios jaziam entre pedras soltas e queimadas, as pessoas, deambulavam à procura de côdea, como alimento e manta para abrigo.
De repente, ouviu-se o tilintar de moedas para o ressurgimento. Os sinos da esperança reanimaram os ânimos e retemperaram a fé no futuro
Saltar do desespero, num ápice, para a confiança no reboliço da vida, dá o aspecto, ou a sensação de que nada de mau existiu, foi pesadelo de estômago demasiado farto. Afinal, bailar ao canto do optimismo, é a profissão desejada.... O que parecia complicado e inacessível, não passava de mera ilusão do momento... Tudo resolvido e sem promessas imediatas, nem juros a pagar...
Deixa o distintivo indelével de que o recebido, resulta de merecimento próprio e, neste caso, quem deu é porque devia e não fez mais que cumprir determinações jurídicas.
Isto que se acaba de escrever, não veio publicado nos Órgãos Comunicadores, mas consta da opinião abalizada de quem recebe sem exercer trabalho, nem estender a mão a balbuciar agradecimento.
O que se deu, em realidade, de uma forma geral, resultou na recuperação dos países da Europa, mais beneficiados.
Acalmado o Homem que trabalha, essas verbas caídas do céu, da evolução que se espreitava - equilíbrio dos deveres e direitos e não dos direitos de mandar e obter- passaram para valorizar o «voto» de «grupos», de repente feitos administradores, uns com pistola e espada para assinar, outros com o verbo para convencer. Ambos sem escola, a determinar funções, nem prática a calcular rendimentos.
No arrepelar do Plano Marchal, valores manifestos resultaram benéficos aos povos servidos, mas a distribuição do remanescente, espalhou-se pelos pontos cardeais dos partidos mais sorteados.
Como «partidos» é «parte», ficaram sempre abertas por preencher e, em especial, as provisões da maioria, encabrestada a ver passar a procissão do amadorismo administrativo.
Rendimento, é a parcela que dá confiança, mais trabalhosa de administrar. Distinguir a primazia para onde deve ser canalizado o que sobra, dos contributos do povo, para o povo, livre de descontos, se para indivíduo, se para comunidade, se guardar para eventualidades inesperadas, ou que percentagem deve ser conjecturada para outras obras rentáveis, se parcelar em tempo ou oportunidade.... Se...
Ele há tantos SES, que os bons administradores – e não são muitos os mais capazes -, têm de resolver, com bastante meditação e esforço, para alcançar resultados positivos....
Os mesmos SES, nos cérebros de aprendizes ou grupos de ideias combinadas, são decididos por subjugação a programas pré estabelecidos... discrepantes... dedicados a oferendas troca voto... alheios a contas da verdade. E esta –a verdade- entristecida por não chegar a todos com a igual ambição da alma humana...
Europa nossa... minha Europa... toma tino...
Administrar a Coisa Pública... é tão complicado...
Suspende a actual sementeira de ódio que te está a desfalcar os bens... o optimismo... e as forças que te restam, para amenizar a vida dos cidadãos...