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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

26 de dezembro de 2005

Nº 23 ORDEM...

A predisposição intelectual humana, desemaranha o enredo e limpa a barafunda. Quer ordem.
A resistência, porém, é pouca. Afadiga-se depressa.
O médio solvente mental, que a Natureza distribuiu por cada cérebro, depressa se satura com pingos de direitos e deveres. A saturação, inverte a corrente e a ORDEM intencionada, esborracha-se em linfatismo de moleza doentia. Cai na negligência, adopta a preguiça.
A ORDEM, dêem-se outras voltas ou piruetas para acertar e o reencontro encabeça sempre no mesmo: - método. O dicionário escreve: «Tranquilidade resultante da submissão às leis». Este é o princípio, o meio e o fim de qualquer cabeça civilizada. Simples.
ORDEM, contudo, nega muito do que afirma. Pede simplicidade e exige complicados meios para ser executada. Aconselha facilidades, mas para valer prática e prestígio, determina obrigações e firmezas. Segue linhas serenas, mas para realizar-se, não dispensa aperfeiçoamentos e atitudes sem pecados mortais. Quer igualdade, mas distingue quem manda e quem obedece. Afirma liberdade, mas decide a um só julgador. Canta loas à independência, mas não perdoa desvios individuais. Diz-se dona da civilização, mas acabrunha-se ante modas e terrores. Aceita pareceres em catadupa, mas não sai da Lei. Evangeliza Paz, mas defende os interesses comuns e ataca intromissões avulsas...
Ordem... é a severidade dócil, a mais chegada ao comedimento humano.
Ordem ...pode, também ser a Natureza Educada. Ou, se quiser subir degraus ... será a ascensão do intelecto a preponderar os dons naturais e a valorizá-los...
A nossa última crónica, referiu o queixume das civilizações e acompanhantes religiões da América, não constarem , a par com as dos restantes continentes, nos manuais de História por nós conhecidos. Tanto mais que tínhamos eleito a civilização INCA, como das melhor organizadas da Idade Moderna. Vamos continuar a mencionar achegas a quem nos tem acompanhado, para justificar a distinção.
Na organização, o «soberano», denominado SAPA INCA, reinava sobre províncias e quatro classes sociais: dirigente, nobreza, povo e escravos. O solo, mais pedra que terrenos aráveis, obrigava controlo rigoroso a tudo quanto fosse produção, para a todos chegar com parcimónia e virtude distributiva.
Homem casado, recebia pedaço de terra, aumentado com o número de filhos, mas era obrigatório mostrar abóboras, feijão e frutos além de estar sempre pronto para o serviço público, que tinha primazia em ser executado
Já vimos que havia diligência e cuidado na agricultura, na cerâmica, no pastoreio de lamas e alpacas.
A ourivesaria atingiu excepcional perfeição. Os metais, especialmente o ouro, que, pelo seu brilho, era consagrado ao Deus Sol e ao representante na Terra, o SAPA INCA, que comia em pratos reluzentes, assim como brilhavam os adereços que lhe pendiam dos lóbulos das orelhas, da faixa real em volta da cabeça, com contas suspensas. Das paredes do palácio real, pendiam tapeçarias e ornamentos de ouro maciço. No jardim anexo, animais, espigas, aves, maçarocas e flores, do mesmo metal nobre, resplandeciam a majestade do seu dono.
Visto não circular dinheiro, o ouro valia como simples ornamento.
A organização social era uniforme e rígida.
Grupos de famílias, formavam os «ayllu», vivendo no mesmo lugar e tratando terrenos colectivos. Estes «ayllu», juntavam-se a vizinhos, nas mesmas condições e completavam províncias, com capital própria, permitindo distintivos especiais no toucado.
As províncias agrupavam-se nas quatro regiões do império, e os respectivos chefes, reuniam-se com o – o SAPA INCA- constituindo o Conselho reinante.
Assim, de CUSCO, a capital do Império, a rede de AUTORIDADE, estendia-se, bem ordenada, a todos os «ayllus», não dando lugar a reparos ou avaliações locais ou partidistas. O SAPA, não se deixava influenciar pelos «ouros» que o rodeavam, que significavam a sua origem divina, que não podia abdicar, mas muito se preocupava com a «sensatez» de governar, em paz, as condições humanas do seu povo.
A classe governante, formada pela nobreza e os chefes das tribos conquistadas que se prestavam a colaborar, não faziam trabalhos manuais, acasalavam com várias esposas, recebiam os víveres do Estado. Boa vida, enquanto as responsabilidades eram cumpridas.
Se, porventura, prevaricavam, cometendo, por exemplo, adultério, a morte era imediatamente executada. O plebeu, em tal falta, sofria torturas, mas podia escapar e viver mais alguns anos. A lei, concebida em conformidade com o solo e clima, era dura, mas começava de cima,
Os artesãos, ceramistas, construtores e metalúrgicos, eram dispensados dos serviços agrícolas. O homem da plebe, era recrutado para o exército, construção de estradas, prospector de ouro nos rios, outros serviços públicos.
Descrever civilizações originadas e desenvolvidas no NOVO MUNDO, com características semelhantes aos VELHOS MUNDOS, conquanto se desconhecessem, mutuamente, é aliciante e instrutivo.
Arriscamos perder leitores, mas propomo-nos continuar.