Nº 18 O INTELECTO EXCLUI OCEANOS
Evidente. O intelecto não é milagreiro. O intelecto, prodigaliza faculdades ao Homem, para as utilizar em acordo com as condições naturais. Liberta os propósitos, concebe os meios, atenta os sentidos, controla as ambições.A imperfeição está, porém, no acto de por o Homem solto, à vontade, um pouco à bruta, antes de chegar a conhecer os paliativos para manter o corpo de pé, tomar o pulso à saúde e coordenar as rédeas ao estudo. Ele já cometeu bastas farrapadas, quando chega a descobrir os carris que deve trilhar. Antes tarde do que nunca... diz a indulgência...
O período indeciso, contudo, rouba demasiados anos aos que a vida permite e que tanta falta vêm a fazer, para acertar princípios e reunir substância válida, guias favoritos ao bem que se deseja proveitoso, vulgar e duradouro.
É esta a evasiva, à falta de termo positivo e adequado, porque iniciativas sem conta, só tardiamente começam a tomar forma... se adiam... adormecem e hibernam a aguardar a retoma, que o acaso, em dia e lugar incertos, transmitirá a outro alguém, para tratar da protecção do bicho- homem.
Outro, ou outros alguéns ... espalhados e solitários, que no rolar dos deveres e amargores, se condoam da fragilidade de recursos para as cada vez mais crescidas insatisfações de segurar a vida.
Assim, de demora em demora, de sorte em sorte, de cabeçada em cabeçada, de meditação em meditação, a molenga Natura, só aos milénios, aos séculos, ou aos anos, permite soluções e acabamentos.
Os retardios, porém, só prejudicam no espaço transitório, pois graças à intromissão do intelecto, até onde o tino alcança, tudo tem a sua ocasião de ser decifrado. Nada o detém. Atreve-se a Ignorar ou desdenhar Continentes. Os movimentos de rotação e translação da Terra, não contam.
Ao intelecto, não lhe dá cuidado as coscuvilhices dos fracassos, trabalha sem interrupção, leve o tempo que levar, falhe o que fique pelo caminho.
Desculpas, ao leitor condescendente, que não serão as últimas. O acerto, flutua entre dúvidas ...
Se servem... amanhemo-nos com tais hipóteses de contentar, sem impor.
Isto vem a propósito de, nesta crónica, irmos escrever «prodígio», ao estudarmos o povo do SAPA ( ou Rei) INCA, do Peru.
Sendo a América descoberta, ao Norte por João Vaz Corte Real, em 1472, a quem o Rei D. João II compensou, doando-lhe metade da Ilha Terceira; ao Centro por Colombo, em 1492, ao serviço da Espanha e ao Sul, por Pedro Álvares Cabral, em 1500, por mando do nosso Rei D. Manuel, interrogamo-nos, como é que, sem contactos com povos de civilização experimentada, foram atingidas, as quase perfeitas organizações política e administrativa, nos confins dos Andes
Num País independente. Com todos os seus sectores, em pleno funcionamento e na paz de submissão a leis!...
O nosso assarapantamento, mexeu-nos com a rosa-dos-ventos, que na sua função roda, mais de uma vez 360 graus, em cada ano, entenda-se o cofre ovalado, em cima dos ombros, onde retemos parte, pois não pode tudo conter, do que vamos tomando conhecimento pela vida fora.
O Continente Americano, apesar do seu tamanho, de Norte a Sul, não fazia parte do globo terrestre, para os habitantes dos outros Continentes até ao Século XV. Se algum marinheiro europeu ou asiático, se meteu pelo mar dentro e lá desembarcou, não consta que tivesse regressado para contar a aventura.
Existem vestígios dos Vikings, - suecos, noruegueses e dinamarqueses - terem começado, no Século VIII, a navegar no mar do Norte e tentado estabelecer postos de pesca ou, quiçá, de alastramento comercial, mas, o vazio de informações concretas, fica-se por suposições, sobre o território americano. Os «restos» da passagem de vida trabalhosa, deixam marca, mas não detalham nem explicam o sucedido, para que os historiadores o descrevam, não como aparência, mas certezas assentes.
Assombroso!...
Palavra que tem o sinónimo de pasmo que se entretém com pasmaceira, com quem não gostamos de abancar. Por isso, continuemos.
Ficamos, na realidade, à primeira vista, surpresos ou «assombrados», que, no Continente das duas Américas, sendo para o resto do Mundo, até ao Século XV, uma suposição de território por descobrir... uma ILHA errante além horizonte... ou a Atlântida do poeta Homero, que ainda se não sabe se descrevia temas reais, ou fertilizava versos com descrições imaginativas. O que consta na História, todavia, é que várias civilizações modelo medraram, parecidas em normas e processos, das milenárias europeia e asiáticas, adaptando a Ordem, com método e promovendo a Lei e o seu cumprimento.
Na aparência desprovido de condições, mas foi no país mais estreito e comprido do Mundo, abrangendo a cordilheira que beija o Oceano Pacífico, maciço de altas, rochosas e agrestes montanhas, serpenteadas de socalcos, desfiladeiros, precipícios, de sopé enfeitado de terra arável, brotou e se desenvolveu uma população com os quesitos de cultura civilizada.
Os deveres e direitos, distinguidos e confiados a todo o componente social, com igualização respeitosa. Postas de parte excepções aos modelos regulamentados. Arte indígena, com traços particulares a uma imaginação a querer troçar dos costumes, mas hábil e criativa.... Engenharia, de perfeição regional, parecida à dos outros continentes, nos fins de utilidade e segurança... O «alfabeto» a caminho de ser descoberto...
Todos estes mistérios podem assombrar, mas não deter argumentos acessíveis à condição humana.
Compete a quem se intromete a desvendá-los, a obrigação de debruçar a paciência à procura de livros onde buscar respostas tanto quanto possível, exactas. Aprender, está no compromisso da escrita, ao serviço de quem lê.



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