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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

16 de junho de 2008

Nº 169 A SATURAÇÃO DO HERÓICO… O RASTEJO DO IMAGINÁRIO…A QUEDA DA IDEALIDADE…

A interrupção, momentânea que seja, do quotidiano e dos costumes maquinais, dá lugar a esquema alternativo repentista, de sentido oposto ao até então aprovado ao interesse da comunidade construtora das relações mais repetitivas e concordes. Estas, foram-se preponderando no decorrer da convivência, vindo a moldar os preceitos moderadores do relacionamento das populações com a autoridade a quem incumbe deslindar a ambiguidade e promover a justiça.

As operações do racional, porque aprendeu a utilizar a matéria e construir o magnificente, circundam-se no gerador da instalação neurótica.

Por se configurar a uma « máquina», se bem que de origem Natural, nem por isso está isento de avarias, semelhantes às fabricadas pela mão do Homem, com centro energético na turbina que fricciona o poder de transmissão das ondas auditivas e dos raios de claridade, que alumiam a sensatez.

Portugal nasceu, como todos os disseminados no Globo Terrestre.

Agrupamentos atraídos por simpatias parentais, de raça ou, por instinto, e tornar maior a força para escapar à morte.

Continuar vivo, está dentro do ânimo de todo o animal que se alimenta e reproduz, na teima de ver a espécie renascida. Para tanto, derivou uma série de energias suplementares interiores, resistentes às falhas ou desgastes de tudo quanto é luta e resistência. A coragem, a dignidade, a valentia, o optimismo, o próprio amor carnal que assegura a sociabilidade, em simultâneo com a progresso da civilização, têm salvo, até hoje, as espécies e ajudado o desenvolvimento da ciência e da técnica, sendo no presente, as escoras principais do «humano» que ambiciona alternar-se ao poder da Natureza.

A História do Portugal apertado entre fronteira definida e cimentada com sangue, suor e valentia, descreve a mudança da opção, de empregar os seus recursos, ao mar assustador de mistérios, mas possível oferente de praias distantes, trazendo para a igualdade humana, o escondido em selvas desconhecidas, abrigo de gentes envoltas no obscurantismo.

O êxito das Descobertas, estendidos os lucros a todos os continentes pelos tempos fora, dependeu do PIB nacional. Os PIBs das outras Nações, subiram nos negócios. O português, todavia, ficou mais magro … Hoje, pungente mágoa, parece que o encolhimento desnaturado das Províncias Ultramarinas, diminuindo o tamanho do território e da população, também cerceou o valor da alma do nosso POVO, arrebanhando-o para actos contrários aos fundados em 1139.

O surgimento emigratório para as regiões recém trazidas para a civilização, na obtenção fácil de produtos prontos ao comércio, enquanto libertava os escondidos ou enclausurados na selva bravia, inóspita e ignara, não preenchia os vazios nos serviços agrícolas, onde se baseava o enriquecimento colectivo na época. A agricultura, sendo a base da vida, também o é para a independência da Nação, ou daquelas que se querem libertas de conflitos.

O frente a frente desconcertante, entre o incipiente modelo do que deveria atingir a civilização e o atarantado pelos tiros da pólvora, inventada pelos chineses, pelos inícios da nossa era – a grande novidade da Idade Média, inaugurada, mil anos depois, ao serviço da guerra, em 1346, na batalha de Crecy, matando, ingleses contra franceses - sem a faísca do «bronze ou ferro, contra o ferro ou o bronze», deu ensejo ao Heróico, presente nas proas intemeratas das velas com a Cruz de Cristo.

Desde que os Homens se desavieram em brigas corpo a corpo, passando por Crecy, o «heróico» sempre fez parte da sustentabilidade dos povos, aproveitando-se de somar o rendimento para poder levantar a bandeira da independência. E, nisso, os Portugueses sempre sofreram períodos de guerra, da cruel fratricida, ao confronto aberto ao estrangeiro, pressuroso em os subjugar. De suma importância, a sobre eminência dos actos heróicos, para cada ocasião crucial. Não têm conta, podendo-se, todavia, fazer menção de alguns:

« Os cercos de Lisboa, em 1147, vitorioso para D. Afonso Henriques, com ajuda de Cruzados e o de 1385, o povo Português, contra o Rei de Castela;

os Cercos de Diu em 1538 e 1546, defendidos por António da Silveira, o primeiro, contra os investidores turcos e o segundo por D. João de Mascarenhas; o cerco de Goa, em 1570, sob o comando de D. Luiz de Athayde; a batalha de Matapan, em 1717, vencida contra ao Turcos, sob o Comando do Português Lopo Furtado de Mendonça; o cerco de Malaca- 1641, onde o governador, Manuel de Sousa Coutinho, deu exemplo à «idealidade de 1974/75» de identificar a «fuga ou abandono» como propostas a… condecorações; do cerco de Porto – 1828, vitória dos Liberais; do 9 de Abril de 1918 nos campos da Flandres, na Primeira Guerra Mundial.

O «heroísmo», é o preço, para o resgate da independência… Deixar esmorecer o Heróico, é perder o direito à liberdade…

Nesta amálgama de triunfos heróicos, um só, constou de negativo ao prestígio de Portugal – o de Malaca… Mas quantos actos individuais se expandiram no Mundo já conhecido e no que os Portugueses trouxeram à associabilidade do «Humano consciente dos perigos que corre para manter a faculdade de se governar um a um, ou no formato Pátria? Cremos que tantos foram, que resultou na «saturação do acto Heróico nos Séculos XX e XXI.

O valor, a coragem, a previsão dos futuros ramificados no fantasioso, abastardaram-se a pequenos feitos, para cristalizar o saturado…

Nos Séculos XVI a XIX, o imaginário da perfeição, induziu à inteligência consciente, a pesquisa do sentido real da Paz. A filosofia rondou os seus tempos áureos, nas obras dos Homens que repuxaram a ciência grega, adiantando-a para os dois milénios seguintes.

Acresceram-se aos gregos, tratados animosos, da lealdade vencer o receio. Apesar das muitas cautelas, porém, a falta do PIB poder abastar e acender calor às lareiras, fechou a alumiação do senso. Porque o primeiro tapume se situa antes da angústia do aparelho digestivo.

O ilusório ainda voou a meia altura, para ser visto de baixo e parecer maior que a sua grandeza. Mas, depois rastejou para não sucumbir, acabando por arfar exausto, incapaz de sustentar a sinceridade ou a dedicação, confiantes no compromisso.

A evidência, pôs à margem, o «Heróico e o Imaginário», tendo a Idealidade, brusca e eneanguentada de 1789, tomado o «comando da solução social emergente do retorno à Idade Média, na França de Carlos Magno e Luís XIV.

Os «enciclopedistas» na sua elevada cultura intelectual e expressão de evitar o funesto, publicaram ideias e pensamentos que, reunidos por outras inteligências viradas para soluções de menos arabescos e discussões, embandeiraram o triunfo da «Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão». Não custa nada concordar, que o Homem barafusta muito quando são beliscados os assuntos importantes sob a sua alçada, para, logo a seguir, feitas as contas algébricas, se contentar com pouco, na abertura do fogo fátuo do perfeito e real, no imutável da Natureza.

Aquela «Declaração», bem soante ao ouvido e bem vinda à ideia, pareceu evocar o tão desejado louvor à harmonia humana. Era merecedora dos maiores encómios na incerta ambição, esvoaçante em roda do produto que sendo sólido, não pode mudar os átomos que o compõem.

O alimento, a moeda, o recibo, são os meios que asseguram a sociabilidade e a vivência. São «sólidos». Com o destrono da monarquia em França, a ânsia de mudanças, acertadas ou errantes, tornaram-se indiferentes e aqueles princípios das sociedades humanas, devagar ou de empurrão, tomaram o mesmo destino.

A ideia, o pensamento, os partidarismos, as políticas milagrosas, as promessas, o palavreado ou discursatas inflamadas, as suspeições, as verdades, os seus similares e correspondentes antagónicos, compuseram uma parcela do «manto diáfano da fantasia». E, tal como o complemento da vestimenta de Eça de Queirós, não «usam» átomos…andam, caricatamente despidos… A vista não os topa … os outros sentidos não lhes tiram as medidas. Mas foram estes fluidos hipotéticos, que passaram a substituir os «sólidos» destronados.

A intransigência de cada qual defender as suas «ideias»… «custe o que custar», elevou outro «trono», «amoldou a arte de governar», a quem saiba, ou a quem a ignore. O significado de «gerência», passou a incluir-se em agrupamentos indistintos e maneiras de os conduzir, de qualidade simples e aligeirada. Cartas de condução, tiradas em poucos meses, admitindo aventura ou local de aprendizagem a quem ambicione «louros», altos poleiros, pingues posições… dariam liberdade plena a quem propusesse ser governo.

Ao PIB, foi cedido o predomínio do abastecimento público, «firme e garantido». Sempre farto e igual em qualidade e quantidade. As alterações climáticas…as oscilações económicas, proibidas de o molestar… ???

E é olhar e ler, o sorriso dos que menos sabem… no convívio e nos carris da comunicação, porque a clarividência sente a crise. Provado o declínio ou o fracasso do Heróico e do Imaginário, estaria a Idealidade condenada à queda irreversível. Pertence ao PIB, prestar e pedir contas…

Até próximo.