Nº161 A NATUREZA MANDA… A FILOSOFIA INTERPÕE…O HUMANO, FAZ E DESMANCHA…
Os laços que nos amarram e desamarram à História, estão bastante delidos, de tantas vezes se querer relembrar ou esquecer o que o Humano faz de boa mente, para logo raspar, à pressa, por desfeitear a « emenda pior que o intento».
A autoridade da Natureza, não cansa de se expor aos nossos sentidos, fazendo-se entender pelo que representa nos reinos mineral, vegetal e animal, exemplificando a essência da vida, nas carências do Humano.
À coordenação dos princípios da Natureza e à sequência do que a realidade exige, interpõe-se o egocentrismo do obsequiado, que sobe sempre na ambição, reivindicando melhores presenças nas fases directivas e decisivas do destinado ao repouso. O animal, conhecido e autenticado como Humano, reivindica para a inteligência, os mesmos direitos e poderes dos doados pela Natureza, criadora do Universo. Ao Humano, porém, só há acesso directo aos 92 átomos que compõem o «sólido» da vida. O irracional sabe disso. Conta para comer, o que caça, pesca ou subtrai ao menos forte.
A Ideia, submissa ao espírito etéreo, sem átomos, não pode igualar-se à matéria, origem e continuidade dos seres existentes.
Entre o «Haver» e o «Pensar», se tem desenrolado, o cisma, ou divisão de opiniões, que muitos trabalhos acrescentam à já imaginativa vontade de auferir alimento, por produto próprio ou fintas na luta pela sobrevivência.
A Revolução de 1789, com os seus princípios de aparente pedagogia social, apresentando o símbolo presumido da guilhotina, em trabalho na praça pública, trouxe consigo a convicção de preencher os vácuos que impediam a harmonização de correcções, sugeridas ao compasso dos inventos e das comodidades. Os raciocínios, em crescendo, nos povos que queriam a paz, desentenderam o programado pelos costumes e anunciaram a igualdade do criado pela Natureza, deificando a excelência do pensamento, até à posse material dos bens comuns.
Às costas do velho Sócrates – o de há 2.500 anos, ou de Descartes ( 1596/ 1650):- « Penso, logo existo», foi posto em funcionamento, outro rifão ou provérbio, muito mais moderno, para chegar aos Séculos XVIII a XXI, bem animado e eloquente: - «Penso… e tudo se transformará em «matéria activa, planeada e alimentícia»… A ideologia, fez-se pioneira da bandeira branca da Paz… e levantou-a, em nome dos Orbes, da fertilidade da terra e do celeste, aliviado da transpiração e das dores no corpo.
Daí para cá, os impérios, reinos, repúblicas, condados, passaram a usar os fatos leves de Primavera, comercializados pelo alfaiate astuto e brejeiro que, com mãos destras, argumentos floridos e «pés de lã para convencer e ligeiros na fuga a responsabilidades» ficou rico, vendendo a ambicionada comodidade, sem NADA dentro, de velho ou novo. E quando descoberta a ilusão, as modas e feitios, foram adiados para outros alfaiates, renovadores de processos de coseduras em outros tecidos, vistosos e atractivos ao «patrão… Povo», de aparência altiva, sempre ao dispor de algo que deseja, sem saber explicar, porque, de facto não estuda as necessidades dos seus títulos do «deve e haver».
Por se distrair das reais diferenças administrativas, o «patrão Povo», abaixa a cautela à aventura de mudanças, a «horas» ou fora delas.
«Patrão -Povo», sabe pela experiência dos séculos, que a evolução das sociedades tem de seguir regras, na aparência desconchavadas à harmonia das intenções. E, desprezando esta regra, teima em descurar a previdência a acontecimentos, por via de inconcebíveis, em momentos de conjecturas pacíficas.
Patrão, só o é, enquanto tem força para equilibrar as forças do que mais útil interessa à propriedade e repelir a ambição dos «mordedores da corda», deixando à deriva, no vai vem das ondas casuais, a cortiça da independência.
Estamos a reler o livro História do 12º ano, de Rosa Lobato de Faria e Olinda Dagge, a folhas 172, linha 22, donde se transcreve a seguinte súmula dos acontecimentos em Portugal, no ano de 1975, de dolorosa recordação:
« Mais de 800 mil portugueses regressaram precipitadamente a Portugal. Chamaram-lhes os «retornados», possuidores de outros hábitos e profundamente traumatizados pela guerra e pela perda total do seu património. No entanto, apesar das dificuldades económicas do país, este grupo de população reactivou sectores da economia e ajudou a mudar Portugal, acabando por se reintegrar na sociedade num curto espaço de tempo, fenómeno ímpar na história da sociedade europeia».
1. Por motivos profissionais, ter de argumentar em repartições do Ministério das Finanças, deslocámo-nos várias vezes a Lisboa nos anos imediatos ao 25 de Abril de 1974, cidade que fora Capital do Império, segura a quem a visitava e passara a ser duvidosa referência para passeantes nos seus arruamentos, tanto de noite, como de dia. À chegada e no primeiro dia, o transcrito acima, estaria de pleno acordo com o civismo de uma Nação que anteriormente primava pelo asseio e ordem, atracção turística e de exemplar convivência.
Hospedávamo-nos no Hotel Borges, na Rua Garrett, parecendo-nos a vizinhança de excelente simpatia. Quase defronte, a estátua do António Ribeiro CHIADO, improvisador jocoso do Século XVI, a saudar o Café Nicola, sede de tertúlias intelectuais célebres e que viria a acolher, o compartilhador da «má sorte», Manuel Maria Barbosa du Bocage ( 1765-1805)
Sorridente, relembrámos – com ou sem verdade – a anedota que fazia parte do reportório entre amigos.
Bocage, pela noite dentro, calcorreava por uma artéria lisboeta e alguém o interceptou com uma pistola, perguntando quem era, donde vinha e para onde ia, recebendo a resposta ajeitada à pressa:
Sou o Bocage,
Venho do Nicola…
Vou para o outro Mundo
Se disparas a pistola.
Com esta recordação, superlativa de bom, saudámos a nossa velha Capital.
A entrada no Hotel, correspondeu, para melhor, o recordado dos séculos XVI ao XX. Paz e serenidade a contradizer as notícias chegadas às nossas Ilhas, no meio do Mar vigilantes e preocupadas com o que se passava na «cabeça» de uma Nação, dita «ajuizada»,
Alegrámo-nos com a despreocupação de crianças a brincar ao buliçoso «ferro quente», Senhoras a conversar com a amabilidade educada nos salões de convívio social e cavalheiros em cavaqueira de políticas, escândalos, completados com o picante tempero do indispensável anedotário . Uma aparência normal ao respeito do semelhante em usos, costumes e língua, a mesma da nossa, a atrair igualdade de posições e troca de pensamentos, livres de grilhetas teóricas, forçadas ou partidárias.
Era um cenário que poderia vir a ser exemplificado, muitos anos depois, naquela aveludada redacção que nos atrevemos a transcrever e que consideramos nosso dever repetir o período final:
« No entanto, apesar das dificuldades económicas do país, este grupo de população reactivou sectores da economia e ajudou a mudar Portugal, acabando por se reintegrar na sociedade num curto espaço de tempo, fenómeno ímpar na história da sociedade europeia».
Por muita facilidade que um escritor tenha, para suavizar actos de infelicidade nacional, não deve transformar realidades em prol de «fenómenos idealísticos» de raiz partidária.
Como seria possível que os «traumatizados RETORNADOS, despidos pela guerra e pela perda total do seu património», poderiam reintegrar-se na sociedade « num curto espaço de tempo, FENÓMENO ímpar na história da sociedade europeia», sem trocos nos bolsos esvaziados?
A resposta é clara, mas não cabe nesta crónica.
Até próximo.



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