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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

5 de fevereiro de 2006

Nº 57 UM ESCRITO...

O livro do Dr. Alberto Franco Nogueira, já o escrevemos, é o guia destas nossas últimas crónicas, entendendo que as transcrições feitas e ainda as futuras, dizem melhor no intento de afirmar verdade e conhecimento das causas, ocorrências e conclusões. Pelos nossos próprios meios, por muito esforço que tentássemos, não conseguiríamos fazer passar para o leitor, o realce da realidade, livre de adjectivos de pretensão dispensável.
A página 505, referência a «boatos confusos, de um movimento de capitães, em 1973».
Sabemos, que esses boatos eram reais, tendo o fito, de princípio, o que de facto contava, era o aumento dos ordenados. O Dr. Franco Nogueira, desenvolve a questão nas páginas seguintes, admitindo transição para «movimento político». A juventude dos neófitos, era evidente, o que facilitou a introdução de aproveitadores da fase de tirocínio por que passavam, para enxertarem o idealismo exasperado, a alterar a finalidade.
Para disfarçar a mudança de rumo, os intrusos no movediço plano dos jovens oficiais, prometeram flores, muitas flores, iriam enfeitar o panorama que viesse a aparecer ao povo, sincero e bom. Cravos, seriam cravos, muitos cravos, de dúbio significado, (com pétalas, de vegetais, de natureza degenerativa... ou do reino mineral, ao serviço de espadas e punhais...) mas de cor atractiva. A uma criança, tirada fotografia para amansar suspeitas. Lá estava o «cravo» vermelho no cano da espingarda, a prometer paz. A bem ou a mal. «Peles de cordeiro», em montras floridas, passeariam pelas ruas, em algazarra carnavalesca. Que bom, Carnaval todo o ano...
Palavras, ror de falas, serviriam de almofadas aos impactos, previamente combinados e engrinaldariam a façanha final.
Tudo muito bem planeado, não fossem os verdadeiros obreiros, senhores da técnica publicitária. Exibicionistas de esperanças, inculcadores, do fito do heroísmo, na juventude ingénua, a arcar com as responsabilidades.
Assim, um simples pedido de melhoria de vida, em «bola de neve», desfez um império, conseguido com «sangue, suor, lágrimas, dinheiro,,, sacrifícios sem conta», de um País a pedir sossego e o direito de continuar a existir... Fora este modesto País, agora desfolhado, por quem jurara defendê-lo a troco de um meio de vida, que trouxera para a civilização os povos que a Natureza concebera e mantinha na mata de geração espontânea, densa a abrigar dos raios do Sol, da ventania, bendizendo a chuva para limpeza dos corpos, satisfação da sede e reverdecedora dos vegetais.
Portugueses a imitarem o hara-kiri japonês. Idealismo mórbido.
O nosso jornal «Açores», de 8 de Janeiro de 1976, depois de muitas hesitações, enquanto não teve a certeza de que era verdadeiro, publicou, após receber fotocópia do original, o seguinte ofício...ou ordem de serviço... ou qualquer outro título:
Estado de Angola
Repartição de Gabinete do Governo Geral
Luanda, aos 22 de Dezembro de 1974
Camarada Agostinho Neto
A FNLA e a UNITA, insistem na minha substituição por um revolucionário que lhe apare o jogo, o que a concretizar-se seria o desmoronamento do que arquitectamos no sentido de entregar o poder ao MPLA. Apoiam-se aqueles movimentos fantoches em brancos que pretendem perpetuar o execrando colonialismo e imperialismo português –o tal da Fé e do Império, o que é o mesmo que dizer, do Bafio da Sacristia e da exploração do Papa e dos Plutocratas.
Pretendem essas forças imperialistas contrariar os nossos acordos secretos de Praga, que o camarada Cunhal assinou em nome do PCP, a fim de que sob a égide do glorioso PC da URSS possamos estender o comunismo de Tânger ao Cabo e de Lisboa a Washington.
A implantação do MPLA em Angola é vital para apearmos o canalha MOBUTU, lacaio do imperialismo e nos apoderarmos da plataforma do Zaire.
Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade, só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA, para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando, incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis, sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos, para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à Terra esses cães exploradores brancos, que só o terror os fará fugir. O FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e de sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruine toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reestruturação daquela.

Saudações revolucionárias
A Vitória é certa

Assinatura ..........................................................
António Alva Rosa Coutinho
Vice - Almirante
Observações da nossa parte:
Escrito à mão: Em cima, à esquerda « de Rosa Coutinho»
Ao lado, «ler com atenção».
Eis um «escrito» - pois que devem existir muitos mais- probatório, do volante dos moços de três galões, ter sido agarrado por mãos diferentes das legítimas.
O clarim chama à formatura... alguém ordena a marcha...
Fiquemos por aqui. Já chega para pensar...
Até próximo.