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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

3 de janeiro de 2006

Nº 55 A HISTÓRIA... CONTA A HISTÓRIA

Entrámos na nossa crónica Nº 54, nos princípios e causas do comportamento cívico humano. Deambulámos em pareceres tendentes a desculpar atitudes, mas sem a conclusão que satisfaça o que escreve para se fazer entendido e de quem lê, desejoso de retirar algo de interessante no aproveitamento do recreio . O primeiro, o que redige, dificultado para não ferir, armando a presunção de ser juiz; o segundo, o interprete do texto, insatisfeito e desejoso de tirar proveito do tempo gasto a desvendar o sentido do pretenso informador. Dilema arriscado no remate.
Bastante simples, se resume, conquanto não deixando de entrar em melindre, com a vaidade enganadora da medição do intelectual falador, do sensível dorido e do que a boa fé consente. Os modos de proceder, influentes nas consequências registadas na HISTÓRIA, não perdoam evasivas e, não menos, esquecimentos dos sacrificados com o próprio sangue e exemplo da coragem, em actos de bravura, os excelentes e de timidez, os insignificantes.
A exumação desenterra ossadas e cheiretes. Não estorva, todavia, a reabilitação do expresso em factos, separando as narrações dos «cavaleiros de lança florida»... do adulto menino duplo... ou... da triste figura». ..
Não somos enfronhado em justiça. Limitamo-nos a cumprir as determinações da legislação que regula os comuns direitos dos nossos concidadãos, a quem nos incluímos com o respeito mútuo, não delegando, porém, o nosso microscópico voto, na defesa da Pátria onde repousam nossos antepassados, nos cedeu nacionalidade sentida, nos proporcionou instrução, paz, trabalho e Família, e, sem favores e requerimentos, abriu espaço livre, para a descendência que nos está a suceder, dar continuidade à Família.
Desculpas, leitor amigo. Surgiu um enredo, útil de por a claro, antes de avançarmos em convicções a derrapar para sofismas.
Sem o esperarmos, levantou-se-nos o nome de «Fedro», poeta latino, nascido na Macedónia, que terá vivido em Roma, entre os ano 10 e 70, da nossa era, a lembrar uma das fábulas por ele inventadas, ou cópia dos apólogos de Esopo ( VII ou VI Século AC. ), pensador da Pátria – Mãe da Democracia intelectual, de difícil cópia, para quem sentir vontade de a igualar. Resumimos o que escreveu Fedro:
Estava certo jumento a descansar da canseira de ajuda ao Homem, saboreando a ração de erva tenra e nutritiva que lhe coubera, quando se ouviram rufadelas de desconhecidos, a avisar requesto de quinhão no alimento e em outros bens. Angustiado, apareceu o dono a interromper a refeição, para ambos se afastarem dos intrusos. Com a pachorra de quem se contenta com o matar a fome, o asinário ( os animais sempre entenderam das suas conveniências pessoais) perguntou: - Diz-me lá, oh! Patrão, pensas que me vão por duas albardas?
Perante a resposta que, para cada qual, uma albarda, ouve-se a conclusão: - Ora, tanto se me dá que sejas tu a proteger-me as costas do que terei de carrear, ou os que aí vêm, a bater forte, para altos sons no tambor e com os mesmos intuitos. Gosto dos rufos que estou a ouvir, com parecenças dos meus desabafos de contrabaixo e dos muito suaves do trombone. Agradam aos meus ouvidos, ou às minhas orelhas, as ondas vibratórias, assemelhadas às minhas.
Assim, acabaram as doutrinas dos dois interessados em não piorar direitos. Recordamos que, nem de Fedro, ou de Esopo, lemos referência à qualidade das cargas que viriam a passar no lombo do quadrúpede laborioso, o simpático e prestável amigo em todas as circunstâncias, em permanente actividade no reforço ao Homem e no aperfeiçoamento da civilização. Lacuna importante para poder retirar ensino e moral.
Em recente discurso para benesse, cargo, prémio ou poética administrativa, ouvimos aconselhar mais atenção à juventude, no ensino ao patriotismo. Seja, talvez, o complemento que falta a Fedro e... ao que em nossa volta assistimos.
Pátria, é um estado social. Respeita a unidade da língua, dialectos, costumes, usos, emoções; mede as capacidades individuais e de conjunto; recreia os cinco sentidos. O patriota mede à cautela. O estranho, não perde tempo em avaliações. Preocupa-se, somente com o armazém, onde empilha a erva saudável para o consumo, leve e inofensiva; a ramada com espinhos a ferir o ombro, trasladada ao som de algaraviada de substantivos e adjectivos mal ouvidos; os troncos maciços a requisitar músculo e nervo; os estrumes, as embalagens inodoras e as que deixam os órgãos olfactivos em ambiente incómodo e adverso. Tudo o que é preciso passar pelas costas dos encarregados das Famílias, é carregado a rigor, limpo ou emporcalhado ou não aferido em quilos e transportes cansativos.
Entendedores, afirmam ser o asinino e descendentes, possuidores de faculdades de esperteza. Acreditamos e bendizemos a finura do animal que sempre tem ajudado nos serviços de resistência, pois carrega calado, transporta em silêncio, embora se expanda em vibrações graves e retumbantes, no encontro com sua amada. O entrevistado por Fedro, ou Ésopo, seja-nos aceitável concluir, não exteriorizou grande argúcia, visto ter passado por alto, o número de fretes, o tipo de carga, áspero, sujo ou asseado, o peso leve, mediano, adequado ou não ao físico do que ajouja nas funções mais agrestes. O esquecimento de Fedro ou Ésopo, não sofreu alteração, nos povos mais seguros nos direitos ( nem sempre garantidos) do que nos deveres ( mais apertados), não contando com a saudade e atracção pelo «torrão natal». Frente ao imprevisível, nossos olhos se arregalam, ouvidos estonteiam, nossos temores se alertam perante o futuro.
A «Fábula» faz-nos lembrar acontecimentos no nosso País, há poucas décadas, cortando cerce, haveres proveitosos nacionais, em antagónico conceito dos que os fizeram ganhar.
Os Reis que governaram Portugal, tiveram o cuidado de aplicar verba dos seus nunca folgados rendimentos, para sustentar a manutenção de navios para defesa da costa alongada do território, desde o primeiro, D. Afonso Henriques, e seu Almirante D. Fuas Roupinho. Os que lhe sucederam, mantiveram a despesa com resultados positivos, de defesa de intrusos, que sempre os houve e de símbolo prestigioso, perante as cabeças coroadas das outras nações. D. Dinis, o Lavrador, mandou plantar o pinhal de Leiria, para a madeira servir a construção naval,
Chegada a «Ínclita Geração» - de D. João I e esposa D. Filipa de Lencastre, os progenitores e os Filhos, de preparo intelectual, de excepção– continuaram a debater, o que já vinha dos Reis anteriores, da luta pela independência do «rectângulo», provando-se poucas certezas, quanto ao vizinho, interessado em ver banhadas as suas costas ocidentais, do Estreito de Gibraltar, até ao Golfo de Biscaia.
O génio empreendedor do Infante D. Henrique, depois da conquista de Ceuta, por seu Pai e irmãos em 1415, mandou aperfeiçoar a construção das caravelas, fundou a «Escola de Sagres», a fim de preparar marinheiros capazes de desvendarem o então enigmático «horizonte» e mandou-os em busca de valores em territórios, especiarias, ou minerais nobres, que acrescentassem fundamentos, à razão de existir da nação fundada por D. Afonso Henriques, com o carácter que os séculos tinham vindo a demarcar.
Dinheiro do próprio Infante, a princípio, em seguida da Ordem de Cristo, de que era Regedor e Administrador e, no crescendo das despesas e das descobertas, de todo o Portugal. Assim, as «novas luzes» que brilharam à IDADE MODERNA, iniciada em 1453, com a queda de Constantinopla, foram emitidas e pagas pelos portugueses, todos, sem exceptuar um, por muito pobre que fosse. E esse esforço, de uma pequena nação, não a fez rica, se bem lhe tivesse aumentado o orgulho dos feitos praticados e, por acréscimo justo, o direito de não depender de ninguém- ser SENHORA DO SEU DESTINO. Respeitada.
Os ganhos obtidos, não terão chegado para cobrir os encargos, liquidados a pronto, nas águas traiçoeiras, antes do horizonte do Mar Tenebroso e depois do horizonte desnudado de mistérios, com os contributos saídos dos bolsos, do sangue e do sofrimento portugueses.
O que ficou, bem às claras, são os monumentos, de pedra e cal, para regalo da História contar e repetir aos tempos, a História da Nação que iluminou o Mundo nos Séculos XII a XVI, continuando por mais Séculos, só abaixando a claridade, no último quarto do Século XX.
Folga, para a próxima crónica.