América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

5 de fevereiro de 2006

Nº 60 NOTÍCIAS A MATUTAR

Não sendo provável acreditar no invento do «espiritómetro», aparelho de medição do intelecto, sugerido na nossa crónica nº 50, mas, de imediato posto fora da instalação neurótica, por falta de mercado, continuemos a apreciar as transcrições dos jornais da nossa urbe, relembrando a velha sabedoria que cada cabeça, uma sentença e um passado recente, assemelhado a épocas não contáveis na História, quando a mente não diferenciava a idade adulta.
Era a juventude perene. Períodos do Sol, da Chuva, dos Vendavais, das Flores, dos Frutos, das Produções, uns após outros, a roçarem a pele e as emoções do bípede que sofria, cruelmente, enquanto durava o aperfeiçoamento da instalação do intelecto para o acto consciente.
Esta época, existiu.
Por mor de amaciar a vida, repelindo a dor física, o cérebro faiscou o raciocínio, a clarear o proveito e repelir o sofrimento. Construções dos mais variados elementos, amontoaram-se, para proteger dos raios ardentes do Sol, da frieza desconfortável da chuva, das rajadas furiosas dos ventos. Sorver o perfume agradável das flores, saborear o fruto saboroso, fazer funcionar o aparelho digestivo com a caça e a pesca, fizeram optar pelo sedentarismo, menos cansativo e mais confortável. A ambiência familiar, tomou outro afecto. O sentimento criança deixou-se adormentar. O orgulho e a cobiça, alargaram o desejo de melhor comida e menos esforço. A inverdade, tomou a cadeira da conveniência.
Continuemos nos nossos reparos, do que temos presenciado.
Na crónica anterior, ergueu-se um comercialista, a colocar em «hasta pública» as Províncias, constantes das escrituras oficiais de todo o Mundo, como Portuguesas, por direito, sangue e dinheiro, com a civilização, muito mais iluminada, desde 1500. Como já vimos em nossa crónica nº 57, representaria a posição de juiz e vendedor , do senhor vice-almirante Rosa Coutinho e aliados.
Numa distorção em «negócios», o leilão, não se destinava a receber valor aprovado. Era uma reviravolta no critério de «compras e vendas». Inteligências extras em acção, a modernizar o «bafio» das velharias fora de moda.
Ofereciam-se, além delas (Províncias), mais 6 (seis) milhões de contos, do contributo dos que ficavam mais solitários. E já se sabia, que no futuro, não faltariam pedidos de clemência ao país desfalcado.
A Lei não foi inquirida sobre a traficância ajustada, nem o produto das DESCOBERTAS, que deu mais luz ao Mundo, mereceu qualquer retribuição ou agradecimento ao patrocinador, que ficou mais pobre e menos base de sobrevivência. Nem um «obrigado». Pelo contrário, os próprios vendilhões, rebaixaram o mérito português… para transferir a posse a uma nação que nada fizera a bem dos povos, agora, só aparentemente independentes, a «dependerem» do auxílio estrangeiro. De ajuda, também de Portugal, que já pagara ( a primeira prestação?...) no acto do convénio…
A Autoridade Soberana não interveio. Onde se situará, o documento nacional que legalize o mutilação do território e a «desgarrada» (cantiga popular) do referido interveniente?
Não há bom entendimento, no que é « falar a sério »... Rapazices...
Jornal AÇORES, de 3-5-1975: - Rosa Coutinho, o «EU Mando», acusa o General Spínola, de ter sido um empecilho ao programa do MFA, sobre descolonização. Um comprometido, a fazer-se acusador.
Só a um «rapaz», será confesso, aceitar o desprezo pelo Povo, perante o que foi resolvido, sem o consultar.
Jornal AÇORES de 1-10-1975: - Em menos de um ano, tomou posse o VI Governo Provisório. Empurrões de rapazes, na entrada para o recinto da diversão. Ou Rapazes a reporem a ordem... ao campo de treino de desafio entre outros mais estouvados...
Jornal AÇORES de 7-10-1975: Mais de 300 soldados e milhares de trabalhadores, empunhando bandeiras vermelhas, gritaram: Abaixo a disciplina militar.
O exemplo de rapazes a mandar, transmite à «malta» sem responsabilidades, que «disciplina» é um «abuso», a travar a inversão dos moldes sociáveis... A moda antiga, com séculos de aperfeiçoamento, velha e relha, tinha de ser reformulada... Criança, não deve receber advertência, de quem quer que seja... Cortesia, é falta de personalidade... Cortesia... é... Cortesia... já foi...
No mesmo dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Melo Antunes, foi rogar à CEE, auxílio urgente a Portugal.
Depois daquele «coração aberto» de DAR 6 milhões, prosápia de quem tudo pode, vem logo a mão estendida a «esmolar», a repor a finança esburacada, pelo ditado concludente: - Quem dá o que tem, a pedir vem.
Jornal AÇORES, de 7-01-1976: - Boatos da venda de ouro dos cofres públicos, obrigam o Ministro da Finanças a acalmar que «só foram vendidas 4 (quatro) toneladas», das 800 (oito centenas) em cofre. Quando se fala no ar agitado do movimento dos capitães, ouve-se a afirmativa da grande virtude de não ter derrapado para matança interna, residiu no senso dos interventores. Talvez.
O que influencia retenção de impulsos de ideias e ambições, é o que a vista abrange, palpável, evidente, resoluto dos problemas imediatos.. Troca de mais conselhos e previsões, pouco ou nada adiantam.
O ouro, poupado pelo «regime enjeitado na vala comum» de defunto atrasado no enterro, foi, cremos, o meio que produziu efeito prático, de colmatar as desorientações, hora a hora, dia a dia, mês a mês que afloravam problemas, surgidos por raciocínios apressados no improviso discorde das diligências.
Não há dúvida, ser a prontidão do movimento, não o guerreador, mas o fiduciário, que arrecua a braveza dos alvoroços sociais.
A mortandade de 120 anos antes, pelas desavenças dos manos de instrução irregular e apressada, Pedro e Miguel, incendiou-se, por não existir, no cofre público, o brilho de moedas de contado.
As invasões francesas, tinham vindo cheias de ideias excelentes, mas praticaram barbaridades, por completo, divorciadas do ser humano. A ideia e a matéria, até agora, ainda não conseguiram entender-se ao modo das relações lógicas. De 1807 a 1811, quase esvaziaram a movimentação da moeda, uma parte partiu para o Brasil, com D. João VI e outra, foi dividida em duas, metade mandou-a para França o General Junot e a restante posta ao serviço do exército invasor e de quem nos veio defender.
O coração está ao lado da Paz, mas o motivo que a enrija e solidifica, é a acessibilidade ao ganho, suporte dos bens de consumo.
Evocamos estes acontecimentos, atendendo ser o futuro um enigma insondável de prever. Os exemplos da História, parecerão sombras de passagem esporádica, expostas a outros raios luminosos a transmitir-lhes, no futuro, feições de cores mais vivas e agradadas. O Hoje, apresenta um panorama, circunscrito aos sentidos imediatos e confusos da visão e do ouvido. O Amanhã, indefinido, escreve no quadro negro da sorte, a giz, fácil de apagar, o esquema do acontecido até ao momento, da arte de viver, ou de só escapar, por «unha negra»...
A guerra liberal, de 1829 a 1834, não foi bisada em 1974, graças ao luzeiro do ouro deixado por uma economia gerida por técnica ampla, não desistente de ponderar e, por isso, a coincidir no ponto de mira, tanto quanto possível exacto. Parlar, não recolhe ponto parágrafo… Parlar, aspira avantajar salário…
Até para a semana.

Nº 59 ....DE RAPAZES

Esta crónica, faz parte da anterior. Juntando-se os títulos, de imediato se compreenderá ser uma só. COISAS... DE RAPAZES. Prossigamos nestes nossos arrazoados.
As ilações, retiradas a «olho nu», do que estivemos a transcrever de jornais desta cidade, quererá dizer, com a crueza de factos consumados, que as ocorrências do ano de riscos e marés, de 1974, foram encaminhadas por «rapazes», ainda na escola de treino para abarcar as consequências exactas na estabilidade e desenvolvimento de uma Nação.
O texto do ofício emanado do Governo de Angola, não pode ser considerado, como redigido por alguém responsável por actos humanos que afirma defender. Ao lê-lo, pela primeira vez, pareceu-nos tratar-se de brincadeira entre amigos, a fingir importância, desafiando os colegas, mas acabando na risota habitual, feitas as pazes, sem magoar ninguém.
A segunda leitura, salientou-nos a palavra «glorioso», fez-nos lembrar «fanático da bola», mas esse deixa as fúrias do partidarismo impulsivo, depois do golo favorável, embora a tristeza o acompanhe depois do sofrido. A redacção, era, sem dúvida de pessoa desconhecedora do tecido social, ao vincar «se arruine toda a estrutura capitalista». Visionário do descer e levantar do pano, da peça infantil: «Rosa... no Universo das técnicas...Construir e edificar, à medida do nascituro...». Saberá os efeitos do mau tempo marítimo, mas desconhecerá as tempestades a que está sujeito o «movimento fiduciário», que soçobra muitas mais vezes do que o da sua especialidade…
Não se enquadrando nas hipóteses anteriores, cismámos tratar-se de espírito intolerante, o que nos levou para o lado de doença.
Sendo quase nulos, os nossos conhecimentos em medicina e com o fim de obter alguma aproximação, compulsámos, a Enciclopédia VISUM, a rebuscar estados mentais, em que estariam enredados os nomes das pessoas mencionadas no «ofício», o que assina e os Kamaradas. «Esquizofrenia», baptizada pelo psiquiatra E. Bleuter, antigamente chamada de «demência precoce», foi a enfermidade que nos pareceu aplicável neste caso. Mas não temos a certeza, pois tamanhos desconchavos, talvez tenham outras «alcunhas» científicas ou de gíria com sola do pé batida no chão.
De atentar as notas escritas à mão Rosa Coutinho e ler com atenção, a avisar importância para não ser discutida. Em primeiro lugar, destacando quem assina o «comunicado» - posição do EU no comando -, a seguir o obrigatório das ordens sem questiúncula e terminando no subserviente que as tem de cumprir. A forja da autoridade poderosa e o punhal afiado da obediência passiva.
Exteriorização de sentimentos extravagantes, análoga à brincadeira de gaiatos, quando se entretêm no jogo de « polícias e mariolas». Os «maus» que se escondem e devem ser destruídos e os «bons», que têm de ser os únicos a escapar, exemplos do direito a usufruir as mercês de respirar e consumir alimento.
Justiça Rosa... vice-almirante.
É nosso intento, apreciar as transcrições de jornais, apresentadas nestas nossas duas últimas crónicas para se fazer uma ideia da cultura de alguns intervenientes, no quarto mês de 1974. A primeira, está feita. Vamos à segunda.
Jornal AÇORES de 14-12-1974:- DESCOLONIZAÇÂO.
Sobressai um plenipotenciário, a entregar a mais valia de Portugal, o seguro maior da independência – o ultramar – e mais 6 milhões de contos do « erário público ( dinheiro de todos os outros portugueses e uma migalha do seu), lavando as mãos para 1975, que a «bondade» não podia ser repetida. O empossado no cargo de juiz e agente do Ministério Público, era daimoso.
Portugal, na altura, tinha nomeado um Governo Provisório, portanto com poderes limitados, não constando que o órgão da JUSTIÇA, tenha sido consultado. Onde estaria a legalidade, do dito intermediário se arvorar em árbitro e leiloeiro? Revolução, espalha-se na fragilidade de uma força passageira, ainda em preparo para a estabilidade, até tempo de pensar... e medir o alcance de decisões.
Fala-se que compete ao Povo, decidir, sobre questões importantes, em acto eleitoral. A divulgação filosófica, diz chamar-se referendos ou plebiscitos, recebendo o cidadão um papel, para escrever uma cruz no sítio do seu parecer.
As Províncias Ultramarinas, posse do POVO, foram distribuídas, por um partido, um reduzido número de pessoas. E pelo que se leu no ofício emitido pela «repartição de gabinete do governo geral de Angola», da agremiação que já vinha, desde muitos anos atrás, a semear o seu intrínseco mau humor, no seio nacional, utilizando pólvora em armas e bombas, se uniu em 1921, para agradar a tendência imitante de alguns portugueses e conceder à União de Lenine, o patronado da sua imaginária grandeza.
O processo de acção demolidora, sem respeito do semelhante, desse núcleo de pessoas, impôs a presença de segurança reforçada, para impor submissão às leis e tornar confiante, o direito de andar na rua. Foram as explosões de pólvora comprimida, em atentados para amedrontar, espalhando sofrimento, inquietações e prejuízos, que deram o conselho à formação da Polícia Internacional de Defesa do Estado. A Ordem Pública, antes, era assegurada por uma corporação, quase rudimentar, para deter as reacções broncas, das explosões temperamentais da época. Não necessitava de especializações detalhadas para encontrar os pontos fracos dos insurrectos.
O reforço de «rublos» e directrizes de «trabalho», exigiram aperfeiçoamentos no modo de defender o Estado soberano e o cidadão obscuro e pacato, desejoso de considerar afastados sustos e perigos.
A que foi chamada PIDE, nasceu para proteger. Não para capturar anjos descidos do céu... com registo de penitências e contrições... como os que, hoje se postam para a fotografia dos ingénuos... Os actos constantes no Código Penal de então, não foram alterados, pelo que as penas permanecem as mesmas, embora, actualmente, bastas vezes desprezados pelos faltosos que ascendem ao patamar das governações e, por esse salto, se isentam do julgamento em Tribunal, legalizado e imparcial.
O ressentimento de sofrer agravo, de elementos policiais, no período da ditadura, deveria merecer a devida atenção das entidades competentes. Insuficiente a desculpa singela de ser contra o regime, pois se a democracia quer ajuste de contas, teria de enumerar os que o aprovavam.
Como isso não seria concludente, passados os anos, um LIVRO BRANCO, a descrever os motivos de perseguições e eventual permanência em cárcere ou desterro, descrito por escritor autónomo, coadjuvado por representantes conhecedores da realidade, traria mais claridade à presente situação do agora acuso eu, logo defendes tu. Os currículos de cada um dos então perseguidos, ditos sem malícia, completariam as informações. Acreditamos que viria a ser livro de ensino para esconjuro dos propalados males do passado e exemplo para opções em modalidades futuras.
Esta nossa sugestão, resulta de já ter sido discutido e ensaiado, nas competentes esferas governamentais, o perfilhamento de uma polícia especializada na defesa do Estado. A necessidade, aguça a cautela de amansar falta de temperança.
A anterior vigilância da tranquilidade, foi estigmatizada. A substituta, embora tenha incluído, estamos em crer, castidades não mencionadas nos métodos conhecidos… foi desaprovada, quiçá…. por algum sector ressentido de vir a ser apanhado nas malhas do que iria assinar. Consciência limpa, não teme a luz das precauções…
Até próximo!

Nº 58 COISAS ...

Desde o 25 de Abril de 1974, era-nos incomodativo acreditar que jovens de uma classe militar em ascensão, tivesse a ousadia de conceber os meandros canalizadores, os objectivos obscuros a atingir e a final encruada que desconjuntou a pátria jurada a defender.
Ver na televisão, «documentário» - técnica e cautelosamente ordenado, na descrição e na paisagem – onde o senhor vice- almirante, que terá redigido e, prazenteiro, assinou (e redigiu?...) a «ordem de serviço» com que terminou a nossa última crónica, narra, com displicência, uma viagem para os lados da América, tendo permanecido em Havana, por ACASO, durante três dias, conferenciado com o ditador Fidel, seguindo-se o aparecimento das tropas cubanas em Angola, comprova que a ingenuidade dos capitães sofreu desvio por manejos ocultos, para derrapar em desprimor não previsto, no roteiro da revolta em preparo.
Os Órgãos da Comunicação Social, depois do 25 de Abril de 1974, encheram laudas de papel e programas televisivos, a espalhar a catadupa de notícias, todos os dias novas, todos os dias repetidas, de heróis efémeros, dos de «pés de barro», dos artistas patinadores, na rebusca de oportunidades e dos felizardos nos píncaros dos heroificados lugares cimeiros.
Experimentemos, transcrições dos jornais cá da terra, neutros por posição geográfica, independentes a não nos omitir dúvidas do noticiado:
Jornal AÇORES de 14-12-1974 – DESCOLONIZAÇÃO – Portugal contribui com 6 milhões de contos para os seus territórios africanos. Almeida Santos, acrescentou: A situação interna do País não permitiria repetir o auxílio em 1975, porque uma vez criados os governos transitórios, a descolonização deveria ser considerada como um facto e a responsabilidade fundamental de tal auxílio era mais da comunidade das nações do que de Portugal.
Jornal AÇORES de 3-5-1975: : Rosa Coutinho na TV.: - Spínola foi um empecilho ao programa do MFA, sobre descolonização.
Jornal AÇORES, de 1—10-1975 : - Tomada de posse do VI Governo Provisório, cuja vida será prestada pela força que tiver em repor a ordem.
Jornal AÇORES, de 7-10-1975: - Manifestações, ontem em Lisboa: Abaixo a disciplina militar, gritaram 300 soldados e milhares de trabalhadores, empunhando dúzias de bandeiras vermelhas.
Jornal AÇORES, de 7-10-1975: - Melo Antunes avistou-se em Paris, com Jean Sauvagnard: Os Nove da CEE ( Comunidade Económica Europeia) de acordo no auxílio urgente a Portugal.
Jornal AÇORES, de 8-10- 1975: - A CEE, pôs à disposição de Portugal, quatro milhões e meio de contos. Sobre os refugiados de Angola, os Estados Membros procurarão desenvolver uma ajuda bilateral.
Jornal AÇORES, de 7-01-1976 : - O Ministro da Finanças, desmentiu notícias, segundo as quais Portugal vai vender grandes quantidades de oiro. O Ministro disse que das reservas portuguesas de 800 toneladas de oiro, apenas quatro toneladas foram vendidas. BBC
Jornal AÇORES, de 8-01-1976 : - Melo Antunes não tomou posição em relação a uma notícia que dizia que os aviões cubanos que transportam material de guerra para Angola, fazem escala nos Açores.
N.R.- Como noticiamos, durante a segunda quinzena de Dezembro, escalaram o Aeroporto de Santa Maria, alguns aviões provenientes de Havana, uns à Guiné Bissau e no regresso.
Desde o dia 1 de Dezembro findo, não se verificaram aquelas escalas.
Jornal AÇORES, de 10-01-1976: - Spínola abandonou Madrid, por ordem da polícia espanhola.
Jornal AÇORES, de 11-01-1976 : - Terminaram as escalas de aviões cubanos em Santa Maria, após pressão dos E. Unidos.
Jornal CORREIO DOS AÇORES, de 29-XI-2005: - Independência de Timor, foi uma utopia, diz Bispo Ximenes Belo. ........Não havia Governo, nem sequer governo na clandestinidade. O primeiro presidente, Xavier do Amaral, foi obrigado a render-se, o segundo, Nicolau Lobato, foi morto e, por isso o poder ficou como que vazio................. Não havia embaixadores, não havia constituição - a constituição da FRETILIN tinha sido congelada – não havia órgãos de soberania, por isso aqueles quase 24 anos foram um interregno, em que apenas havia uma nação e um povo timorense que lutava pela independência..........
Jornal AÇORIANO ORIENTAl, de 30-XI-2005: Primeiro Ministro de Timor:- Independência foi desconsiderada........ O poder saído da revolução do 25 de Abril, de 1974, em Portugal, nunca considerou a possibilidade de TIMOR-LESTE, ascender à independência........... num jantar em casa do falecido general Vasco Gonçalves, para que fui convidado pelo contra-almirante Rosa Coutinho, foi-me confirmado que na altura o poder português saído da revolução achava que a lógica seria a integração ( de Timor Leste ) na Indonésia..............
Jornal DIÁRIO DOS AÇORES, de 30-XI-2005: - Título: Portugal podia ter encurralado os indonésios no terreno, diz EUA,........, devido à falta de apoio dos timorenses a uma invasão indonésia e às dificuldades no terreno...... ( de um telegrama confidencial) : Os portugueses não praticaram o apatheid e as relação inter-raciais são excelentes. Não existe qualquer possibilidade de simpatia por uma autoridade indonésia entre a elite timorense ou a população em geral........ sem o apoio da população, operações militares no Timor português seriam um grande peso para as melhores forças armadas do mundo.
O general indonésio Yoga, conferencia com representante americano e expõe: - Encontra-se frustado, por não conseguir clarificar o que o actual governo português vê como as suas obrigações e responsabilidades no Timor português ou como é que os portugueses tencionam cumprir as suas responsabilidades..... que o governo da Indonésia não sabia quem estava no poder em Portugal e não conseguia obter respostas de Lisboa ou de qualquer outra representação diplomática portuguesa em Macau, Hong-Kong, Nova York e noutros locais ........ que os socialistas portugueses, são pró- Moscovo e os comunistas pró- Pequim.........que se daqui a 4 ou 5 anos, Timor português for pró soviético ou pró chinês, então os problemas não serão só da Indonésia......
Para Washington, Timor –Leste não era uma prioridade...
Se bem contámos, fizemos menção de 11 transcrições do jornal AÇORES, de 1974 a 1976 e de 2005 do CORREIO DOS AÇORES, do AÇORIANO ORIENTAL e DIÁRIO DOS AÇORES iniciadas no final da nossa última crónica prosseguindo nos princípios desta. O reduzido número de elementos obtidos, não descreve todo um período de insensibilidade para distinguir a prática do bem e evitar intrometimentos, a danificar a honra, o dever e ao preito onde se nasce. Declínio Histórico. A fraqueza humana, em plano mais avantajado que o normal.
Atribuímos preferência a transcrever, de uma assentada, as notícias publicadas no tempo, para o leitor ter liberdade de as assimilar a seu entender. Os nossos comentários, virão em seguida, com a franqueza habitual.
Já não cabem nesta crónica as ilações do que nos propomos transmitir. Ficarão para as próximas.
Até para a semana.

Nº 57 UM ESCRITO...

O livro do Dr. Alberto Franco Nogueira, já o escrevemos, é o guia destas nossas últimas crónicas, entendendo que as transcrições feitas e ainda as futuras, dizem melhor no intento de afirmar verdade e conhecimento das causas, ocorrências e conclusões. Pelos nossos próprios meios, por muito esforço que tentássemos, não conseguiríamos fazer passar para o leitor, o realce da realidade, livre de adjectivos de pretensão dispensável.
A página 505, referência a «boatos confusos, de um movimento de capitães, em 1973».
Sabemos, que esses boatos eram reais, tendo o fito, de princípio, o que de facto contava, era o aumento dos ordenados. O Dr. Franco Nogueira, desenvolve a questão nas páginas seguintes, admitindo transição para «movimento político». A juventude dos neófitos, era evidente, o que facilitou a introdução de aproveitadores da fase de tirocínio por que passavam, para enxertarem o idealismo exasperado, a alterar a finalidade.
Para disfarçar a mudança de rumo, os intrusos no movediço plano dos jovens oficiais, prometeram flores, muitas flores, iriam enfeitar o panorama que viesse a aparecer ao povo, sincero e bom. Cravos, seriam cravos, muitos cravos, de dúbio significado, (com pétalas, de vegetais, de natureza degenerativa... ou do reino mineral, ao serviço de espadas e punhais...) mas de cor atractiva. A uma criança, tirada fotografia para amansar suspeitas. Lá estava o «cravo» vermelho no cano da espingarda, a prometer paz. A bem ou a mal. «Peles de cordeiro», em montras floridas, passeariam pelas ruas, em algazarra carnavalesca. Que bom, Carnaval todo o ano...
Palavras, ror de falas, serviriam de almofadas aos impactos, previamente combinados e engrinaldariam a façanha final.
Tudo muito bem planeado, não fossem os verdadeiros obreiros, senhores da técnica publicitária. Exibicionistas de esperanças, inculcadores, do fito do heroísmo, na juventude ingénua, a arcar com as responsabilidades.
Assim, um simples pedido de melhoria de vida, em «bola de neve», desfez um império, conseguido com «sangue, suor, lágrimas, dinheiro,,, sacrifícios sem conta», de um País a pedir sossego e o direito de continuar a existir... Fora este modesto País, agora desfolhado, por quem jurara defendê-lo a troco de um meio de vida, que trouxera para a civilização os povos que a Natureza concebera e mantinha na mata de geração espontânea, densa a abrigar dos raios do Sol, da ventania, bendizendo a chuva para limpeza dos corpos, satisfação da sede e reverdecedora dos vegetais.
Portugueses a imitarem o hara-kiri japonês. Idealismo mórbido.
O nosso jornal «Açores», de 8 de Janeiro de 1976, depois de muitas hesitações, enquanto não teve a certeza de que era verdadeiro, publicou, após receber fotocópia do original, o seguinte ofício...ou ordem de serviço... ou qualquer outro título:
Estado de Angola
Repartição de Gabinete do Governo Geral
Luanda, aos 22 de Dezembro de 1974
Camarada Agostinho Neto
A FNLA e a UNITA, insistem na minha substituição por um revolucionário que lhe apare o jogo, o que a concretizar-se seria o desmoronamento do que arquitectamos no sentido de entregar o poder ao MPLA. Apoiam-se aqueles movimentos fantoches em brancos que pretendem perpetuar o execrando colonialismo e imperialismo português –o tal da Fé e do Império, o que é o mesmo que dizer, do Bafio da Sacristia e da exploração do Papa e dos Plutocratas.
Pretendem essas forças imperialistas contrariar os nossos acordos secretos de Praga, que o camarada Cunhal assinou em nome do PCP, a fim de que sob a égide do glorioso PC da URSS possamos estender o comunismo de Tânger ao Cabo e de Lisboa a Washington.
A implantação do MPLA em Angola é vital para apearmos o canalha MOBUTU, lacaio do imperialismo e nos apoderarmos da plataforma do Zaire.
Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade, só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA, para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando, incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis, sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos, para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à Terra esses cães exploradores brancos, que só o terror os fará fugir. O FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e de sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruine toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reestruturação daquela.

Saudações revolucionárias
A Vitória é certa

Assinatura ..........................................................
António Alva Rosa Coutinho
Vice - Almirante
Observações da nossa parte:
Escrito à mão: Em cima, à esquerda « de Rosa Coutinho»
Ao lado, «ler com atenção».
Eis um «escrito» - pois que devem existir muitos mais- probatório, do volante dos moços de três galões, ter sido agarrado por mãos diferentes das legítimas.
O clarim chama à formatura... alguém ordena a marcha...
Fiquemos por aqui. Já chega para pensar...
Até próximo.