América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

10 de junho de 2007

Nº 127 O VERBO UNIU RAÇAS E FORMOU NAÇÕES…

No tempo em que a fecundidade da terra, era o suporte do emprego e da fartura nos lares, declamava~se o provérbio apropriado à insatisfação humana: «O Homem quer, ao mesmo tempo, chuva nas couves e Sol na eira».

Mudados os nomes para a actualidade, tentando o melhor acerto, fugindo ao pior sentido, traduz: - O uso da palavra quer sentir-se liberto de peias, dentro e fora da prudência e do que não convém ao tino que a comanda, exigindo AO MESMO TEMPO, manjares prontos a servir à mesa, confiando armazenagem na despensa. O que expressa, considerar o etéreo da instalação neurótica, perfeitamente fundível, ou paralelo com o átomo da matéria.

Os factos, contudo, demonstram que, instantaneamente a ideia desponta e perde-se, sem satisfação do fenómeno, enquanto, em igual período, nos reinos animal, vegetal e mineral, nem há tempo de deslocar átomo ou molécula, perceptíveis aos sentidos humanos.

Para a Humanidade entrar no Homem, milhares de experiências foram absorvidas, umas de agrado certo, outras de consternação desanimadora.

Aos Homens que primeiro desagrilhoaram a comoção, fazendo perturbar o espírito para a causa civilizadora, quer tenham nascido em países no Oriente, na Índia, norte de África, ou na Grécia, na nossa Europa, assessorou-se a luz da liberdade, na expansão de mais acendedores de sóis mentais. Os reflexos desses focos, acenderam as fogueiras, onde se refugiaram as populações que se foram civilizando, condicionadas a uma cooperação de sentimentalidade comum.

O indivíduo acordou ceder parte do seu património de solitário e isolado, herdado, gratuitamente da Natureza, para se juntar aos demais indivíduos na defesa, ataque e aprovisionamento do indispensável à vida.

Nesse momento, a liberdade herdada, perdeu os pergaminhos da nascença e o ÓBVIO, de ser independente.

Milénios e séculos, encaixaram o edifício material, de proveito comunitário, inventando a ordem, para a distribuição ser, tanto quanto possível equitativa, reunindo no lucro do consumo alimentar, a protecção directa à existência.

Os neurónios, porém, razoavelmente instalados, ( embora não por método politécnico igualitário), dispondo de uma produção irregular e descompassada da matéria, desenvolveu e aperfeiçoou a palavra, destinada a adubar, as raízes educativa, arquitectural e construtiva. O excesso de produção verbal, todavia, ultrapassou as necessidades essenciais em quantidade e qualidade quase saturando as trocas de valores, mas fazendo depreciar o mérito e o proveito aguardados.

Porque, desmedidamente cresceram os antagonismos.

A criatividade foi sufocada pela adulteração. A afirmativa da palavra sincera, teve de recuar diante da oposta, a negação ao realismo, pretendente ao lugar de mais destaque e proveito individual. A palavra, a mesma palavra, desentendeu-se entre si.

Os ensaios de mistura das capacidades desafinadas nos sons, sem termómetro para medir temperaturas emocionais, falho de pedómetro para acertar distâncias acanhadas pela educação, a palavra perdeu grande parte das mercas e prorrogativas no que interessa à aptidão de criar e à sementeira do civismo.

Donde se conclui, que tudo quanto é demais, ou perde o préstimo, ou deteriora o ambiente saudável da harmonia no trato entre o siso e o desregramento.

Havendo, porém, a poupança de não desperdiçar o vendável cru, foi criada a indústria da ORATÓRIA, apetrechada com os maquinismos próprios de enlatar os excessos. Serve o mercado de consumidores, ajuntando-se tempero de sal, vinagre, pimenta… e o amargo do lúpulo em fermentação alcoólica, abrindo novos tipos de emprego, bastante procurados pelos candidatos às boas remunerações, sem a passagem pelo jugo duradouro do esforço no estudo ou na simples compra da «cautela» na lotaria.

Mesmo assim, contudo, o ponto de saturação não chega a ter um fim. Os atentos na busca de brechas ocasionais para caçar lucro, encontram sempre campo frutuoso no terreno dos incautos e dos «padrinhos» no grémio ideológico, enquanto os mais verdadeiros e competentes, se obrigam a aceitar as sobras no mercado da recompensa.

Os «enlatados», contudo, de produção com mira no lucro, mas «metida a unha» na venda, encarecem nos mercados de consumo, que são os erários públicos. Sobejam, por isso, muitas «latas» de competência furada, confundindo os gestores nos crescentes, mas insuficientes « Produtos Internos Brutos». No final, em virtude dos enlatados conterem fraco produto rentável nas Assembleias, são encomendadas mais «latas de conserva de palavreado», enviando para o Estado a factura para pagamento, com o visto dos alegres tesoureiros por facilitarem mais um emprego «chorudo» a amigo da cor governativa.

A crença alucinada, da Europa produzir abastança satisfatória ao bem estar dos povos que nela empregam o seu esforço físico e intelectual, tem sido desfeita nas contendas que lhe têm custado rios de sangue entornado no chão frio do desânimo e da ilusão. Programam-se orçamentos para orgulhar Pátrias e raças em construções arquitectadas pela inteligência que modifica a rusticidade da Natureza, mas que se desfazem em lutas fratricidas com retrocessos à pobreza chagada de profundas feridas para sarar. A Europa já se familiarizou nos passos em frente para o progresso, logo seguido de outros à retaguarda, a causar choros e ranger de dentes. A dança do vai vem, tornou banal o conflito pela hegemonia do mais forte, como se essa constante desforra, fosse o alimento da sua existência.

São frisantes, os exemplos doados, gratuitamente, nas descrições estampadas nos livros da História europeia.

Mas a Europa, não só se escusa a aprender, como se pavoneia em riqueza obcecada em orgulho de rico decadente. Discursa, «bota palavra», embrulha palavrório em sacos de rifa, atira-os por todo o lado, a distribuir boas intenções. A maré enchente da credibilidade apazigua ânimos e desarma receios. A Europa, basta-se a si própria…. e cresce para os amigos…Viva a Europa..

Gemidos, contudo, ouvidos de algures, alertam alguém em amarguras.

Há esquecidos… ou não há matéria-prima para lhes valer. Então, como é? Há, ou não, abastança para todos ?

Na hora das refeições, muitos pratos continuam vazios. Em áreas previstas e outras impensadas. A Europa prometera, mas não pudera cumprir. A palavra que unira raças e formara Nações, perdera confiança. A algaraviada não distingue desagravo . As Nações desconjuntam-se. A má educação destrói o que parecia sólido. A guerra esbandalha leis e pulveriza estruturas feitas para durar. É o regresso ao poder desordenado, contrário à autoridade. Outro afundamento europeu…

Tem sido esta, a História da Europa.

O «sobe e desce» que já deu comédia no cinema, mas permita Deus, não venha a inspirar outro « to be or not to be».

Até próximo.