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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

20 de outubro de 2006

Nº 95 PÉRICLES … SÉCULO V A.C. SÓSIAS… SÉCULOS ADIANTE…

Desconhecemos, quem quer que seja, não convicto de saber Governar. A si e a tudo quanto houver alguém deliciado a obedecer.
Em Terra, evidentemente, com muito melhor aptidão, pois no Mar ou nos Céus, há cursos próprios, para cada tipo dos engenhos e exercícios, para evitar descer a pique, só parando no fundo do elemento, água ou ar, que segura a suspensão. E, neste caso, ou ataca os aparelhos respiratórios e restantes, ou parte esqueleto e trás a dor violenta para a cura.
Em Terra, porém, calcorrear caminhos, correr ou a passo, em conversa ponderada ou traquina, há sempre uma resposta a dar e uma desculpa a receber, se algo não estiver na direcção determinada e as conveniências se embaralharem com indultos. Há sempre mais hipóteses de desviar o embate bruto e funesto, livrando o corpo de nódoas, fracturas ou tomada definitiva da posição horizontal.
Governar, por nossa pena, transmite uma mão cheia de questões, qual delas a mais essencial e intensa. O próprio físico, sofre de insatisfação vitalícia, para se ter firme, seguro e contente. A um desejo satisfeito, outros mais se interpõem, na «bicha» para júbilo ou conquista.
A nosso ver, tudo o que signifique orientação para a melhoria, não ocupa percurso em calha mecanizada ou corda ou corrente na passagem por roldanas a diminuir obrigações para fundamentar objectivos.
Governar, não é um mando, mas movimentos para o acerto, uma obediência à moral, ao progresso e ao controlo do intelecto. Pertencerá, portanto, às famílias da ciência, da arte, de observância instrutiva, nos regulamentos sociais, na educação.
Não temos emenda. Para fundamentar o que a História evidencia em Péricles, divagámos por baixos e altos da evolução humana. E, também não concluímos se avançamos muito, ou se ainda ficámos nos alicerces do que nos falta para entender os nossos actos, no abraço da perfeição, situado entre a realidade insofismável e o utópico, suposto admissível.
Péricles, foi um, entre muitos portentos que brotaram em território grego, desde há 3.000 anos, estimulantes da civilização seguir junto com a disciplina e aprumar a personalidade do indivíduo. Corrigiu uma fase importante, no avanço da ciência governativa. Articulou-a ao temperamento e enquadrou os deslizes humanos em recinto mais encurtado, para cercear os abusos intempestivos, danosos da harmonia.
No entusiasmo de agradar, para distribuir o máximo de benefícios a todo o grego trabalhador público, mandou que se lhe pagasse salário convencionado, persuadido que «erário» tinha reservas para todas as situações. Não fez contas. Condescendeu à BONDADE. Apesar dos 2.400 anos de distância, a mente, vaidosa no poder de dirigir, não mudou… até ao enredo destes nossos dias.
O «erário público», porém, tem fundo, como qualquer circulante de dinheiro. Fundamenta-se no Produto Interno Bruto, se é ou não suficiente para satisfazer os compromissos e os «buracos que surgem a todo o momento.
O futuro não foi risonho para a abastança do Produto Interno Bruto prosperar o bastante, para favorecer o ideado por Péricles. A Grécia, até anos recentes, ocupava a cauda da Europa, apesar do afluxo de milhões de turistas que todos os anos visitam a sua grandeza intelectual e artística. Nos seus edifícios, orgulhosamente, de pé, nas meias ruínas ou, mesmo nos bocados de mármore ou pedra por onde passou a mão de artista, vê-se e ouve-se o «botar discurso persuasivo» da mente ser o guia insubstituível do progresso, da cultura e… do bem-estar do Povo.
À roda, todavia, enxerga-se o emprego dos esforços possíveis, para suster o regresso ao pó e à britagem, que o tempo não poupa. Obrigação onerosa, a de conservar «vivas», as maravilhas patrocinadas pelo detentor do poder grego, há 2.400 anos. A OBRA, vasta e imponente, é o rasto luminoso e brilhante, entretido a descrever elipses em volta do Sol, nascente da vida e da nossa cultura, fonte da civilização progressiva.
Os efeitos psicológicos, criados pelas radiações administrativas e culturais, transmitidas pelos séculos, como novidade rigorosa, aparentam ter assustado os administradores que se lhe têm sucedido em toda a Europa. A obsessão de imitar Péricles, cativou reis, presidentes e demais ministros, ao ser-lhes depositado, no ceptro recebido por herança, reviralho, ou peças oratórias políticas, o poder de governar. Um contentamento febril, os animou a exceder os mínimos, sem olhar aos dispêndios, em moeda extraída dos cofres «inesgotáveis» ( na ideia ) do Estado. As aclamações, os votos e a segurança dos cargos, são os factos previstos e discutidos entre os confrades, que terão de tomar posição defensiva a uma só voz.
Os sequazes de Péricles, ensaiam poses, experimentam eloquência e legislam para se assemelharem ao Democrata … Ditador grego. Mas, sósia, não é o original. Sósia, por tanto esforço para se igualar, que se distrai de fazer certo, trasladando cada propósito e decisão, para adiado momento histórico.
Péricles, com os lucros das conquistas para defender a Nação e obter dividendos que folgassem o orçamento, remodelou, enriqueceu Atenas, ao ponto de ela, hoje, pertencer à humanidade. Aos seus olhos – que não aos seus conhecimentos algébricos – pretendeu, também ser BOM, distribuindo ordenado a quem prestasse serviços públicos, o que foi forma simpática de ajudar a quem trabalha. Não pecou, a merecer ofensa. Auxílio a pobre, entrega satisfação aos Deuses.
Não entrou, porém, em cálculos e previsões do Produto Interno Bruto, do seu País, para poder remunerar, as importâncias propostas nas circunstâncias de passagem e os reflexos nas ocasiões vindouras. Desacerto, não afortunado para a Grécia, a entidade responsável pelos cidadãos e do bem-estar comum. O equívoco do Ego… de pessoa solitária ou agrupada, ao atolar-se no egocentrismo da vaidade, trama o objectivo directo, no fogo-fátuo do triste e afrontoso desengano.
Até próximo.