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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

3 de janeiro de 2006

Nº 56 A LUZ E O ESCURO

A existência animal, é cativa da luz e do escuro.
Os raios solares clareiam a estratégia da caça; o escuro esconde a vereda e a gruta do que não quer ser caçado. A moral, anda às claras; o desacerto, gira em circuitos desencontrados, remexe-se na sombra do crédito e escapa-se para onde a clareza não desvenda temores e malefícios. O dia desperta, abre o firmamento; a noite encobre o raio do Sol, licencia a jornada, escancara o pensamento.
O nascer do Sol, anima as facetas das actividades físicas e intelectuais, ilumina as dádivas da Natureza, para consolo dos olhos ; o poente, bosqueja o descuido, abre o relaxe, excita o sonho, extravasa o ideal. O escuro, por encobrir, expande a fantasia. Da fantasia, ao primor ou ao colapso, vai um passo, tal como da construção à ruína, distam dois, um para edificar, o segundo para a negligência fazer «finca pé», no retorno ao pó informe.
As trevas, engordam o idealismo.
Do alimento à protecção das sensações caloríficas e ao teto, abrigo das variantes climatéricas e resguardo da privacidade, o animal, vive envolto à actividade do instinto de conservação.
É esse palpite, que instiga o relacionamento dos casais seguirem os mesmos riscos, no mútuo empenho de ampararem as existências e a prole consequente.
Sempre na mesma tendência espontânea, as Famílias aproximam-se para coadjuvar e fortalecer a defesa comum. Daí, sobrevêm os povoados, as aldeias, as cidades, as regiões, os países. A convivência desperta o amor ao torrão natal, faz verter a lágrima na separação do lar, dos familiares, dos amigos. O espaço ... todo o espaço é querido, pelos que o ocupam e lhe dão o nome de Pátria, modelada nas células que a Natureza inventou, para o princípio genético do crescimento sóbrio da vida.
Simples tabique, separa dos que moram além, não desejados na mistura de usos, costumes, interesses, cânticos e louvores à têmpera da unidade, das regras estabelecidas, dos comportamentos de cada indivíduo e do colectivo interiorizado.
Pátria, é nome de gente de bem. Aspira a claridade de sentimentos dos concidadãos, almeja o escuro para o repouso.
As nações nasceram, com a lenta sequência de lavouras no solo, apanha do fruto, reservas para as invernias e luta corpo a corpo, a legitimar direitos. Portugal, não foi excepção e emancipou-se, quando observou oportuno esse instante. Em 1143, mãos zelosas de arvorar esconjuro de dependências a desconhecidos, coseram, com agulha tosca e linha grosseira, um pano azul dos céus, a outro com a brancura da pureza, para o drapejo do vento, acicatar a paixão pela defesa da extensão onde a terra produz o sustento e a amizade agrada ao convívio. Do seu solo, então ocupado por povos vindos do norte e das areias escaldantes do oriente, brotou a ânsia de criar uma Pátria, de costumes de maior rudeza embora, mas de unidade nas suas convicções, ariscas a convivências de tolerância, mutuamente hesitante.
Quanto a nós, diferente. Forte pelo amor próprio, audaz na teima de cuidar da agressividade da área com fronteiras definidas, sedenta de suor para amolecer a terra e exigente de conflitos, para salvar as vidas e as faculdades intelectuais e morais da nova Nação.
De coragem singular, tão intrépida, que não será vencida por estranhos que a queiram molestar, mas nascidos do seu ventre, dos que beberam do seu leite, comeram do seu pão, descendentes de gente de valor no músculo que agarra e domínio do ar que mantém a existência.
Outra Bandeira de cor quentura, de representação apátrida, emblemada de alfaias agrícolas, de frieza metálica, pressão e corte, obliterando as actuais cores verde e vermelha que nos une, solta à ventania dos projectos inspirados, fosforescentes, imaginários, seduz a aspiração de destronar a orgânica pacificadora, por enfileiramento de promessas a intervalos de paraísos...
O pensamento, enche o balão ideológico. O ar,... só o ar o faz saliente. Cauda longa, de légua em légua, letras grandes, a prometer o éden a cada humano. A atmosfera não dá pão, nem mata a fome. Na hora da refeição, esbarra no abrigo, demasiado pequeno. Inchou, sem tirar medidas. Tem de esvaziar a mistura gasosa que o fez subir, para apanhar o que a Natureza cria, se a matéria e o intelecto derem impulso à produção. Retirado o fluido que fez sonhar, tem de escolher o assento que lhe cabe, no abraço ao invento e trabalho para melhorar o salário.
Vaidoso e interesseiro, o pensamento alucina-se no pavoneio da vida dócil e abastada. É o balão ideológico em ascendência.
As singelas operações aritméticas com o semelhante, logo esfriam e comprimem o mesmo ar que fez aumentar do tamanho e desacreditam a ilusão, constrangendo-a a descer para o suor do rosto, o verdadeiro ganhador do alimento de cada dia. É o balão a assentar na Terra, a minguar para as dimensões das dádivas da Natureza e das vantagens reais que a fadiga melhorou e fez crescer.
Enquanto a Natureza se semeia e sacha ao « Deus dará», as fontes de produção só se satisfazem com métodos e regras hábeis e estudadas. O maquinismo empresarial, não é produto de geração espontânea, ou pronto a servir. Requer motivo, preparo, local, aptidão, competência e quantas mais condições...
Os nascidos numa Pátria, não vêm com direitos. Quando muito, acompanham-se do choro, a pedir mimos dadores da confiança. Direito, não é ganho de título, posição ou lugar, mas sim, uma conquista do esforço individual, em todo o tempo de vida consciente..
O merecedor de ser patriota, não levanta aleives no estrangeiro, contra a verdade do seu País. Nem se pode queixar de sofrer desterro para a Ilha de S. Tomé, com residência fixa, enquanto se não sujeitar ao julgamento que limpará o sujo, se o houver.
Patriota não ganha direito, para solicitar a governo estrangeiro, que ataque o seu, por ideias próprias. Se o pensamento é livre, só em justiça se poderá pesar os interesses reais da Nação. Vontades individuais, ou de grupo, não ocupam distinções para submeter a governança aos seus critérios, geralmente sectários. Pátria, tem dono. O Povo.
Eis, caros leitores, o motivo das muitas voltas nas nossas crónicas anteriores e já mesmo nesta. Acontecimentos de gravidade, requerem a calma de amenizar factos consumados e um bocado de perdão para quem não atinge os efeitos colectivos, simplificados numa bica, gotas de álcool, dois amendoins, fechando o «negócio», no abraço final ao amigalhaço da mesma igualha.
Tão pouco valerá a Pátria? Temos rodopiado para encontrar desculpas ingénuas e simplórias. Tentámos enganar-nos a nós próprios. Não conseguimos. Tal como os despreocupados, entretenhamo-nos a imitar a passividade do vinho derramado... . Já não faz efeito. O assobio, enquanto sopra, desatenta da tristeza. Estaremos nós, vulgo, conformados a assobiar, para esquecer?
Lancemos a indulgência mais indulgente: - Foram «coisas» do passado...de rapazes. Meninos/homens, adultos/ meninos... ou ... meninos sem mudança de comportamentos...
Divagações ao acaso, estas acabadas de desabafar. São mais um rodeio, antes de transcrever o que, de há muito, nos obriga a reflectir.
Até para a semana.

Nº 55 A HISTÓRIA... CONTA A HISTÓRIA

Entrámos na nossa crónica Nº 54, nos princípios e causas do comportamento cívico humano. Deambulámos em pareceres tendentes a desculpar atitudes, mas sem a conclusão que satisfaça o que escreve para se fazer entendido e de quem lê, desejoso de retirar algo de interessante no aproveitamento do recreio . O primeiro, o que redige, dificultado para não ferir, armando a presunção de ser juiz; o segundo, o interprete do texto, insatisfeito e desejoso de tirar proveito do tempo gasto a desvendar o sentido do pretenso informador. Dilema arriscado no remate.
Bastante simples, se resume, conquanto não deixando de entrar em melindre, com a vaidade enganadora da medição do intelectual falador, do sensível dorido e do que a boa fé consente. Os modos de proceder, influentes nas consequências registadas na HISTÓRIA, não perdoam evasivas e, não menos, esquecimentos dos sacrificados com o próprio sangue e exemplo da coragem, em actos de bravura, os excelentes e de timidez, os insignificantes.
A exumação desenterra ossadas e cheiretes. Não estorva, todavia, a reabilitação do expresso em factos, separando as narrações dos «cavaleiros de lança florida»... do adulto menino duplo... ou... da triste figura». ..
Não somos enfronhado em justiça. Limitamo-nos a cumprir as determinações da legislação que regula os comuns direitos dos nossos concidadãos, a quem nos incluímos com o respeito mútuo, não delegando, porém, o nosso microscópico voto, na defesa da Pátria onde repousam nossos antepassados, nos cedeu nacionalidade sentida, nos proporcionou instrução, paz, trabalho e Família, e, sem favores e requerimentos, abriu espaço livre, para a descendência que nos está a suceder, dar continuidade à Família.
Desculpas, leitor amigo. Surgiu um enredo, útil de por a claro, antes de avançarmos em convicções a derrapar para sofismas.
Sem o esperarmos, levantou-se-nos o nome de «Fedro», poeta latino, nascido na Macedónia, que terá vivido em Roma, entre os ano 10 e 70, da nossa era, a lembrar uma das fábulas por ele inventadas, ou cópia dos apólogos de Esopo ( VII ou VI Século AC. ), pensador da Pátria – Mãe da Democracia intelectual, de difícil cópia, para quem sentir vontade de a igualar. Resumimos o que escreveu Fedro:
Estava certo jumento a descansar da canseira de ajuda ao Homem, saboreando a ração de erva tenra e nutritiva que lhe coubera, quando se ouviram rufadelas de desconhecidos, a avisar requesto de quinhão no alimento e em outros bens. Angustiado, apareceu o dono a interromper a refeição, para ambos se afastarem dos intrusos. Com a pachorra de quem se contenta com o matar a fome, o asinário ( os animais sempre entenderam das suas conveniências pessoais) perguntou: - Diz-me lá, oh! Patrão, pensas que me vão por duas albardas?
Perante a resposta que, para cada qual, uma albarda, ouve-se a conclusão: - Ora, tanto se me dá que sejas tu a proteger-me as costas do que terei de carrear, ou os que aí vêm, a bater forte, para altos sons no tambor e com os mesmos intuitos. Gosto dos rufos que estou a ouvir, com parecenças dos meus desabafos de contrabaixo e dos muito suaves do trombone. Agradam aos meus ouvidos, ou às minhas orelhas, as ondas vibratórias, assemelhadas às minhas.
Assim, acabaram as doutrinas dos dois interessados em não piorar direitos. Recordamos que, nem de Fedro, ou de Esopo, lemos referência à qualidade das cargas que viriam a passar no lombo do quadrúpede laborioso, o simpático e prestável amigo em todas as circunstâncias, em permanente actividade no reforço ao Homem e no aperfeiçoamento da civilização. Lacuna importante para poder retirar ensino e moral.
Em recente discurso para benesse, cargo, prémio ou poética administrativa, ouvimos aconselhar mais atenção à juventude, no ensino ao patriotismo. Seja, talvez, o complemento que falta a Fedro e... ao que em nossa volta assistimos.
Pátria, é um estado social. Respeita a unidade da língua, dialectos, costumes, usos, emoções; mede as capacidades individuais e de conjunto; recreia os cinco sentidos. O patriota mede à cautela. O estranho, não perde tempo em avaliações. Preocupa-se, somente com o armazém, onde empilha a erva saudável para o consumo, leve e inofensiva; a ramada com espinhos a ferir o ombro, trasladada ao som de algaraviada de substantivos e adjectivos mal ouvidos; os troncos maciços a requisitar músculo e nervo; os estrumes, as embalagens inodoras e as que deixam os órgãos olfactivos em ambiente incómodo e adverso. Tudo o que é preciso passar pelas costas dos encarregados das Famílias, é carregado a rigor, limpo ou emporcalhado ou não aferido em quilos e transportes cansativos.
Entendedores, afirmam ser o asinino e descendentes, possuidores de faculdades de esperteza. Acreditamos e bendizemos a finura do animal que sempre tem ajudado nos serviços de resistência, pois carrega calado, transporta em silêncio, embora se expanda em vibrações graves e retumbantes, no encontro com sua amada. O entrevistado por Fedro, ou Ésopo, seja-nos aceitável concluir, não exteriorizou grande argúcia, visto ter passado por alto, o número de fretes, o tipo de carga, áspero, sujo ou asseado, o peso leve, mediano, adequado ou não ao físico do que ajouja nas funções mais agrestes. O esquecimento de Fedro ou Ésopo, não sofreu alteração, nos povos mais seguros nos direitos ( nem sempre garantidos) do que nos deveres ( mais apertados), não contando com a saudade e atracção pelo «torrão natal». Frente ao imprevisível, nossos olhos se arregalam, ouvidos estonteiam, nossos temores se alertam perante o futuro.
A «Fábula» faz-nos lembrar acontecimentos no nosso País, há poucas décadas, cortando cerce, haveres proveitosos nacionais, em antagónico conceito dos que os fizeram ganhar.
Os Reis que governaram Portugal, tiveram o cuidado de aplicar verba dos seus nunca folgados rendimentos, para sustentar a manutenção de navios para defesa da costa alongada do território, desde o primeiro, D. Afonso Henriques, e seu Almirante D. Fuas Roupinho. Os que lhe sucederam, mantiveram a despesa com resultados positivos, de defesa de intrusos, que sempre os houve e de símbolo prestigioso, perante as cabeças coroadas das outras nações. D. Dinis, o Lavrador, mandou plantar o pinhal de Leiria, para a madeira servir a construção naval,
Chegada a «Ínclita Geração» - de D. João I e esposa D. Filipa de Lencastre, os progenitores e os Filhos, de preparo intelectual, de excepção– continuaram a debater, o que já vinha dos Reis anteriores, da luta pela independência do «rectângulo», provando-se poucas certezas, quanto ao vizinho, interessado em ver banhadas as suas costas ocidentais, do Estreito de Gibraltar, até ao Golfo de Biscaia.
O génio empreendedor do Infante D. Henrique, depois da conquista de Ceuta, por seu Pai e irmãos em 1415, mandou aperfeiçoar a construção das caravelas, fundou a «Escola de Sagres», a fim de preparar marinheiros capazes de desvendarem o então enigmático «horizonte» e mandou-os em busca de valores em territórios, especiarias, ou minerais nobres, que acrescentassem fundamentos, à razão de existir da nação fundada por D. Afonso Henriques, com o carácter que os séculos tinham vindo a demarcar.
Dinheiro do próprio Infante, a princípio, em seguida da Ordem de Cristo, de que era Regedor e Administrador e, no crescendo das despesas e das descobertas, de todo o Portugal. Assim, as «novas luzes» que brilharam à IDADE MODERNA, iniciada em 1453, com a queda de Constantinopla, foram emitidas e pagas pelos portugueses, todos, sem exceptuar um, por muito pobre que fosse. E esse esforço, de uma pequena nação, não a fez rica, se bem lhe tivesse aumentado o orgulho dos feitos praticados e, por acréscimo justo, o direito de não depender de ninguém- ser SENHORA DO SEU DESTINO. Respeitada.
Os ganhos obtidos, não terão chegado para cobrir os encargos, liquidados a pronto, nas águas traiçoeiras, antes do horizonte do Mar Tenebroso e depois do horizonte desnudado de mistérios, com os contributos saídos dos bolsos, do sangue e do sofrimento portugueses.
O que ficou, bem às claras, são os monumentos, de pedra e cal, para regalo da História contar e repetir aos tempos, a História da Nação que iluminou o Mundo nos Séculos XII a XVI, continuando por mais Séculos, só abaixando a claridade, no último quarto do Século XX.
Folga, para a próxima crónica.

Nº 54 CHUTOS ... E LÓGICA

Acontece. Em passeio ameno, ou na azáfama do trabalho, amiúde, os pés tocam, à revelia do acaso, um objecto diferente, como a querer impedir a passada que o hábito não prevê, a merecer a tentação de o desviar para longe da via pública, com valente biqueirada, a mostrar a destreza dos verdes anos. E, lá se levanta a perna para um simples exercício de ginástica e, zás, quem bate é a parte inferior mais adiantada, se calçada pode rebentar a bota ou sapato, se descalça, sangram as unhas que virão a ser substituídas, com tratamentos demorados e doridos . O embrulho de aparência sossegada e amortecida, escondia pedra rija e já fazia parte do pavimento.
No vulgar da existência, por entre atropelos, ajustamentos, indecisões e riscos, também surgem pretextos à tentação de disfarçar actos correctos, utilizando os pés, em vez das conveniências sociais e a urbanidade acostumada. Se a cabeça destrava, ou não domina as acções, os membros superiores e inferiores resolvem rápido, utilizando gestos fora das regras ponderadas.
O polimento dos hábitos sociáveis, se atrasado em produzir efeito prático, no convívio dos problemas que a Família todos os dias enfrenta,- pois é nesse meio, que se começa a entender as dificuldades na experiência- à saída para a labuta do sustento , a idealística do facilitado, ou «pronto na mesa e na fatiota», recebe as baforadas dos amigos ou agrupamentos, a divulgar doutrinas contraditas ao sentimento doméstico, ao exemplo do passado e à ocupação no presente. Retorcedura a atrofiar as inteligências, passando a contrapor juízos, a levar à cedência, à nega a promessas, e a acreditar na doutrina do trabalho não ser a « esfera social» para obter salário, ou fundo de maneio familiar.
A firmeza nas responsabilidades - seja lógico convencer – esvai-se no associativismo de mentes enfermiças, autocratas prepotentes. Instala-se à grande, com uma imitação de espada da magistratura bem afiada, para cortar a bel – prazer, antes que apareça a da justiça.
As noções de respeito à sociedade no seu todo, à lei protectora em vigor e ao semelhante nos direitos que se distribuem por igual, sem queixumes ou louvores, caem no olvido, por não interessar ao ideológico .
O que se nos assemelha - o próximo - contudo, não é só o amigo de ideais paralelos. Abrange os desconhecidos, que se protegem sob as mesmas causas: - bandeira, costumes e leis. Para abarcar este desiderato, contudo, têm de se encontrar aperfeiçoadas ou em melhoramento adiantado, as faculdades físicas, intelectuais e morais. E tendência incansável, no saber o exacto e diferençar a inverdade.
À criatura humana, desde o nascimento, é atribuída uma classificação, por escala de anos. Principia na de menino bebé, até serem retiradas a fralda e a chupeta, seguindo-se a de menino criança, que ultrapassa a entrada na escola de instrução primária. Na fase alargada de «menino», o crescimento adere ao instinto no sentido biológico, adaptando-se à harmonia das funções. O sentido social e moral, desponta no período sem data, ao findar a criança rebelde ou imitadora e passar ao entendimento da coexistência do lucrativo agradável e do obrigatório contrafeito, por mor da educação e da instrução. Estas últimas, fazem muitos desbastes na rudeza natural, mas, por outro lado, descerram ao cérebro, as delícias da percepção, da réplica, da sagacidade, do cumular saber.
A saída da primária e engrenagem na profissão, ou entrada e percurso no Liceu, engloba esse esforço admirável da transição para a juventude sadia e passagem a adulto evoluído. Os bilhetes de identidade, indicam « brio independente» e a Lei, confere liberdade de assinar compromissos.
Nem todos os possuidores, todavia, desse «título oficial», indispensável nas presenças de assinaturas responsáveis, na idade estipulada, alcançam a profundidade de medir os resultados de cada acto e as consequências de galardão ou ferimento, para com os que têm direitos iguais aos seus. As fases de menino bebé, menino criança, prosseguindo na mocidade ou juventude, deixam vestígios, que emperram durante o currículo do que virá a ser adulto.
A maturidade, neste atribulado trilho, com escolhos das réstias infantis, sofre demasiadas lutas emocionais, que se manifestam desde o berço e quando chega ao B.I. ( bilhete de identidade), não mostra privilégio magnânimo, semeado às mãos cheias. Os temperamentos inconstantes – e, de relance, são mais do que os contáveis - pouca atenção prestam à experiência, essa mais valia dos anos. O B.I. dá direitos, até a boa colheita de benesses, mas não preenche extravagâncias da criancice, que se não despegam do lado fácil de obter ganhos líquidos, sem despesa ou dificuldade.
A idealística e o termo da responsabilidade, aparentam ter tratos comuns e amistosos. Não só dão a entender pleno acordo, como se supõem a dar vigor ao progresso razoado na balança dos ideados, dos bens reais e dos amovíveis, colocando o «fiel» no equilíbrio do trabalho empenhado.
Para tal acontecer, venha a Natureza decidir. A alma humana teria de avançar em paralelo com as determinações da Lei. Os anos que dão direito à liberdade de acção, deveriam condizer com a fasquia do modo de pensar, acareando, em igualdade com a inconstância.
Não há, porém, instrumento que avalie a volubilidade do pensamento, seu peso de comparação, ou tamanho métrico e a pacata sisudez dos preceitos legais. A regra graduada é irrealizável aos dois juntos. A legislação é lenta, embaraçosa e restringente; ao passo que a ideia é instantânea, extravasa até ao ilimitado. Este desacerto, que se entretém a vida inteira a desfazer concórdia, separando e unindo, sem vínculo correlativo, descontrola a relação da vontade, perante o legal e o digno. Natureza e mente civilizada, ou em vias disso, em confronto. O ajuste, ou conserto, suspende-se no mito errante do desejo, de vigia à possibilidade.
Razoável e compreensível. O cordão umbilical, bombeia o alimento ao sucessor da espécie, líquido onde a «voz do sangue», se vai infiltrando de mistura com as características essenciais, incluindo os ensinamentos que os anos amontoam, acrescentando ao instinto, a sobrevivência protegida por remendos, adequadamente brunidos. . A sucessão de gerações, tende para acalmar impulsos e extremos, mas ainda não conseguiu o encaixe de nenhum deles nas normas da educação. E da lealdade...
Pronto, por hoje. O nosso paciente leitor, talvez se pergunte porquê esta crónica, quase « ao Deus dará». Como sempre, tem motivo do remoque. Com toda a franqueza que nos liga, temos de confessar o nosso embaraço, em descobrir o real motivo de tanto arrazoado, para pequenos acrescentos.
A próxima crónica fará o possível, para explicar, sem acrimónia nem aleive. Se tiver espaço...