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Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

4 de agosto de 2008

Nº 174 IDEALIZAR… EXPLODIR…REVOLUCIONAR RAZÔES… ENFARTAM A RAZÂO. O ESTUDO, A IDEIA LIMPA, A NATUREZA…LIGAM-NA AO SENSO

Na caminhada para o progresso, os séculos anteriores ao XVIII, aparentam-se a caracóis.  Constroem a residência adaptável ao corpo, comprimem-no para não exceder a comodidade e conforme  as carências físicas e alimentares se manifestam, «sai da casca», entumecendo-se  pela vontade de sobreviver,  lança fora a «sapata contráctil - o pé – que, em movimentos ondulantes ou passada lentescente, carrega toda a tralha e lá vai indo, sem temer a velocidade de «lebre» e ganha a proeza da corrida.

                A pachorra do caracol, nunca quis, nem quer exibir falta de pressa ou fartura de preguiça. Os animais e as coisas, ajustam-se ao meio, onde se localiza a coexistência que contém reforços para revitalizar a criação natural.  E, quando rareiam elementos ou compostos capazes de rectificarem a energia que levaria ao arranque da recuperação, a ideia sugere modificações e ajeita o auxílio para o alcance da meta proposta.        

              O humano, enquanto a caixa craniana era pequena para instalar a barragem e as células nervosas para fricção do raciocínio, media o mesmo tempo nos séculos e nos minutos, consoante ganhava ou perdia a presa  que iria tapar a fome do momento.  Fixavam a ideia, na luta para agradar ao aparelho digestivo. 

              Assim se passaram gerações, a desenvolver e ideia para presença em altas decisões de átomos e moléculas, conquanto a sua essência se volatilizasse perante o sólido e o visível. A ideia, porém, ganhou fama através da verbosidade e da escrita e, amparada  entre as duas, pareceu possuir a consistência da matéria na solução das complicações provocadas pela evolução do aperfeiçoamento social.  Engano agarrado no íntimo partidário que, de imediato, o lançou de proveito comum, para não frustrar a ilusão derramada pelo discurso entusiasta e pela literatura de fontes contaminadas.    

             Para não perder a voz pública, onde se predispôs ganhar o distintivo de «indispensável à matéria» ou confundida com ela, a ideia deixou avolumar a «bola de nave» que a transmudou  a elemento corpóreo do PIB. 

             E hoje, delicada cisma nos apoquenta, ser a ideia,  sem átomos e moléculas, indigitada a fazer aumentar produtos e rendimentos e o bem estar ao Povo que vive da transpiração do que cava ou fabrica.  Ouvem-se hossanas aos idealismos, depois do repasto…  Quem não goza de refeição certa, porém, prefere trabalhar e colher  numa horta de vegetais…

           Tanta força conseguiu reunir à sua volta, que ressoam nos horizontes de terras e mares, as estridências de «defesa das ideias com unhas e dentes». A qualquer preço…quando, ao lado uma da outra, a couve, come-se, a ideia, pode sugerir o modo de a cozinhar, mas não a substitui..

           Caro Leitor, o que acabais de ler, é  divagação do costume.  São machadadas ao acaso em ramos de flores batidas por ventania, mas com o suposto desejo  de atingir a frescura do colorido.

           Na luta pela existência, o valido pela fortuna no trabalho, remedeia-se no que aufere da mais valia no sector material em que está envolvido, condutando a ideia  na qualidade e quantidade do produto final.  Alcançado o objectivo, solta-se a satisfação de o ver concretizado.

         No lado da bancada onde o «ideal+ismo», se troca, enfatua ou comercializa, a quantidade é tal e a qualidade tão desentendida, que permite a explosão em ramificações fugidias ao senso e ao apoio do consumidor, que hipóteses de fracassos se baralham, caros ao humano.

         Os estados da Natureza, sólido, líquido e gasoso, não foram criados pela ideia, se bem que esta possa vir a alterá-los pela mão do artista, ou pela evolução da ciência física  e química.  Expor ideias, pode e deve ser um meio contemporizador na agregação das sociedades. Impô-las, onde elas se atravessam nas miríades de fontes dos tinos  e desvarios de cada cabeça, resultarão, ou, mais concreto, resultam os efeitos negativos que estão a subordinar o nexo à incongruência.                    

              As feridas sociais crescem no número e na gravidade. Soam cantigas de «amigos», nos grupos «inteligentes», de «escarnho ou «escárnio e mal dizer», nos outros que se opõem, onde a inteligência é, por milagre, suprema.

            Escusamo-nos de referir, por desconhecermos, por inteiro, a bitola dessas inteligências. Nem porque são tão perfeitas como pensam ou ainda MAIS perfeitas, como se arrogam. É enigma que fica connosco ou poremos na rifa da lotaria se, porventura contiver prémio.

             A evolução humana resguardou, todavia, em compartimentos especiais, a educação e a instrução, destinadas a amansar a bruteza animal e a facultar a harmonia na predisposição  dos ajuntamentos se domarem em sociedades organizadas.  A paciência desdobra-se nas duas condições sociais.

           Na primeira, acalma o sistema neurótico, como freio ao abuso de confiança que se quer imiscuir na personalidade alheia; e na segunda, mantém a insistência no ensino e na aprendizagem, estes dois inventos do espírito humano, que, por sinal, não têm fim.             

         Mas é aqui, que surge um, dos muitos busílis dos nossos tempos.

         A educação nunca acaba, mas o humano aproveita-a, quando chega ao que deveria ser  modelo de PESSOA, para se emproar a rasgá-la, como barco no corte das ondas, no intento presunçoso de evidenciar estatuto de importância,  Vitória fugaz, pois que rebenta, com pouca dura, o balão de riquezas, honras e glórias.     

         Avantajar saber, é luta nem sempre possível  ao alcance da média, recebendo a outra metade, por esse motivo, o encargo  de lhe dar a orientação mais  digna e útil ao agregado social.  Dessa parte, contudo, há uma pulverização de «pontos cardiais» fáceis de «ver», «ouvir» e «falar», mas só possíveis de entrar em análise condigna, com apetrechada  bagagem instrutiva.    

         Esses somatórios de conhecimentos, dados em tempo comprimido pela verdura da mocidade, todavia, não foram embalados, nas devidas condições, nem da quantidade e mesmo da qualidade, deixando vazios diversos sectores do ensino, por o tempo de os «meditar», ter sido dispendido, no entretenimento de sentido vago  e inobservante.  Porque a questão de vencer «curso» e receber prémio no diploma, se algumas vezes acertam na liga inteligência e ponderação, podem  não corresponder a maturidade suficiente, para a confecção de leis ao nível dos complexos pareceres  que povoam as sociedades, assoberbadas em encaixar a ciência, a técnica, o engenho, a ambição, e todas as condições que assegurem a comodidade   O tenro, difícil de disfarçar do mal à sensatez, depressa vem ao decima ao abrir-se a caixa de queixumes e repulsas.

             Se a filiação a partido político, dá direito ao título de «competência», ou ceptro de saber e julgar, o Povo, para quem é dedicada a distinção, na generalidade sente as mazelas do desvio das regras atiradas em grinaldas de promessas.   O Povo…entidade meio abstracta, mas não caloteira por demérito próprio, nem temerosa frente a contrariedades, se calhar está a resolver só cumprir pagamentos, a quem seja capaz de ser bom pagador da palavra dada.

         Arrisca nesse jogo de seriedade», na maré baixa de defensores… mas ficará com a PAZ e a saber em quem contar…                

              Até próximo.