Nº 114 O MELHOR…. OS PORQUÊS SUBESTIMADOS … Continuação (VI)
Assumir a responsabilização de tornar normal, um País, afogado em dívidas, espartilhado por ideologias desinteressadas de patriotismo, crivado de furos e amolgadelas administrativas, amedrontado pelos motins e chinfrineiras do dia seguinte, com o coração apertado de vir a acordar ao som aterrador de explosões, tiros, assaltos, gritos e mortes, demonstra o carácter íntegro, decidido, corajoso de quem estudou as fraquezas humanas e as pode amansar e, até mesmo, deixar de as temer.
O bicho Homem, empertiga-se perante outro bicho homem, quando manuseia arma ou dispõe de argumento que entenda superior para o desautorizar na sociedade onde os dois ocupam plano horizontal.
É a rixa perdurável que implica o bem e o mal; o que serve o Homem e o que o danifica; o que honra o Homem e o desmascara, perante o luzeiro da ambição; o que o acompanha no civismo e o que lhe reduz hombridade e dimensão educativa. É um decurso, cheio de contradições.
E a volubilidade recusa o sossego ao Homem que escolheu ser sedentário, depois de calcorrear a incerteza do amanhã, claro ou nebuloso, calmo ou barulhento, pacífico ou guerreiro. A «ordem», assentou no civilizável e no gesto respeitoso.
Mas os dois Homens existem e estão sempre presentes. Para onde vai um, o outro segue-o na esteira. A conformidade do dever e da moral, podem recorrer a todos os métodos possíveis e imaginários, para se isolarem da maldade e da oposição, mas nenhum lado anula o outro.
Para amenizar a contenda, criaram-se regras. O temperamento humano, construiu a escada de subida e descida da hierarquia na deferência aos valores sociais, a princípio entregue ao livre arbítrio.
Mal entendidas as regras no aspecto voluntário, pois há sempre os solitários que impõem melhor quinhão, a força da autoridade cresceu, mudou-lhe o nome e passou a determinar o cumprimento das Leis.
Como regularizar o comportamento de cidadãos, na amálgama de normas que tocam a todos, a maior parte a preferir a tranquilidade e uma minoria organizada, menos serena, obcecada em contrariar o direito ao repouso? Fala em conversações, mas não as adopta, faz mesuras à bondade, mas morde à socapa e atira bombas às massas distraídas.
À sombra de defesa do mais fraco, torna-se flagrante o desprezo pela vida e interesses do semelhante.
Foi neste permeio, que o ainda General, Manuel Gomes da Costa, comandou o exército, em 28 de Maio de 1926, proclamando posição firme «contra os políticos e contra os partidos». Ele o escreveu.
A contabilidade confusa, constatada nos livros do Ministério das Finanças, pelos seis representantes da Sociedade das Nações para o pedido, em 1928, de empréstimo de 12 milhões de libras, célebre pelo vergonhoso desfecho, legitimava o objectivo da revolta e o desabafo do seu comandante, dois anos antes. Muitos a mandar nos temperos e a distribuir rações pelos protegidos, rápido se vê o fundo do taxo.
Portugal, externamente sem prestígio e, no seu interior, com a autoridade na «rua», ao sabor de caprichos e exigências partidaristas, com os rublos a pagar revoluções, petardos e tramas russófilas, estes últimos, os verdadeiros fundadores da PIDE ( Polícia Internacional de Defesa do Estado), convocada para defender a Nação e acautelar o Povo, dos assalariados, no empenho de enfraquecer os ânimos e entregar o poder ao ideal, longínquo, centrado em Moscovo, divertido a sanar o que pouco antes ferira de morte.
Não era fácil, por de pé a autoridade, diagnosticar remédios apropriados, pois implica conhecimentos de farmacologia psicológica e rigidez na aplicação prática.
É no «Erário Público» e na convivência sadia da população, que assenta a serenidade de qualquer País. Os gastos populistas e a conspiração desleal e devastadora, desgastam o Erário, tornam insignificante o prestígio de quem Governa e deixam mais pobre o eterno perdedor – a classe de ânimo abalado pelos contornos da sorte, vazia de vivacidade que sustenta o trabalho, auto inutilizado para a luta de sobrevivência.
O boato deselegante e difamatório, desagrega a unidade nacional, alastra receios, suja a confiança no trabalho, diminui a produção activa, impulsiona o temor ao semelhante, o que está do mesmo lado, mas que retém o medo de desabafar e pedir auxílio.
Portugal, em 1926, era um carente de Paz. No interior, ansiava um pulso forte, que pusesse cobro ao descalabro visível do Algarve ao Minho, nas Províncias Ultramarinas, na Madeira, nos Açores. Porque, nós, aqui nas nove Ilhas, também sabíamos e sentíamos os efeitos da mandância idealística em vigor. As gentes das Ilhas Adjacentes, mencionadas na geografia de então, sofriam os mesmos efeitos envergonhantes do progresso, com acinte na distância, que perdia direitos, aos restos do esvaziado Erário Público do Portugal completo.
Foi, assim, depois de l6 anos de instabilidade para encontrar o abstracto, com tumultos, lutas no trabalho, mortes de oponentes à anarquia, crises aprofundadas pela entrada teimosa e inútil na Primeira Grande Guerra, pela leviandade de agarrar o existente no etéreo da fantasia, que a única força que poderia suster tamanho dislate, metido à força – com martelo, escopro e foice - na mente do pacato povo, mais afeito ao trabalho e à unidade familiar, ou ao folclore nos momentos separados ao folguedo, que o Exército reuniu o poder, para uma autoridade com o tino agrupado num só lugar. Como não havia outro, foi-lhe repetido o nome já baptizado e aprendido em ensaios ao natural, de «Ditadura».
Porque, em verdade, depois de 1910, os termos «Ditadura» ou «Ditador», já faziam parte do vocábulo nas cozeduras da demagogia.
O Dr. Afonso Costa, com residência em Paris, onde se refugiava, quando, em Portugal, as marés revolucionárias alagavam o bem estar, portanto, um dos grandes «democratas», ascendeu a Primeiro Ministro, em 1913, conseguindo equilibrar o orçamento. Mas como estes resultados administrativos positivos, resultaram das decisões de verdadeiro «ditador», o Dr. António José de Almeida e outros não gostaram e substituíram-no por Bernardino Machado. Mas uma «ditadura encapotada», para não dar nas vistas e, por este motivo, frouxa, chamada «Ditadura Democrática», tenta retomar alento. Não o consegue. A 14 de Maio de 1915, os barcos de guerra surtos no Tejo, bombardeiam a cidade de Lisboa, onde se combate furiosamente. O General Pimenta de Castro, Presidente do Ministério, é preso e o Major Sá Cardoso, repete da janelas do Município, a Constituição de 1911. Na turbulência do nascimento, em 5 anos, tempo tacanho para aprender e governar a Nação, a República é proclamada 3 vezes: em 1910, no «adeus ao Rei», na Ericeira, 1911 e 1915, na leitura arrevesada da Constituição.
Continua.
Até próximo



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