América América

Blog das crónicas de Basílio José Dias, publicadas semanalmente no jornal Atlântico Expresso.

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Localização: Ponta Delgada, Açores, Portugal

Tem o Curso Complementar dos Liceus, tendo frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental. Serviço Militar de 1940 a 1945. Entrou para a Fábrica de Tabaco Estrela em 1946. Gerente de 1957 a 1989.

13 de fevereiro de 2011

Para Ti, Papá Basílio, 30 dias depois de nos deixares….

Querido Papá

Partiste muito depressa!
Na semana do Natal ao Ano Novo, deixaste de te alimentar, não sabíamos mais o que fazer por ti, até que resolvemos recorrer ao hospital para que tivesses melhoras…, mas tal não aconteceu. “Estavas velhinho”, e os teus 91 anos não te quiseram rejuvenescer. Partiste então sereno, e o teu coração foi-se apagando como se de uma velinha se tratasse. Foi então que em segredo e entre outras coisas, pedi-te para abraçares a Mamã e agora juntos, olhem pela família que construíram e que já têm muitas saudades a dobrar.

Quando a Mamã partiu, ficaste comigo, e confesso que tive algum receio, era-me impossível substituir a grande pessoa que era a tua mulher, mas iria proporcionar-te sempre conforto e bem estar.

Com a vida profissional que eu tenho, dizias sempre que primeiro era a obrigação, e depois a devoção, mas acho que soube cumprir bem o meu dever.

Também foi muito bom a tua total disponibilidade para aprenderes a usar o microondas, a arrumação das roupas, e todos os dias nos ponhas a mesa, com tudo direitinho, mas engraçado, esquecias-te sempre dos guardanapos, e era sempre uma risota ao início de cada refeição.

Tenho e certeza que te custou todos estes hábitos novos, pois a Mamã apaparicou-te 49 anos com mimos, e com verdade eu não tive outra alternativa senão pedir a tua ajuda.
Mas, como estamos todos nas mãos de Deus, os teus últimos 3 anos de vida foram muito mimados. Por motivos da minha saúde foste para as casas das outras tuas duas meninas, onde lá, além do conforto e bem estar, não te faltaram os tais mimos, pois as duas herdaram os dotes culinários da Mamã.

Tiveste uma vida com qualidade, sempre autónomo e consciente até ao fim. Nunca me deste trabalho com a tua saúde e as vezes que eu é que ficava doente, tentava disfarçar, para que não te preocupasses comigo.

Tiveste a alegria de teres visto crescer, três netos, duas netas e ainda a alegria imensa de teres visto e dado colo aos teus dois bisnetos, rapazes, que tu tanto gostavas, pois só tiveste 3 filhas.

Foste um Pai dedicado, muito exigente e rigoroso, ao contrário da Mamã, muito meiga, amiga e generosa, enfim, quero dizer que adorei ter-vos aos dois como Pais, pois hoje eu sou o reflexo, com muito orgulho, da educação que me deram, cheia de valores.

Papá, é a primeira vez na minha vida que te estou a tratar por “tu”, desculpa, mas é muito mais fácil e muito do meu feitio ser prática e objectiva, até a escrever. E ainda uma coisa muito importante, foste a única pessoa que até hoje e todos os dias me chamavas pelo meu verdadeiro nome,” Maria Beatriz”.

Já lá vão 30 dias, mas nunca vais sair do meu pensamento e acredita, a tua falta… está a fazer-me “Muita Falta”! Mas a recompensa da tua “Falta” faz-me feliz, acredito que foste para melhor, e escolheste partir na data que mais gosto e tem sido sempre o meu dia preferido, o meu dia de sorte, o dia 13.

Foste uma perda imensa no mundo dos livros e da sabedoria. Escreveste um livro, tinhas um blog e na internet navegavas como qualquer jovem. Também escreveste um livro sobre as Músicas do teu irmão, Sr. Tenente Francisco José Dias e outro livro sobre o Cedro do Mato pelo teu irmão, Manuel José Dias Jr. Tudo isto foi reconhecido pelos teus amigos, que nos acompanharam até agora, com pesar.

E nunca mais acabava de falar sobre ti, Papá….

Até um dia…

A filha que gosta muito de ti,
Maria Beatriz